Sentada sobre uma pedra, SoRi desenhava alguns esboços. O vento fazia seus cabelos esvoaçarem, deixando-a com um ar sensual e infantil ao mesmo tempo. Ao vê-la, em meio àquela belíssima paisagem, HanBin perdeu o fôlego. Havia dirigido a noite inteira, e também a manhã, imaginando durante todo o tempo como seria rever aquele rosto. Mas nada o preparara para aquilo. Chamou-a uma vez, mas se deu conta de que o vento desviara o som de sua voz. Desistindo de chamá-la, seguiu em frente, pela trilha que levava ao local onde ela se encontrava. Talvez SoRi o tivesse ouvido, ou talvez sua aproximação houvesse mudado a incidência da luz sobre o papel. Ou talvez simplesmente o houvesse sentido de alguma maneira, mas a verdade é que ela de repente parou de desenhar e olhou na direção dele.
De súbito, foi como se todo o mundo ao redor houvesse parado por um instante, restando apenas a tempestade de emoções que os dois compartilharam naquela fração de segundo. Então, como se a presença dele não fizesse a menor diferença para ela, SoRi voltou a desenhar.
- Você viajou um bocado, não, HanBin?
- SoRi. - Ele sentiu a boca secar.
- Não costumamos receber muitas visitas por aqui. Meu pai não se importa muito em manter a estrada conservada justamente para afastar os visitantes.
- SoRi. - ele disse mais uma vez, contendo a vontade de tocá-la.
- Se eu tivesse mais alguma coisa para lhe dizer, teria dito em Seoul.- "Vá embora!", pedia ela, em pensamento. "Vá embora antes que eu comece a chorar."
- Eu tenho algo para lhe dizer.
Ela o olhou de relance, sem muito interesse.- Se eu quisesse ouvi-lo... Bem, o que eu disse também serve nesse caso. -Dizendo isso, fechou o caderno de esboços e ficou de pé. -- Agora...
- Por favor. - HanBin levantou a mão, mas abaixou-a novamente diante do olhar indignado de SoRi - Ouça. Apenas ouça. Se quiser que eu vá embora depois, eu irei.
Ela respirou fundo.- Está bem - respondeu, sentando-se novamente sobre a pedra e abrindo o caderno de esboços.- Mas vou continuar trabalhando, se não se importa.
- Eu... - HanBin não sabia por onde começar. Todas as frases que havia ensaiado simplesmente fugiram de sua mente. - Minha agente se encontrou com o seu agente ontem.
- É mesmo? Que mundo pequeno, não?
HanBin deveria ter se sentido insultado com o tom de SoRi mas estava ocupado demais em observá-la para isso.- Ele contou a ela sobre a série de televisão que se baseará nos seus desenhos. Disse que foi um grande acordo.
- Para alguns.
- Você não me contou.
Ela o olhou de soslaio.- Você não está interessado no meu trabalho.
Isso não é verdade, mas não posso culpá-la por pensar assim. Agi feito um idiota no dia em que você apareceu toda animada para me dar a notícia. Sei que arruinei tudo. Eu... - HanBi sentiu a necessidade de se interromper e olhar a paisagem, tentando se acalmar.- Eu estava distraído, terminando meu roteiro. Mas também estava distraído com meus sentimentos por você. Com o que eu não queria sentir por você.
SoRi quebrou a ponta do lápis. Furiosa consigo mesma, colocou-o atrás da orelha e abriu seu estojo à procura de outro.- Se foi isso que veio me dizer, então já disse. Agora pode ir.
- Não, não foi isso que vim lhe dizer. Mas peço desculpas por não tê-la ouvido naquele momento. Estou muito feliz por você.
- Puxa, não imagina como isso me deixa aliviada - ironizou ela.
HanBin fechou os olhos, cerrando os punhos. Então SoRi também sabia ser cruel quando queria, pensou ele.- Tudo que você me disse naquela noite em que me expulsou de sua vida estava certo. Deixei uma sombra do passado se instalar entre nós, e usei isso para arrasar o que de melhor poderia haver me acontecido. Vi o mundo de minha irmã se desfazer diante de meus olhos, presenciando quanto ela teve de lutar para superar a dor da traição e criar sozinha os dois filhos.
SoRi fechou o livro novamente.- Sei que você e sua irmã viveram um inferno. Nem todo mundo aguentaria passar pelo que ela passou, HanBin.
- Talvez. Mas as pessoas são mais fortes do que imaginam.- Ele se virou novamente e seus olhares se encontraram. HanBin sentiu um fio de esperança ao notar um tênue brilho de simpatia nos olhos de SoRi.- Teria funcionado, não teria? Se eu tivesse usado minha irmã para despertar sua compaixão? Mas não é isso que quero fazer. Não é o que vou fazer.- Voltando a olhar a paisagem, HanBin prosseguiu: - Eu amei SooYoung. O que aconteceu entre nós me mudou de alguma maneira.
- Eu sei.
SoRi sentiu que teria de perdoá-lo. Isso seria inevitável, já que seu coração começara a se enternecer só pelo fato de HanBin estar ali, à sua frente, tentando se explicar.
- Eu a amei - repetiu ele, virando-se e se aproximando dela. - Mas o que eu senti por SooYoung não é nem a sombra daquilo que sinto por você. Do que eu sinto quando penso em você e quando olho para você, SoRi. Esse sentimento preenche meu ser, me dá esperança.
Os lábios entreabertos de SoRi começaram a tremer. Seu coração acelerou, preenchido por algo que ela identificou primeiramente como esperança. Estava vendo no semblante de HanBin algo que nunca imaginara ver. Lutando para capturar e compreender aquilo em toda sua amplitude, desviou o olhar por um instante.- Esperança de quê? - conseguiu dizer.
- Esperança de que um milagre seja possível. Sei que a magoei muito, e que não mereço desculpa pela forma como fiz isso. Disse aquelas tolices quando pensei que você estava grávida porque estava aborrecido comigo mesmo. Aborrecido pelo fato de que uma parte de mim estava pensando que ter um filho com você seria uma maneira, de mantê-la junto de mim.
Quando SoRi voltou a fitá-lo, seus olhos estavam arregalados de surpresa.
HanBin passou a mão por entre os cabelos.- Sabia que você não queria se casar, mas se estivesse... Pelo menos eu poderia forçá-la a se casar comigo de alguma maneira. E minha única defesa contra esse tipo de pensamento foi me voltar contra você.
- Me forçar a casar? - foi tudo que SoRi conseguir dizer.
Aturdida, ficou de pé e deu alguns passos. Observando a paisagem com olhar vago, perguntou-se como deveria lidar com tudo aquilo. Como a situação pudera mudar tão rapidamente?
- Sei que isso não é desculpa, mas você tem o direito de saber que, em nenhum momento, eu achei que você havia me enganado ou montado uma armadilha para mim. Nunca conheci uma pessoa tão humana e generosa quanto você, SoRi. Tê-la na minha vida foi... Você me fez feliz, e acho que eu havia esquecido o que era sentir felicidade.
- HanBin. - Ela se virou para ele com os olhos marejados de lágrimas.
- Por favor, deixe-me terminar. Apenas ouça. - HanBin segurou as mãos dela. - Eu te amo. E você disse que me amava. Sei que você não mente, então pensei que pudesse haver uma chance...
- Não, eu não minto.- SoRi distinguiu os traços de cansaço no rosto dele. HanBin parecia haver sofrido tanto quanto ela naquelas últimas horas.
- Eu preciso de você, SoRi. Muito mais do que você precisa de mim. Sei que pode continuar a viver sem mim. É uma mulher independente e aberta para a vida, e ninguém a impedirá de ser quem você é. Sei que minha ausência não fará diferença em sua vida e que isso não a impedirá de ser feliz. Você nasceu para ser feliz.- Enquanto falava, HanBin observava cada detalhe do rosto dela, como se quisesse guardar aquela imagem na lembrança.- Nunca conseguirei esquecê-la - continuou eie. - Nunca deixarei de amá-la ou de lamentar o que fiz para perdê-la. Eu irei embora, se você quiser. Mas se houver uma única chance de recomeçarmos... Por favor, não me mande embora.
- Você acredita nisso? - perguntou ela, em um fio de voz. - Acredita mesmo que eu conseguiria ser feliz sem você? Além disso, por que eu o mandaria embora se quero que fique?
HanBin soltou o fôlego que estivera contendo. Antes mesmo que um sorriso se formasse nos lábios de SoRi, HanBin a puxou para si, em um abraço cheio de alívio.- Pensei que a havia perdido, SoRi. Pensei...- Os lábios dele cobriram os dela em um beijo apaixonado. Quando eles se afastaram, ela estava com os olhos marejados de lágrimas.- Não chore.
- Não consegue mesmo se acostumar, não é? - Ela sorriu. - Nós, da família Han, somos muito emotivos.
- Eu imagino. Seu pai me olhou com um ar de quem estava querendo torcer meu pescoço "emotivamente" ainda há pouco.
- Quando ele vir que você me deixou feliz, ele o deixará viver. - SoRi riu.- Ele vai adorá-lo, HanBin, e minha mãe também. Primeiro porque eu já o adoro e depois por quem você é.
- Ranzinza, rude e temperamental?
- Isso mesmo. - Ela riu alto quando HanBin fez uma careta de desagrado. - Eu poderia tentar mentir, mas você sabe que eu sou péssima nisso. - Os dois começaram a andar de mãos dadas.
- SoRi, quer ir a HaNam comigo e conhecer minha família?
- Vou adorar. - Ela o olhou mais uma vez e franziu o cenho ao notar um brilho diferente nos olhos dele. - O que foi?
HanBin parou e a virou de frente para si, segurando-a pelos ombros.- Sei que você não quer se casar agora e que prefere se dedicar à sua carreira e à vida agitada de Incheon... Nem espero que goste da minha casa, que fica em um lugar afastado da cidade, sem muito barulho. Ainda assim... - Ele hesitou. - Não quero que mude seu estilo de vida, SoRi, mas se algum dia decidir que quer se casar comigo e ter um lar e uma família tranquilos, não se esqueça de me avisar, está bem?
SoRi sentiu uma onda de felicidade que ameaçou explodir em seu peito, mas se limitou a assentir.- Pode deixar. Você será o primeiro a saber.
Dizendo a si mesmo que deveria se sentir satisfeito com aquilo, HanBin beijou a mão dela.- Está bem.
Fez menção de recomeçar a andar, mas surpreendeu-se quando SoRi o fez parar de repente. - HanBin?
- Sim?
- Quero me casar com você e ter um lar e uma família. - O sorriso que surgiu no rosto dele foi um reflexo do dela.- Está vendo? Cumpri a promessa de avisá-lo.
Ele a tomou nos braços e rodopiou com ela, dando um grito de felicidade. Quem disse que sonhos não se realizavam?
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