Preparar crepes vestida com uma lingerie sensual tinha lá seus riscos, mas também era compensador. SoRi logo teve a chance de descobrir como era ser acariciada junto à porta da despensa: incrível. E "nocauteada" sobre o tapete da sala. Inacreditável. Oh, e fazer amor sob o jato quente e intenso da água do chuveiro foi uma experiência que ela logo se mostrou ávida por repetir. HanBin passou a noite acariciando-a, nunca parecendo completamente satisfeito mesmo tendo SoRi bem ali, a seu lado. E a atitude dela em relação a ele também não era muito diferente disso. Os dois estavam tão sintonizados que, por vezes, chegavam a dizer uma mesma palavra ao mesmo tempo. Então, logo caíam na risada, compartilhando uma atmosfera de cumplicidade. As velas perfumadas já haviam se apagado em meio a pequenas poças de parafina e a única luz presente no quarto era a da lua, entrando suavemente pela janela e pairando sobre parte da cama onde SoRi finalmente adormeceu, exausta.
Quando acordou, estava sozinha. Sabia que não deveria haver se importado com o fato de HanBin não ter dormido com ela. Afinal, não era mesmo para ser assim entre eles. Sabia disso, aceitava isso. Nada de palavras de carinho ou de atitudes que pudessem unir suas almas mais intimamente. A intimidade entre eles se limitava ao nível físico e as questões ligadas ao coração eram problema dela, somente dela. Como HanBin poderia saber que ela nunca se entregara tão completamente a nenhum outro homem? Por que deveria esperar que ele percebesse que a intensa atração entre eles, pelo menos de sua parte, era sinal de amor? Pensando nisso, massageou os olhos cansados por alguns segundos e saiu da cama. Havia entrado no relacionamento com os olhos abertos, concluiu, enquanto arrumava o quarto. Conhecia as limitações do contexto e as de HanBin. Os dois poderiam permanecer juntos e desfrutar a companhia um do outro, desde que certos limites não fossem cruzados. Então, que assim fosse. Não iria ficar se preocupando e suspirando por causa disso. Tinha o controle de suas próprias emoções, era responsável por suas ações, e não iria ficar chorando pelos cantos só porque estava apaixonada por um homem fascinante sem ser completamente correspondida.
- Droga! - Jogou os sapatos dentro do guarda-roupa. - Droga! Droga!
Deitando-se sobre a cama, pegou o telefone, levada por um impulso. Precisava falar com alguém, desabafar de alguma maneira. E quando se tratava de uma questão vital, como essa, só havia uma pessoa a quem ela poderia recorrer.- Mãe? Oh, mãe, estou apaixonada - disse e explodiu em lágrimas.
-x-
Os dedos de HanBin se movimentavam com agilidade sobre o teclado. Tivera menos de três horas de sono, mas sentia-se renovado e com a mente clara. Seu primeiro roteiro mais importante havia sido como que arrancado de seu ser, palavra por palavra, em um processo quase doloroso. Mas dessa vez estava sendo diferente. As palavras fluíam com a mesma facilidade de um bom vinho saindo de uma garrafa para um cálice fino, pronto para ser saboreado e elogiado. A peça estava cheia de vida. E pela primeira vez em muito tempo, também era assim que ele estava se sentindo.
Escreveu até sentir-se zonzo. Então olhou para a sala, meio desorientado. Estava escuro, exceto pela pouca luz oferecida pela luminária sobre a mesa e pela tela do computador. Não tinha idéia de que horas eram e nem mesmo da data, para dizer a verdade. Seu pescoço e ombros estavam doloridos, seu estômago vazio e seu café havia sido esquecido na xícara sobre a mesa. Ficando de pé, massageou a nuca e foi até a janela, onde afastou as cortinas. Somente então notou que havia uma tempestade se preparando para castigar a cidade. Os flashes de alguns relâmpagos anunciavam que ela não tardaria a chegar, fazendo os pedestres acelerarem os passos, devido ao receio de serem apanhados pela chuva.
Um camelô na esquina não perdera tempo em anunciar seus guarda-chuvas, objeto do qual todo mundo só parecia se lembrar no último instante em que precisava dele. Imaginou se SoRi também estaria olhando a cidade através da janela e vendo aquela mesma cena. Então começou a devanear, vendo em sua mente a imagem de SoRi interpretando um fato simples, como uma chuva na cidade, sob um aspecto todo engraçado e gozador. A vitalidade de SoRi fazia tudo parecer simples e extraordinário ao mesmo tempo. Como uma tempestade sobre a cidade, pensou ele. Mas tempestades passavam.
Ele quase se deixara levar naquela manhã. Quase se rendera ao desejo de continuar naquela cama quente, junto àquele corpo perfeito que se aninhara ao seu durante o sono. SoRi era tão carinhosa, tão receptiva... O que lhe invadiu a alma enquanto ele a olhava sob a luz suave da lua entrando pela janela, fora um tipo diferente de desejo. Um desejo que ameaçava ficar e, perigosamente, estabelecer território. Por isso, fora mais seguro para ambos ele sair e deixá-la dormindo sozinha. Fechou as cortinas com um gesto decidido e desceu para o andar de baixo. Preparou café fresco, procurou algo para comer e pensou em tirar um cochilo.
No entanto, as lembranças da noite que passara ao lado de SoRi não lhe saíam da mente e ele sabia que os efeitos disso não o deixariam descansar por algum tempo. O que ela estaria fazendo naquele momento? Não iria bater à porta do apartamento dela e interromper seu trabalho só porque o dele estava terminado. Só porque a visão daquela chuva o fizera se sentir inquieto e sozinho. Só porque ele a queria. Gostava de ficar sozinho, lembrou a si mesmo, enquanto atravessava a sala. Necessitava da solidão para realizar seu trabalho. Ainda assim, o desejo de se sentar ao lado de SoRi para observar aquela chuva continuou a torturá-lo. Sentiu o corpo esquentar ao se imaginar fazendo amor com ela com o barulho da chuva batendo contra a janela do quarto. Perfeito. Ele a queria, admitiu, e com intensidade demais para seu próprio conforto.
Quando uma mulher entrava tanto assim na vida de um homem, mudava-o inevitavelmente, deixando-o vulnerável a cometer erros e a expor partes de si que seria melhor serem mantidas na obscuridade. Mas SoRi não era SooYoung. E ele não era nenhum idiota que acreditava que toda mulher fosse mentirosa e manipuladora. Se conhecia alguém sem nenhum potencial para a crueldade e o fingimento, esse alguém era Han SoRi. Mas isso não mudava o fator principal. A distância entre querer ter por perto e amar era muito curta. Quando um homem passava por isso e sofria uma grande decepção, aprendia a manter o equilíbrio entre ambas as coisas, para seu próprio bem. Não queria aquela sensação de desespero e de vulnerabilidade que andava de mãos dadas com a verdadeira intimidade.
Mas já se acreditava incapaz de sentir tais coisas, o que significava que não havia com que se preocupar. Tomando um gole de café, olhou para a porta como se pudesse enxergar através dela. SoRi não estava pedindo nada além de paixão, companheirismo e prazer. Exatamente como ele. Estava ciente de que o envolvimento entre eles era temporário. De que ele iria embora dentro de algumas semanas e que suas vidas retomariam a rotina de antes, seguindo por caminhos diferentes. Ela com sua multidão de amigos, ele com sua segura solidão. Colocou a xícara sobre a pia com mais ímpeto do que o necessário, e foi somente então que se deu conta de que a idéia não o agradara. Poderiam continuar se vendo de vez em quando, disse a si mesmo, andando de um lado para outro. Sua casa era um refúgio seguro, longe de toda aquela loucura da cidade. Não fora justamente por isso que a escolhera? Já passara tempo demais na cidade, e não havia motivo para continuar ali além do necessário. Além disso, havia também a possibilidade de SoRi acabar encontrando outra pessoa, concluiu, enfiando as mãos nos bolsos. Afinal, por que uma mulher maravilhosa como ela iria ficar esperando suas visitas esporádicas? Mas isso não o incomodava, pensou ele, sentindo as têmporas latejarem. Quem estava pedindo a ela que o esperasse? Claro que SoRi tinha a liberdade de se envolver com o primeiro idiota que a procurasse, provavelmente por indicação de alguma amiga ou vizinha abelhuda. Ah, mas isso não, concluiu. Não mesmo. Sem hesitar, foi até a porta do apartamento dela com a intenção de deixar algumas coisas bem claras. E a abriu bem a tempo de ver SoRi caindo nos braços de um homem alto e atlético.
- Continua sendo a garota mais bonita do mundo. - disse ele, fitando-a com um olhar carinhoso. - Agora me dê um beijo.
SoRi se mostrou mais do que disposta a obedecer, segundo HanBin pôde notar de onde estava.
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