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História Metamorfose - O tempo roda em um instante


Escrita por: leticiamendiola

Capítulo 14 - O tempo roda em um instante


LETICIA

 

Na segunda-feira eu me surpreendi com minha mãe cedo tocando a campainha da minha casa.

“Mamãe, o que faz aqui?”

“Vim ficar com Sophi, pois se não como Fernando e você irão trabalhar?” Olhei para minha mãe e eu estava totalmente confusa.

“Mas que desculpa você deu para o papai? Ele vai reclamar”

“Não se preocupe com isso, seu pai já está sob controle” Ela me deu um sorriso indecifrável “Vá trabalhar e eu cuido de Sophi para você, ela já é grande e não dá trabalho nenhum” Eu nada disse além de um obrigada, minha mãe estava me salvando a vida e por mais estranho que fosse isso, eu não estava na posição de questioná-la sobre nada.

Deixei minha mãe na sala e subi para o quarto, Fernando estava terminando de se arrumar, expliquei a ele que minha mãe tinha se oferecido a ficar com Sophi e que eu logo iria para a Conceptos também, trocamos um rápido selinho e ele foi para o trabalho e eu para o banho.

.

Cheguei na empresa com um leve atraso de meia hora, assim que subi para meu andar, cruzei com Paula Maria e ela me puxou para sua mesa.

“Amiga, você está preparada?” Ela me perguntou em um cochicho.

“Preparada? Para que?”

“Seu Humberto está ai desde cedo e me disse que vai passar o dia hoje com você e com seu Fernando”  Não, eu não estava nenhum pouco preparada para isso.

“É melhor a gente começar a rezar” Falei em uma mistura de brincadeira e realidade.

Entrei na sala e Fernando estava sentado na minha cadeira, de cabeça baixa e olhando um papel, pelo muito que eu o conhecia, ele não fazia ideia de que papel era aquele, estava usando apenas de disfarce para não encarar seu pai. Seu Humberto estava sentado na cadeira de Fernando e lendo um arquivo no computador. Por que mesmo eu estava lá hoje? Claramente nem lugar para ficar eu tinha, o clima na sala era pesado, seu Humberto notou minha presença e como um cavalheiro se levantou para me cumprimentar.

“Leticia, tomei a liberdade de me juntar a vocês hoje no trabalho” Ele era simpático comigo e eu não pude deixar de retribuir sua simpatia.

“Eu fico feliz com isso, seu Humberto. É sempre bom uma terceira opinião nos negócios”

“Fernando, será que você pode pegar uma outra cadeira para Leticia?” Seu Humberto lhe pediu de forma fria e rapidamente Fernando  se levantou obedecendo ao pai, aquilo me incomodou de imediato.

“Seu Humberto, eu posso pedir para Paula Maria arrumar isso, Fernando pode continuar trabalhando, não é função dele buscar cadeiras” Tentei interceder.

“Bobagem, ele pega” Seu Humberto insistiu e Fernando nada disse, saiu da sala e demorou quase trinta minutos para chegar com uma cadeira, provavelmente adiou o máximo possível voltar para a presidência. Quando Fernando chegou com a cadeira, eu já estava sentada na minha e ele colocou a cadeira nova ao lado da minha e sentou-se.  Assim que ele se sentou, levei minha mão até sua perna e fiz um rápido e discreto carinho, eu estava lá para apoiar ele e queria apenas demonstrar isso, Fernando me deu um sorriso em troca e eu me concentrei no trabalho.

“Fernando, será que você pode buscar mais papel para a impressora?” O pai lhe pediu e ouvi Fernando respirar irritado, mas novamente ele nada disso, apenas se levantou e foi cumprir as ordens do pai, dessa vez eu não tentei intervir, pois já sabia que seria inútil. Durante toda a manhã seu Humberto colocou Fernando para fazer serviços que em nada tinha a ver com o andamento da empresa, ele mais parecia um boy do que um executivo, seu pai realmente não acreditava em seu trabalho. Na hora do almoço pensei que os dois almoçariam juntos, mas para minha surpresa, Márcia adentrou a sala sem nem ao menos bater ou ser anunciada.

Fernando e eu continuávamos sentados lado a lado, o olhar que ela me lançou foi de puro desprezo e eu rapidamente abaixei a cabeça e voltei a focar em qualquer papel aleatório.

“Vamos almoçar?” Ela chamou seu Humberto e ele seguiu com sua filha de criação.

Assim que a porta se fechou Fernando soltou um longo suspiro.

“Será que a tarde será tão longa quanto a manhã?” Ele me perguntou.

“Eu espero que não” Olhei para Fernando e toquei em seu queixo com meu dedo, girei seu rosto e olhei em seus olhos “Eu amo você” O sorriso que ele me deu fez meu coração acelerar,  trocamos um beijo rápido, cientes de que a qualquer momento alguém entraria ali, porém precisávamos daquele beijo.

“Eu preciso sair um pouco dessa sala hoje, vamos almoçar fora?”

“Claro”

Peguei minha bolsa e saímos da Conceptos, caminhamos até um restaurante próximo e almoçamos tranquilamente, aproveitamos o almoço para ligar para minha mãe e ter noticias sobre Sophi, como sempre tudo estava bem. Quando voltamos para a sala seu Humberto já estava lá, agora ele estava sentado em minha cadeira e usando meu computador. Eu sabia que era um direito dele, afinal a empresa era dele, mas confesso que me deu uma leve irritação e me senti sendo invadida e fiscalizada. 

A tarde se passou mais branda, porém o clima ainda era pesado e ninguém falava nada, meu celular tocou quebrando o silencio e atendi rapidamente ao ver que era minha mãe.

“Pronto, mamãe. Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com Sophi?” Ouvi pacientemente minha mãe explicar a situação, Sophia queria ir para a pracinha como no dia anterior, mas como estava chovendo minha mãe tinha lhe explicado que não podia e ela insistiu, minha mãe então me ligou para que eu lhe explicasse que estava chovendo e seria impossível ir a pracinha.

“Tia, a vó não quer me levar na pracinha” Sophi tinha a voz de uma criança mimada e fui obrigada a sorri, em tão pouco tempo com a gente ela já tinha se transformado em uma menina mimada, eu sabia que noventa por cento da culpa era de Fernando, que sempre fazia tudo que ela queria.

“Sua vó está certa, está chovendo e não pode ir para a pracinha na chuva” Expliquei o obvio e Fernando deu uma leve risada ao meu lado.

“Tia, chuva não mata não, eu já andei muito nas ruas com chuva e nunca morri”

“Sophi, as coisas mudaram, lembra? Sem contar que a pracinha ontem só foi legal porque tinha mais crianças com você, hoje com essa chuva não teria ninguém lá além de ti e brinquedos molhados, que graça tem ficar lá assim? “ Ela não me respondeu nada. Ponto para mim que tinha convencido ela a não ir mais a pracinha, certamente eu estava com um sorriso orgulhoso de ter conseguido resolver a situação “Sabia que minha mãe faz a melhor pipoca do mundo inteiro? Pede para ela fazer pipoca para vocês e assistam a um filme qualquer, quando o filme tiver acabando é quase a hora que eu vou chegar em casa e prometo que levo pizza para o jantar”

“Promete mesmo?”

“Prometo, agora passa o telefone para minha mãe”

“Lety, eu não sei o que você prometeu, mas deu certo, ela está aqui sorrindo”

“Mamãe, faz pipoca para ela e qualquer problema novo a senhora me liga, tá? Amo você” Desliguei o telefone com um sorriso bobo no rosto, foi a primeira vez que eu precisei intervir com Sophi em casa e eu tinha me saído muito bem, eu estava orgulhosa.

“Eu não sabia que você tinha uma filha” A voz de seu Humberto me chamou para a realidade, eu nem sequer me lembrava que ele estava ali, eu não o respondi verbalmente, ainda não estava pronta para tratar Sophi como minha filha, as coisas estava acontecendo aos poucos. Apenas sorri para seu Humberto e deixei ele concluir o que quisesse.

“Está tudo bem com Sophi?” Fernando perguntou.

“Agora sim” Me limitei a responder de forma curta, pois seu Humberto tinha ficado bastante interessado em toda a história que envolvia a ligação de minha mãe. Saímos todos às dezessete horas da empresa, estávamos esgotados, o dia tinha sido pesado. Fernando seguiu para casa e eu como tinha prometido parei em uma pizzaria e comprei pizza. Quando cheguei em casa minha mãe já tinha ido e estava apenas Fernando e Sophi. Tivemos uma noite agradável e no dia seguinte minha mãe tornou a se dispor em ficar com Sophi durante o dia, era tão estranho meu pai deixa-la passar o dia em minha casa, porém eu nada disse, só pude mesmo agradecer pelo apoio.

.

.

A semana passou voando e a empresa já estava começando a subir nos gráficos de rendimento. Tómas, que estava a frente da Filmes e Imagens, tinha me contado que igualmente a empresa ia bem e estava fazendo bons investimentos. Tudo realmente estava dando certo, porém a questão de Sophia ainda era uma inercia em nossas vidas e estávamos apenas adiando qualquer decisão.

 

Sai mais cedo da empresa na sexta-feira e fui direto para casa ficar com Sophia, pois minha mãe tinha compromissos na Igreja. Cada dia que passava Sophi já sentia minha casa sendo sua e via Fernando, minha mãe e eu como seus responsáveis. Para alguém que morava nas ruas ela já não se incomodava mais com o fato de passar seus dias presa em casa e brincando no quintal ou na pracinha. Sophi estava descobrindo a graça de ter um lar, com brinquedos, televisão e computador, seus dias eram preenchido com essas coisas. Eu sabia que  aquilo estava errado, pois ela tinha que ir para a escola como qualquer outra criança, mas para isso precisaríamos dá passos que ainda não estávamos prontos, então por enquanto a gente se limitava a uma rotina mais leve e nos acostumarmos uns aos outros.

 

Já estava escuro lá fora e Fernando ainda não tinha chegado, estranhei, pois ele havia me dito que sairia as dezessete, ou seja, no máximo as dezoito ele já deveria está em casa, porém o relógio já quase marcava dezenove horas e nada dele aparecer.

“Tia, por que o tio ainda não chegou? Liga para ele” Sophi veio até mim preocupada.

“Ainda é cedo, ele deve ter perdido a hora no escritório”

“Liga para ele, tia, por favor” Sophi estava aflita e então me lembrei do dia que ela nos contou sua história e como sua vida tinha mudado após seu pai não regressar na hora normal do trabalho e no dia seguinte ela ter descoberto que ele havia morrido. Senti um arrepio me subir e sem mais adiar, peguei meu celular e liguei para Fernando que não o atendeu. Convenci Sophi que logo Fernando chegaria em casa e ela acabou se distraindo com o desenho, já era quase vinte horas e eu sabia que algo estava muito errado, já tinha ligado mais de vinte vezes para o celular de Fernando e ele não atendia e nem retornava. Liguei para a empresa, alguém atenderia o telefone por lá e iria me dá alguma noticia.

“Conceptos, recepção. Quem fala?” Uma voz de homem se fez audível no telefone, provavelmente um segurança da noite.

“Boa noite, sou a Leticia Padilha, com quem estou falando?” Como imaginei o homem se identificou como um segurança “Eu gostaria de saber se o Fernando Mendiola já deixou a empresa ou ele ainda se encontra na presidência”

“Senhorita Padilha, aconteceu um acidente e seu Mendiola e seu Carvarral foram para o hospital mais próximo daqui em uma ambulância” Acidente ... ambulância ... hospital ... as três palavras ecoavam em minha cabeça e não faziam o mínimo sentido.

Desliguei o telefone com minhas mãos tremulas e meu rosto pálido, Sophia percebeu que tinha algo errado e veio até mim.

“Tia, o que aconteceu com o tio?” Seus olhos azuis estavam turvos de medo, a menina estava prestes a ficar desesperar e eu não podia ajudar muito, pois eu já estava desesperada.

“Tia, fala comigo” Ela pediu e eu tinha que consegui ter forças para voltar a realidade e assumir minha condição de adulta, afinal, sob minha responsabilidade agora tinha uma criança de oito anos e eu precisava cuidar dela, mesmo estando desesperada eu precisava me acalmar e dominar aquela situação.

“Sophi, falaram que Fernando teve um acidente e está no hospital, eu vou precisar ir até lá para entender o que está acontecendo” Tentei falar de forma calma e pausada, sem omitir nada, ela era esperta e se eu tentasse enganá-la seria pior. 

“Eu vou com você” Ela disse em desespero.

“Não, você é muito nova” Olhei para Sophi e ela já estava de pijama, obviamente um pijama rosa, da cinderela, seus cabelos soltos e seus olhos prestes a iniciar um choro, mas ela era forte e estava engolindo suas emoções, eu tinha certeza que ela não choraria e ela realmente não chorou “Eu vou ligar para minha mãe vir aqui ficar com você, assim que eu chegar no hospital eu ligo e falo com você o que aconteceu”

“Eu quero ir” Ela insistiu.

“Não complique as coisas, Sophi” Implorei e ela entendeu. Emburrada ela foi até o sofá e se sentou, a televisão, ela desligou e ficou olhando para o aparelho desligado. Minha mãe disse que viria voando e eu fui apenas pegar minha carteira, meu celular e minha bolsa no andar de cima. Sophia era esperta e boa menina, entendeu que não era para atrapalhar e não o fez, quando eu desci as escadas, ela continuava no sofá, sentada, com olhos vermelhos, porém sem chorar e ainda focando na televisão desligada.

Olhar Sophi ali me inundou de um sentimento que nunca antes eu havia sentido, foi estranho e fez meu coração aumentar de tamanho, deixei meu corpo agir por instinto e quando vi  eu já estava sentada ao seu lado e lhe abraçando. Demorou um tempo para eu descobrir que sentimento era aquele, mas com um pouco de sutileza e sensibilidade eu entendi que era amor, naquele segundo eu passei a amar Sophi verdadeiramente, lhe abracei forte e prometi a ela que tudo ficaria bem, que logo eu chegaria em casa e que eu iria cuidar dela.

Minha mãe chegou e eu sai de casa com o coração partido, parte dele queria ficar em casa abraçada a Sophia e lhe dando todo o carinho que ela estava necessitando, mas outra parte minha queria apenas correr até Fernando e saber como ele estava.

Como podia o tempo rodar em apenas um instante? Será que na minha vida nada poderia ser calmo e constante?



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