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História Meu Melhor Amigo - Não quer arriscar comigo?


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 3 - Não quer arriscar comigo?


               Despertei com o barulho do celular vibrando sobre a cômoda. Acordei assustada, principalmente ao perceber que eu não estava sozinha à cama. Fernando estava ao meu lado, e estava dormindo abraçado à mim. Tomei alguns segundos para olhá-lo e um sorriso se formou em meus lábios quando me lembrei da noite anterior. O celular não parava de tocar, e Fernando mexeu-se um pouco, provavelmente incomodado com o barulho. Com cuidado tirei seu braço que estava em volta da minha cintura e me levantei, pegando o celular à cômoda.

- Alo?

- Ah! Até que enfim! – Márcia exclamou. – Estava dormindo até agora? São onze da manhã.

- Fui dormir um pouco tarde. – Cochichei olhando para Fernando.

- Por que está cochichando?

               Não respondi.

- Ai meu Deus! Ele dormiu aí?

- Sim!

- Aí... Com você? Na sua cama?

- Sim.

- MEU DEUS! ME CONTA TUDO!

- Espera. – Com cuidado caminhei pelo quarto, dando uma ultima olhada para ele antes de sair. – Pronto, agora posso falar.

- Você estava dormindo com ele? Com ele? Com Fernando Mendiola?

- Sim! Mas não fizemos nada do que você esta pensando.

- E no que eu estou pensando?

- Eu não sei, mas sei que tem a mente poluída. Nós só... Nos beijamos.

- Ah! Porque obviamente isso não era o que eu estava pensando! – Disse sarcástica. – Eu sabia que vocês não resistiriam por muito tempo! É muita tentação para resistir.

- Eu não sei o que me deu. Depois que vocês foram embora nós bebemos meia garrafa de tequila e conversamos sobre algumas coisas. Acabamos entrando no assunto de que nunca nos beijamos, e a idéia partiu dele.

- E o que você achou?

- Sobre a idéia?

- Sobre o beijo!

- Ah... – Sorri. – É normal.

- Não minta para mim, Letícia Padilha!

- O que quer que eu diga? Eu beijei o meu melhor amigo! Eu não tenho o que dizer! Foi... Bom! Para um primeiro beijo, foi bom!

- Você está mentindo. Aposto que está pensando nesse beijo até agora.

               Suspirei sem respondê-la. A sala estava uma bagunça e enquanto falava com Márcia decidi começar a arrumá-la, pegando as louças sujas em cima da mesa.

- Conte mais! O que mais vocês fizeram?

- Não fizemos nada! Nós deitamos e fomos dormir.

- Ele não tentou fazer nada?

- Não sei exatamente. Eu pedi para não fazermos nada de mais e ele aceitou.

- Ai meu Deus! Será que ele é gay?

- É claro que não é gay, Márcia! – Respondi irritada. – Ele queria... Inclusive ele comentou sobre a minha tatuagem.

- A do ombro?

- Não. A outra.

- Você deixou que ele visse a sua tatuagem escondida?

- Não fui eu. Ele a viu quando eu estava limpando o chão e depois levantou minha blusa quando estávamos nos beijando.

- Isso é sério. Muito sério! Não me lembro de você ter dito que alguém já conseguiu ver essa tatuagem.

- É porque eu não vou para a cama com todos os homens que eu fico. – Falei impaciente.

- E justo Fernando Mendiola foi esse felizardo. Como vocês vão ficar agora?

- Não sei. Ainda não falamos sobre isso. Ele está dormindo.

- O que você vai falar para ele?

- Ainda não sei. Não sei nem se ele vai querer falar sobre isso. Talvez estivéssemos muito bêbados para pensar com clareza.

- Eu duvido muito. Isso está me cheirando à sentimento oprimido.

- Preciso desligar agora. Tenho que arrumar as coisas por aqui.

- E olha que a desculpa dele foi que ficaria para te ajudar. – Márcia riu.

- Tchau, Márcia!

- Quero detalhes amanhã!

               Suspirei impaciente e desliguei o celular, colocando-o sobre a mesa. Não demoraria muito para Carolina me ligar, porque obviamente Márcia contaria toda a fofoca para ela. Mas, eu realmente não me importava. Sabia que teria que suportar as piadas e o famoso “eu já sabia”, mas eu tinha outras coisas para me preocupar. Até então não tinha pensado quais seria as conseqüências do que aconteceu, e de certa forma me deu medo. E se Fernando quisesse fingir que nada aconteceu? Eu ficaria decepcionada ou aliviada? E se não conseguíssemos mais ser amigos como antes por sentirmos vergonha um do outro? Eram muitas perguntas, e nenhuma delas tinha uma resposta concreta. Peguei todos os lixos que havia sobre a mesa e os joguei dentro de um saco, levando-o para a cozinha logo depois. Assim que voltei à sala, Fernando tinha acabado de se aproximar, espreguiçando-se.

- Bom dia! – Falei olhando-o.

- Bom dia! – Ele sorriu.

               Ótimo. O delicioso silencio depois da culpa.

- Estou dando um jeito na sala. – Não consegui pensar em outra coisa para dizer.

- Vou te ajudar.

- Não precisa...

- Eu fiquei para isso. – Ele riu.

               Eu não queria que ficasse um clima pesado entre nós dois. Fernando era o meu melhor amigo, e eu não conseguiria agüentar que houvesse algo estranho entre nós dois. Eu precisava dele para desabafar sobre qualquer coisa, quer fosse vergonhoso ou não. Mas, se continuássemos daquela maneira, eu não sei como seguiríamos.

- Olha Fernando, eu...

- Lety. Não diga nada. – Ele se aproximou. – Nós dois sabemos do que aconteceu e somos maduros o suficiente para não deixarmos isso atrapalhar nossa amizade, não é?

- Sim. Era o que eu ia dizer...

- Ótimo! Então, estamos bem, não é?

- É claro que sim!

- Que bom.

               Nos olhamos por um instante, e eu não faço idéia do que aconteceu no segundo seguinte. Quando dei por fim, Fernando me segurou pela cintura e eu “enganchei” em seu pescoço. Nos beijamos novamente. O-que-é-que-deu-em-mim? Acabamos de concordar que ficaríamos bem e que não deixaríamos isso afetar a nossa relação, e de repente estávamos nos beijando de novo? Era como se a boca dele fosse um imã, que tinha força suficiente para atrair a minha. Seria impossível ficar perto dele sem desejar calorosamente que nos beijássemos, e esse era o nosso maior problema.

               Depois do beijo inesperado, nos separamos e olhamos um para o outro, caindo na gargalhada logo depois. Essa era a parte boa de ter momentos assim com o seu melhor amigo. Nós ríamos de nossas próprias loucuras.

- Acho que vamos precisar de um tratamento depois disso. – Comentei limpando o canto da boca. – Precisamos parar com isso.

- Concordo. – Ele riu. – Então, paramos por aqui. Combinado?

- Combinado. – Sorri. - Então... O que pretende fazer hoje?

- Não sei. O que me indica?

- Bom... Pensei em almoçarmos no restaurante japonês. Imagino que esteja com saudades.

- Só nós dois?

- Aí você escolhe.

- Eu prefiro só nós dois.

               O olhei divertida.

- Tudo bem. Só nós dois.

- Será uma boa despedida.

- Despedida? – O olhei séria. – Você vai embora hoje?

- Sim. – Ele suspirou triste. – Só tive dois dias de folga.

- Mas tão rápido?

- Pois é. Pelo menos deu para fazer muita coisa. – Ele sorriu divertido.

- Eu não estava esperando que você fosse voltar tão rápido...

- Eu também não queria. De qualquer maneira podemos almoçar juntos, e depois você pode me acompanhar até a casa dos meus pais. Quero passar um tempo com eles também.

- Certo.

               Não consegui disfarçar o meu desanimo. Eu sabia que Fernando não ficaria por muito tempo, mas não estava preparada para me despedir tão rápido.

- Não fique assim, Lety. – Ele se aproximou. – Logo eu arrumo um jeito de voltar.

- Eu sei. – Sorri.

- Então, melhor começarmos a arrumar tudo agora, não é? Para ficarmos livres para o almoço.

- Sim! Só precisamos de um detalhe. – Andei até o som que havia na sala e o liguei. – Não dá pra arrumar a casa sem musica.

               Ele riu.

 

 

 

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               Para a minha surpresa, enquanto arrumávamos a casa foi como se nada tivesse mudado. Continuávamos rindo e fazendo as mesmas palhaçadas de sempre, e o clima não ficou pesado como eu pensei que ficaria. Fernando se disponibilizou a terminar de ajeitar as coisas enquanto eu tomava o meu banho para almoçarmos, e pela primeira vez eu não demorei muito tempo para me arrumar. A primeira roupa que escolhi me agradou, e dessa vez, o leve toque de maquiagem me deixou um pouco mais apresentável para a ocasião. Quando terminei de me arrumar, voltei para a sala e Fernando me olhou.

- O que foi?

- Nada. É que você está tão bonita e eu nem mesmo tomei um banho.

- Eu disse que se quiser tomar, você pode ficar a vontade.

- Não adianta se não tenho roupas aqui. – Ele riu.

- Mas se te deixa melhor, você está ótimo assim.

- Que bom. – Ele sorriu. – Você arrumou rápido dessa vez. O que aconteceu?

- Nada. Só não fiquei em um dilema para escolher a roupa.

- Acontecimento histórico.

- Não seja exagerado.

- Então podemos ir? Estou faminto.

- É claro!

               Fernando pegou suas chaves sobre a mesa e eu peguei minha bolsa, seguindo em direção à porta. Caminhamos em silencio até o elevador, e assim permaneceu até que saíssemos do meu prédio e fossemos até o seu carro. Depois de desativar o alarme, Fernando abriu a porta para que eu entrasse e eu imediatamente me lembrei da ultima vez que entrei naquele carro.

- Acabei de ter aquela sensação de nostalgia. – Comentei enquanto ele dava a volta para entrar do lado do motorista.

- Por quê?

- Fomos para o baile de formatura nesse carro.

- Ah, é verdade! – Ele sorriu. – Eu quase me esqueci. Foi um dia engraçado.

- Foi um caos, isso sim.

 

 

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- Eu só vou tentar mais uma vez! Se eu não conseguir, eu vou de táxi! – Letícia exclamou impaciente.

- Vai. Eu te ajudo!

               Letícia ergueu a barra do seu vestido e tentou se abaixar para conseguir entrar no pequeno carro vermelho. O busto do vestido era tão delicado e justo que se ela se abaixasse um pouco mais, corria o risco de todas as pedras se espalharem pelo chão, estragando o seu vestido. Era a terceira vez que ela tentava entrar no carro, mas não conseguia achar uma posição segura e adequada, até que por fim ela conseguiu entrar.

- Viu só? Eu falei que ia dar certo! – Fernando comemorou.

- Eu não consigo respirar! – Ela disse colocando a mão sobre os seios. – Entra logo antes que eu morra antes de chegarmos no baile.

               Fernando fechou a porta e correu para o outro lado.

- Está mesmo sem respirar? – Ele perguntou curioso quando entrou.

- Não. Só está me apertando.

- Eu não sei por que você não escolheu um vestido que te deixasse mais a vontade.

- Porque foi esse que combinou comigo, oras!

               Fernando bufou e dirigiu, seguindo em direção à formatura. O tempo estava mudando, e os trovões indicavam que uma forte chuva cairia. E não demorou muito para que isso acontecesse, e a chuva os pegou de surpresa na metade do caminho.

- Ótimo! Agora o meu cabelo vai ficar horrível com esse tempo. – Letícia resmungou.

- Já estamos chegando.

               Mas, Fernando não deveria ser tão otimista. Em poucos metros, com a chuva atrapalhando um pouco sua visão, Fernando deixou que a roda da frente se afundasse em um buraco. O carro morreu, e Letícia o olhou preocupada, temendo o pior.

- Calma. É só acelerar e vai dar tudo certo. – Fernando comentou girando a chave na ignição. O carro ligou, e ele acelerou o máximo que pôde, mas continuou atolado.

- Ah! Maravilhoso! – Letícia bufou. – Não vamos conseguir chegar nessa formatura.

- Mas que droga! – Fernando exclamou irritado, batendo no volante. – Olha, você fica aqui e eu vou pedir ajuda.

- Não.

- O que?

- Você fica aqui e eu vou pedir ajuda. – Ela tirou o cinto de segurança.

- Mas como que...?

- Me da a sua camisa de baixo.

- Como é que é?

- A sua camisa de baixo do paletó, Fernando! Sua camisa social!

- Para que você quer ela?

- Eu não posso sair nessa chuva com o meu vestido.

- Lety, você enlouqueceu?

- Se você sair do carro e alguém aparecer para ajudar, eu não vou saber o que fazer. É muito mais pratico eu sair para buscar ajuda, mas não posso fazer isso com o meu vestido. Então, por favor... Me empresta sua camisa.

               Ainda olhando-a como se fosse louca, Fernando não teve reação alguma. Mas, quando percebeu que ela estava falando sério e já estava impaciente, ele tirou o cinto, apressando-se em tirar o paletó e desabotoar sua camisa. Quando enfim a tirou e a entregou para Letícia, ela se ajeitou no banco para conseguir abrir o zíper na lateral do vestido.

- Feche os olhos. – Ela disse assim que abriu o zíper.

               Fernando suspirou impaciente e fechou os olhos. Demorou alguns minutos até que ela conseguisse tirar o vestido sem estragá-lo, e durante todo esse tempo Fernando permaneceu de olhos fechados, embora estivesse tentado em abrir ao menos uma frecha para saber o que estava acontecendo.

- Pronto. Pode abrir.

               Quando Fernando abriu os olhos, Letícia estava colocando o seu vestido no banco de trás do carro, ajeitando a camisa dele em seu próprio corpo. Era uma loucura ela querer sair em busca de ajuda vestida daquela maneira, já que a camisa de Fernando não chegava até a metade das cochas dela.

- O que foi?

- Você vai sair para buscar ajuda vestida como alguém que acabou de transar?

- Eu estou com um short por baixo!

- Ah...

- Me espera aqui que eu já volto.

               Fernando não respondeu por que não tinha certeza de que aquilo era uma boa idéia. Mas, conhecendo bem Letícia, ela não lhe daria ouvidos de qualquer maneira. A única coisa que ele pôde fazer foi ficar no carro quando ela saiu debaixo da chuva. Ele esperou por cinco minutos. Por dez minutos. Por quinze minutos. Quando estava chegando nos vinte minutos de espera, ele estava convencido de que iria atrás dela, mas então no mesmo instante Letícia abriu a porta do carro, totalmente molhada, mas com dois homens a acompanhando.

- Eu consegui ajuda! – Exclamou animada.

- Vamos empurrar o carro e você acelera. – Um dos rapazes disse.

- OK! – Fernando girou a chave na ignição e ouviu os rapazes gritarem para ele acelerar.

               Fernando pisou fundo no acelerador, causando um enorme barulho, mas por fim o carro desatolou do buraco e ele comemorou.

- Obrigado! – Fernando abriu o vidro do carro.

- Não há de que! – Os rapazes responderam.

- Obrigada, gente! De verdade. – Letícia agradeceu mais uma vez, entrando no carro. – Viu só? Eu falei que conseguiria ajuda.

- É, só que agora minha blusa está encharcada. – Ele riu.

- Ligue o ar condicionado. Até chegarmos no baile ela já secou.

- E como vai colocar o seu vestido?

- Eu dou um jeito. O importante é chegarmos nessa maldita festa.

               Fernando riu, dando partida no carro.

 

 

 

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- Eu peguei um resfriado dos bravos naquele dia. – Fernando comentou.

               Chegamos ao restaurante comentando sobre o ocorrido na noite do baile, e depois de tanto tempo, o sufoco nos fazia rir.

- E eu ainda não sei como consegui me trocar naquele banheiro minúsculo do posto de gasolina. – Falei rindo. – Mas, foi uma noite boa.

- Foi. Omar bêbado foi a melhor parte.

- Ai, nem me lembra!

               Seguimos para a mesa de sempre e Fernando puxou a cadeira para que eu me sentasse.

- Está com uma sensação de nostalgia? – Perguntei.

- Outra vez? – Ele sorriu, sentando-se à minha frente.

- Acho que é porque não é a mesma coisa vir aqui sem você.

               Olhei para o cardápio, mesmo já sabendo o que iríamos pedir. Pedíamos a mesma coisa sempre. Mas, embora eu soubesse que nossa amizade era mais forte do que a loucura que cometemos, a todo o tempo eu sentia que Fernando queria falar sobre isso, e eu não sabia exatamente aonde isso iria chegar.

- O que vamos fazer agora? – Ele perguntou.

- Vamos comer. Estou faminta. – Respondi sem olhá-lo.

- Não estou falando disso. Estou falando de nós dois.

               Ergui os olhos para ele, e Fernando estava escorado à mesa, me olhando com seriedade.

- Eu não sei... Temos que pensar nisso?

- Não deveríamos? Não dá para simplesmente fingirmos que nada aconteceu.

- Mas você deu a idéia de pararmos com isso. Nós concordamos, lembra? Agora há pouco.

- Não é isso que quero dizer, Lety. – Ele suspirou pesadamente. – É que... Eu não agüento mais guardar algumas coisas para mim por medo do que você vai pensar.

- Como assim?

- O que aconteceu ontem não foi uma simples curiosidade. Eu não queria te beijar só para saber como seria beijar minha melhor amiga. Eu queria isso.

- Eu sei, e eu também queria. Já falamos disso.

- A questão é que eu não quis isso a partir de ontem, depois de algumas doses de tequila. Eu já queria isso há muito tempo.

- Fernando, aonde você quer chegar? – Coloquei o cardápio sobre a mesa.

- Nós somos amigos há quase cinco anos... E eu acho que não tem nada sobre a minha vida que você não saiba. Tenho medo de que você saiba inclusive a cor das meias que tenho na gaveta da minha casa.

- Não queria dizer, mas eu sei. – Tentei descontrair, mas ele permaneceu sério.

- Mas tem algumas coisas que você não sabe.

- Como o que?

- Como... As coisas que eu sinto por você há algum tempo.

               Meu coração disparou.

- Que coisas?

- Nossa amizade é a coisa mais importante para mim, Lety. E não tem um dia que eu não consiga lamentar estar tão longe de você. Mas, não apenas porque você é como um alicerce para mim. Que está ao meu lado nas horas que mais preciso, seja para rir ou para chorar. E talvez seja por dar tanta importância à nossa amizade que eu nunca tenha dito isso para você. Mas, esse tempo que ficamos longe, eu não conseguia parar de pensar nisso, e agora acredite, não sei de onde estou criando coragem para ter essa conversa com você.

- Fernando, eu não estou entendendo...

- Eu gosto de você, Lety. – Ele se inclinou sobre a mesa, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu gosto de você mais do que uma amiga, e isso já faz um tempo. Você não sabe o quanto eu me contive tendo que ver você ficar com outros caras na minha frente, o quanto eu tive que me segurar para não te beijar todas as vezes que tive a oportunidade.

               Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre a gente, ainda era uma surpresa para mim Fernando dizer tudo aquilo. Eu jamais imaginei que há tanto tempo ele tivesse algum sentimento por mim. E pior, por que eu nunca tinha notado isso. Eu sou sua melhor amiga, era o meu dever notar que ele pensava em mim mais do que uma amiga. Mas, eu estava sendo hipócrita comigo mesma. Eu sabia que no fundo diversas vezes já tive ciúmes de Fernando com outra mulher, e assim como ele, já tive vontade de beijá-lo. O único problema é que sempre pensei que tudo isso que eu sentia se dava ao simples fato de eu ser uma pessoa extremamente ciumenta e impulsiva, e por Fernando ser o meu melhor amigo, seria algo normal a se pensar sobre ele. Pelo visto não era apenas isso.

- Eu sei que pode parecer estranho, porque nunca deixei claro isso. Eu sempre disfarcei bem, mas para ser sincero, por muito tempo pensei que isso fosse apenas uma besteira da minha cabeça. Eu sou homem, é normal que eu sinta atração por você mesmo sendo o seu melhor amigo. Acho que isso ajudou o meu disfarce e me fez ficar calado por tanto tempo. – Ele sorriu triste. – Mas agora acho que é o momento certo para você saber disso, porque não quero mais esconder isso de você. Você não precisa retribuir esse sentimento, e nem precisa ter pena de mim. Continuaremos sendo amigos. Como eu disse antes, nossa amizade é a coisa mais importante para mim.

               Eu realmente não sabia o que responder. Minha cabeça estava cheia, assim como meu coração. Eu estava confusa, sem saber o que pensar ou fazer naquela situação. Era uma situação difícil, já que qualquer passo em falso poderíamos nos afastar para sempre, e isso era o que eu mais temia.

- Você... Pode dizer alguma coisa quando quiser. – Ele riu tenso.

- Eu... Não sei o que dizer. – Respondi sincera. – Eu nunca imaginei que você... Bem...

-Eu também não. Na verdade, eu só tive certeza depois do que aconteceu ontem. – Ele escorou-se à cadeira. – O que você acha sobre isso?

- O que eu acho? – Respirei fundo. – Bom... Eu gostaria muito de saber uma coisa.

- O que?

- Que droga você viu em mim, Fernando?

               Ele riu.

- Eu estou falando sério! Eu sou problemática! Eu sou ciumenta, sou possessiva, sou explosiva...

- É exatamente isso. – Ele voltou a se aproximar, dessa vez segurando minha mão. – Você pensa que são defeitos, mas são qualidades.

- Fernando, eu nunca consegui ter um relacionamento sério em toda a minha vida.

- Não estamos falando de relacionamentos sérios. Estamos falando sobre o que eu sinto por você.

- É que eu não consigo imaginar como alguém como você pode ter começado a gostar de alguém como eu.

- Como assim?

- Nós somos tão amigos porque somos diferentes. Você é centrado, você é responsável, maduro. Somos totalmente o oposto um do outro. Por isso nos demos tão bem, não é?

- Nos demos bem porque sabemos conviver um com o outro. Você acha que tudo isso que falou sobre mim também não são defeitos aos meus olhos?

- São?

- É claro! Você não sabe como às vezes eu queria jogar tudo para o alto. Mandar o meu chefe para o inferno, dizer que ele é o cara mais babaca que já conheci na minha vida!

- Isso é algo que eu diria. – Falei rindo.

- Viu só? É exatamente isso! Você faz o que quer. Você não fica na vontade. Você pode se arrepender depois por algo que fez, mas você jamais arrepende por não ter feito.

               Eu sorri. Sorri porque embora Fernando sempre tenha levantado minha auto estima, ele jamais disse aquelas coisas para mim.

- Para dizer a verdade, Lety, você dá vida aos meus dias.

- Isso realmente foi muito lindo.

- É a verdade. Se não fosse por você, eu acho que estaria odiando a minha vida por completo.

- Por completo?  Então você odeia uma parte?

- Só a parte que você não está nela.

               Olhei para nossas mãos entrelaçadas sobre a mesa e mordi o lábio inferior, pensativa.

- Não quero que façamos coisas sem pensar. – Falei. – Não quero que a gente tome alguma decisão precipitada e nem nada do tipo. É muita coisa para digerir em um dia só.

- Eu sei disso, e não quero que pense que estou te cobrando nada. Eu só precisava desabafar.

               O olhei.

- Só não quero que pense que eu não tenho motivos para gostar de você. – Ele beijou minha mão. – Você é muito melhor do que pensa.

- Eu vou chorar daqui a pouco, Fernando. Acho bom fazermos logo o pedido.

               Ele riu.

- Tem razão, estou morrendo de fome. Só espero que dessa vez você não coma nada do meu prato.

- Você sempre deixa alguma coisa no prato. É melhor do que desperdiçar.

               Fernando gargalhou. Vê-lo rindo me fez sorrir, e mesmo depois de todo aquele desabafo, eu me sentia bem ao lado dele. Sentia que melhor do que apenas a amizade que tínhamos antes, também éramos cúmplices. Cúmplices de algo ainda desconhecido, mas que era bom. Muito bom.

 

 

 

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- Fernando, pelo amor de Deus, não deixe que sua mãe me pegue de conversa hoje. – Falei quando estávamos à caminho da casa de seus pais. – A ultima vez ela me passou a receita de um bolo de banana.

- E o que é que tem?

- Eu ODEIO banana.

               Fernando riu.

- Não se preocupe. Vamos chegar e vamos para o meu quarto.

- Como assim você já está querendo me levar para o seu quarto?

- Não seja boba, Lety. Até parece que nunca entrou no meu quarto antes.

- Mas agora tenho medo do que possa acontecer lá.

- Eu não vou te agarrar.

- Quem garante isso?

               Ele riu.

- Só se você quiser.

- Não. Não quero ter que presenciar sua mãe abrindo a porta do quarto quando estivermos nos pegando.

- Seria mais uma pessoa para ver sua tatuagem.

- Por que é que você cismou com minha tatuagem?

- Porque eu quero vê-la e você não deixa.

- Eu já disse que só em um momento de intimidade, o que nós não teremos tão cedo. Ainda estou digerindo a parte que você sempre gostou de mim.

- Sempre não. Vamos com calma.

- Oras, o que aconteceu com o romantismo de agora há pouco?

               Ele gargalhou.

- Quem sabe um dia eu te mostro ela. – Me ajeitei no banco.

- Ela quem?

- A minha tatuagem.

- Eu só quero saber o que é.

- Você vai saber quando ver.

- Posso ver hoje?

- Não! – Respondi cruzando os braços.

               Fernando não insistiu mais no assunto sobre a tatuagem, e não demorou muito para chegarmos à casa dos seus pais. Desde quando ele se mudou eu não os visitava, e não foi por falta de convite. Por mais que eu gostasse de seus pais, eu não tive coragem de visitá-los sabendo que Fernando não estaria lá. Seria ainda mais difícil ter que conviver com sua ausência.

- Acho que eu deveria ter colocado uma blusa de manga. – Falei quando descemos do carro. – Sua mãe não sabe da tatuagem.

- Ela não vai te dar um sermão por isso, relaxa.

               Deixei isso pra lá e entramos na casa. Assim que seguimos para a sala, seu pai estava sentado no sofá lendo um jornal, como de praxe. Era como se nada realmente tivesse mudado, e eu não pude deixar de me sentir bem por estar ali.

- Ah! Até que enfim! – Seu pai comentou, levantando-se. – Não avisou que ia dormir fora.

- Desculpe, fiquei sem bateria no celular. Onde está a mamãe?

- Está na varanda regando as plantas. Oi Lety, quanto tempo.

- Como vai, Seu Humberto?

- Bem, muito bem! Estão matando as saudades?

               Olhei para Fernando e ele prendeu o riso.

- Sim, estamos sim. – Sorri.

- Que bom! Uma pena ele não ficar mais tempo, não é?

- Foi o que eu disse.

- Pelo menos ele se lembrou dos pais antes de ir embora. – Humberto riu. – Acho bom ir ver sua mãe. Ela estava preocupada.

- Eu vou agora mesmo. Vamos, Lety?

- Sim!

               Caminhamos pela sala sentindo à varanda. De longe avistei Terezinha regando suas amadas plantas, e rezei em silencio para que ela não me pedisse ajuda. Ela tinha mais plantas do que eu tenho roupas, e sempre passávamos longos minutos para regar todas.

- Olha só quem chegou! – Ela exclamou quando nos aproximamos. – Está acostumado a morar longe e acha que não tem que avisar mais que vai dormir fora, é?

- Desculpe, mamãe. – Fernando sorriu abraçando-a.

- Lety, querida! Há quanto tempo não te vejo! – Ela sorriu olhando para mim e eu a cumprimentei com um abraço. – E pelo visto muito tempo mesmo... – Ela tocou no meu ombro apontando para a tatuagem. – É de verdade?

- Sim. – Sorri sem jeito.

- Eu disse para ela que Deus não gosta desse tipo de coisa. – Fernando cruzou os braços escorando-se ao parapeito.

- Não brinque com essas coisas, Fernando. – Ralhou Terezinha e eu sorri vitoriosa. – Estão com fome? Querem comer alguma coisa?

- Não, acabamos de almoçar. Obrigada. – Sorri.

- Mas a Lety disse que está com saudade de te ajudar a regar as plantas, mamãe. – Fernando comentou e eu o fuzilei com o olhar.

- É mesmo? Que gracinha! – Terezinha sorriu. – Já que insiste, toma aqui um regador. – Ela me entregou. – Pode regar as do jardim e eu continuo nessas daqui.

               Forcei um sorriso até ela me dar as costas e eu ter a oportunidade de fazer um gesto obsceno para Fernando, que gargalhou.

 

 

 

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               Depois de exatos trinta e cinco minutos regando todas as plantas do jardim, finalmente Terezinha me liberou e eu pude ir para o quarto de Fernando, onde ele ficou todo esse tempo. Ao abrir a porta, ele estava deitado à cama mexendo em seu celular, e quando me viu, começou a rir.

- Eu te odeio! – Exclamei batendo a porta.

- Como foi? Se divertiu?

- Vai pro inferno!

               Me aproximei da cama, deitando pesadamente sobre ela.

- Eu não poderia ir embora sem provocá-la.

- Fernando, me faça um favor... Cala a boca!

               Ele riu deitando-se ao meu lado.

- Foi uma ótima maneira de me despedir.

               Me virei para ele.

- Você precisa mesmo ir hoje?

- Sim. – Seu sorriso diminuiu. – Bem que eu queria ser como você e jogar tudo para o alto nesse exato momento.

- Eu não ia deixar que fizesse isso. Um de nós dois tem que ser o responsável.

               Ele riu, tocando em meu rosto logo depois.

- Nada vai mudar entre a gente, não é? – Perguntei colocando minha mão sobre a dele.

- Não, eu prometo.

- E sobre o que conversamos no almoço?

- Não precisamos falar nisso se você não quiser.

- Não é isso, é que... Mesmo que a gente não saiba o que vai ser daqui pra frente, vamos estar longe um do outro. E se até a próxima oportunidade de você voltar isso tenha mudado?

- Como eu disse, nada vai mudar.

- Mas, e se mudar?

- Se mudar, então você vai atrás de mim e pode me dar quantos tapas você quiser.

- Eu adoraria fazer isso. Principalmente depois de ter regado trinta e três plantas.

               Ele riu.

- Não vai mudar, eu prometo.

               Suspirei convencida e sorri logo depois.

- Bom... Eu vou tomar um banho. – Ele se levantou. – Não demoro. Pode aproveitar para descansar o braço. – Disse divertido.

- Vou descansar, para ter força o suficiente para bater em você depois.

- Eu volto logo.

- Ok.

               Fernando saiu do quarto e eu virei à cama, fitando o teto. Era bom estar em sua casa depois de tanto tempo, mesmo com o coração partido por ele estar indo embora. As lembranças que eu tinha daquele lugar eram sempre as melhores, assim como qualquer outra relacionada à ele. E talvez por isso, dessa vez seria ainda mais difícil me despedir. Da ultima vez, eu sabia que meu melhor amigo estava indo morar em uma cidade distante de mim, mas dessa vez, além de tudo isso, eu teria que conviver com aquele sentimento confuso que estava me dominando. Enquanto pensava nisso, ouvi o toque do meu celular e o tirei do bolso da calça, lendo o nome de Carolina na tela.

- Alô?

- Oi danadinha!

               Me virei à cama, rindo.

- Márcia já te contou.

- Claro que sim! E aí? O que rolou?

- Não rolou nada. – Olhei para a porta me certificando de que ele não estava voltando. – Só nos beijamos e foi isso.

- E foi isso? Como assim e foi isso? Vocês se beijaram! Você sempre disse que jamais faria isso!

- Eu sei, mas é que nós bebemos e você sabe...

- Ah-ah! Não vem não! Isso não tem nada a ver com a bebida.

               Sorri

- É, não tem mesmo.

- Você está com ele agora?

- Mais ou menos. Estamos na casa dos pais dele e ele está no banho.

- Vocês ficaram outra vez?

- Não, mas conversamos.

- Conversaram sobre o que?

- Deixa de ser curiosa, Carolina!

- Eu quero saber tudo!

- Eu te conto depois, não quero ter que repetir tudo de novo para a Márcia.

- E vocês vão sair de novo?

- Não... Ele vai embora hoje. – Suspirei triste.

- Mas já?

- Sim...

- Ai que pena! Mas depois desse beijo talvez ele desista de ir embora.

- Não seria má idéia. – Falei rindo, e por um momento aquela loucura de Carolina me deu certa esperança.

               E se quando estivesse prestes a pegar o avião, Fernando pensasse que estaria melhor ali, e desistisse de tudo? É claro que eu não queria que ele perdesse aquela ótima oportunidade de emprego, mas eu adoraria receber a noticia de que ele voltaria a ficar ao meu lado. E quem sabe depois disso, com o tempo, nós finalmente descobriríamos o que seria de nós dois?! Durante esses pensamentos loucos enquanto Carolina tagarelava do outro lado da linha, ouvi o celular de Fernando vibrando sobre a cômoda. Era uma mensagem, e eu não deveria ter sido tão curiosa. Não era do meu feitio olhar as coisas dos outros, mas como eu estava perto demais, não consegui conter a curiosidade.

               Ao olhar na tela do celular, li o nome da pessoa que havia acabado de enviar a mensagem. “Marianne”. Tentei pensar em alguém que conhecíamos com aquele nome, mas não me lembrei de ninguém.

- Carol... Eu te ligo depois, tudo bem?

- Certo! E me conte tudo!

- Ok! Um beijo!

- Outro.

               Desliguei o celular e rapidamente peguei o de Fernando, ultrapassando todos os limites de bom senso. Mas, aquele nome me chamou a atenção, e então comecei a ler o conteúdo da mensagem.

 

De: Marianne

               “Oi, meu amor! Estou com saudades! Quando é que você chega? Vê se responde minhas mensagens e ligações! Não falo com você desde ontem à noite. Não vejo a hora de você voltar para te encher de beijos! Me liga quando puder! Beijos, Mari.”

 

 

               Como eu disse, eu sou uma pessoa extremamente ciumenta e possessiva, e aquela mensagem não parecia algo que uma simples “amiga” mandaria para ele. Além do mais, Fernando jamais me falou de nenhuma “Marianne”, o que era estranho já que ela parecia ter tanta intimidade com ele. Respirei fundo contando até dez, tentando pensar mil e uma possibilidades daquilo ter uma explicação. Mas, quanto mais eu pensava, com mais raiva eu ficava. Depois de tudo o que falou para mim, Fernando teria alguém? E por que não me contou? Porque não me falou desde quando começamos a conversar? Com raiva, coloquei o celular de volta na cômoda no mesmo instante que ele abriu a porta do quarto, vestindo apenas uma calça jeans enquanto secava os cabelos.

- Demorei?

- Não. – Respondi friamente.

- Deu tempo de você parar de reclamar sobre as plantas? – Ele caminhou até a cômoda, despejando desodorante sobre seu corpo.

               Eu deveria ter me segurado. Deveria ter perguntado de uma maneira mais gentil e menos acusadora, mas eu não consegui me conter.

- Quem é Marianne?

               Fernando parou o que estava fazendo e olhou para mim, parecendo surpreso.

- Onde você viu esse nome?

- No seu celular.

- Você mexeu no meu celular?

- Quem é Marianne? – Insisti.

               Ele suspirou, de uma maneira que só fazia quando estava prestes a contar algo sério. Senti meu sangue ferver, mas me contive até que ele conseguisse se explicar.

- Eu ia te contar sobre isso... Ontem. – Ele se aproximou, sentando-se ao meu lado. – Eu a conheci quando comecei a trabalhar na empresa do Gonzáles.

- Sinceramente, eu não estou interessada em saber como você a conheceu. Quero saber se ela é uma amiga, ou se é algo mais.

- Eu vou chegar lá.

               Suspirei impaciente.

- Ela foi a primeira pessoa que fiz amizade quando cheguei lá, e bem... Ela é uma pessoa muito legal.

- Fernando, vá direto ao ponto! Ela é ou não é mais do que sua amiga?

               Fernando me olhou e então balançou a cabeça, afirmando.

- Ela é?

- Sim.

- É sua namorada?

               Ele não respondeu.

- Eu não acredito. – Sorri sarcástica me levantando no mesmo instante.

- Lety, espera! – Ele segurou meu braço, também se levantando.

- VOCÊ MENTIU PRA MIM! – Soltei meu braço com força.

- Não menti! Eu apenas omiti! Mas eu posso explicar.

- EU NÃO QUERO QUE SE EXPLIQUE! QUERO QUE VÁ PARA O INFERNO!

- Não! – Ele correu passando em minha frente, fechando a porta me impedindo de passar.

- SAI DA FRENTE!

- Não! Eu não vou deixar que você saia até me deixar explicar.

- Enfie sua explicação no...

- Letícia! – Ele segurou meus braços. – Pela primeira vez na sua vida, não haja por impulso e apenas me escute!

               Respirei fundo, tomando fôlego e paciência. Eu queria sair dali, realmente queria. Mas eu sabia que me arrependeria depois por não ter deixado que ele se explicasse, principalmente por não saber quando seria a próxima vez que teríamos a oportunidade de conversarmos sobre isso.

- Você tem cinco minutos. – Falei cruzando os braços.

- Obrigado. – Ele suspirou. – Tudo bem, eu sei que deveria ter te contado isso o mais rápido possível. Mas... Eu... Não sei o que me deu! Eu estou confuso, Lety!

- E achou melhor dizer todas aquelas coisas para mim ao invés de simplesmente dizer que estava confuso?

- Eu não menti sobre nada. Tudo o que eu disse para você no restaurante é verdade.

- Então por que não me contou? – Meus olhos encheram-se de lágrimas, mas eu me proibia de chorar em sua frente. – Por que não me disse que você tem uma namorada?

- Porque eu não sei mais se ela é minha namorada.

- Fernando, não seja tão confuso!

- Eu não queria ser! Eu só... Não sei o que me deu. Eu me envolvi com ela, mas não sei se é isso que eu quero.

- Não sabe? – Sorri irônica. – Assim como não sabe se é verdade o que me disse hoje.

- Não. Eu vou reformular minha frase... Eu tenho certeza que não quero estar com ela. E eu soube disso desde o primeiro momento que percebi que as coisas entre nós dois estavam ficando sérias. No inicio pensei que fosse apenas algo bobo, uma curtição. Mas ela realmente começou a gostar de mim, e eu nunca pude retribuir isso.

- Então por que ainda está com ela?

- É complicado, Lety!

- TUDO É COMPLICADO PARA VOCE! – Aumentei a voz.

- É PORQUE EU SEI O QUE EU SINTO POR VOCE! POR ISSO É COMPLICADO!

- SE SABE O QUE SENTE POR MIM, POR QUE SIMPLESMENTE NÃO ME CONTOU A VERDADE ANTES DE TUDO?

- PORQUE EU TIVE MEDO!

               Fechei os olhos tentando ter calma.

- Eu precisava dizer tudo aquilo que te disse hoje. Eu precisava dizer ou eu iria enlouquecer. Não conseguia mais guardar aquilo para mim, e pelo amor de Deus, Lety. Acredite. Tudo o que eu disse é verdade.

- Então por que está confuso?

- Por que... Eu... Não sei como serão as coisas. Não sei o que vai acontecer com a gente. Não sei o que vai acontecer comigo e com a Marianne.

               Balancei a cabeça, magoada.

- Se você não sabe, eu também não sei, Fernando.

- Lety...

- Eu preciso ir.

               Toquei na maçaneta e ele me deixou abrir a porta, mas antes que eu saísse, mais uma vez ele segurou meu braço.

- Eu só preciso de uma resposta sua, e eu vou saber o que fazer. – Ele disse olhando em meus olhos. – Você acha que nós podemos ter algo sério? Você acha que conseguimos pular todos esses obstáculos e ficarmos juntos? Como um casal?

               Senti minha garganta queimar, e desviei o olhar antes de responder.

- Não. Não podemos ter algo sério.

- Lety...

- Não tenho coragem de dizer para você escolher à mim do que à essa Marianne, Fernando. Você não sabe se gosta dela, mas também não sabe se uma relação entre nós dois daria certo. E eu prefiro não arriscar.

- Você não quer arriscar? Não quer arriscar comigo?

               Seus olhos também estavam marejados e vermelhos e isso partiu o meu coração.

- Não. Não quero. – Soltei meu braço de sua mão. – Faça uma boa viagem.

               Dessa vez ele não me segurou ou me impediu de ir embora.

 


Notas Finais


E então, o que acharam da decisão da Lety? Fariam o mesmo no lugar dela?


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