Noite encarava Sam.
A garota começa a sentir uma sensação de raiva crescer dentro de si mesma.
- Não quero sua visita. – Diz Noite.
- Nem pra saber como está a sua irmã? – Pergunta Sam.
O homem se aproxima das margens do rio. Noite caminha mais para o fundo. O campo roxo seguia a menina.
- Como está a... – Noite não consegue pronunciar o nome de sua irmã.
Sam ri.
- O que aconteceu com ela? – Noite grita.
- Nada demais. – Responde o homem. – Apenas o que há de acontecer.
A sensação de raiva cresce em Noite.
- Diga à sua mentora que mandei lembranças. – Diz Sam.
O homem desaparece como da última vez, logo em seguida o campo roxo some.
Noite suspira.
- Lili já chegou. – Diz Talita aparecendo sobre o rio.
- Obrigada. – Diz Noite.
Depois de se lavar um pouco mais, a garota sai do rio e se veste novamente, molhando suas roupas.
- Entre logo menina. – Diz Lili, aguardando do lado de fora da casa. – Logo vai nevar.
As duas entram. A lareira já estava acesa, e Tyler estava à mesa, comendo uma banana.
- Serei direta, Noite. – Diz Lili, sentando-se à mesa.
Noite engole em seco.
Lili desaparece dentro da pequena esfera incolor. Quando retorna, Noite não pode acreditar:
Uma linda mulher, de longos cabelos loiros, alta e de olhos de um impressionante roxo vibrante.
- Sente-se, criança. – Diz a mulher.
Noite não ousava desobedecer. A beleza da mulher à sua frente a hipnotizava. A longa túnica preta, que cobria seu corpo e arrastava-se no chão, tinha escrituras bordadas nas quais Noite não sabia ler.
- Ainda sou a mesma Lili que você conhecera. – Diz a mulher.
Noite observava o corpo da nova Lili, em cobiça. A mesma sensação que Nana havia trago para a menina agora estava milhões de vezes mais forte.
- Concentre-se! – Grita Lili.
A casa range. Noite volta a si.
- Lili... – Diz a menina, agora encarando os olhos roxos da mulher.
- Terei de ir. – Diz a mulher. – E infelizmente não posso te ensinar nada.
- Ir para onde? – Pergunta Noite.
- À lugares indesejados. – Responde Lili. – Logo você saberá mais sobre tudo o que está acontecendo. Até esse momento quero que cuide do meu grimório como se cuidasse de sua vida. – Lili ri. – Mesmo que não cuide muito bem de sua própria vida.
Noite olha para a bolsa de couro em cima da mesa, onde o grimório está.
- Para o pagamento de seu débito eu preciso de um último trabalho seu. – Diz Lili.
- Claro, qual? – Pergunta Noite.
- Siga, todas as noites, em direção à estrela d’alva. – Diz Lili. – Quando chegar ao seu destino ajude sua amiga a reencarnar.
- Minha... amiga? – Pergunta Noite. – Você quer dizer a Talita.
- Exatamente. – Diz Lili. – Após a reencarnação da garota fantasma tudo vai voltar a seu curso natural. Tudo irá ser explicado à caminho de seu destino, jovem electi.
Noite suspira.
- O que é electi? – Pergunta a menina.
Lili sorri.
- Saberá logo. – Ela responde.
E mais uma vez Lili se metamorfoseia numa coruja de penugem banca e cinza, com grandes olhos laranja.
Noite olha pela janela. Nevava e a Noite já caíra.
- Senhorita, pode me dizer o que foi isso? – Pergunta Tyler, acordando.
- Isso o quê? – Pergunta Noite.
- Por que ficaram quietas por tanto tempo? – Pergunta Tyler.
- Não sei. – Responde Noite. – E não temos tempo para saber. Venha Tyler, precisamos ir.
- Oh céus, onde senhorita? – Pergunta o ouriço.
Noite arrumava o grimório em sua bolsa. Logo Tyler está dentro dela. Dentro do grande caldeirão há um pouco de sopa quente. Noite devora rapidamente o resto da comida e sai.
A neve estava alta e espessa. As estrelas não brilhavam muito no céu de Lugar Nenhum.
- Talita! – Noite diz.
A fantasma aparece, de dentro da casa.
- Sim, menina? – Ela pergunta.
- Me aponte à estrela d’alva. – Diz Noite.
Talita aponta para uma estrela de brilho quase intenso.
Noite caminhava na neve.
- Teremos de passar pela cidade de antes, menina. – Diz Talita.
- Tudo bem... – Responde Noite.
A velha cidade estava coberta em neve. Os sussurros continuavam lá, assim como os fantasmas.
- Senhorita, não podemos dar a volta na cidade? – Pergunta Tyler.
- Ótima ideia. – Diz a garota.
Noite olha para dentro da cidade e, pela primeira vez, vê a aura negra que envolve o lugar.
A garota segue caminhando para a esquerda, a fim de dar a volta na velha cidade.
No meio da caminho havia uma cabana com luzes acesas.
“Não me lembro desse lugar.” Pensa Noite.
Tyler dormia dentro da bolsa.
Noite passa reto à cabana, seguindo de volta ao seu curso.
Conforme o tempo passa, a neve volta a cair e uma madrugada fria se inicia.
Noite tremia com o frio, mas ela havia de continuar seu percurso.
Vez ou outra Tyler acordava e pergunta qual era o objetivo deles, e Noite apenas ficava em silêncio.
Após caminhar por certo tempo, sempre em direção à estrela d’alva, Noite vê uma cabana com luzes acesas.
- Mas... O quê? – Ela diz.
A garota caminha até perto da cabana e vê que era a mesma que vira na última vez.
- Tyler, acorde. – Diz ela.
O ouriço vai acordando aos poucos.
- Sim, senhorita? – Diz ele.
- Veja. – Noite diz, apontando para a cabana.
- Ora... Demos uma grande volta em círculo.
- Estou certa de que não virei em lugar algum, apenas segui reto. – Diz Noite.
A madrugada estava fria.
- Vamos, conseguiremos chegar a algum lugar antes do amanhecer. – Diz Noite, voltando a caminhar.
Após certo tempo, novamente, Noite avista a velha cabana com luzes acesas.
- Mas que droga! – Diz Noite.
Talita não havia aparecido desde que Noite começara a caminhar.
- Tyler, estamos de volta no mesmo lugar. – Diz Noite ao ouriço que acabara de acordar.
Tyler estava sonolento, então limitara-se em produzir um pequeno ruído estranho.
Noite caminha até a cabana e tenta observar por uma janela tão pequena que não passaria sua mão direito. O lugar era simples, com uma lareira acesa, uma mesa e uma cama. Não havia ninguém à vista.
A garota bate à porta.
Silêncio.
Outra batida.
Alguns paços. O som de algo pesado chocando-se com o chão.
A porta abre-se.
- Boa noite. – Diz o homem gordo e alto.
- Erm... – Noite diz. – Boa noite. Eu... eu só queria saber como eu faço pra sair daqui.
O homem ri. Noite o encara, em silêncio.
- Ah, você está falando sério. – Diz ele. – Entre.
Noite hesita, mas logo entra na casa.
- Não há como sair daqui, criança. – Diz o homem gordo, sentando-se à grande cama.
- Deve haver algum jeito. – Diz Noite. – Porque eu preciso seguir a estrela d’alva, e não importa o quanto eu ande, sempre acabo aqui.
O homem ri.
- Sempre foi assim, e assim há de ser para sempre. – Diz o homem, colocando um pouco de sopa dentro de seu pote de madeira.
- Aceita? – Pergunta ele.
- Não, obrigada. – Responde Noite.
A sopa do homem era quase que negra. Alguns cubos de uma duvidosa carne boiavam na gosma.
- Eu... Vou embora. Obrigada por avisar. – Diz Noite.
- Ah, mas já? É raro ter uma companhia por aqui. – Diz o homem. – Ainda mais uma como você.
Noite engole em seco.
- Desculpe, eu realmente preciso ir antes que amanheça. – Diz a menina.
- Permita-me mostrar algo, menina. – O homem diz, levantando-se.
“Ele é realmente alto” Pensa Noite.
O homem arrasta a grande cama e revela uma escada.
- Venha comigo. – Diz ele, descendo.
Após o homem descer, Noite corre até a porta e tenta abri-la, sem sucesso. Ela olha pela janela e vê a neve caindo mais forte do que antes.
- Talita! – Noite sussurra.
Nada.
- Menina? – O homem pergunta. – Venha, não há o que temer.
Noite engole em seco novamente.
Ela desce as escadas. A parte de baixo era feita de várias pedras bonitas. O lugar era alto o suficiente para que o homem gordo pudesse ficar de pé.
Noite caminhava atrás do homem, em silêncio. Tochas iluminavam o local.
- Senhorita... Poderíamos ir embora? – Cochicha Tyler.
- Também queria, mas não dá. – Responde Noite, também cochichando.
Noite vê um grande quadro, com a pintura de uma grande família de pessoas altas e bem gordas.
- Essa é a minha família. – Diz o homem. – E este sou eu. – Ele diz, apontando para a criança gorda no quadro.
- Onde estão? – Pergunta Noite.
Silêncio.
- Venha. – Diz o homem.
Eles continuam caminhando. Vários quadros continuam aparecendo ao decorrer do caminho. Vários deles eram de insetos e besouros.
- É aqui. – Diz o homem. – Entre.
Ele abre a porta. Noite o acompanha com uma sensação desesperadora dentro de si.
Era uma sala cheia de vidros com insetos empalhados dentro. Borboletas, besouros dos mais diversos tipos, aranhas, abelhas... E só. Vidros e vidros por todo o lado da grande sala.
- São lindos não? – Pergunta o homem.
Noite silencia. Ela continua olhando ao redor da sala.
- Eles não conseguiriam sobreviver lá fora, sabe? – O homem diz. – Lá fora quase não há insetos. E tê-los na minha coleção é uma coisa muito importante.
Noite vê, embaixo de seus pés, uma marca vermelho-escura.
- Há tempos não recebo uma visitante para contemplar meu trabalho. – Diz o homem.
- Certo... – Diz Noite dando um passo para trás.
A marca vermelho-escura estava ali, seca.
- Sabe, estou sozinho há tanto tempo. É bom ver um rosto novo. – Diz o homem.
- Eu... Eu tenho que ir, infelizmente. – Diz Noite.
- Poxa!
Silêncio.
- Fique um pouco mais, posso te mostrar uma nova sala. – Diz o homem.
- Eu realmente tenho que ir. – Diz Noite.
O homem ri.
- Não seja uma inútil fazendo algo inútil como tentar sair daqui. – Diz ele. – Fique e faça algo de útil. Eu já disse que é impossível sair daqui. Não sem passar pela cidade.
Noite engole em seco. O homem se aproxima. A garota corre.
A risada do homem ecoava pelo longo corredor cheio de tochas. Os quadros de insetos amedrontavam a menina.
A escada que ela usara para descer sumira.
- Não há como fugir. – Diz o homem.
Apenas sua voz podia ser ouvida.
Noite tira o grimório de sua bolsa. Tyler se esconde, transformando-se numa pequena bolinha de espinhos.
A risada do homem ficava mais alta.
A garota abre o livro e passa os olhos por várias palavras. Suas mãos tremiam.
O tom alaranjado das tochas fazia com que as sombras do lugar fossem mais intensas.
- Venha comigo, apenas mais uma sala. – Diz o homem, aparecendo à frente à luz de uma das tochas.
Noite encosta-se a uma parede atrás dela. Não havia pra onde correr a não ser para frente.
- Afaste-se... – Diz a menina.
O homem ri. Ele ria do desespero da menina.
Ele caminhava em direção à Noite, o que fazia com que o homem parecesse mais alto a cada passo.
- Eu disse pra se afastar. – Diz a menina.
A queimação do pentagrama em seu pescoço não era a maior preocupação de Noite, que tremia com os passos do homem à sua frente.
Outra risada.
- SE AFASTE! – Grita noite.
Um impulso. O homem para de rir.
- Uma devedora. – Diz o homem, observando Noite.
Ele ri. Seu sorriso era tão grande que, literalmente, ia de orelha a orelha. Seus dentes eram amarelos.
Noite estende o braço em direção ao homem.
- Não chegue mais perto. – Diz Noite.
O homem para.
- Deixe-me ir ou...
Noite hesita.
- Ou? – Diz homem.
Ele ri.
- Está óbvio que você é uma devedora sem treino.
Noite engole em seco.
O homem começa a correr até ela.
- Não se mexa! – Ela grita.
A marca incendeia. A cor roxo-claro que emanava da marca, agora emanava da mão de Noite. O grande homem gordo congela no lugar. A cor que emanava das mãos de Noite brilha no homem, por um breve segundo, e desaparece.
Noite suspira, aliviada.
- Vadia. – Diz ele, parado em seu lugar. – Você sabe o que vou fazer contigo?
Noite passa por ele, encarando seus pequenos olhos pretos.
- Eu vou cortar a sua cabeça fora. – Ele diz. – Enquanto eu te fodo. Que nem um louva-a-deus.
Noite começa a correr. O corredor era longo e interminável. A garota passa pela porta do quarto cheio de insetos empalhados e continua correndo.
- Senhorita, o que faremos agora? – Pergunta Tyler.
- Não sei. – Diz Noite. – Realmente, não sei.
Uma porta de madeira, larga e alta, estava no fim do corredor.
Noite ouve um zumbido.
Ela entra.
Um mau-cheiro insuportável adentra as narinas da garota, que fica em choque.
Uma sala com vários corpos, alguns em decomposição. Alguns deles nus. Corpos de mulheres, homens, velhos, crianças, bebês e animais.
Noite ouve novamente um zumbido. Ela fecha a porta atrás de si e desce uma escadaria.
- Senhorita... Não vamos conseguir. – Diz Tyler.
- Calado! – Diz Noite.
Uma grande pilha de corpos em decomposição, inchados exalando chorume estava bem no centro da sala. Machados, serras, correntes e outras coisas estavam presas à parede.
A porta se abre.
O homem encara a sala, sorrindo.
- Você não vai conseguir se esconder menina. – Diz ele. – Conheço esse como conheço o meu pau.
Noite segura o vômito. Lágrimas escorriam de seus olhos, enquanto ela se escondia entre os corpos em decomposição.
Um estrondo.
- Sabe o que eu tenho na mão, criança? – O homem diz. – Um machado. E bem afiado pra poder cortar sua cabeça. Decidi que vou fazer diferente.
Outro estrondo.
Pequenas larvas brancas começam a andar pelo corpo de Noite.
- Vou cortar um membro seu de cada vez, enquanto eu te fodo, claro, e depois arranco seus olhinhos lindos. – O homem diz. – E depois, corto sua língua. E antes de você morrer, corto sua cabeça fora.
O homem ri.
Outro estrondo, este mais perto de Noite.
- Ah claro! – O homem diz rindo. – Lembre-se: Eu vou te estuprar enquanto faço todas essas coisas.
Outra risada.
Um estrondo bem em frente à Noite. Os corpos cobriam a menina. Ela prende a respiração. Por entre as brechas de luz ela podia ver um braço.
- Te encontrei. – Diz o homem.
Noite grita. Os corpos que estavam em cima da menina voam pela grande sala.
O campo de força roxo reaparece.
O homem ri.
- Criança! – Ele grita, batendo no campo com seu machado. – Isso não vai te salvar!
A cada batida do machado Noite podia sentir sua marca queimar. Ela chorava, mas não mais por si mesma, e sim por cada um ali naquela sala. Cada criança, cada mulher, homem; Chorava por cada ser humano.
- Eu sinto a dor de vocês. – Ela diz, chorando. – Eu sinto muito!
Noite realmente sentia. Ela conseguia sentir em si mesma a dor, o desespero, a angústia de cada alma ali presente.
Sussurros e gritos. Cada uma das almas presas ali não descansaria até ver aquele homem morto.
- Sabe! – O gordo diz. – Eu empalho os corpos que gosto. Os que eu não gosto, coloco ovos e enterro.
Mais uma machadada no campo de força roxo. Noite havia parado de chorar.
- S-senhorita? – Tyler diz de dentro da bolsa.
O homem se aproxima de Noite com o machado em mãos. Seus longos cabelos negros começam a flutuar ao redor de si mesma. Seus olhos brilhavam em roxo-claro, assim como suas duas mãos.
O homem se distancia.
- Ser vil, sua alma não pertence mais a este mundo. Sua existência causa dor e sofrimento, seu coração é imundo.
Tal coisa não merece existir. – Recita Noite. – Tal coisa merece explodir.
Pouco a pouco o grande homem gordo vai inchando, inchando tanto até que em um momento suas vísceras explodem pela sala e seu sangue jorra pelo chão.
Os olhos de Noite voltam à cor normal e o pentagrama em seu pescoço não queima mais. Ela cai de joelhos no chão daquele lugar imundo e fica em silêncio.
- Senhorita. – Diz Tyler. – Precisamos achar uma saída, o que acha?
Noite sorri.
- Certo Tyler. Precisamos. – Diz Noite.
Todas as almas ali haviam se libertado. Noite não sentia mais a dor e o sofrimento, mas estranhamente sentia um ódio exorbitante.
Noite caminha pelo corredor longo e quase sem fim. Ela observa o lugar onde a escada estivera anteriormente. A luz da cabana do homem gordo brilhava.
- Senhorita, como iremos subir? – Pergunta Tyler.
- Temos de descobrir. – Diz Noite, pegando o grimório de Lili dentro de sua bolsa.
Depois de certo tempo de procura ela lê uma magia de levitação.
- Certo, vamos tentar. – Diz Noite.
Tyler fica observando com a cabeça para fora da bolsa.
Noite se concentra e encara fixamente um dos pontos onde deveria estar a escada, logo fecha seus olhos.
Tyler ainda a observava silenciosamente.
Logo a garota levita a alguns centímetros do chão. Tyler fica maravilhado, mas não diz nada. Aos poucos Noite vai subindo mais e mais. A garota abre os olhos.
- Tá dando certo! – Ela diz, sorrindo.
Ela flutua o suficiente para encostar no teto da parte de baixo da casa. Noite flutua um pouco mais e chega à cabana. Suas pernas tremem de fraqueza.
- Bom trabalho, senhorita Noite. – Diz Tyler.
- Obrigada. – A menina diz sorrindo.
A garota se senta na cama, mas a ideia de descansar naquela casa onde o homem gordo vivia a abominava.
- Vamos Tyler. – Diz Noite.
- Mas... Senhorita, nós temos que descansar e...
- Já estou bem, não podemos perder tempo. – Diz a menina, se levantando.
Noite caminha pra fora da casa. A porta se abre sem nenhuma resistência.
A neve ainda caía. A noite ainda estava fria. A cidade continuava ali.
- Temos de ir por dentro da cidade. – Diz Noite. – Foi o que o homem gordo disse.
- Certo. – Tyler Diz.
Noite volta a caminhar. A cabana atrás deles se apaga. Ela desmorona.
Um urro sai de dentro dos escombros.
Noite vira-se e mais uma vez vê aquela figura encapuzada, pele como carvão, um braço maior que o outro e com um cheiro de putrefação: Lucífago Rofocale.
Noite começa a correr para dentro da cidade. As almas de lá continuam seus afazeres infinitos. O demônio adentra a cidade numa velocidade alta.
- Talita! – Grita Noite.
Nenhum sinal da garota fantasma.
O demônio urra. A terra treme. Noite se desequilibra, mas continua correndo.
- Oh céus! Hoje não é o nosso dia de sorte. – Diz Tyler voltando a ser uma pequena bolinha de espinhos dentro da bolsa de couro.
As pernas de Noite começaram a tremer. Ela estava fraca depois de tudo o que acontecera na casa do homem gordo.
A criatura urra novamente. Noite cai ao chão.
- Talita! – Ela grita.
Mais uma vez, nada.
Logo grandes correntes reluzentes prendem o demônio no chão, que urra.
Logo Noite vê, atrás do monstro, um garoto. Ele recitava alguma coisa que ela não conseguia ouvir. As correntes reluzentes começam a brilhar mais intensamente e Noite cobre os olhos. Assim que os abre, a garota vê que mais uma vez o demônio sumira.
O garoto caminha até noite e lhe oferece a mão. Ela limpa os joelhos que estão sujos e ralados.
- Obrigada. – Ela diz ao garoto.
Ele era consideravelmente alto. Aparentava a mesma idade que Noite. Cabelos cacheados que caíam à altura do ombro e olhos cor de mel.
- O que você tá fazendo aqui, nesse fim de mundo? – Pergunta o garoto.
- Tô indo pra fora dele. – Diz Noite. – É o meu trabalho.
- Entendo. – Diz o garoto. – Você quase se fodeu legal.
Ele ri.
- Sério, se aquela coisa tocasse em você, você estaria mortinha agora. Tipo, você seria um desses fantasmas. – Diz ele. – Como devo te chamar?
A garota o encara.
- Noite. – Ela responde.
O garoto ri segurando sua barriga, como se ela fosse cair ou algo assim.
- O que tem de tão engraçado? – Pergunta Noite.
- É que... – O garoto diz, parando de rir. – É que eu sou Dia.
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