POV’S FELPS:
O bar que o Rafael tinha me passado o endereço eu sabia de cor. Era onde ele ia sempre chorar as mágoas das brigas com a Sayuri, ou eu pelas mesmas razões com a Gabs.
Encontrei a cabeça loira debruçada no balcão, com duas garrafas de cerveja do lado e um copo cheio. Sentei do seu lado e ele me olhou sem esboçar nenhuma grande reação.
“O que houve, Rafael?” – perguntei, já esperando ele negar. Pra minha surpresa, ele desandou a falar. Acho que já estava começando a ficar bêbado.
“Eu tenho que arrumar um jeito de cortar essa intimidade toda com a Flávia” – ele começou, olhava pro balcão como quem realmente estivesse quebrando a cabeça com esse assunto.
“Rafael, calma aí. Ela é sua amiga também, você sabe” – falei, tentando fazer ele pensar bem.
“Não é que eu não queira ser amigo dela, Felps. Mas ela confunde as coisas. Ela vai lá em casa quase todo dia, minha mãe chama ela de minha namorada ainda...” – o loiro desandou a falar.
“Não sei se você lembra, mas até um mês atrás você ainda ficava com ela porque queria.” – tentei traze-lo pra realidade.
“Eu tava sem ninguém, ela também, SÓ ISSO!” – ele falou, meio irritado – “Agora eu não quero mais. E não sei como dizer isso sem magoar ela.” – suspirou, após dar um longo gole. Começou a bater os dedos no balcão, em agonia. Conhecia ele. Estava incomodado.
“Rafael, você tá apaixonado pela Lola?” – perguntei. Alguma coisa tinha acontecido pra ele resolver cortar o laço de vez com a Sayuri.
“O-o que? Não! Claro que não” – ele negou, se atrapalhando demais pro meu gosto.
“Nah Cardoso então?” – espremi os olhos para ficar atento a sua reação. Ele deu uma risada até.
“Não.” – falou.
“Então o que foi seu encontro com ela?” – perguntei.
“Ela praticamente me obrigou. Mas foi legal. Mas não é o meu tipo, como você mesmo sabe” - o loiro sorriu sozinho.
“Tá me dizendo que não rolou nada entre vocês nesse encontro?” –ele negou com a cabeça de imediato.
“Ela me roubou um selinho mas expliquei que não dava pra acontecer nada” – deu de ombros, pedindo outra cerveja.
“Eu não entendo o porquê quer cortar o laço de vez com a Sasa então... Eu sei que você não tomaria essa decisão do nada, sem razão. Tava cômodo daquele jeito pra você, você sempre dizia isso.” – e ele sempre dizia mesmo, repetia como se fosse um discurso pronto toda vez que perguntávamos se eles namoravam ainda ou não.
“É mas... Argh!” – Rafael falou e eu senti que queria falar mais, porém estava sem graça – “Eu tenho certeza que se a Lola não tivesse me visto com a Sayuri ela não teria saído com o Pc. Ela deve achar que eu namoro a Sayuri ainda.” – ele falou, trincando os dentes de raiva por ter me contado.
“Como ela pode achar isso se você saiu com a Nah? Ela sabe que você saiu com a Nah, né?” – não estava entendendo nada.
“Antes de eu sair com a Nah, ela falou várias vezes que eu namorava a Flávia ainda. Eu acho que ela não acreditava em mim. Pra piorar, hoje...” – ele tossiu dando mais um gole – “Eu tava falando com ela por Skype e minha mãe chamou falando que minha namorada tava lá. Logo em seguida Sayuri entra no quarto sem nem bater. Foi horrível.”
“Rafael, então... Gosta da Lola mesmo?” – perguntei o olhando nos olhos. Ele deu de ombros e desviou o olhar. – “Se não gostasse não se importava tanto com ela” – afirmei e ele se deu por vencido após um tempo.
“Não é isso... Eu a acho bem interessante. Mas logo no início a Flávia se mostrou presente, acho que isso foi acabou sendo um bloqueio pra ela, sabe? Ela nem deve ter considerado uma hipótese ficar comigo...” – ele falou e pensou um pouco – “Na primeira festa que eu fui com ela encontrei a Flávia e ela sumiu. Sempre assim. Sempre que tá tudo indo bem e a Flávia aprece, parece que eu volto duas casas com a Lola.” – desabafou.
“Mas vocês já ficaram ou algo do tipo?” – Perguntei, meio magoado de antemão por ele não ter me contado, deduzindo que tivesse acontecido.
“Não...” – suspirou – “Mas ela agora tá saindo com o Pc, acredite se quiser.” – ele falou e eu revirei os olhos.
“Rafael, presta atenção: mesmo que ela esteja saindo com o Pc, você ainda tem chance. Não é como se ela estivesse namorando ele ou algo assim” – falei, pedindo um copo pro garçom. Resolvi que iria tomar um gole também.
“Ele tá em São Paulo, junto com ela. Eu to em Carazinho. Não posso fazer muita coisa” – suspirou.
“Ah é? Você é fácil de ser vencido então?” – falei e ele me olhou desafiado.
“Felps, Felps... Você não me provoca não” – ele riu, porém não de forma animada.
“É sério, Rafael. E daí que ela tá longe? E daí que ela saiu com o Pc? Você nem sabe se ela gostou, se foi legal” – falei e ele puxou o celular, entrando no snap. Logo virou o celular pra mim, clicando no ícone do Pc. Snaps deles se divertiram passaram pelos meus olhos, e logo Rafael puxou o celular pra ele mesmo ver.”
“Argh.” – ele resmungou, fechando o punho – “Fala sério Felipe, POR QUÊ TO COM RAIVA DO PC COM UMA GAROTA QUE CONHEÇO HÁ UM MÊS?” – grunhiu.
“Olha só... Cellbit foi pego de jeito mesmo!” – reprimi uma risada, cômico. Nunca havia o visto dessa forma. – “Você conhece ela a um mês ao vivo né? Por quê fala dos vídeos da Lola desde bem antes de namorar a Sayuri...” – constatei e ele concordou com a cabeça, pensativo.
“Odeio sentir ciúmes. Argh. Odeio pensar nela rindo das coisas que o Pc diz. Nele beijando ela. ARGH!” – ele grunhiu novamente e eu gargalhei. – “Felps, como eu posso cortar a Sasa sem magoá-la? Me ajuda, cara. Só você pode me tirar dessa” – ele falou e eu suspirei.
“Seja honesto com ela, assim como tá sendo comigo. Fala que isso vai atrapalhar seus futuros relacionamentos e que só quer ela como amiga mesmo, mas amiga de verdade e não a amizade colorida que vocês tinham.” – falei e ele concordou com a cabeça.
“Espero que resolva” – ele sussurrou, parecia mais pra si mesmo do que pra qualquer outra pessoa.
POV’S RAFAEL
Entrei no quarto e Flávia estava sentada na escrivaninha escrevendo algo numa folha de papel. Se virou com uma expressão surpresa assim que fechei a porta atrás de mim.
“Rafael...” – ela falou, voz doce.
“Sasa...” – tentei buscar por onde começaria – “É...”
Percebi que ela escondia a folha de papel atrás de si. Estranhei e fui até ela, pegando a folha das suas mãos de forma fácil, quase dada.
‘Rafael,
Percebo que não faço mais parte da sua vida há um tempo.
Não quero ser um estorvo, e sinto que estou sendo.
Estarei aqui sempre. Porém terei que me afastar.
Eu amo você. Eternamente.’
Li as palavras e olhei pra pequena ruiva sentada na minha frente com o olhar perdido.
“Eu também amo você, Sasa. Quero ser seu amigo sempre. Só... Não dá mais pra ter nada além disso, sabe?” – falei, um pouco desconcertado, e ela concordou com a cabeça.
Se aproximou de mim e, na ponta dos pés e comigo me abaixando um pouco, beijou minha testa de forma sutil. Deu adeus com a mão e saiu do quarto.
Parte de mim sentia-se mal. Parte de mim sentia-se aliviado. Parte de mim estava curiosa do que viria.
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