História Meu Gatinho de Chita - Capítulo Único

Eram 8:22 da manhã. Namjoon foi o primeiro a acordar.

O grupo teria que sair pra gravar um programa às nove, e todos eles teriam que, obviamente, acordar um pouco mais cedo. Por isso, a primeira coisa que Namjoon pôde pensar foi em acordá-los logo ele mesmo, já que não via nenhum movimento na casa.

Tomando coragem para se levantar, ele saiu, mas se arrependeu assim que encarou o corredor. O primeiro quarto era de Jimin, e RM sinceramente queria deixá-lo descansar. Jimin andava estressado com as atividades do grupo, pois o mesmo se cobrava demais, andava fazendo dietas, dentre outras coisas. RM não fazia a menor ideia de onde arrumaria coragem de acordá-lo.

Ok, podemos deixá-lo por último.

Namjoon se dirigiu aos próximos dormitórios e gentilmente bateu nas portas, uma por uma.

...

"OLHA A HORA, BELA ADORMECIDA!"

"Ô DESGRAÇADO, LEVANTA QUE TÁ NA HORA"

"EU VOU CUSPIR NO CHÃO, SE O CUSPE SECAR E TU NÃO ESTIVER PRONTO AINDA EU VOU TE DAR UMA VOADORA"

"JÁ SÃO OITO E MEIA Ô VIADO, SE QUISER TOMAR CAFÉ VAI TER QUE VIR AGORA"

"ACORDA LOGO ANTES QUE EU COMA O SEU CU"

Todos demoraram entender o que estava acontecendo, ou abriam a porta estranhamente confusos, mas Namjoon apenas revirava os olhos e não desconfiava de nada. Até que bateu à porta de Suga.

— YOONGI SEU DESGRAÇA ANDA LOGO

— O QUE FOI PORRA — Suga gritou lá de dentro

— QUASE NA HORA DE SAIR, LEVANTA!

— SAIR PRA QUÊ, VELHO? TAMO DE FOLGA HOJE

— Quê?

— O PROGRAMA É AMANHÃ SUA ANTA ACÉFALA

— ...

Os outros, um a um, pararam de se arrumar desesperados e desajeitados para mandarem olhares assassinos ao líder e voltarem para os seus quartos o xingando de vários nomes. 

— Rapmon hyung? — Ouviu-se uma voz fina e arrastada.

Quando Rapmon se virou e viu o rostinho sonolento de Jimin, sentiu seu coração se despedaçar.

— Ah, Jiminnie... — Disse, em tom baixo — Me desculpe, eu não queria te acordar.

— Tudo bem...quem deveria descansar é você, hyung. Ficou noites em claro produzindo, por isso deve ter perdido um pouco a noção de tempo — Jimin coçou o olho e sorriu levemente.

"Parece um bebê"  Namjoon pensou, e logo depois, disse com sinceridade:

— Não vou mais conseguir dormir agora que já levantei.

— Vamos tomar café, então.

— Não vai dormir?

— Quero te fazer companhia. E tá olhando pra mim assim por que? Não é como se isso fosse estranho! — Jimin riu e puxou levemente um Namjoon envergonhado até a cozinha, para fazerem para cada um uma caneca daqueles cafés em cápsulas só porque era coisa de rico e tinham que se acostumar com a fama, palavras do Taehyung. Pessoas ricas não coam café.

Os dois se sentaram no sofá mais próximo e beberam em silêncio. Na verdade, o tempo inteiro Rapmon observou o jeitinho em que Jimin segurava a caneca com as duas mãos para esquentá-las, o que fez Jimin sorrir ao percebê-lo.

— O que foi? Ainda está arrependido de ter acordado todo mundo?

— Não...quer dizer, sim! Mas...

Jimin riu novamente de seu desespero.

— É você, mano. Você consegue ser fofo até simplesmente existindo. — Namjoon confessou.

Jimin parou por um instante, virou a caneca de uma vez e a deixou no chão.

— Ah, por que diz isso?

— Olha lá, tá vendo? Tá até com o nariz sujo da espuminha do café. Dá vontade de guardar num potinho. — Namjoon respondeu, já levando a mão à ponta do nariz de Jimin, tirando a espuma com o dedo e colocando na boca mesmo, num gesto involuntário.

Assim que o fez, pôde ver um rostinho levemente corado, com o eyesmile mais nhonho do mundo

— Francamente, você...— Jimin resmungou ainda sorrindo e se jogando no peito de Rapmon.

— Vai falar que eu tô mentindo?

— Sim! Eu não sou fofo!

— Aham, você é mau, muito mau. Você e as trevas são um, você deve ter até uma canequinha temática escrito "eu sou mau d++"

— Não, porra! — Jimin ria e não sabia se dava tapinhas fracos na coxa de Rapmon ou se colocava a mão na frente da boca

— Bebê não pode falar palavrão que é feio.

— Aaaaish, Rapmonnie!

— Você é fofo.

— Eu posso ser sexy também.

— Mas você fez 5 aninhos ontem!

Enquanto se ajeitava no sofá, colocando suas pernas apoiadas no encosto do sofá e virando um pouco a cabeça para olhar para Rapmon, Jimin deu um sorriso lemevente...de filho da puta, apertando a bochecha por dentro com sua língua.

Caralho. Puta que pariu. PUTA QUE PARIU.

— Tá, já entendi. — Disse Namjoon, tentando disfarçar o quase suspiro que deu.

Jimin começou a rir baixinho novamente. Eyesmile.

Porra, velho. Da água pro vinho assim não dá!

Involuntariamente, Rapmon levantou a mão aberta, e Jimin colocou uma das suas sobre ela.

Namjoon ficou olhando hipnotizado pra quela mãozinha de bebê. Era tão macia quanto parecia. Dava vontade de fazer carinho.

Ele não percebeu o longo tempo em que ficou em silêncio olhando para ela, até que finalmente sentiu o olhar de Jimin em si, e viu a mão dele se entrelaçar na sua.

Ele deixou as duas caírem e ouviu Jimin dizendo, com a voz mais baixa:

— A mão do hyung é ridiculamente grande. 

— A sua que é fofamente pequena.

Jimin fez um barulhinho de concordância automático, levantando-se de cima de Namjoon e se virando, encolhendo as pernas e o abraçando pelo lado, com a cabeça apoiada em seu ombro.

— O que foi? Está com sono? Pode dormir, eu não vou levantar tão cedo. — Perguntou Namjoon, sem reclamar do exagero de contato físico. Jiminnie estava manhoso como um gatinho sonolento...

— Eu estou com sono...mas não quero dormir...

— Ai, meu deus. O que foi, então?

— Sei lá, eu só...não sei, me desculpe. Acordei me sentindo meio estranho hoje.

— Estranho como?

— Hm...parece que eu estava sentindo um pouco de frio, mas por dentro. Também estava meio preguiçoso, mas parece que eu não ficaria confortável nem debaixo de 20 cobertas.

— Aish, Jiminnie. Se cuide. Você deve estar com febre...

— Não, não. Agora eu estou bem. É confortável aqui. — Jimin deu uma apertadinha leve no abraço e enterrou mais o seu rosto.

— Eu não te entendo. — Disse Namjoon.

— Nem eu...

Namjoon deu uma breve risada e disse:

— Eu estou brincando. Ah, Jimin, eu te amo.

Jimin ficou um pouco quieto após a fala casual de Namjoon, e o mesmo podia jurar que ouviu um suspiro de Jimin.

— Mas eu tô falando sério. Faz um tempo que eu sinto coisas estranhas, hyung. Não se trata de nada físico, mas...é algo diferente, eu não sei explicar.

— Isso é...normal, eu acho. Sentir coisas novas. Você é muito jovem, vai passar muito por isso ainda. Na verdade, independentemente de idade, enquanto vivermos, como humanos, estamos sujeitos à essas coisas...

— Hyung é um filósofo.

— Eu sei, obrigado. 

Jimin sorriu, e Namjoon continuou:

— Mas que tipo de coisa você sente, Jimin?

— Eu não tenho certeza...eu sei, mas meio que...não sei.

— Tem pelo menos uma hipótese?

— Tenho...mas...

— Mas o quê?

— O hyung ia ficar bravo comigo.

— Jimin. Eu não teria nenhum motivo pra ter raiva de você. Absolutamente nenhum. Principalmente de algo que você não pode controlar.

— Hyung...

— Tô falando sério. Seria como se irritar com um gatinho. Não dá.

Jimin levantou a cabeça e olhou para Namjoon.

— Promete que não fica bravo?

— Juro por Deus.

— Você é ateu.

— Eu não vou, caralho! 

— Acabou de ficar.

— Jimin, você é impressionante.

Jimin deu um sorriso breve, e com o rosto gritando insegurança, olhou fundo nos olhos do outro mais uma vez, e num movimento inesperado, apoiou suas mãos nos ombros do mais velho e inclinou-se para frente, selando seus lábios.

Um beijo, doce, simples e inocente, um pouco mais demorado do que planejava. Era tudo.

Assim que os dois se separaram, Jimin enterrou o rosto no ombro de seu hyung, morrendo de medo do que viria.

Já Namjoon, continuava surpreso. Seu coração palpitava como um louco e sua mente demorava para processar a situação.

Estava...muito feliz?

— Era isso, Jimin?

Ainda envergonhado, Jimin apenas assentiu levemente.

Namjoon abraçou-o de volta em silêncio, num instinto de proteção. Em pouco tempo, sentiu o corpo de Jimin em seus braços tremer, e seu mundo caiu antes mesmo de ter certeza de que o pequeno estava chorando.

— Não, não, não...Jimin, não chore...! — Namjoon ficou imediatamente desesperado. Ele apenas queria acalmar Jimin, vê-lo chorar assim fazia seu coração se apertar

...tão forte...

— M-me desculpe, hyung. Me desculpe...

— Você não fez nada de errado, Jimin. Não tem problema, eu te amo! Eu já disse que te amo. Não chore, não chore! — A voz de Namjoon falhou. Ele apertou Jimin com força, ignorando as poucas que saíram dos próprios olhos.

Jimin olhou para o rosto do mais velho, surpreso e confuso.

— Rapmonnie?  Por que está chorando?

— Por favor Jimin, não fique assim. Você não fez nada!

— ...

— Eu não aguento mais te ver mal por achar que está sempre errado! Não tem nada de errado em sentir o que você sente, então não fique triste. Muito menos por minha causa, Jimin! — Namjoon respirou fundo, olhando bem nos olhos do pequeno. Se acalmando, pôs a mão no rosto do mesmo e limpou suas lágrimas com o dedo.

— Ah, hyung...eu só...não paro de pensar nos problemas que isso pode trazer... — Jimin continuou divagando.

— Não precisa disso. Damos um jeito. Eu já disse que não tem nada de errado nisso então acredite em mim. 

Jimin não sabia se estava envergonhado, feliz ou surpreso pelo carinho de Namjoon, então apenas ficou quieto. Suas bochechas rosadas e suas mãos inquietas denunciavam sua timidez. Namjoon riu ao perceber, e abraçou Jimin mais uma vez.

— Ah, me desculpe. Que drama. Não precisa ficar tão envergonhado...

— Eu te amo demais, sério.

Namjoon riu mais uma vez ao ouvir isso, mas dessa vez foi meio de nervoso.

— Você merece o mundo, sabia? — RM disse depois de um tempo — Mas o mundo não te merece.

E finalmente, Jimin deu um sorriso. Maior e mais brilhante do que todos os outros. Este, especialmente para Namjoon, com todo o carinho do mundo que já pertencia a ele.

Ele. Meu gatinho de chita.