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História Memórias Rasgadas - Capítulo XI


Escrita por: Imagination

Notas do Autor


Obrigada por todos os comentários, mensagens, favoritos e a todos os que acompanham o enredo!

Capítulo 11 - Capítulo XI


Capítulo XI

 

Armin ria encostado ao namorado na paragem de autocarro. Era da manhã, os dois só saíram aquela hora da moradia onde decorreu a festa e após terem adormecido, um deles acordou com planos naquela manhã. A intenção era aproveitar a casa de banho para um banho relaxante, mas o estudante de medicina não resistiu à expressão fofa e irresistível do companheiro na cama que dormia tranquilamente. A respiração tranquila que escapava dos lábios apetecíveis e o cabelo desarrumado que tocava alguns pontos do rosto masculino e atraente.

Toda essa admiração resultou em acordar Levi que inconscientemente agarrou os fios loiros mesmo antes de abrir os olhos e encontrar o namorado com a boca ocupada e expressão repleta de malícia. O que era sem dúvida uma ótima forma de acordar e Levi não se mostrou nada contra, deixando que Armin o levasse ao primeiro orgasmo da manhã. Seguiu-se então a ida de banho, aproveitando que havia uma banheira. Um luxo que ambos não possuíam atualmente.

Embora o jovem de olhos cinza não fosse tão a favor disso por não poderem mudar para uma roupa limpa, este acabou mais uma vez influenciado por Armin. Graças a isso, veio mais uma sessão quente entre dois, terminando com Levi a sair para ir buscar o lubrificante e alguns minutos mais tarde, Armin apoiado na parede próxima à porta a tentar aguentar as investidas que recebeu antes de ambos atingirem o clímax.

Quando os dois estavam a refazer-se do momento, ouviram uma batida forte na porta. Enrolando uma toalha na cintura e com a camisola preta ainda vestida deixou o loiro para trás antes de abrir a porta. Em vez da dona da casa ou algum bêbado em fase de ressaca, Levi encontrou uma agente da polícia que corou ligeiramente antes de dizer que tinham sido chamados pelos vizinhos e precisavam que todos saíssem da casa. À pergunta:

– Está tudo bem por aqui?

– Tudo ótimo até interromperem. – Foi a resposta e o loiro riu perante o ar corado da agente que disse que os deixava vestirem-se, mas depois precisava que saíssem.

Não era necessário ser um génio para saber o que ambos tinham estado a fazer momentos antes e as duas marcas no pescoço de Levi também não deixavam dúvidas. Portanto, Armin podia compreender o embaraço da agente que era claramente uma novata. O loiro não conseguia deixar de achar a situação bastante engraçada.

Mesmo que não tenha convencido Levi a tomar banho juntos porque claramente o outro não queria ser visto totalmente sem roupa, Armin ainda considerava a manhã assim como a noite como momentos que não iria esquecer.

Além disso, assim como Levi tinha avisado, acabou por se sentir bastante dolorido, mas como se considerava alguém tão sortudo, teve a oportunidade de ser carregado pelo namorado. Os olhares que receberam de algumas pessoas caíram na insignificância, pois os dois só se conseguiam divertir com toda a situação porque ainda estavam com as roupas e Levi carregou Armin nas costas até à paragem de autocarro.

O loiro pensava que o namorado o iria acompanhar até à residência de estudantes, mas em vez disso, Levi convidou-o para ir até ao apartamento. Agora que Armin já sabia que Eren morava lá, o outro deixou de ter motivos para esconder a presença do moreno. Isso espalhou um sorriso bem rasgado do loiro ao que se seguiram vários beijos no rosto.

A caminho do apartamento no percurso realizado a pé, encontraram Kuro e Armin ficou de imediato encantado por finalmente conhecer o gato de perto. Ver como o pequeno animal era super meigo com Levi, apenas tornava tudo ainda mais perfeito. Kuro também se deixou acariciar por Armin, mas quis manter-se nos braços de Levi.

– Não é muito grande, mas é a minha casa. – Disse o jovem de cabelos negros um pouco ansioso ao ver silêncio do namorado que observava o espaço. Kuro saltou dos braços dele e entrou no quarto.

– É pequeno, mas é aconchegante. Faz-me lembrar definitivamente de ti.

– O que raio é que isso quer dizer? – Perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– Estava a referir-me à tua altura. – Brincou e acrescentou. – Em outras partes és bastante dotado.

– Mais uma piada sobre a minha altura e levo-te de volta. – Comentou entre os dentes enquanto Armin abraçava-o.

– Pronto, pronto. – Disse, deixando um beijando no rosto dele. – O que dizes de prepararmos qualquer coisa para comer?

Foi assim que se mudou o tema de conversa e o casal se distraiu a preparar o pequeno-almoço visto que ainda não tinham comido nada deste da noite anterior. O estudante de olhos azuis notou que as coisas de Eren ficavam perto do sofá, indicando que seria ali que o moreno ficava a maior parte do tempo. Era ótimo que esse ainda não tivesse chegado. Quem sabe com alguma sorte, conseguissem estar os dois sozinhos. Ainda que o loiro também não se fosse incomodar se Eren resolvesse aparecer, pois queria que o outro visse os dois juntos para que não houvesse dúvidas de há quem tenha um relacionamento normal e saudável.

– O teu quarto é tão arrumado como eu imaginava. – Disse depois de comerem, arrumarem a cozinha e entrarem no quarto. Armin sentou-se na cama enquanto acariciava Kuro.

– Espero que isso seja um elogio. – Comentou ao passo que procurava roupa diferente para vestir.

– Claro que é. – Sorriu. – Podes emprestar-me também alguma roupa? Desculpa, sei que estou a ser bem chato.

– Claro que não estás. – Descartou de imediato. – Só não tenho nada muito glamoroso. Gostaste desta com o Pacman, não é?

– Sim! – Respondeu entusiasmado. – Não te preocupes com o estilo. Eu também não sou exatamente a vanguarda da moda. – Viu que o namorado trazia a camisola com o Pacman e umas calças cinza de estilo largo e desportivo. Notou também que Levi também tinha separado qualquer coisa para ele, mas claramente hesitava em trocar de roupa. – Vou à casa de banho e já volto, ok? – Disse com um sorriso antes de sair.

Levi sabia a razão, mas não foi capaz de chamar o loiro de volta. No fundo até agradecia por ter alguém tão compreensivo que respeitasse os complexos dele. Aproveitou para mudar de roupa e quando Armin voltou não fez qualquer comentário e também mudou a roupa dele.

– O que queres ver? – Perguntou Levi com o computador sobre as pernas. – Avisando já que a minha conexão não é das melhores por isso, podemos ter que esperar vários minutos até que o episódio esteja totalmente carregado.

– Hum, o que estás a ver agora?

Black Butler e a Guerra dos Tronos como principais, mas estou a poucos episódios de acabar Noragami.

– Esse também já acabou. Só boas escolhas. – Elogiou sorridente.

– Podemos ver outra coisa que prefiras.

– Podemos ver Noragami. – Disse Armin. – Acho que já revi esse três vezes, mas não me canso de rever.

Levi começou por selecionar o episódio e notou uma mensagem deixado no Skype.

– Aviso também que é provável que a Hanji interrompa a certa altura porque quer saber como foi a festa.

– Ela está online?

– Ainda não, mas é provável que apareça. Vais poder ver a loucura em primeira mão.

Armin riu.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

A ressaca era uma coisa expectável. Já tinha lidado com isso várias vezes no passado. Embora também fosse costume ter alguém por perto, mesmo que fosse uma das funcionárias da casa oferecer-lhe comprimidos para aliviar sintomas, copos de água e a irritá-lo com várias questões que acabavam com ele a gritar com elas, dizendo para o deixarem em paz.

De certo modo preferia que elas estivessem ali, pois dessa forma não estaria a receber tantos olhares de outras pessoas enquanto estava sentado ao lado de uma sanita numa casa de banho que até dava nojo de ver.

Pelo menos já não sentia o gosto de sangue na boca.

Quando acordou de manhã com a ânsia de vómito quase não foi capaz de alcançar a casa de banho. Ouviu Jean grunhir qualquer coisa enquanto o moreno vestia uma peça de roupa e saía num misto de dor e enjoo que quase o impediu de chegar ao destino. Das primeiras vezes que expulsou o conteúdo do estômago, o sabor a sangue deixou-o preocupado e cada movimento trazia lágrimas aos olhos. Já nem tinha a certeza se a dor teria aliviado ou se estava a habituar-se. Também já não sabia se devia preocupar-se com qualquer das hipóteses.

A noite anterior terminou de forma desastrosa. Nem sabia ao certo o que pensar.

Era verdade que a situação começou a piorar depois de ter sido agredido por Marco. Antes disso não tinha muitas razões de queixa. Atraía os olhares, os toques indiscretos e dava um pouco de atenção a quem considerava merecedor. Ofereceram-lhe bebidas que na maior parte das vezes não recusou e quando o álcool começava a nublar a realidade, viu sem dúvida nenhuma uma das pessoas mais atraentes da festa. Só reparou que se tratava de Levi quando o agarrou e os olhos cinza focaram-se nele, empurrando-o sem hesitações.

Chegou a pensar que apesar da agressividade inicial, conseguiria trocar mais um beijou ou até mais com o companheiro de apartamento. Porém, Levi não tinha as mesmas intenções e atirou uma bebida para a cara dele antes de desaparecer no meio da multidão.

Pese embora algumas falhas na memória causadas pela embriaguez, Eren recordava-se de ter parado para limpar o líquido que lhe escorria pela cara e mais tarde encontrou Jean com quem decidiu que acabaria a noite, exceto se o namorado encontrasse mais alguém com quem pudessem partilhar o resto da noite. Ao reencontrar Levi de mãos dadas com o loiro insuportável, na opinião dele, Eren quis tentar ir ao encontro dos dois, mas Jean reparou em outra pessoa. Um desconhecido bastante interessante que Jean indicou que era um tal Marco que queria que Eren seduzisse.

Eren não falhava. Se quisesse, acabaria por ter quem desejasse e apostando nisso, o namorado deixou-o com a tarefa de convencer o tipo vestido de vampiro com uma aparência bem apetecível. Com a confiança que o caracterizava foi ao encontro do alvo, convencido de que o desconhecido estaria nas suas mãos em pouco tempo.

Contudo, aconteceu o inesperado. A expressão do desconhecido mudou em questão de segundos e viu nos olhos do outro um ódio incompreensível que precedeu o golpe violento que o deixou a agonizar no chão. Mesmo as palavras que vieram depois do golpe foram pronunciadas com tal menosprezo que se questionou se teria feito alguma coisa. Porém, ele tinha quase a certeza que nunca viu aquele jovem antes.

Deixando isso de parte, a ansiedade tomou conta do moreno ao notar que a respiração era difícil e que a dor parecia alastrar-se. Tentou movimentar-se para sair do chão, mas cada gesto nesse sentido, tornava tudo ainda mais doloroso. Passaram várias pessoas e tentou pedir-lhes ajuda, mas mesmo procurar elevar o tom de voz causava dor.

Além disso, ninguém parecia minimamente interessado nele, mesmo que estivesse no chão. Será que não o reconheciam? Será que pensavam que tinha caído por estar bêbado? Mesmo assim, não seria de se esperar que alguém fosse confirmar? Ninguém o fez. Não soube ao certo quando tempo esteve no chão, ignorado por tudo e todos até que a visão começou a concentrar-se numa voz que o chamava. Atordoado e embriagado demorou até reconhecer as feições de Jean. Aquele que apenas piorou tudo.

 

Flashback

– O que estás aqui a fazer, otário? Sabes há quanto tempo estou à tua espera? – Perguntou irritado e quando puxou o braço do moreno, este queixou-se de modo audível.

Caralho, não…

– Deixa-te de dramas e levanta-te! – Falou rispidamente, agarrou Eren outra vez que se levantou entre várias queixas e teve que apoiar-se na parede. Estava trémulo, procurando recuperar o fôlego que perdeu com os espasmos de dor que experienciou ao erguer-se.

– Jean, acho que…

– Onde está o Marco? – Cortou com o mesmo tom áspero.

– Eu…

– Não me digas que caíste podre de bêbado no chão e deixaste-o escapar?! – Empurrou Eren que tentou responder com a mesma agressividade, mas não foi capaz ao ser trespassado por mais dor ao movimentar-se.

– Pára de me empurrar! – Falou com uma voz que apesar da irritação, tremia um pouco. – Aquele filho da puta bateu-me e custa-me…

– O quê?! – Segurou os colarinhos do moreno, empurrando-o contra a parede. – A sério que estragaste tudo?! Falaste de mim, mas onde raio está o teu charme Jaeger?!

– Jean, larga-me não consi…

– Faço o que eu quiser! – Interrompeu encolerizado.

– Preciso ir para casa. – Murmurou incapaz de conter a expressão de dor.

– Casa? Estás a brincar comigo. – Foi a resposta que teve.

Não era a primeira vez que estavam embriagados na presença um do outro. Nesse estado já tinham passado bons bocados. Discutido também, mas nada passava de alguns empurrões que terminavam em pouco tempo. Jean era do tipo bem conflituoso quando estava bêbado, mas seria fácil ignorá-lo e deixar que outra pessoa lidasse com isso e provavelmente, regressasse mais tarde para alguma sessão brusca mas quente de sexo. Nada disso o incomodou no passado.

Porém, Jean mesmo diante da dor visível no rosto do moreno, tomado quem sabe pelo álcool, praticamente arrastou-o pela casa, ignorando qualquer queixa ou pedido para parar ou ir mais devagar. Sempre que falava na direção dele, gritava e chamava-o entre várias coisas de inútil e incompetente.

Em condições normais, Eren não deixaria que aquilo fosse dito sem qualquer resposta. Só que o moreno estava ocupado a tentar recuperar o fôlego e a lidar com a dor forte presente em cada movimento. Portanto, mostrou-se surpreendido ao ver que apesar dos tropeções e empurrões, estavam de volta à residência de estudantes. Como ambos se encontravam muito bêbados, não seria boa ideia Jean conduzir e levá-lo a casa. Sim, ele quis considerar as boas intenções do namorado ao arrastá-lo até ali. Não o iria levar a casa, mas pelo menos poderia descansar, tomar qualquer coisa para as dores e dormir até ao dia seguinte.

Ao sentar-se na cama em dificuldades, Eren ergueu o rosto.

– Podes arranjar qualquer coisa para a dor?

– Ainda é cedo para teres ressaca. – Mexeu na gaveta que havia na mesinha de cabeceira ao lado da cama e atirou para a cama lubrificante e preservativos.

– Está a brincar, certo? – Perguntou com raiva, vendo o namorado desapertar as calças. – Achas que estou a fingir? Eu preciso de descansar!

– Pará de inventar merdas e usar essa boca para chupar. – Agarrou os cabelos castanhos, trazendo o rosto do moreno para perto do seu membro, mas Eren empurrou-o.

– Ouviste o que eu disse? Eu nã… – Recebeu uma chapada no rosto.

– Depois da merda que fizeste, tens é que obedecer! – Empurrou para que Eren se deitasse na cama e devido à dor contundente, o moreno acabou por ceder deixando escapar várias queixas.

– Pára, eu… não estou bem…

Não conseguia afastar Jean que quase se sentou sobre o peito dele, agarrando os cabelos castanhos.

– Ultimamente, só tens desculpas para mim. – Bateu novamente no rosto do moreno com a mão livre para o forçar a abrir a boca. – Chupa ou vai ser pior, Eren!

Atordoado pelo golpe, dor e efeito do álcool, o moreno separou os lábios e engasgou-se um pouco com a força com que Jean empurrou o membro dentro da boca. Não tinha forças nos braços para tentar controlar o ritmo que o namorado exigia que mantivesse. Tentou alertá-lo pelos sons que lhe escapavam da garganta, mas Jean mostrava-se pouco ou nada interessado no sofrimento dele. Continuava com as investidas, impedindo que fosse capaz de controlar quantas vezes se engasgou e só quando se sentiu satisfeito, deixou livre a boca do moreno. Assim que o fez, este tossiu várias vezes, procurando recuperar o oxigénio que lhe escapou e ao mesmo tempo parar a tosse que piorava a dor que estava a sentir. Ainda estava a tentar recuperar, viu como Jean ainda não tinha acabado e puxava sem cuidado as calças e boxers.

– Não, não… – Repetia. – Jean, eu não vou…

– Não estou a perguntar. Estou a tomar o que é meu. – Depois de ter colocado lubrificante no membro, posicionou-se entre as pernas do moreno que as tentou fechar ou mesmo pontapear Jean, mas a dor retirava-lhe grande parte das forças. – Só estás a piorar a situação.

– Ah! Pára! Pára! Está a doer muito! – Disse alarmado ao ver que o namorado entrava nele sem o preparar. – Jean!

– Shh. – Bateu no rosto de Eren novamente que gritou quando Jean empurrou tudo de uma só vez. – Vá menos escândalo. Não é como se fosses algum virgem. – Riu antes de iniciar os movimentos e ver como o outro tremia debaixo dele.

– Pára… ah! – Tentava dizer com lágrimas a cair, pois era incapaz de suportar a dor que piorava com o ritmo insensato do outro que ignorava todo e qualquer sinal de que Eren não estava minimamente preparado ou excitado, mas sim a contorcer-se de dor.

Foi entre queixas, lágrimas e soluços que viu Jean chegar ao clímax.

– Vês? Não foi assim tão mau. – Disse, saindo dele e atirando um cobertor para cima do moreno que ainda trémulo, apenas se encolheu com a dor e fechou os olhos, implorando para adormecer e se possível, acordar no dia seguinte sem aquela dor terrível.

Fim do Flashback

 

Demorou a adormecer e quando isso aconteceu, realmente teve a esperança de que a noite anterior não passasse de um pesadelo irreal.

O estômago parecia finalmente vazio e depois de puxar o autoclismo, caminhou até aos lavatórios daquela casa de banho partilhada. Cada passo era um martírio e os poucos estudantes da residência que se encontravam ali, continuavam a lançar-lhe olhares. Talvez fosse pelo coxear ou quem sabe…

Seja pelo meu aspeto terrível”, concluiu ao ver o reflexo no espelho.

A palidez dividia a atenção com as manchas negras no rosto, fruto dos golpes recebidos. Não era mesmo só um pesadelo. Tudo aconteceu e embora Jean e ele já tivessem deixado marcas negras um no outro, tudo foi resultado de uma luta entre os dois em que ninguém teve uma vantagem real. Era somente pura estupidez.

No entanto, desta vez Jean bateu-lhe com a certeza de que ele não era capaz de ripostar. Ignorou todos os pedidos para parar.

Quero sair daqui”, concluiu após passar água no rosto e regressou lentamente ao quarto, pois cada passo era complicado devido à dor persistente. Rodou a maçaneta e com desdém viu que o namorado já estava acordado. Pretendia apenas encontrar o telemóvel e a carteira que deixou ali antes de saírem na noite anterior e evitar qualquer conversa com o outro. Porém, Jean parecia ter outras ideias e começou logo pelo comentário errado.

– O que fizeste à tua cara?

– Isso é alguma piada de mau gosto? És um filho da puta.

– Não te bati assim com tanta força para ficares assim. – Argumentou.

– Não e com certeza também não me ouviste dizer para parar. – Pegou a carteira e telemóvel.

– Não sejas exagerado. Vá, fica mais um bocado e levo-te a casa depois.

– Vai-te foder, Jean. – Foi a resposta que teve e calçando as sapatilhas sem apertar os cordões, saiu do quarto.

Não queria ver a cara do outro. Não depois do que aconteceu na noite anterior e por mais que o conforto que uma viagem de carro pudesse trazer, olhar ou estar perto de Jean era motivo suficiente para desistir da ideia. Portanto, mesmo que lentamente dirigiu-se à paragem de autocarro, onde recebeu olhares de outras pessoas mas ninguém lhe dirigiu a palavra. O transporte demorou uma eternidade para chegar e quando o fez, quase todos os lugares sentados estavam ocupados. Felizmente sobravam alguns, ainda que fossem lugares prioritários e à conta disso tenha recebido vários olhares desagradáveis porque não cedeu o lugar a pelo menos três pessoas de idade que passaram ao lado dele. Eren fez questão de ignorar a existência de tudo e todos que o observaram com menosprezo.

Quando finalmente avistou o prédio onde morava atualmente quase teve vontade de ligar para a mãe e implorar para voltar para casa. Tendo em consideração as dores que ainda sentia, deitar-se naquele que era o sofá mais desconfortável da história, parecia uma ideia pouco atrativa.

O moreno suspirou demoradamente diante da porta antes de bater.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

– Ouviste?

– Sim, estão a bater à porta. – Respondeu Levi, pausando o vídeo no computador e ia se levantar, mas o loiro adiantou-se.

– Imagino quem seja. Deixa estar que vou eu abrir a porta. – Sorriu e apontou para o ecrã onde Levi viu a notificação do Skype. – Além disso, parece que a Hanji já está disponível e assim quando eu voltar, já entro e interrompo a conversa. – Piscou o olho e saiu da cama.

Faço questão de ser eu a abrir a porta”, pensou o loiro, encostando a porta do quarto e com passos relaxados, aproximou-se da entrada. Respirou fundo e abriu a porta. A surpresa nos olhos verdes com olheiras não escaparam ao olhar observador do loiro que logo virou as costas.

– Perdeste alguma coisa por aqui? – Perguntou Eren.

– Não, mas essa devia ser a minha pergunta. – Ripostou Armin, olhando para o moreno de soslaio. – Eu vim ver o meu namorado. Qual é a sua desculpa? – Não esperou muito tempo pela resposta até porque aparentemente o moreno também não sabia muito bem como responder.

O estudante de medicina regressou ao quarto, fechando a porta.

– É ele? – Perguntou Levi, acariciando Kuro que estava deitado ao lado dele.

– Sim, mas pouco conversador. Provavelmente pela ressaca. – Encolheu os ombros. – Então não era a Hanji?

– Era, mas só para dizer que não podia ligar agora, mas ligava mais tarde. Provavelmente depois do almoço.

– Hum, então podemos continuar a ver Noragami. – Sorriu, aconchegando-se ao lado de Levi.

O jovem de cabelos negros ainda escutou alguns minutos depois o som da água a correr, indicando que Eren estaria a tomar banho. Um excessivamente demorado, pois ouviu mais tarde o som de coisas a caírem na casa de banho. A água quente tinha um limite de tempo, embora na teoria fosse mais do que suficiente para se tomar banho normal, mas não para ficar a refletir sobre a vida debaixo do chuveiro.

Mais tarde, tanto Levi como Armin saíram do quarto para preparar o almoço. Mais uma vez havia um pouco de água na sala, mas o loiro fez questão de se ocupar disso, deixando que Levi se concentrasse somente na confeção da refeição.

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Enrolado nos cobertores, Eren tentava adormecer no sofá ainda que também quisesse expulsar o loiro dali.

Quem é que ele pensa que é? Acha que pode falar comigo de qualquer forma?”, questionou-se e se não estivesse completamente dolorido, o moreno tinha a certeza que o loiro já teria saído a correr e a chorar daquele apartamento. Ouvir a voz dele dentro do quarto também estava a enervá-lo. Como se isso não fosse suficiente quando os dois saíram do quarto, teve que ouvir as conversas idiotas e reparar que por alguma razão até mesmo o gato parecia gostar de Armin.

Quanto mais escutava a interação deles, mais vontade de gritar sentia. Queria o loiro longe dali. Não queria ouvir tons de voz alegres. Não queria sentir-se completamente ignorado ao passo que os outros seguiam as suas vidas como se aquele dia fosse uma maravilha.

Porém, a realidade dele não podia estar mais longe desse cenário. Por que razão teria que ver outros a serem felizes enquanto ele se contorcia de dores no sofá? Que direito têm os outros de estar bem, quando ele não estava? Talvez tivesse esperado demais e fosse altura de ir adiante com o plano da Mikasa. Só que antes faria questão de desmoronar todos aqueles sorrisinhos e atmosfera tranquila. Faria o loiro chorar de novo e o Levi… bom, esse iria arrepender-se de o ter reencontrado de novo. Afinal Levi já tinha feito qualquer coisa no passado dele, por que razão não devia continuar a ser castigado?

Ele merece… como se não bastasse ter feito de mim um otário no passado, agora prefere a companhia deste nerd oxigenado”, pensava sentindo-se cada vez mais envenenado pelos próprios pensamentos. Tudo o que pensava soava-lhe válido e verdadeiro, ainda que não quisesse reconhecer outro tipo de ressentimento. Sendo verdade que nunca esperou ou teve um namorado atencioso porque só conseguia ver falsidade nisso, ver a forma como aqueles dois se relacionavam, deixava-o com um certo despeito. O que nem considerava normal, visto que ter Jean como namorado serviu sobretudo para não ter que viver aquela hipocrisia.

Se isso era verdade e continuava a ser verdade por que razão estava a… invejar o que via?

 

*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*

 

Assim como esperava, Hanji adorou conhecer e conversar com Armin. Por um lado, Levi gostava de ver a boa relação entre os dois, mas por outro lado assustava-o os temas em comum que encontravam. Talvez isso significasse que ele receberia menos imagens questionáveis da parte da melhor amiga, dado que agora tinha outra pessoa que de facto parecia ansioso por receber esse tipo de conteúdo.

O namorado só regressou à residência de estudantes no dia seguinte e isso porque os dois ainda precisavam de utilizar pelo menos o domingo para trabalhos relacionados com a faculdade. Felizmente, Levi teve dispensa e não teve que trabalhar, caso contrário poderia ter tido problemas em organizar o tempo para as coisas que precisava de fazer.

Consequentemente passou o dia em torno dos livros e do computador, não deixando de notar que à exceção de algumas bolachas e iogurtes, Eren não comia mais nada e passou tanto o sábado como domingo a dormir no sofá. Sempre que saía do quarto e passava pela sala, recriminava-se por acabar por olhar para o sofá. Com certeza, o moreno não estaria doente de novo, apenas estaria a experienciar os efeitos de uma forte ressaca. Isso era problema exclusivamente dele e por isso, ignorar era o melhor a fazer. Eren não merecia qualquer consideração da parte dele.

Estava a acabar de se arranjar para sair segunda de manhã, quando recebeu um email. Tratava-se de uma resposta acerca do trabalho que tinha feito com os ficheiros Excel. Agradecia o bom trabalho e avisava que o pagamento já tinha sido realizado. Não referia valores, o que era sempre uma coisa que causava desconforto ao jovem de cabelos negros. Se não controlasse, o outro seria bem capaz de depositar quantias exageradas, portanto, gostava de negociar para se assegurar que não havia exageros. Porém daquela vez colocou dinheiro na conta dele sem conversarem previamente. Às vezes arrependia-se de ter dado os dados da conta bancária. É claro que na altura deu como desculpa a necessidade de ter um modo de pagamento mais simples, visto que estando à distância não seria prático ou seguro enviar dinheiro por correio na sequência de algum trabalho.

Com o objetivo de ter tempo para passar por um multibanco, Levi saiu um pouco mais cedo com Kuro nos braços e reparando mais uma vez que Eren continuava deitado no sofá. Forçou-se a fingir que não viu o moreno e saiu com passos apressados. Não queria perder o autocarro, mas também não queria continuar sem saber que números estavam na sua conta bancária.

Quando por fim conseguiu consultar o pequeno talão para confirmar viu que o salário já tinha caído na conta, mas ainda assim os números estavam bastante alterados. De imediato abriu tanto um email novo como enviou também mensagens através de todas as apps que tinha e em resultado, enquanto caminhava em direção à paragem de autocarro, recebeu uma chamada.

– Dá-me os dados da tua conta agora! – Exigiu.

– Bom dia, Levi. – Cumprimentou a voz calma, mas também um pouco divertida.

– Não podes pagar aquilo por meia dúzia de alterações!

– Devias receber mais, se tivermos em conta que corrigiste alguém cujo currículo é impressionante.

– Não quero saber, não posso…

– Levi, o dinheiro é meu e se eu quiser gastar contigo não deve haver problema. Gostava que gastasses em ti, mas agora que é teu, podes fazer o que entenderes.

– Não vou aceitar mais trabalhos. – Disse, tentando controlar o tom de voz pois já se encontrava na paragem.

– Também vais deixar de falar comigo?

– E se deixar?

– Levi, eu só quero que te mimes um pouco. Mereces isso.

– Não quero que me dês dinheiro desta forma. Eu… eu não sou e nem quero ser uma responsabilidade tua.

– Eu sei, mas se não gastas contigo então gasta com algo que aches certo. Nem que seja um presente para outra pessoa como a Hanji, mas não aceito devoluções. – Ouviram-se outras vozes.

– Estou a interromper o teu trabalho? – Perguntou apreensivo.

– Não. – Respondeu. – Estou noutro lugar, mas agora tenho que ir. Se não quiseres gastar o dinheiro contigo pelo menos gasta com alguém ou alguma coisa que te faça sentir bem. Não peças para devolver. Espero que tenhas um bom dia, Levi.

A chamada terminou e mais uma vez, acabou por se deixar convencer com as palavras que ouviu. Continuava a achar um exagero a quantia, mas se não aceitava devoluções pelo menos Levi poderia decidir com o que gastar. Se pensasse em presentes as imagens de Hanji e Armin surgiam na sua mente, mas se considerasse em primeiro lugar em algo que o fizesse sentir bem, então teve outra ideia.

 

Eu – Mensagem:

Nanaba tens NIB?

Se não tiveres, passo aí mais tarde. Acho que hoje passo aí de qualquer das formas.

 

Com certeza aquele seria um dos melhores usos que podia dar ao dinheiro. Guardaria um pouco para comprar qualquer coisa para a melhor amiga e também para o namorado. De resto não tinha intenção de gastar dinheiro com ele. O dinheiro do salário seria suficiente.

Na primeira aula de Análise Numérica, a maioria esperava uma aula de revisão anterior ao exame que aconteceria naquela semana. Porém, o professor apareceu na aula com outras ideias nomeadamente referentes a trabalhos de grupo que teriam que ser concluídos até ao fim de aula. Levi odiava trabalhos de grupo e como normalmente ninguém queria ficar no mesmo grupo que ele, acabava por conseguir convencer os professores a apresentar trabalhos individuais. Só que como foi o professor a formar os grupos sem mostrar a abertura para qualquer tipo de argumentação, o jovem de cabelos negros acabou por ficar com mais três colegas. Num primeiro momento, os mesmos não esconderam o desagrado.

– Pelo menos parece que tomaste banho hoje. Cheiras a perfume e tal. – Comentou um deles à medida que Levi apontava no caderno os pontos pelos quais se deviam guiar para realizar a tarefa.

Os outros colegas riam.

– Sim, acho que até já decorei o guarda-roupa dele, mas pelo menos parece limpo.

– Agora com o frio já não tens que transpirar tanto nessas roupas que deves ter ido buscar a algum centro de caridade.

Mais risos.

– Olha só como está concentrado. – Falou o primeiro a iniciar a conversa. – Diz aí, ó nerd esquisito, quanto é que tiraste no primeiro teste? – Como não obteve resposta, pontapeou debaixo da mesa e viu Levi parar de escrever. – Fiz-te uma pergunta. É bom que respondas.

– Dezassete e meio. – Respondeu.

O que colocou a questão assobiou enquanto os outros mexiam nos respetivos telemóveis.

– Pronto, então já sabemos quem vai fazer o trabalho. – Anunciou. – Vá, continua a escrever. Só tens até ao fim da aula para acabar.

Levi recomeçou a escrever, fingindo não ouvir outros comentários ofensivos. Como sempre a ausência de resposta, fazia com que a atenção deles se voltasse para outras coisas mais concretamente o que havia nos ecrãs do telemóvel deles. Era quase impossível que o professor não visse que aqueles três não estavam a fazer nada e no entanto, permaneceu em silêncio até ao fim da aula.

– Hei não é suposto assinarmos todos no fim? Entregaste aquela merda sem assinar?

– Não, claro que assinei. – Respondeu e os colegas encararam como uma resposta satisfatória e deixaram-no sair da sala.

Ao longo da vida dele existiram vários trabalhos de grupo em que colocou o nome dos colegas, apenas porque o professor esperava encontrar lá vários nomes. Era lógico tratando-se de um trabalho de equipa. Porém na esmagadora maioria das vezes, Levi tinha sido o único a trabalhar. Portanto, após tanta hesitação, ele decidiu que naquela ocasião não faria o mesmo. Consequentemente, escreveu só o nome dele na última folha do trabalho. Não iria partilhar a nota com os colegas que não fizeram nada a não ser conversar e ver vídeos e imagens nos telemóveis. Não quis pensar na reação dos colegas ou do professor. Esse último talvez até nem se importasse, dada a importância que deu ao facto de os alunos estarem completamente distraídos na aula.

Assim que saiu da sala, viu uma mensagem de Armin a desculpar-se porque não seria possível encontrarem-se nos dois intervalos da manhã devido às aulas do loiro que com a proximidade dos exames, tornavam-se mais longas e exigentes. Em resposta Levi tranquilizou-o, dizendo que se veriam na hora do almoço e desejou-lhe sorte para aquele dia que se previa longo para o estudante de medicina.

As mensagens de Armin, assim como Hanji sempre acabavam por ser das poucas coisas boas que o dia podia oferecer. Eram os poucos vislumbres de positivismo que recebia porque a partir do momento que olhasse para as outras pessoas à sua volta e fosse obrigado a conviver com elas, como aconteceu na primeira aula daquela manhã, a realidade voltava a mostrar a sua podridão. Gostava de poder focar-se mais em acontecimentos positivos, visto que em geral o fim de semana foi bom. Principalmente o tempo que passou com o Armin. Isso deveria deixá-lo mais animado para a semana que se seguiria, mas como sempre, o medo de ver tudo a desmoronar de repente encontrava-se presente. Uns podiam chamar de paranoia, mas ele apenas enxergava isso como inevitável.

Ainda assim, Levi passou por aquele dia sem incidentes. Depois das aulas, encontrou-se com Armin à hora do almoço e à tarde esteve a trabalhar. Ouviu mais uma vez as piadas dos colegas a questionar se teria recebido o bónus no salário desta vez por estar sempre a tratar do lixo. Fingiu não ouvir os comentários maldosos e dessa vez até Hitch se juntou porque Levi não lhe quis dar informações sobre Marco. Ele percebeu que não só ela, como outros colegas de trabalho tinham ficado curiosos acerca dele, mas Levi não tencionava alimentar o interesse dos colegas.

De estômago vazio porque não quis continuar a ver os olhares dos colegas de trabalho, o estudante de matemática saiu do local de trabalho sem a refeição a que tinha direito após o turno. A mensagem de Nanaba animou-o porque pareceu-lhe bem entusiasmada e um pouco em choque. Ele partilhou um pouco dessa última sensação ao encontrar a mulher à espera dele no exterior que correu na direção dele, antes de o abraçar. Entre agradecer e insistir por muito tempo que não podia aceitar tanto, Nanaba acabou por chamá-lo para jantar e comemorar a bênção que aquele dinheiro representava.

Quando Levi voltou para casa, encontrou novamente Eren no sofá completamente coberto. Com Kuro nos braços, andou pouco pelo apartamento até fechar-se no quarto e iniciar mais uma videochamada com Hanji, avisando a amiga que poderia ter que se ausentar por uns dias para se concentrar nas duas semanas de exames e trabalhos. Em resposta, a amiga pediu para verem mais um episódio da Guerra dos Tronos que se transformaram em dois.

Na manhã seguinte, Levi recriminou-se por não se ter deitado mais cedo, pois depois desse episódio da Guerra dos Tronos, ele achou que seria boa ideia dar uma pequena vista de olhos no Tumblr e no Youtube. Já devia saber que iria demorar e sentir falta daquelas horas de sono.

Enquanto se preparava para sair, Levi notou que o moreno continuava na dieta de iogurtes e bolachas. Aparentemente também não tinha vontade de sair de casa e o jovem de cabelos negros perguntava-se se o moreno já não teria chumbado por faltas e caso a resposta fosse negativa, como é que isso era possível? Resistiu mais uma vez à tentação de falar com Eren e saiu.

Teve outro dia semelhante ao anterior e com intenções de chegar tarde novamente, Levi até levou o saco desportivo naquele dia. Assim depois do turno de trabalho, desta vez sem dispensar a refeição, o jovem foi até ao ginásio. Ir durante a semana era bastante melhor, sobretudo àquela hora da noite em que quase não via ninguém. Embora tenha notado que a rapariga a loira, olhava ainda mais para ele naquela noite.

Qual é o problema dela?”, perguntava-se, virando as costas para ir até ao balneário tomar banho. Não esperava que no fim, ao sair dos mesmos balneários, encontrasse a loira claramente à espera dele.

– O meu nome é Annie Leonhart. – Apresentou-se. – Estava à tua espera.

– Porquê? – Perguntou desconfiado.

– Desculpa se te incomodei com os olhares, mas és mesmo bastante parecido com a Mikasa.

– Não tenho nada a ver com ela e nem consigo arranjar um autógrafo ou coisa do género. – Respondeu num tom seco.

– Não, o assunto não tem nada a ver com ela. – Disse quase de imediato. – Na verdade tem a ver com o meu amigo que está a viver contigo, o Eren. – Viu o outro arquear a sobrancelha. – Também não sou nenhuma ex-namorada ou tipa obcecada por ele. Somos amigos e há dias que não responde às minhas mensagens. Mais precisamente desde da noite em que disse que ia a uma festa. – Explicou. – Nem tem atualizado as redes sociais e eu queria saber se está tudo bem com ele.

– Eu e ele não conversamos muito.

Isto é capaz de ser a piada do século. Eu e ele não falamos. Ponto”.

– Mas vivem debaixo do mesmo teto. – Argumentou. – Por favor, só quero saber se está tudo bem ou se podes pelo menos pedir-lhe que responda às minhas mensagens.

Levi observou-a por breves segundos antes de confirmar que passaria o recado a Eren. A loira agradeceu e não prolongou mais a troca de palavras entre eles, acenando de se afastar. Quanto ao jovem de olhos cinzentos questionava se não teria sido melhor ignorar aquele pedido, visto que não queria ter que falar com o moreno. Podia até nem o fazer. Nada o obrigava, mas e se ela fosse do tipo persistente? Ela parecia ser desse género, dado que ela o observou durante dias. Ele também podia deixar de ir ao ginásio, mas isso significava mais tempo em casa.

Além disso, não queria limitar a sua vida por causa de Annie, já bastava o desconforto de estar em casa, sabendo que o moreno estava lá. Não precisava de piorar as coisas, pensando em fugir da loira. Bastava passar o recado.

Quando chegou a casa, Eren estava novamente no sofá e enquanto Kuro já caminhava para o quarto, Levi parou um bocado na sala. Estaria o moreno a dormir? Podia deixar um bilhete e evitar falar com ele? Optando por não arrastar aquilo por mais tempo do que necessário, aclarou a garganta e viu movimento no sofá.

– Encontrei uma amiga tua, a Annie. – Viu o cobertor afastar-se, revelando os olhos verdes. – Ela pediu que respondesses às mensagens dela. – Não obteve qualquer resposta, mas pelo menos sabia que Eren o tinha escutado e por isso, caminhou até ao quarto.

Mais tarde Levi passou pela cozinha, reparando que a dieta do outro continuava a ser iogurtes e bolachas. Será que o moreno pensava que podia sobreviver a comer assim? Por que não se esforçava por fazer qualquer coisa melhor? Mesmo que não soubesse cozinhar, havia coisas simples que podia ver por exemplo, na internet. Se não fosse um caso totalmente perdido, podia-se alimentar um pouco melhor. Teria adormecido novamente? Mesmo para uma forte ressaca, ele estava há dias sem sair do sofá. Sentado na cama, Levi sentiu uma das patas de Kuro no braço. Sorriu um pouco, acariciando o animal.

– Sim, vamos dormir. – Disse, puxando os cobertores e apesar das temperaturas mais baixas, ligou a ventoinha virando-a noutra direção. Não queria o vento e sim o ruído baixo, mas constante que eliminava o silêncio e afastava a maior parte dos pensamentos. Exceto alguns que não desligavam a preocupação por Eren e outros que o alertavam para não cair nos mesmos erros. Foi com esses sentimentos contraditórios que adormeceu, mas acordou um pouco antes do despertador. Teria que sair um pouco mais cedo, pois precisava passar pelo senhorio. Era dia de pagamento da renda e até estranhava que esse não tivesse aparecido para entregar-lhe alguma outra conta enquanto “subtilmente” falava do dia de pagamento do apartamento.

Antes de sair notou mais uma vez que Eren parecia não ter intenção de sair do sofá ou de casa. Talvez não fosse boa ideia deixar aquilo arrastar-se e por isso, pensou que iria esperar um pouco mais mas depois teria que dizer qualquer coisa.

Estava tão absorto nos próprios pensamentos que não reparou que o senhorio olhou para ele depois de contar o dinheiro, como se esperasse mais alguma coisa. Porém, olhando para as horas, Levi disse que teria que sair para ir para as aulas. Não teve resposta, mas senão estivesse distraído a pensar no moreno, talvez tivesse reparado no olhar do senhorio que parecia insatisfeito. 


Notas Finais


Até ao próximo capítulo!


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