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História Memento Mori - A Dama do meio-dia.


Escrita por: ForsakenBoy

Notas do Autor


Oe oe pessoas, tudo sussa? Bem, passei a madrugada estudando e escrevendo. Juro que daqui pra frente as coisas vão tomar um rumo com mais sentido e tudo mais.
Enfim, boa leitura!
(PS: Juro que confiro o cap. e arrumo os erros quando eu chegar mais tarde!)

Capítulo 3 - A Dama do meio-dia.


Talita permanecia parada, com o vazio encarando Noite. Tyler ainda estava preso nos longos cabelos da garota, que tinha lágrimas escorrendo nos cantos de seus olhos.

- Isso é só o que consigo te mostrar aqui, menina. – Diz Talita. – Esse é um mundo cheio de dor e sofrimento.

Noite a encara.

- E qual mundo não é assim? – Diz a menina, secando as lágrimas. – Eu vou te ajudar.

A fantasma ri e a velha cabana treme.

- Senhorita, deveríamos ir agora, sim? – Diz Tyler, tremendo.

- Ajudar-me como, menina? – Diz Talita.

- Vou te libertar. – Diz Noite. – Não sei como, mas vou.

Silêncio. O pequeno espelho da rosa dos ventos emitia uma fraca luz dourada.

- O que é isto? – Pergunta a fantasma.

- Minha... – Noite hesita, não sabia como se referir à Lili. – Minha chefe me deu.

- Vire o espelho. – Diz a fantasma.

Noite o vira, assim como fora pedido. A rosa dos ventos na parte de trás indicava um caminho ao sudeste.

- O que é isso? – Pergunta Noite.

- Um artefato mágico, menina. – Diz a fantasma.

- Eu vou voltar. – Diz Noite. – Eu juro.

A fantasma começa a flutuar.

- Tudo bem. – Diz ela. – Não é como se eu fosse sair daqui. Tenho uma eternidade pela frente.

Noite começa a caminhar para fora da cabana.

- Quer saber uma curiosidade sobre a morte? – Diz Talita.

Noite vira-se.

- Sua alma sente a dor do momento da sua morte, pra sempre. – Diz a fantasma.

Noite engole seco, sai da cabana e encara o espelho.

- Senhorita, isso é demais para meus sentimentos. – Diz Tyler. – Necessito de cuidados.

- Tudo bem, Tyler. – Diz Noite. – Você sabe como fazemos pra sair dessa floresta?

- Claro senhorita, apenas...

A rosa dos ventos, atrás do pequeno espelho, aponta para o norte.

- Acho que sei como faço pra sair daqui. – Diz Noite.

- Bem, se a senhorita o diz. - Tyler fala, aconchegando-se na cabeça da garota.

Noite caminha floresta à dentro por alguns minutos e logo está de volta ao campo com grama alta. Ao longe ela avista a casa de Lili:

A estrutura era engraçada. O telhado era coberto por palha, as paredes eram de pedras brancas assemelhando-se a mármore.

Noite entra na casa, Lili estava sentada numa cadeira de balanço lendo o mesmo livro da noite em que ela acordara na cama.

- Ora, já está de volta hum? – Diz a velha. – Vejo que trouxe consigo a janta.

Tyler se agarra mais ao cabelo da garota.

Lili ri.

- Ora, acalme-se ouriço, estou apenas brincando. – Diz Lili. – Agora venha cá, darei um jeito nesta sua pata.

Noite estende a mão acima da cabeça para que Tyler suba e então o coloca à mesa.

- Grato senhorita. – Diz o ouriço. – Devo dizer-lhe, minha senhora, que estou deveras apreensivo para com a maneira que irá tratar de meu ferimento.

Lili ri.

Algumas palavras indecifráveis são pronunciadas por Lili, e então a pata de Tyler está curada.

- Ora! Isso foi mais rápido e menos dolorido do que eu havia pensado. – Diz o ouriço. – Grato.

Tyler então fica em pé sobre duas patas e caminha ao longo da mesa de madeira.

- Magia? – Pergunta Noite.

- Magia. – Responde Lili. – E então, como foi com Talita?

- A senhora sabia dela? – Noite volta a perguntar.

- Claro que sabia. Se não fosse por ela não teria te mandado até aquela cabana abandonada no meio da floresta. – Diz Lili.

Noite vê, em cima da cama, sua velha bolsa de couro na qual guardara seu diário.

- Ah sim, esqueci de entregar-lhe sua bolsa. – Diz a velha.

- Vi coisas terríveis. – Diz Noite pegando a bolsa.

- Isso foi a um bom tempo, querida. Não há com o que se preocupar. Todos aqueles humanos já são pó. – Diz Lili.

- Talita diz que a alma sente toda a dor da hora da morte. – Noite diz. – Pra sempre.

Um calafrio sobe a espinha da garota.

- Infelizmente, no caso dela, é assim. – Diz Lili.

- Eu não sei o que fazer. – Diz a menina. – Por que me mandou lá?

- Pra conhecer a fantasma. – Responde a velha. – E para que começasse o pagamento de seu débito.

- Isso não responde muita coisa. – Diz Noite.

- Livre a alma da criança daquela cabana. – Diz Lili, agora acendendo o fogo de sua lareira. – E depois conversaremos mais.

- Não sei como fazer isso. – Responde a garota.

- Descubra. – Diz Lili.

- A senhora deve saber como fazer. – Diz Noite. – Se me falar as coisas seriam bem mais simples.

- E bem mais sem graça. – Diz Lili sorrindo. – Agora vamos, logo a tarde chegará e eu tenho que te mostrar coisas. Volte à cabana.

Noite suspira.

- Senhorita, permita-me te acompanhar novamente. – Diz Tyler.

Noite estende a mão até o ouriço e o coloca de volta em sua cabeça.

- Me mostre o caminho da cabana. – Noite diz ao espelho da rosa dos ventos, que aponta para o Sul.

Lili ri uma risada lenta e falha.

- Vejo que já entendeu o espelho. – Diz a velha.

- Demorou um pouco. – Noite responde.

Depois de algum tempo de caminhada a garota está de volta ao barraco.

Talita estava flutuando pelo lugar, em silêncio.

- E então? – Pergunta a fantasma.

- Não sei como te ajudar. – Diz Noite. – Mas vou descobrir.

A garota caminha até a lareira e usa a fraca luz do espelho para iluminar a escritura cravada nos tijolos.

- Tyler, consegue ler isso? – Pergunta Noite.

- Deixe-me ver, senhorita. – Diz o ouriço.

Noite estende a mão até Tyler e depois o leva até o tijolo gravado.

O ouriço resmungava enquanto lia aquela língua estranha.

- Isto é sânscrito. – Diz o ouriço. – E está escrito “nascença”.

- Obrigada Tyler. – Noite diz, o colocando dentro de sua bolsa de couro desta vez.

O ouriço observava tudo apenas com sua cabeça para fora.

- Ora, não é tão confortável quanto sua cabeça, mas ainda assim é melhor do que caminhar. – Diz ele.

Noite sorri.

- Não quero que meus cabelos fiquem cheirando a ouriço. – Diz a menina. – Sem ofensas.

- Não aprendi a ler. – Diz Talita. – Não era algo costumeiro.

Silêncio.

- O que faremos agora? – Pergunta Tyler.

- Não sei. Mas algo a ver com nascença. – Diz Noite.

A fantasma flutua pela casa.

- Minha mãe me contava histórias de como eu nasci. – Diz Talita.

- E como era essa história? – Pergunta Noite.

- Às margens do antigo rio da cidade. Ela lavava às roupas e enchia um balde d’água quando estava grávida de mim. Num instante ela estava recolhendo roupas, n’outro ela estava dando a luz a mim. – Diz Talita. – Ela dizia que eu nasci sem avisar, simplesmente nasci. E que, enquanto dava a luz a mim, encostada ao tronco de uma árvore, ela pôde ver um anjo.  

- Onde fica esse rio? – Pergunta Noite. – Ou melhor: Onde ficava?

- Se minha memória não falha, menina, apenas seguia reto da porta de casa até o fim da vila e lá estava o rio. – Diz a fantasma.

Noite pega o espelho.

- Rio. – Ela diz.

Nenhuma direção era apontada.

- Bem. – Diz Noite. – Vejo o que faço.

A garota volta a caminhar. Ao sair da cabana ela dá de cara com a floresta densa.

- Tyler, sabe como chegar à essa velha vila? – Pergunta Noite.

- Tecnicamente, senhorita, nós já estamos nela. – Diz o ouriço.

A garota suspira.

Os dois seguem reto. Noite consegue perceber, com muita atenção, que embaixo de raízes e folhagens havia restos de madeira e tijolos que agora faziam parte da paisagem selvagem do lugar.

Pouco tempo depois Noite chega à margem de um rio que agora estava seco.

- Ela disse uma árvore. – Noite resmunga. – E um anjo.

Os ruídos da floresta eram maiores ali. Mesmo que Tyler seja o único animal que ela encontrara por ali, a garota ainda temia ser atacada.

A marca em seu pescoço volta a arder. Noite curva-se para frente.

- Senhorita? – Diz Tyler. – Esta tudo bem?

- Argh... Tá... É que... – Noite se cala. Ao chão ela consegue ver uma sapatilha.

- É... É da minha irmã. – Diz a menina.

- Como é senhorita? – Tyler pergunta.

- Essa sapatilha é da minha irmã. – Noite repete. – Marcela!

Nada.

- Marcela! – Noite grita.

Silêncio.

- Não sabia que você tinha uma irmã. – Diz Tyler.

- Marcela! – Noite ignora Tyler.

Ouve-se algo mexer-se atrás de folhagens.

- Marcela? – Noite diz, correndo até onde o barulho veio.

Arbustos mexem-se novamente. Noite afasta as folhas e então vê:

Pedaços de pano e o outro par da sapatilha que havia em suas mãos.

O coração da menina acelera. Noite sente, mais uma vez, a temperatura de seu corpo subir; Era como se subitamente uma febre exorbitante atingisse a garota.

- Senhorita, é impressão minha ou aqui faz mais calor? – Diz Tyler.

O pentagrama em seu pescoço volta a queimar. Desta vez ela sentia-se no lugar de Talita quando fora cremada viva.

Noite grita de dor. Ao chão, ela se contorce. A dor cessa.

A garota chora.

- Ora, senhorita! O que há? Vamos, conte-me. – Diz Tyler, saindo de dentro da pequena bolsa de couro e caminhando até Noite.

Noite se encosta ao tronco de uma árvore.

“Céus... Marcela, espero que esteja bem.” Pensa ela.

- Senhorita, atrás de você, veja. – Diz Tyler.

Noite seca as lágrimas e então vê: Mais palavras estranhas. Ela pega o pequeno espelho e ilumina para que Tyler consiga ler.

- Senhorita, acho que vai gostar de saber disso. – Diz Tyler.

- O que é? – Pergunta Noite.

- “O que veio do fogo, para o fogo há de ir. Nem céu nem inferno, pra nenhum desses lugares poderá partir. Nesta terra teu pó ficará e neste mundo você residirá, a fim de nunca reencarnar. Tua alma irá vagar...”

- “Deste momento até o infinito.” – Diz Noite, interrompendo Tyler.

- Ah, a senhorita conhece este texto? – O ouriço pergunta.

- Vi na lembrança de Talita. – Diz Noite. – Foi o que a Velha de Branco recitou antes de queimarem a menina.

- Não gosto disso, não mesmo. – Diz Tyler.

Um estrondo.

O pentagrama de Noite cria em volta dela e de Tyler uma esfera roxa e densa.

- O que é isso? – Pergunta Tyler.

- Não sei. – Diz a menina levantando-se.

- Seja bem-vinda querida. – Diz uma voz masculina.

- Quem está ai? – Pergunta Noite olhando ao redor.

De trás do tronco da árvore que ela inspecionara sai a figura de um homem alto e magricela, vestindo-se com um terno risca de giz preto e uma gravata vermelha.

- Mas... O que? – Diz Noite. – Quem é você? Não chegue perto.

- Não conseguiria nem se quisesse. – Diz o homem. – Parece que já previam minha aparição. – Diz o homem, com uma voz suave e aconchegante.

- Como se chama? – Pergunta Noite.

- Me chame de Sam. – Diz ele. – Não gostaria que soubesse meu nome.

- Nomes tem poder. – Diz a menina.

- Vejo que aprende rápido. – Diz ele.

- Pois é. – Diz Noite. – O que quer aqui?

- Nada. Apenas vim te fazer uma visita de boas-vindas. – Diz o homem. – Saudar-te! Se Lili pôde o fazer, porque eu também não poderia?

- Conhece Lili? – Pergunta Noite.

- Ah claro! – Diz o homem, agora sorrindo. Seus cabelos, negros e bagunçados, caíam sobre a face.

Sam assopra uma parte de sua franja.

- Preciso de um novo corte. – Ele diz sorrindo. – Conheço Lili muito bem, menina! Mais do que você pode imaginar.

- É um parente? – Pergunta Noite.

- Já fui um grande amigo, pode-se dizer. – Diz Sam. – Vim pedir-te que me entregue estas sapatilhas. A dona delas sente falta de tal.

- Você sabe onde está Marcela? – Pergunta Noite.

- A garota ruiva, você quis dizer? – Pergunta Sam.

- Sim!

- Ela está em meus aposentos nesse exato momento. Descansando após tempos difíceis. Sejamos francos: Ambas passaram por maus momentos por aqui. – Diz Sam. – Agora vamos, entregue-me as sapatilhas.

- Onde está Marcela? – Pergunta Noite.

- Em meus aposen...

- Onde você vive? – Noite interrompe o homem, enraivecendo-se.

Sam sorri e ajeita sua gravata vermelha.

- Não seria justo comigo te contar isso. – Diz ele. – Também não sei onde vive Lili.

Silêncio.

- Acalme-se criança! – Sam diz rindo. – Não irei fazer mal à sua irmã. Preciso dela do mesmo modo de que Lili precisa de você.

- Para quê? – Pergunta Noite, caminhando até Sam.

Noite não conseguia sair do campo roxo que aparecera. Sam caminha um pouco mais para perto e encara a menina.

- São parecidas mesmo. – Diz ele. – Exceto pelos cabelos.

Sam ri.

- Fique com as sapatilhas de sua irmã. – Ele diz. – Direi a ela que te encontrei. Boa sorte, electi.

E, com outro estrondo, Sam desaparece.

O campo roxo é desfeito. Tyler se escondia dentro da velha bolsa de couro.

- Ele já foi? – Pergunta o ouriço.

- Já. – Diz Noite.

- Senhorita, por acaso você sabe o porque d’ele ter te chamado de “electi”? – Pergunta Tyler.

- Não sei o que isso significa. – Diz Noite.

- “Electi”, do latim “Eleita”. – Responde o ouriço.

Silêncio.

- Preciso encontrar minha irmã. – Diz Noite. – Mas antes preciso cumprir com o que disse à Talita. Vamos Tyler, pense! Não há mais nada escrito nesse tronco?

Noite olha em volta do tronco e vê, ao longe, uma lápide.

- Isso também é sânscrito? – Pergunta Noite à Tyler.

- Sim senhorita. – Responde o ouriço.

Entre alguns resmungos, Tyler vai lendo o que há escrito na lápide.

- O que diz aí Tyler? – Pergunta a menina.

- “Aqui jaz a velha-dama” – Diz o ouriço. – Céus, está ficando calor por aqui.

- Também sinto isso. – Diz Noite. – E eu estou ficando faminta.

- Eu que o diga. – Diz Tyler.

- É correto afirmar que os humanos nascem apenas parar morrer? – Uma voz velha e já conhecida por Noite.

A garota se vira e vê, então, uma senhora vestida de branco.

- Minha mãe sempre dizia que nascemos para viver. – Diz Noite.

A velha ri.

- Criança, o que faz tão longe de casa? – Pergunta ela.

- Não queria estar aqui. – Responde Noite.

- E porque está? – A velha de branco volta a perguntar.

- Porque o meu dever. – Diz Noite.

Silêncio.

- Por que prendeu a alma de Talita na Terra? – Pergunta Noite.

- Porque vermelho se chama vermelho, e não verde? – Pergunta a velha.

- Porque se fosse verde, se chamaria verde, e não vermelho. – Responde Noite.

A velha ri novamente.

- Prendi porque era necessário. – Diz ela.

- Qual a sua dor? – Pergunta Noite.

- Hm?

- Talita disse que quando morremos, a alma sente a dor da morte pra sempre. – Diz a menina.

- Não sinto dor menina, só inquietação. – Diz a velha.

- Como faço para libertá-la? – Pergunta a menina.

- Por que o céu é azul? – Pergunta a velha.

- Porque a vida é assim. – Responde Noite.

A velha ri de novo.

- Vou aceitar sua última resposta. – Diz ela.

Tyler se remexia dentro da bolsa de couro, se escondendo com medo.

- Seu encantamento está entalhado nesse tronco. – Diz Noite. – O tijolo da velha cabana me trouxe até aqui.

- Sim, sei disso. – Diz a velha. – A garota está presa aqui por causa do ódio, menina.

- Ódio... E você, está presa aqui por quê?

Silêncio. Uma longa e falha risada da velha de branco.

- Pra impedir que pessoas como você desfaçam o trabalho de milênios. – Diz ela.

- Eu jurei que a ajudaria. – Diz Noite. – Mesmo não sabendo como.

A figura da velha de branco desaparece, e a figura de uma jovem garota, de talvez 12 anos, aparece.

- Logo após chover, o que permanece: O cheiro da chuva ou o de terra molhada? – Pergunta a garotinha.

- Minha mãe costumava chamar de cheirinho de conforto. – Diz Noite.

A garotinha ri.

- Preciso ir. – Diz Noite. – Espero que você consiga ir em frente.

Quando Noite está perto da velha cabana Tyler coloca a cabeça pra fora da bolsa.

- Sim Tyler? – Diz Noite.

- Era... Era a “Dama do meio-dia”. – Diz o ouriço.

- O que seria isso? – Pergunta a menina.

- Um espírito que aparece, ora velha, ora criança e ora jovem-moça. Ela faz perguntas, e se respondidas incorretamente ela o decapita. – Diz o ouriço.

Noite engole em seco e ouve a risada da velha ecoar em sua mente.

- Bem, parece que respondi tudo de maneira satisfatória, afinal, ainda estamos aqui. – Diz Noite.

O ouriço emite um guinchado estranho.

- Isso foi sua risada? – Pergunta a garota.

- Foi sim, senhorita. – Diz Tyler.

Eles entram na cabana.

- E então? – Pergunta Talita, que estava de cabeça para baixo no teto da velha cabana.

- Quem você odeia? – Pergunta Noite.

- Todos que fizeram isso comigo. – Responde a menina, logo em seguida.

- Porque você ainda odeia? – Pergunta Noite.

Silêncio.

- Eles já estão mortos. – Diz Noite. – Não há como se vingar de alguém morto.

Mais silêncio.

Noite caminha até a lareira.

- Sinto muito por sua mãe e por você. Sei que não mereciam isso, mas... Sua mãe seguiu em frente, porque você também não segue? – Pergunta Noite.

Silêncio.

- Do pó o homem veio, ao pó o homem irá. Por quê? – Pergunta uma voz velha.

Tyler, Talita e Noite olham para a figura velha que agora está dentro da casa.

- Dama do meio-dia... – Resmunga Noite.

A menina engole seco.

- É o ciclo da vida. – Responde Noite.

Agora que ela sabia o que aconteceria se desagradasse a velha, toda resposta era um peso.

Talita, com seu vazio, encarava a velha.

- O que é ser livre? – Pergunta a velha.

“Uma pergunta sem resposta.” Pensa Noite.

Num piscar de olhos, uma foice passa perto de Noite, que se joga para trás por puro reflexo.

- Senhorita! – Grita Tyler, correndo até a garota.

A imagem da velha, carregando uma foice, estava parada em frente à porta de entrada da velha cabana.

- Foi aí que minha mãe matou o primeiro dos homens a morrer naquela noite. – Diz Talita encarando a velha.

A Dama do meio-dia flutua numa velocidade incrível até Noite e lança a lâmina de sua foice sobre a garota, que gira para a esquerda afim de não ser atingida.

- Aí foi onde matei meu tio Claus, arrancando a jugular dele com meus dentes. – Diz a garota fantasma.

- Talita! Você precisa esquecer! – Diz Noite se levantando.

A velha passa sua foice na horizontal, perto do pescoço de Noite, que evita ser atingida jogando-se para frente.

- E aí eu matei um dos homens com a agulha de crochê de minha mãe, atravessando-a num dos olhos do bastardo. – Diz Talita.

Tyler se escondera num dos cantos da cabana e observava Noite evitando ser pega pela Dama do meio-dia.

Talita flutuava ao redor de Noite, apenas observando.

- Aí é onde você vai ser decapitada. – Diz a menina.

Noite encara Talita.

Uma foice se aproximava da garota. Um súbito calor aparece no corpo de Noite. O pentagrama deixado no pescoço da menina não doera.

A foice, que iria cortar a cabeça da garota como se fosse papel, para.

- Velho espírito que jaz neste mundo, por ódio oriundo de um dever impuro; - Diz Noite, recitando palavras que nasciam em sua língua, não em sua mente. – Abaixai a foice, cessai o ódio; Já não mais tens o dever de sacrificar-se, segue em frente tendo em mente que teu dever fora cumprido. Que seu caminho seja seguido.

Noite encarava a figura da velha que congelara. Os olhos sem cor agora começavam a criar vida. A imagem branca dos pés a cabeça agora vestia-se de azul.

- Já não mais está presa nesse mundo criança. – Diz a velha olhando para Talita. – Boa sorte, Electi. – Ela diz para Noite e em seguida desaparece.

O calor dissipa. Noite cai de joelhos no chão da velha cabana.

- Senhoria! – Diz Tyler correndo até a menina. – Esta tudo bem?

Noite ofegava.

- Não sabia que era uma bruxa. – Diz Talita flutuando ao redor de Noite.

- Não... Não sou... – Diz Noite ofegando.

A gravura que estava no tijolo da lareira sumira. O fantasma de Talita atravessava as paredes da velha cabana. De repende o velho barraco começa a tremer.  As madeiras que sustentaram milênios aquele lugar, agora ruiam.

- Senhorita, temos que sair daqui! Levante-se! – Dizia Tyler.

- Não consigo mover minhas pernas. – Diz Noite.

A garota estava cansada demais para qualquer coisa.

Ripas e pedaços de madeira caíam do teto. Poeira consumia o lugar.

- Senhoria! Vamos, você tem que tentar! – Dizia Tyler.

Talita reaparece dentro da casa.

- Menina, saia daqui! – Diz a fantasma.

Uma das vigas da casa despenca em direção à Noite. Talita flutua em direção à menina. A marca no pescoço de Noite brilha num tom preto.

O espírito de Talita possuíra o corpo de Noite, que com um impulso sem igual desvia da viga.

- Senhorita?! – Grita Tyler.

Noite, agora possuída por Talita, pega o ouriço de mãos nuas e corre pra fora da cabana, que desmorona logo em seguida.

Talita volta à flutuar em volta do corpo adormecido de Noite.

Escuro.

- Já estava na hora de acordar, garota. – Diz Lili.

Um cheiro de sopa invadia o nariz de Noite.

- Eu...

- Está viva. – Diz Lili interrompendo Noite. – Graças à Talita.

- Talita? – Pergunta Noite, sentando-se à cama de palha.

O fantasma da menina flutuava ao redor da casa.

- Onde está Tyler? – Pergunta Noite.

- Dormindo na mesa. – Diz Lili. – Agora vamos, beba sua sopa. Desta vez não coloquei nabos.

Lili entrega um pote de madeira à Noite.

- Obrigada. – Diz a menina.

- As únicas coisas que sustentavam a casa eram o ódio e o dever. – Disse Lili. – Depois que você enviou o espírito da velha para outro plano e a velha libertou Talita, nada mais segurava aquela casa de pé.

- Como eu fiz aquilo? – Pergunta Noite.

- Bem... – Lili diz, desaparecendo e reaparecendo com um grande livro nas mãos. – Você usou magia. Nada muito impressionante, tenho que admitir. Mas para alguém sem conhecimento foi até que bom.

Noite dá um gole na sopa. Estava melhor do que antes.

“Parece que não como há tempos.” Pensa a menina.

- Dois dias. – Responde Lili.

Noite encara a velha.

- Perdoe-me, é o hábito de ouvir pensamentos. – Diz Lili.

Noite sorri e toma outro gole de sopa.

- Amanhã, ao acordar, encontre-me fora de casa. Temos algo a conversar. – Diz a velha.

Noite acena positivamente com a cabeça e volta a tomar a sopa.


Notas Finais


Bem, como eu disse: Confiro mais tarde o cap. e arrumo os erros (que devem ser vários porque escrevi com sono).
Fora a isso, obrigado por ler! Logo vem mais.
See ya!


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