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História Meu Melhor Amigo - Eu dormi com o meu melhor amigo!


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 2 - Eu dormi com o meu melhor amigo!


- Quando foi que você chegou? – Perguntei enquanto o abraçava.

- Há algumas horas. Não avisei porque quis fazer uma surpresa. – Ele respondeu apertando o abraço.

               Me afastei para olhá-lo e sorri.

- Você está diferente! Está mais charmoso! E cortou o cabelo. – Falei rindo. – Eu gostava dos cachinhos.

- Acostumei com o jeito formal para o trabalho. Agora não abandono o gel. – Ele comentou sorrindo. – E você! Tirou o aparelho! Está ótima!

- Finalmente me livrei daquilo! Foram quatro anos usando aquela porcaria.

- Você está ótima!

- Ah! Eu senti tanto a sua falta! – Voltei a abraçá-lo.

- Eu também senti a sua!

- Também é bom te ver, Fernando. – Márcia comentou e ele separou do abraço.

- Desculpe. – Fernando riu e caminhou até as duas, cumprimentado-as com um abraço.

- Você está mais alto! – Carolina comentou depois de abraçá-lo. – O que anda fazendo?

- Comendo muito feijão. – Ele brincou. – E então... O que planejaram para hoje? – Perguntou virando-se para mim.

- E quem disse que planejamos algo? – Cruzei os braços divertida.

- Oras, porque eu mereço. E eu sei que vocês não perdem a oportunidade de uma comemoração.

- E desde quando você gosta de comemorações? – Perguntei rindo. – De qualquer maneira, pensei em fazermos algo em meu apartamento. Para ficarmos todos mais à vontade. Avisamos o Omar mais cedo e ele topou.

- Fantástico!

- Eu ainda acho que você não é o Fernando Mendiola. Desde quando se empolga com festinhas?

- Algumas coisas mudaram. – Ele riu. – Mas, teremos tempo para falarmos sobre isso. A que horas nos encontramos?

- Pode ser às sete? – Olhei para as meninas.

- Sim! – Responderam juntas.

- Ótimo.– Fernando sorriu. – Eu estarei no seu apartamento às sete em ponto.

- Eu sei que sim. – Sorri.

               Márcia e Carolina me olharam divertidas, me deixando completamente sem jeito.

- Então... Bom... É melhor irmos. Ainda tenho que me arrumar e ajeitar as coisas no apartamento.

- Claro. – Ele concordou. – Nos vemos mais tarde então.

- Certo.

               Nos despedimos com um beijo no rosto, e ele fez o mesmo com Márcia e Carolina. Fernando entrou no carro do seu pai, e antes de se afastar, buzinou duas vezes acenando para nós três. Retribuímos o aceno e o observamos se afastar pela rua.

- Então... – Márcia me olhou. – Qual lingerie você vai usar hoje?

               Bufei, revirando os olhos.

 

 

 

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               Como sempre, eu nunca conseguia escolher a roupa ideal para a ocasião. Era assim todas às vezes, e vinte minutos ainda não eram suficientes para que eu me arrumasse. Joguei todas as roupas possíveis em cima da cama, mas nenhuma me agradava o suficiente. Mas, por que eu estou tão preocupada com uma roupa ideal? É apenas uma reunião de amigos, e todos nós temos intimidade o suficiente para que eu possa usar roupas mais simples que costumo usar dentro de casa. Um simples short com uma simples camiseta está perfeito para a ocasião. Mas, não. Não está perfeito. Eu não queria usar um simples short com uma simples camiseta. Eu queria estar apresentável... Mas ainda não sabia o motivo.

               De repente a campainha tocou e eu olhei apreensiva para o relógio. Sete horas em ponto, e eu ainda estava enrolada na toalha com os cabelos molhados. Suspirei impaciente e corri em direção à porta. Não precisei olhar no olho mágico para ter certeza de quem seria. Afinal, Fernando era o único de nós que era sempre pontual. Assim que abri a porta, ele escorou-se sorridente, olhando para mim de cima a baixo.

- Eu já deveria imaginar que você ainda não estava pronta. – Comentou divertido. – Espera. Quando foi que você fez uma tatuagem no ombro? – Ele perguntou surpreso.

- Já tem alguns meses... E a culpa não é minha. A culpa é do meu guarda roupas! – Falei dando espaço para que ele entrasse.

- Como sempre, não é? – Fernando riu, adentrando o meu apartamento. – Eu não acredito, Lety. Esse lugar não mudou nada! – Comentou olhando em volta.

- É claro que não. Por que mudaria?

- Você não se cansa de ver as coisas sempre no mesmo lugar? Achei que teria mudado a televisão de lugar, essa mesa... – Ele apontou para a mesa de jantar.

- Eu tenho coisas mais importantes para me preocupar nesse momento. – Suspirei impaciente. – Preciso achar uma roupa! – Segui para o corredor, entrando em meu quarto logo depois.

               Fernando me seguiu, e quando entrou em meu quarto, não se assustou com a bagunça sobre a cama. Ele já estava totalmente acostumado com isso. Tão acostumado, que a primeira coisa que fez foi se jogar sobre minha cama e minhas roupas enquanto me observava.

- Que tal esse? – Perguntei colocando um vestido vermelho sobre o corpo.

- Formal demais. – Ele respondeu.

- Tem razão. – O joguei de volta na pilha de roupas. – E esse? – Dessa vez, mostrei um vestido um pouco mais simples.

- Você tem certeza que quer usar um vestido hoje? Está no seu apartamento. Por que não coloca uma roupa mais... À vontade?

- O que sugere, então?

               Fernando olhou sobre a pilha de roupas, e logo tirou um short jeans do meio delas.

- Esse short!

- Tem certeza?

- Claro! É simples e bonito.

- Hum... Acho que tem razão. – Peguei o short de sua mão. – Agora preciso de uma blusa.

- Você pode ficar sem. – Ele riu.

- Engraçadinho... – Peguei uma blusa, jogando em seu rosto.

- Certo... Ah! Onde está a blusa que te dei no seu ultimo aniversário?

               Olhei para a pilha de roupas e logo avistei uma blusa vermelha.

- Essa? – O mostrei.

- Isso! Vai ficar ótima!

- Quer saber? Eu não me lembrava dessa blusa. Acho que nunca a usei, para dizer a verdade.

- É muito bom saber que você não gosta dos meus presentes. – Ele brincou fingindo estar ofendido.

- É que tenho muitas roupas. Acabo me perdendo.

- Tudo bem. Da próxima vez te dou um enfeite de cozinha.

               Revirei os olhos.

- Bom... Eu vou me trocar no banheiro. Eu diria “fique a vontade”, mas você não precisa que eu diga isso.

- Tem toda a razão. – Respondeu espreguiçando-se à cama, abraçando ao meu travesseiro.

               Balancei a cabeça rindo e segui para o banheiro que ficava de frente para o meu quarto, apressando-me para ficar pronta antes que os outros chegassem. Deixei a porta apenas escorada, caso ele quisesse conversar, e não demorou muito tempo para que eu ouvisse sua voz vinda do quarto.

- Sabe o que eu estava lembrando? Das nossas saídas na época da faculdade.

- Foram tantas... – Comentei terminando de colocar o short.

- Nós nos divertíamos muito, não é?

- Sim! – Sorri me lembrando de todas as bagunças que tivemos juntos. – Nós levamos muito à sério a frase “aproveitem enquanto é tempo”.

- Mas eu sinto saudades daquela época. Não temos mais tempo de fazer coisas assim.

- Diga por você. Ainda saímos nos fins de semana.

- É mesmo? Ah... Eu daria tudo para continuar saindo com vocês. Aquela cidade é um tédio.

- Então é por isso que você está tão empolgado com a recepção que preparamos? – Perguntei divertida, penteando o meu cabelo.

- É claro! Você não imagina há quanto tempo estou esperando para um reencontro como esse.

               Ri com o seu comentário e enfim terminei de me arrumar. Optei por não usar maquiagem, ou Fernando com certeza comentaria o quanto eu estava exagerando para uma simples reunião de amigos. Abri a porta do banheiro e parei à porta do meu quarto, olhando para ele.

- O que achou? Ficou bom?

               Fernando sentou-se à cama e me olhou sem dizer absolutamente nada, o que era estranho. Ele sempre tinha um comentário sobre minhas roupas, mas dessa vez parecia petrificado enquanto me olhava.

- Fernando?

- Ahm... Sim! Ficou ótimo. – Ele sorriu. – Eu tenho muito bom gosto.

- Não exagere. – Me aproximei da cama.

- Ainda não acredito que você fez uma tatuagem. – Ele comentou quando me sentei ao seu lado, tocando em meu ombro. – Eu sabia que você era louca, mas nem tanto.

- Não é nada de mais. Posso cobri-la com uma blusa social e é a única coisa que uso para ir trabalhar. Os únicos no trabalho que sabem disso é Márcia e Carolina.

               Fernando sorriu.

- Eu gostei.

- Mesmo?

- Sim.

- Que bom! – Sorri agradecida. – Você deveria fazer uma também. Combinaria muito com esse novo tamanho de braço que você arrumou. – Brinquei apertando seu braço. – Você está malhando? Você sempre odiou malhar.

- Tive que ter alguma coisa para ocupar meu tempo quando não estou trabalhando. – Ele riu. – E não exagere. Não estou tão diferente assim.

- Você tem gominhos também? Ah, eu posso ver? Por favor? – Tentei levantar sua camisa, mas ele riu, segurando minhas mãos.

- Não, eu não tenho gominhos.

- Então não vale de nada você malhar. Gosto daqueles homens que malham e ficam com a barriga parecendo um saco de pão sovado.

               Fernando gargalhou.

- Esse é o comentário mais estranho que já ouvi na vida! – Comentou ainda rindo.

- Só estou dizendo a verdade.

- Ah Lety... Como eu senti a sua falta. – Ele suspirou meio ao riso.

- Eu também senti a sua. – Sorri olhando-o. – Bom... Só falta um detalhe. – Me levantei. – Tenho que secar o meu cabelo.

- Por quê? Está ótimo assim.

- Agora que está molhado. Quando ele secar vai parecer uma samambaia.

- Então é melhor secar logo, já está começando a nascer as primeiras folhas.

               Peguei uma almofada e joguei em sua direção.

- Então... – Comentei quando liguei o secador na tomada. – Me diga como estão as coisas naquela cidade sem graça. O que você faz além de trabalhar?

- Nada que você já não saiba. – Ele respondeu deitando-se à cama, me olhando. – Já te contei tudo pelos emails e nas ligações.

- Achei que teria algo a mais para me contar. – Falei secando o meu cabelo. – Eu ainda não acredito que por oito meses você ainda não arrumou uma namorada.

- Você sempre diz isso. – Suspirou.

- É que eu fico curiosa. Como você consegue? Eu sei que na época da faculdade você só conseguia namorar graças à mim.

- Isso não é verdade. Eu nem tive uma namorada na época da faculdade.

- Porque não quis. Você arrasou vários corações! Sempre que eu conseguia um encontro para você, você ficava com a garota apenas uma noite e depois dizia que não queria nada sério.

- Mas eu não queria mesmo. Você queria que eu fizesse o que? Nenhuma delas foi a ideal para algo sério.

- Você é muito exigente, isso sim!

- E quanto à você? Arrumou um namorado?

- Claro que não! Deus me livre! Nenhum homem dessa cidade tem peito para isso, meu querido.

- Falou a convencida... – Ele riu. – Você vivia saindo com caras diferentes na faculdade.

- Sair é diferente de namorar. Eu estava descobrindo territórios novos, e nenhum me agradou.

- Não acredito que em todos esses meses você não saiu com ninguém.

- É claro que saí! Com vários, alias. Mas não estou interessada em um relacionamento sério. E você me conhece muito bem para saber disso.

- Você está sempre dizendo que odeia relacionamentos sérios, mas acho que está precisando de um namorado para mudar essa sua opinião.

- Eu não preciso de um namorado. – Desliguei o secador. – Estou muito bem assim.

               Ele riu.

- Tudo bem. Não está mais aqui quem falou.

- Obrigada!

- Meu Deus, eu tinha me esquecido o quanto você demora para se arrumar!

- Para de reclamar, Fernando!

               A campainha tocou no mesmo instante e ele me olhou.

- Viu só? Já chegaram e você nem terminou de secar o cabelo.

- Para de reclamar e abre a porta para mim. Por favor!

               Fernando suspirou e levantou-se da cama.

- A festa é para mim e eu ainda tenho que receber os convidados. – Resmungou saindo do quarto.

 

 

 

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               Eu havia me esquecido de como era bom estarmos todos juntos. Meu apartamento não era tão grande, mas tinha espaço suficiente para que pudéssemos fazer a nossa própria festa. Omar e Carolina levaram as bebidas, e Márcia se prontificou a me ajudar com os comes levando alguns petiscos para comermos enquanto bebíamos. Escolhi uma musica que sabia que era do gosto de todos (por sorte todos tínhamos o mesmo gosto musical), e a diversão estava completa.

- Eu senti falta dessa bagunça! – Fernando comentou rindo.

- Quem diria... Você que sempre reclamava das festas. – Comentei tomando um gole de cerveja.

- Eu nunca reclamei! Só não era a minha praia. Mas quando passamos tanto tempo fora, algumas coisas mudam.

- E como está sua vida em outra cidade? – Márcia perguntou nos servindo mais cerveja.

- Está boa. O emprego é bom, estou aprendendo muito. Mas eu sinto falta de casa. Não é a mesma coisa. – Ele sorriu e olhou para mim.

- Ele sente falta da mamãe. – Brinquei e todos riram.

- Ficar longe da família e dos amigos e mais difícil do que imaginam. – Ele respondeu rindo.

- E você não encontrou nenhuma gatinha lá que o prendesse? – Omar perguntou e todos nós o olhamos.

               Fernando apenas sorriu, mas quando estava prestes a responder, esbarrei no meu copo deixando-o cair no chão. Todos me olharam assustados e eu bufei, me levantando.

- Cuidado. Tem vidro espalhado. – Fernando se levantou imediatamente.

- Só vou pegar um pano para limpar isso. – Falei pulando as partes que estavam com vidro. – Podem continuar com a conversa. Eu já volto.

               Mas a conversa não continuou de onde paramos. Fernando insistiu em me ajudar a limpar o chão, e quando terminamos, o assunto à mesa mudou. Começamos a falar sobre a época da faculdade e sobre todas as encrencas que nos metemos (que não foram poucas). Boas risadas, muita bebida e lembranças divertidas foram o auge da nossa reunião. Depois de algumas horas de muitas gargalhadas, todos nós já estávamos um pouco alterados, exceto Fernando e Omar. Omar porque estava completamente alterado, e Fernando porque não colocou uma gota de álcool na boca, alegando que estava com o carro do seu pai. Eu estava no meio da linha entre alterada e sã, mas algumas vezes, falava algumas coisas sem pensar e só percebia depois que todos estavam rindo de mim.

               Por fim, Márcia e Carolina decidiram que já estava tarde e que em pouco tempo meus vizinhos chamariam a polícia. Mas, eu sabia que não era apenas isso, e depois que Márcia sussurrou para eu aproveitar o fim da noite, entendi o porquê da vontade repentina de irem embora. Omar teve um pouco de dificuldade para se levantar, mas as duas o ajudaram, pelo menos até a chegar à porta do apartamento.

- Tem certeza que não quer que eu leve vocês? – Fernando perguntou preocupado.

- Não. Tudo bem. Tem o ponto de taxi aqui na frente. – Márcia comentou passando o braço de Omar em seu ombro. – E Omar não está tão bêbado para não conseguir bater em um tarado ou um assaltante, não é Omar?

- Eu ainda sem lutar caratê. - Ele comentou com a voz embolada e todos riram. – Fernandinho meu irmão! – Em um impulso, Omar abraçou Fernando. – Eu senti sua falta!

- Eu também senti a sua. – Fernando riu.

- Você também já está indo embora?

- Ahm... Não. Vou ajudar Lety a arrumar as coisas por aqui.

- Vamos logo, Omar. – Carolina o puxou pelo braço. – Tchau Lety, Tchau Fernando! Se forem fazer algo amanhã, nos avisem!

- Pode deixar. – Sorri. – Até logo!

- Até!

               Observamos os três entrarem no elevador meio à gargalhadas, e quando enfim ficamos a sós, fechei a porta rindo da situação.

- São três loucos. – Falei caminhando até a mesa.

- Eu senti falta deles. – Fernando disse rindo. – A noite foi ótima.

- Foi mesmo.

- Vocês continuam se encontrando com freqüência? Quero dizer... Longe do trabalho.

- Ah sim. Saímos algumas vezes. Omar está sempre nos convidando para bares e boates, mas as meninas e eu preferimos algo mais tranqüilo. Ele também está sempre se envolvendo com uma mulher diferente, não é sempre que está nos encontros. Só nesse tempo que você ficou fora, nós conhecemos cinco namoradas diferentes dele.

- É bem típico do Omar. - Fernando riu.- E a Carolina ainda sente algo por ele?

- Ela diz que não, mas Márcia e eu achamos que sim. Ela não consegue disfarçar algumas vezes.

- Deve ser péssimo para ela ver Omar se envolvendo com outras mulheres.

- Hoje nem tanto. Ela costumava ficar pior. Hoje quando ela se magoa com algo relacionado à ele, arruma um homem bem bonito para ficar na festa.

               Ele gargalhou.

- Por que eu acho que isso é um conselho seu?

- É claro que é! Para que ela vai ficar sofrendo por ele sendo que tem tanto homem bonito por aí? Eu não me prestaria à esse papel. Sofrer por homem só porque ele está com outra.

- Ah Lety... De verdade... Eu senti muito a sua falta. Não é a mesma coisa enfrentar meu dia a dia sem um conselho maluco seu. E conversar por email e telefone não é a mesma coisa.

- É verdade. – Sorri triste. – Mas por mais que eu sinta sua falta, eu não teria coragem de pedir para você voltar. Você ainda vai crescer muito mais trabalhando para o Gonzáles.

- É...

               Ficamos alguns segundos em silencio e eu percebi que estávamos entrando em um assunto chato. Precisava aproveitar a visita de Fernando, e não deixá-la desanimada.

- Quer saber? Esse assunto está ficando muito chato. – Segui até a estante, abrindo uma das portas. – Precisamos de algo para animar. – Peguei uma garrafa de tequila e a mostrei para Fernando.

- Ah não! Não! Não! Não! – Fernando balançou a cabeça. – Nem vem, Lety. Eu não vou beber.

- E por que não?

- Você sabe que estou dirigindo, e com o carro do meu pai. Não posso sair por aí dirigindo bêbado.

- Você não precisa dirigir. Pode dormir aqui.

- Não. É melhor não.

- Qual é, Fernando. Até parece que você nunca dormiu aqui. Não seria a primeira e nem a segunda vez. E eu sei que você gosta desse sofá.

- Eu sei. Mas, não... É melhor não, Lety.

- Fernando, essa é uma ocasião especial! – Caminhei até a mesa, pegando dois copos limpos, enchendo-os de tequila. – Eu exijo que você continue comemorando essa noite comigo, como fazíamos.  Não sabemos quando teremos outra oportunidade para isso.

               Entreguei um copo para ele, e ele me olhou, suspirando logo depois.

- Eu não sei dizer não para você. – Comentou pegando o copo.

- Assim que se fala! – Sorri animada. – Um brinde!

               Fernando riu e brindou seu copo no meu, virando a tequila logo depois.

 

 

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               A arrumação do apartamento foi adiada. Depois de tantas doses de tequila, Fernando e eu estávamos esparramados no sofá da sala, conversando e dando gargalhadas, como antigamente. Minhas pernas estavam sobre as suas, e eu percebi que nada havia mudado em nossa relação. Estávamos da mesma maneira de sempre.

- E você se lembra daquele cara que usava óculos que você saiu no terceiro semestre? – Fernando perguntou rindo. – Ele parecia o Elton John.

- Não me lembra disso, pelo amor de Deus! – Exclamei tampando o rosto. – Eu só saí com ele porque fiquei com dó de dizer não quando ele me convidou.

- E aquele que gostava de ficar penteando a barba? Qual é mesmo o nome dele?

- João Pedro! – Exclamei dando gargalhadas. – Meu Deus! Como você se lembra dele?

- Ele mesmo! – Fernando riu.

- Que vergonha, meu Deus!

- Eu ficava com ódio daquele cara penteando a barba a cada cinco minutos todas as vezes que saíamos juntos.

- Graças a Deus não durou por muito tempo. Ele tinha ciúmes de você.

- E ainda bem que você deu um pé na bunda dele.

- É claro! Ele veio me pedir para escolher entre ele ou você. Óbvio que ele sabia que eu escolheria você.

- Ainda bem. – Fernando riu. – Você estaria sentada no sofá com ele nesse momento, e ele estaria penteando a barba.

- Fernando! – Bati em seu braço rindo. – Só estamos falando das minhas vergonhas, mas você também tem algumas! E aquela loira chata que gostava de ficar chamando você de docinho?

- Ai meu Deus! – Fernando fechou os olhos. – Eu odiava aquela garota!

- Foi a coisa mais melosa que já vi na vida!

- Por que foi se lembrar disso?

- Eu tinha vontade de vomitar todas as vezes que ela te chamava de “docinho”. Vocês por acaso fizeram algo a mais além de ficar? Me dá arrepios só de imaginar ela na cama te chamando de “docinho”. Aposto que era broxante!

- Não fizemos nada de mais. Eu não suportava nem mesmo ficar no mesmo ambiente que ela. E a culpa é sua! – Ele me olhou. – Foi você que ficou insistindo para que eu saísse com ela. Você era uma péssima cúpida.

- Oras, não seja mal agradecido. Se não fosse por mim você seria virgem até hoje!

- Mas que absurdo! – Ele riu. – Eu não era mais virgem quando entrei na faculdade.

- Não? – Ergui as sobrancelhas. – Quer saber? Nunca parei para pensar nisso. Acho que nunca falamos sobre isso.

- Não, porque eu não quero saber da sua vida sexual e você não vai querer saber da minha.

- Tem razão. Mas eu sempre achei que você não conseguia flertar porque era virgem.

- Não, eu não queria flertar porque nenhuma mulher me despertou interesse suficiente para isso.

               Me inclinei no sofá olhando para ele.

- O que foi?

- Você não é gay, não é?

- É claro que não! – Exclamou abismado. – Por que está me perguntando isso?

- Tem razão. – Respondi rindo. – Não sei por que perguntei isso. Eu já sei que você não é gay.

- Ah é? E como sabe?

- Eu já vi você olhando para a bunda das mulheres que passavam por você nos lugares que freqüentávamos.

               Ele apenas riu. Fernando era recatado demais para admitir uma coisa assim.

- Me fala... – Olhei atentamente para ele. – Você já transou com alguém da nossa sala?

               Fernando apenas sorriu, mas não respondeu.

- Fernando...

- Só uma.

- Quem? Ah não! Me deixa adivinhar... Foi a Natália? Aquela garota era uma atirada e eu percebia quando ela praticamente sentava no seu colo.

- Não, não foi a Natália.

- Então quem foi?

- A Renata.

- O QUE? – Não havia outra maneira de expressar meu espanto. – Aquela Renata que praticamente se dizia uma freira?

- Não era bem assim. – Fernando riu.

- Meu Deus, Fernando! Eu não acredito! Você foi uma má influencia para a garota! Agora ela não vai mais poder entrar em um convento.

- Não seja boba, Lety. Ela não queria ser freira. Ela só era mais... Na dela. E se quer saber, ela não parecia nada santa entre quatro paredes.

- Ai meu Deus! Eu não quero ouvir isso! – Coloquei as mãos no ouvido e ele riu.

- Viu só? Por isso eu disse que você não gostaria de saber da minha vida sexual. E nem eu quero saber da sua.

- É, você definitivamente não é gay. E se fosse, seria um desperdício.

- Por quê? – Fernando virou-se para mim, sorrindo divertido.

               Pensei em várias coisas como resposta, mas todas pareceram ridículas, e ele obviamente iria rir de mim durante um dia inteiro.

- Eu já estou bêbada. – Falei deitando a cabeça no sofá.

               Fernando riu.

- Você está um pouco diferente...

- Por quê? – Perguntei curiosa.

- Não sei dizer.

- Acho que você estava acostumado a me ver de aparelho.

- Não, não é isso.

- Um aparelho faz muita diferença, acredite. Agora já posso ser considerada uma mulher atraente. – Falei rindo, mas ele me olhou de uma maneira diferente.

- Eu sempre te achei atraente.

- Mesmo?

- Na verdade... – Ele riu sem jeito. – Já senti atração por você algumas vezes.

- Ora, ora... O álcool entra e as verdades saem. – Falei rindo. – Conte-me mais sobre isso.

- Não é nada de mais. Foi na época da faculdade. Quando saíamos juntos e ficávamos chapados.

- Obrigada por dizer que só sentia atração por mim quando estava bêbado.

- Não foi o que eu disse. – Ele riu.

- Mas já que estamos sendo sinceros, eu também vou dizer. Uma vez nós saímos juntos e você estava acompanhado de uma garota extremamente insuportável que você conheceu na festa. Eu nem me lembro do nome dela. Só sei que eu estava desejando tirar ela de perto de você pelos cabelos para poder ficar no lugar dela.

               Ele gargalhou.

- Você quis ficar no lugar dela para não me fazer passar por isso ou porque queria ficar comigo?

- Os dois.

               Nós rimos. Era divertido poder dizer algumas verdades, que mesmo depois de tantos anos de amizade jamais tivemos coragem de dizer ao outro. Mas, logo depois ficamos em silencio, e aquilo já estava começando a ficar estranho. E graças ao álcool, quebrei o silencio da pior maneira possível.

- Você não acha engraçado que depois de todo esse tempo nunca tivemos nenhum sentimento amoroso um pelo outro? Quero dizer, exceto o da amizade. E também nunca ficamos.

- É... Eu já pensei sobre isso algumas vezes. – Ele sorriu, e por sorte não achou aquela conversa estranha.

- Talvez seja por isso que continuamos amigos depois de tanto tempo.

- Eu não acho. Se tivéssemos ficado ou algo do tipo, eu gostaria de ter continuado seu amigo.

- De verdade?

- Claro que sim.

- Mas isso não é meio impossível?

- Por que acha isso?

- Acho que uma mulher não consegue ser amiga de um homem depois que já tiveram algo juntos. O clima ficaria um pouco estranho, não acha?

- Talvez sim, mas tem muitos casais que não são assim. E também, acho que se tivéssemos ficado por apenas uma noite, não teria problema. Isso não atrapalharia nossa amizade.

- É, acho que sim.

               Nossos olhares se cruzaram, mas começamos a rir logo depois. Era impossível conseguir falar sobre algum assunto sério com Fernando.

- Isso é ridículo! – Exclamei me levantando. – Você está com fome? Eu estou faminta! – Perguntei seguindo para a cozinha.

               Abri a geladeira à procura de algo pratico que pudesse preparar para nós dois, e me lembrei que tinha uma torta de frango do dia anterior. A tirei da geladeira e assim que a coloquei sobre o balcão, percebi que Fernando estava parado à porta me olhando com as mãos no bolso.

- O que foi? – perguntei olhando para ele.

- O que você acha de testarmos essa teoria?

- Que teoria? – Perguntei confusa.

               Mas, ele não precisou explicar, e eu logo entendi o que ele quis dizer.

- Fernando! Não! É claro que não! – Falei rapidamente. – Não podemos apenas “testar” essa teoria. E se não der certo? Não quero jogar mais de quatro anos de amizade no lixo por causa de uma besteira. Nossa amizade é mais importante que isso. Definitivamente, não!

- Vá me dizer que você nunca sentiu nada por mim... – Ele se aproximou, ficando perto demais de mim. Perto o suficiente para fazer minhas pernas bambearem sem que eu soubesse realmente o motivo daquilo. – Você nunca quis me beijar?

- Eu não vou te responder isso.

- Mas eu vou responder por você. – Ele tocou em meu rosto delicadamente, me fazendo olhar para ele. Meu coração estava disparado, como se a qualquer momento eu fosse cair dura no chão.

               Mas que raio de sensação é essa? Eu nunca senti isso antes, mesmo depois de tantos anos de amizade. O que é que está acontecendo comigo?

- Por várias vezes eu já tive vontade de te beijar, mas sempre me controlei. E durante todo esse tempo que ficamos longe, eu não tinha notado o quanto senti sua falta e o quanto é bom estar perto de você.

- Fernando... Nós... Bebemos. Não estamos pensando com clareza.

- Eu estou pensando com total clareza, Lety. É claro que o fato de eu ter bebido esta me ajudando a confessar todas essas coisas, mas acredite ou não, tudo isso é verdade. É como se esse tempo que fiquei longe, finalmente eu percebi que a saudade que eu sinto de ficar com você não é apenas por sermos amigos há tanto tempo. Eu já senti algo por você antes, e hoje quando você me abraçou depois de tanto tempo, eu continuei com essa mesma sensação.  Eu não sei exatamente o que é, mas sei que não tem nada a ver com sentimento de amigos.

- Fernando... – Sussurrei fechando os olhos.

               Tudo o que ele me disse era inesperado, e eu jamais imaginei que estaria em um momento assim com o meu melhor amigo. Mas, algo dentro de mim gritava para eu dizer que estava sentindo o mesmo. Por várias vezes já me peguei pensando como seria se Fernando e eu nos beijássemos, mas jamais pensei que pudesse levar esses pensamentos a sério. E quando eu o vi depois de tanto tempo, quando o abracei depois de todos aqueles meses que ficamos longe um do outro, fui dominada por uma sensação que jamais tive antes. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Fernando é o meu melhor amigo, e é a única pessoa do mundo inteiro que sabe de todos os meus segredos, todos os meus sonhos e medos, e me conhece até do avesso. Eu não posso simplesmente deixar nascer algum sentimento a mais por ele, porque eu jamais saberia se isso seria recíproco. Por mais que Fernando tenha me dito coisas que jamais disse antes, o medo de que no dia seguinte tudo ficasse diferente era maior do que a vontade de beijá-lo.

               Mas, mesmo pensando dessa maneira, eu não seria forte o suficiente para resistir à ele daquela maneira. Fernando era notavelmente mais alto do que eu, e mesmo assim nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir o cheiro do seu perfume que me fez voltar no tempo. Estávamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração misturando-se com a minha. A vontade de beijá-lo aumentava a cada segundo, e aquela loucura definitivamente havia passado dos limites.

- Não vou obrigá-la a fazer o que você não quer. – Ele sussurrou olhando para meus lábios. – Mas, espero que saiba que nada me deixaria mais feliz do que provar dos seus beijos. E isso não é um desejo que surgiu enquanto conversávamos. Eu já tinha essa vontade há algum tempo, mas nunca tive coragem de te dizer. E eu sei que isso não vai atrapalhar em nada, sabe por quê?

- Por quê? – Sussurrei com a voz falha, olhando e seus olhos.

- Porque você é a pessoa mais importante para mim.

               Eu não conseguia resistir àquilo. Que Fernando era carinhoso e sabia as palavras certas para dizer à mim era óbvio, mas naquela situação em que eu estava tão frágil, foi como um convite para que eu fizesse o que fiz em seguida. Sem pensar com clareza, toquei em seu rosto e o puxei para mais perto, lhe beijando logo depois. E meu Deus! Como o beijo de Fernando é maravilhoso! Minha cabeça estava confusa, e todo o tipo de pergunta passava por ela naquele momento: “Você ficou louca, Letícia?” “O que vai ser da amizade de vocês depois disso?” “E se isso tiver sido um erro?”. Mas, ao mesmo tempo, a cada vez que ele aprofundava o beijo e principalmente quando ele passou seus braços em volta de minha cintura, as perguntas mudaram para certezas: “Você está beijando o seu melhor amigo” “E você está gostando do beijo” “E você está sentindo coisas que você jamais sentiu antes!”

               Beijar Fernando era uma sensação nova para mim, mas que eu jamais me esqueceria. O toque dos seus lábios era tão suave e ao mesmo tempo tão intenso, que quando dei por mim, estava praticamente obrigando-o à se aproximar mais. Entendendo o meu pedido, Fernando apertou minha cintura, me guiando para sairmos da cozinha. Cambaleamos pelo apartamento esbarrando em todos os móveis possíveis sem quebrarmos o beijo. Não conseguíamos nos desgrudar, e isso era um perigo. Quando dei por mim, estávamos entrando em meu quarto e imediatamente Fernando me guiou até a cama. Eu me deitei sobre ela e enfim pausamos o beijo depois de longos minutos. Fernando se inclinou sobre mim, mas não voltou a me beijar. Nossos olhares se encontraram, e então ele me surpreendeu com um lindo sorriso. E como eu amo o seu sorriso!

- Podemos não... Fazer mais nada além disso? – Perguntei recuperando o fôlego.

- É claro.

- Acho que é informação demais para um dia só.

- Tudo bem.

               Sorri e ele voltou a me beijar, dessa vez com mais delicadeza. Eu não queria parar de beijá-lo. Não queria ter que ficar nem um segundo sem sentir o gosto dos seus lábios. E pelo visto, ele pensava da mesma maneira. Embora eu tenha pedido para não passarmos da conta, era impossível não sentir o calor da bebida misturada com a excitação nos dominando. Não me contive e desabotoei sua camisa, sentindo o contato de sua pele com as próprias mãos. Arranhei o seu abdômen de leve e senti quando ele o contraiu, suspirando entre o beijo. Logo depois, Fernando colocou uma de suas mãos por dentro da minha blusa, e lentamente a subiu enquanto acariciava minha pele, parando antes que pudesse despir os meus seios. Ao fazer isso, ele pausou o beijo e baixou os olhos até minha cintura.

- Bela tatuagem.

               Rapidamente abaixei minha blusa e ele gargalhou, deitando-se ao meu lado.

- Como você sabia? – Perguntei virando de frente para ele.

- Quando você se abaixou para limpar o chão quando quebrou o copo, eu vi uma parte dela.

- Então estava me cobiçando desde àquela hora?

- Não exatamente. – Ele riu. – Por que não posso vê-la?

- Só posso mostrar à alguém que tem a sorte de ter um momento intimo comigo.

- Mas nós estamos em um momento intimo.

- Você me entendeu.

- Podemos resolver isso. – Ele sorriu maroto.

- Fernando Mendiola, eu não sabia que você era tão safado e insistente.

- Não sou nenhum dos dois. Foi só uma sugestão.

- Sei. – Respondi rindo. – Ah! E você é um mentiroso! – Exclamei olhando-o.

- O que eu fiz? – Perguntou.

- Você disse que não tinha gominhos. – Apontei para seu abdômen que ainda estava despido.

- Mas eu não tenho. – Ele riu olhando para si mesmo.

- Mas definitivamente é um corpo malhado. Você não era assim.

               Por um instante ele me olhou, com um sorriso no canto dos lábios. Eu poderia ficar horas olhando para ele e para o seu sorriso bobo, e foi o que eu fiz até ficarmos em silencio por longos minutos e o sono me pegar. Me ajeitei ao travesseiro e Fernando carinhosamente passou seu braço em volta da minha cintura. “Você está prestes a dormir com o seu melhor amigo, Letícia”. Sim, eu estou prestes a dormir com o meu melhor amigo, e o que mais me espanta é que eu não me arrependo de absolutamente nada.

- Lety...

- Hum? – Meus olhos começaram a se fechar.

- Eu tenho que te dizer uma coisa.

- Depois... – Sussurrei colocando meu braço sobre o seu. – Você me conta amanhã.

               Fernando não disse mais nada. Segundos depois que fechei meus olhos, o sono me pegou, e eu não prestei atenção em mais nada.

 


Notas Finais


E aí pessoas??? O que acharam?


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