História Meia Noite em Madri - Um Recomeço

"Eu tenho estado longe por muito tempo, mas com tudo que nós temos passado. Depois de todo esse tempo estou voltando para casa, para você."

- Aurora. - era ele. Como um sonho. Com a mesma voz e o mesmo sorriso tímido de sempre. Não podia ser real.
Passei minhas mãos sobre sua farda e ainda boquiabierta as lágrimas já caiam. - Eu disse que ia voltar. Vem cá, vem. - Ricky me abraçou e me levou pra dentro. - Senta aqui.

- É você? - eu ainda estava em estado de choque

- Sou. - ele disse de forma doce com os olhos cheios de lágrima já

- Eu desejei isso todos os dias. - o abracei chorando compulsivamente

- Eu sei, eu também. A cada segundo, meu amor.

- Eu pensei que tivesse morrido. Disseram que você foi capturado... - toquei seu rosto

- Eu fui. Eu vou te contar tudo, eu juro. - um silêncio se instalou - Senti sua falta. - Ricky fez uma breve pausa - Mas agora eu estou bem, estou aqui, estou ótimo. Eu só queria te ver e... você é linda. Eu te amo. - minha boca que beijava delicadamente sua bochecha foi em direção aos seus lábios.

Desejei tanto beijá-lo novamente que meus lábios doeram. Poder tocá-lo, senti-lo... era como se tivessem devolvido meu sopro de vida.
Nos beijamos como da primeira vez... devagar, apenas sentindo um os lábios do outro.
Logo nossas línguas se encontraram, achei que nunca mais fosse sentir sua boca quente tomando o controle da minha.
As mãos de Ricky foram percorrendo o meu corpo com vontade e logo eu me vi em seu colo.
Ele se levantou comigo e subiu as escadas ainda sem parar o beijo. Tanto tempo longe, não era o fôlego que iria nos separar.

- Senti tanto a sua falta. - ele dizia enquanto beijava meu pescoço e voltava para minha boca com mais desejo.

Ricky empurrou a porta do quarto com a perna e me colocou na cama com todo o cuidado. Seus olhos brilhantes passeavam  por cada canto do meu corpo. - Tão linda... - ele parecia admirado - E só minha! - voltamos a nos beijar e enquanto ele desabotoava minha blusa  eu tirava a sua farda.

Logo nossos corpos eram só um. Ficar junto não era suficiente para matar a saudade e cair a ficha de que aquilo era real. Então, quando nossos corpos se uniram no ato de paixão e desejo, era como se as estrelas fizessem amor com o universo. Estávamos vivos.

...

Toda manhã, quando eu acordava me sentia sufocada. Eu estava vivendo sem um propósito. Sempre saltando todos os obstáculos. Fazendo círculos no escuro com uma bússola quebrada. Eu não conseguiria explicar como me sinto.
Cometi erros, isso é tão evidente. Mas agora o amor está aqui.
E em um mundo tão inconstante Ricky Edwards Donovan era a única coisa certa que eu tinha. Ele transformava a escuridão em luz do sol.
Eu realmente sou uma garota de sorte.

- Bom dia. - Ricky disse preguiçoso e com os seus lindos olhos azuis pouco abertos

- Amo você. - me enrolei em seu corpo e ali fiquei. Eu falaria o quanto eu o amava sempre que pudesse.

- Esperei tanto por isso. - ele me apertou contra o seu corpo

- Eu nem consigo explicar como me sinto. Parece que não é real. - fiz uma pausa - Mas você está realmente aqui, meu amor. - enchi seu rosto de beijos

- Sim, eu estou aqui, meu amor. EU ESTOU AQUI! - ele gritou e parecia que ia explodir de tanta felicidade

Naquela manhã fomos tomar café na padaria perto de casa. Estávamos de mãos dadas e sorridentes, mais felizes que nunca. As pessoas nos olhavam incrédulas, não pareciam acreditar que Ricky estava vivo. Algumas até nos paravam para conversar e tudo, como antigamente. Eu estava tendo a minha vida de volta.

- Pra viagem, por favor! - Ricky disse para o atendente da padaria - Obrigado. - pegou as sacolas

- Como assim? - perguntei sem entender

- Vou te levar num lugar. Quero que conheça uma pessoa especial.

- O que está aprontando, senhor Ricky Edwards Donovan? - o encarei desconfiada enquanto voltávamos para o carro

- Vai ser ótimo! - ele sorriu e me roubou furtivamente um selinho ao abrir a porta do veículo - Um ótimo dia!

- Coisa linda. - apertei sua bochecha e retribui o beijo

- Bom, eu disse que iria te contar tudo. - Ricky estava pensativo com as mãos no volante. Era um assunto pesado para o momento feliz que estávamos tendo, mas não podia passar.

- Minha base sofreu um ataque noturno. Perdi dois homens e matamos 6 dos terroristas. Nada te atinge como uma bala. - os olhos de Ricky estavam na estrada, mas a dor era nítida

Flashback On

Ricky On

Meu dezesseis, fechado e carregado. Todo o medo tem sido evitado. Nunca deixei mostrar a dor que tenho sofrido para crescer.
Ele diz as palavras e eu aperto o dedo no gatilho. Esta poderia ser minha última vez, posso estar olhando para uma vista letal. Deixei meu medo e minha fé na linha de perigo. É um sofrimento que um homem nunca deveria conhecer.
Eu faço isso pelos que me amam, tenho uma mulher me esperando em casa.
Lá fora há muita falação sobre coisas que não sabem. As cores da  minha bandeira nunca desbotam. Sou imprudente e inabalável.

- FOGO! - gritei e atingi um dos vários inimigos

- Capitão, o Gabe. - Marshall falou desesperado ao sacudir um dos nossos que estava caído no chão

Eles podem me levar, mas nunca levaram a todos nós.

- Gabe, acorda, Gabe! - bati em seu rosto enquanto estancava sem sucesso o ferimento de bala que havia atravessado o seu pescoço

- CAPITÃO! - ouvi um dos homens gritando, senti o que deduzi ser uma bala atingindo meu colete e cai no chão

Nunca pensei que fosse deitar no meu próprio sangue. O dano feito é muito além de reparo. Eu nunca coloquei minha fé lá em cima, mas nesse momento esperava que alguém estivesse lá.
Minha visão foi ficando escura e embaçada, algo me arrastou pelo chão e o rosto de Aurora foi a última coisa que ficou na minha cabeça.

Ricky Off

Flashback Off

- Eles cuidaram de mim. Precisavam que eu estivesse vivo para poder falar tudo o que eu sabia. Mas eu fui mais inteligente. No tempo que aparentemente eu estava em coma eu conseguia ouvir as conversas sigilosas e pela madrugada eu procurava pistas para complementar o que eu já sabia. Já estava ficando difícil as coisas por lá, já haviam marcado a data da minha execução. E então atacaram a base deles da mesma forma que eles tinham feito com a minha, foi aí que consegui escapar.

Demorei um tempo para digerir tudo aquilo. Eu não queria nem pensar no que Ricky havia passado naquele lugar. Eu estava com um nó na garganta.

- Acabou, acabou. - tirei o cinto e o abracei de lado, bem forte. Como se naquele ato eu tirasse toda a dor que ele carregava dentro de si.

- Não questiono mais por que tantos morreram, minhas orações superaram isso. - ele continuava pensativo - Estar com você é a única coisa que eu quero daqui em diante. Pra sempre! - ele me olhou firme e sorrimos

Depois de pouco mais de 1 hora de viagem, chegamos num hospital que ficava numa área restrita, uma área militar.

- Tenente coronel, Capitão Ricky Donovan. - Ricky fez a continência assim que encontrou o seu superior, que respondeu da mesma forma.

- É muito bom vê-lo novamente, capitão. Vejo que voltou por um motivo muito maior. - ele disse de forma cavalheira e beijou minha mão - Foi um prazer revê-lo! - eles fizeram a continência novamente e o tenente coronel saiu

Ricky voltou a segurar na minha mão e me guiou até uma porta de um dos prédios. Na entrada tinha os seguintes dizeres "Não falar alto".

- Amor, antes de mais nada... Quando eu estava recluso, conheci um casal de prisioneiros, eles morreram no ataque. Mas dias antes a mulher havia dado a luz a uma linda menininha, o homem me fez prometer que eu a deixaria a salvo. Então, eu a trouxe comigo para a América. - ele disse e em seguida entramos pela porta

No corredor eu já podia ouvir alguns chorinhos de bebê. Logo uma enfermeira saiu do berçário com uma bebêzinha nos braços e veio em nossa direção.

- Senhor e senhora Donovan... - ela nos cumprimentou com um sorriso acolhedor

- Como ela está? - Ricky perguntou ao pegar a bebê no colo

- Está ótima, só precisa ganhar peso. Com licença. - ela se retirou

- Ricky, ela é linda. - senti que meus olhos brilharam assim que toquei na mãozinha dela - Tão pequena e já passou por tanta coisa...

- Aurora, eu quero adotá-la. Com você, meu amor. - ele segurou meu rosto me deixando estática.

- Você tá falando sério? - perguntei sem reação

- Você é a mulher da minha vida. Quero formar uma família com você, Aurora. - seus olhos brilhavam e aquele sorriso que só ele tinha tomava conta do seu rosto

Eu não falei nada. Apenas peguei a menina do seu colo e a abracei com cuidado. Ela era tão linda... logo acordou e abriu os olhinhos. Olhinhos grandes, pretos, redondos e expressivos. Cabelo liso e preto também. Uma verdadeira princesa. Me emocionei só de pensar que eu poderia me tornar mãe de uma criatura tão linda.

- Ela já tem um nome? - minha voz estava um pouco embargada. Ricky sorriu e passou o braço por nós.

- Hayat. Significa vida.

- Hayat... - sorri ainda sem tirar os olhos dela - Hayat Vallentina. Porque ela é valente e forte desde que nasceu. - apoiei minha cabeça na de Ricky e fechei os olhos curtindo aquele momento.

Era surreal a reviravolta que a minha vida havia dado de um dia para o outro. Uma hora eu me vi sozinha, numa casa vazia e sem vida. E agora já podia me ver em uma casa alegre com uma garotinha correndo com uma boneca na mão e Ricky do meu lado.
Não demorou muito e a enfermeira veio buscar a Hayat, ela precisava mamar.
E então Ricky e eu saímos de lá.

- Eu sabia que você iria topar. E eu te amo tanto. Você me faz o homem mais feliz do mundo! - Ricky me abraçou e me levantou

- Meu amor. - dei-lhe um selinho demorado

Ricky se agachou e tirou algo do bolso. Meu coração começou a palpitar depressa, eu sabia o que aquilo queria dizer. Alguns militares que passavam assobiavam e gritavam em apoio a Ricky.

- Sei que cheguei apenas ontem, te peguei de surpresa e sua cabeça deve estar numa confusão imensa. Mas esperei tanto tempo, não posso esperar mais. - ele fez uma breve pausa antes de prosseguir - Sei que fomos prejudicados,  passamos por muitas coisas. Só que isso é muito maior que você e eu. Viver sem amor seria um suicídio.
Aurora Martine Sampaio, você é paciente como nenhuma outra que já ficou comigo. Seus olhos me levam a lugares que eu nunca tinha sonhado. Sua voz é a única música que eu não posso ficar sem.

- Ricky... - eu tentava conter a emoção e o choro se confundia com o sorriso

- Então se hoje eu estou fazendo mil planos, firmando compromisso... é porque vai ser você a mãe dos meus filhos. Casa comigo? - ele estendeu a caixinha com o anel

Eu não tinha palavras.

- Aceita logo. - alguém gritou no meio da pequena multidão que nos assistia e tinha até algumas pessoas gravando

Ri da situação e apenas assenti ainda sem palavras. Ricky se levantou e me abraçou forte. Era o começo de uma nova etapa das nossas vidas.

-----------------------------------------------------------

"Uma gota no oceano ou simples grão de areia podem mudar tudo. Reescrever a história, transformar dor em glória em um segundo."