HanBin resmungou algo, arrumando sua mochila. Mulheres, pensou. Conseguiam afetar tanto um homem que não o deixavam em paz nem mesmo para fazer seu hobby preferido e liberar sua frustração. Como se não bastasse, também não estava conseguindo trabalhar. Passara a maior parte do dia olhando para a tela do computador, indo até a janela ou ameaçando bater à porta do apartamento de SoRi. Isso até finalmente perceber que ela não se encontrava mais lá. Ela o havia deixado. O que, provavelmente, fora a atitude mais sensata que ela tomara desde que o conhecera. Após o primeiro momento de aflição, HanBin pensara um pouco mais a respeito da situação e chegara à conclusão de que a melhor coisa que poderia fazer para ambos seria ir embora antes que ela voltasse para casa. Voltaria para casa na manhã seguinte. Achava que poderia aguentar pedreiros, encanadores, eletricistas e quem mais estivesse sob as ordens de JiWon reformando a casa por mais algumas semanas. Mas não conseguiria aguentar ficar ali, morando bem em frente ao apartamento da mulher que ele amava e que perdera devido à sua idiotice. Tudo que SoRi lhe dissera fora a mais completa verdade, e ele não tivera nenhuma defesa contra isso.
- Vou ficar fora durante algum tempo, JinHwan.
O amigo olhou para ele através da neblina formada pela fumaça dos cigarros.- É mesmo?
- Vou voltar amanhã para casa.
- Hum-hum. Levou um fora da garota? - perguntou JinHwan. Esticando-se para olhar as costas de HanBin, acrescentou:- Por acaso é um rabo isso que estou vendo entre suas pernas, meu amigo?
HanBin pegou a mochila, forçando um riso.- Nos veremos por aí.
- Vou continuar bem aqui. É só me procurar.
Quando HanBin se virou de costas para ele, JinHwan esticou o pescoço e fez um sinal para a namorada, então apontou o polegar na direção do amigo. Entendendo a mensagem, Anne se dirigiu à saída pelo outro lado.
- Está saindo mais cedo hoje, meu querido?
- Preciso arrumar algumas coisas porque vou viajar cedo amanhã. Vou voltar para casa.
- Vai voltar às origens? - Anne sorriu, passando o braço por dentro do dele. -Bem, então vamos tomar um drinque de despedida, porque vou sentir falta dessa sua carinha bonita.
HanBin riu.- Também vou sentir da sua.
- Aposto que não só da minha - disse ela, o mostrando dois dedos ao barman.- Aquela garota linda acendeu a música em sua alma, mas você não está conseguindo transmitir isso a suas letras, não é mesmo? Ainda não foi dessa vez?
- Não, não foi. - HanBin levantou o copo, em um brinde. - Está terminado.
- Mas por quê?
- Porque ela disse que acabou. - respondeu ele, tomando a bebida de um único gole.
Anne riu com charme.- E desde quando os homens passaram a aceitar esse tipo de situação?
- Quando a mulher está sendo absolutamente sincera, não há o que argumentar.
- Kim HanBin, não estou acreditando no que estou ouvindo... Você é mesmo um idiota - acrescentou, em um tom afetuoso.
- Sem argumentos, Anne, Por isso acabou. Eu estraguei tudo, e agora preciso aprender a conviver com isso.
- Se foi você quem estragou, será você quem terá de consertar.
- Quando se magoa uma pessoa tanto quanto eu magoei SoRi ela passa a ter o direito de não querer lhe ver mais.
- Meu querido, quando se ama uma pessoa tanto quanto eu sei que você a ama, você passa a ter direito de agir, ainda que tenha de se ajoelhar e implorar pelo amor dela. - Anne fitou-o bem nos olhos. - Você a ama tanto assim?
HanBin olhou para o copo de uísque deixado sobre o balcão.- Nem eu mesmo sabia que a amava tanto. Nunca imaginei que eu fosse capaz de amar tanto.
- Ah, meu amigo... - Anne o beijou no rosto. - Então o que está esperando para ir atrás dela?
HanBin balançou a cabeça negativamente, como se aquele assunto estivesse encerrado para ele. Dando um beijo de despedida na amiga, encaminhou-se para a saída e voltou a pé para casa. Anne estava errada, disse a si mesmo. Às vezes, não havia como consertar um erro. Que motivo teria SoRi para aceitá-lo de volta? Ainda trazia na lembrança a imagem da sombra de tristeza que surgira naqueles olhos quando ele demonstrara desconfiança quanto ao caráter dela. Não tinha o direito de pedir a ela que o ouvisse, depois da maneira como agira. Ajoelhar-se e implorar talvez fosse pouco dessa vez. Para seu espanto, só se deu conta de que havia começado a correr quando chegou ofegante ao apartamento de YuRa. Levado por um impulso, começou a bater à porta.
- Pelo amor de Deus, o que é isso?- Depois de verificar quem era através do olho mágico, YuRa abriu a porta e fechou o robe com mais firmeza em torno de si. Se JiWon não tivesse o sono tão leve, ela não teria de ter saído correndo, antes que o barulho o acordasse.- Já passa da meia-noite - disse ela. - Ficou maluco?
- Onde ela está, YuRa? Para onde ela foi?
YuRa torceu o nariz, levantando o queixo com um ar de dignidade difícil de ser sustentado naquele robe todo estampado com gatinhos cor-de-rosa. - Você bebeu?
- Tomei um drinque - respondeu HanBin.- Mas não estou bêbado. - De fato, ele nunca se sentira tão sóbrio, ou tão desesperado. - Onde está SoRi?
- Como se eu fosse lhe dizer isso, depois de você haver arrasado o coração dela. Volte para sua toca - YuRa apontou corredor com dramaticidade - antes que eu acorde JiWon e algumas outras pessoas por aqui. Elas vão querer matá-lo quando souberem o que você fez. - Os lábios dela se tornaram trêmulos. - Todo mundo adora SoRi.
- Eu também a adoro.
- Sim, claro. E por isso a fez chorar como nunca.
HanBin fechou os olhos por um instante, lamentando o que havia feito.- Por favor, diga-me onde ela está.
- E por que eu deveria?
- Porque eu quero ir até lá, me ajoelhar e dar a ela chance de me chutar enquanto eu estiver abaixado - respondeu ele, no mesmo tom dramático. - Para que eu possa implorar. Vamos, YuRa, me diga onde ela está. Eu preciso ver SoRi.
YuRa estreitou o-olhar, examinando-o com cuidado. Ao ver a sombra de desespero nos olhos dele, pareceu ceder um pouco.- Você a ama de verdade?
- Tanto que me conformarei e irei embora para sempre se ela não me quiser. Mas primeiro preciso vê-la.
YuRa levou a mão ao peito. O que uma mulher romântica poderia fazer em uma situação como aquela senão suspirar?- Ela está na casa dos pais, em Busan. Vou anotar o endereço para você.
Tomado por uma onda de alívio, e de gratidão, HanBin fechou os olhos mais uma vez, antes de beijá-la no rosto.- Obrigado, YuRa.
- Mas se você a magoar novamente - falou ela, enquanto anotava o endereço no papel - irei procurá-lo até no fim do mundo, para matá-lo com minhas próprias mãos!
HanBin riu.- Não se preocupe. Não terá de fazer isso. - Lembrando-se do que SoRi havia dito, ele acrescentou: - Você está mesmo...
YuRa franziu o cenho, confusa, então sorriu e levou a mão ao ventre.- Sim, estou. O nascimento está previsto para acontecer no Dia dos Namorados. O não é perfeito?
- Eu o conheço, o JiWon. Fico feliz por vocês dois, isso é maravilhoso. Meus parabéns. - HanBin guardou no bolso o papel que ela lhe entregou. - Obrigado - agradeceu mais uma vez e beijou-a no rosto antes de sair.
YuRa ficou algum tempo ali, parada com ar sonhador.- Sim... - murmurou, enquanto fechava a porta. - Aí vai mais um encontro fora de qualquer escala. - Cruzando os dedos, sussurrou: - Boa sorte, SoRi
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