SoRi estava descendo para o andar de baixo, após uma manhã de intenso trabalho. Ao ouvir o familiar e agradável som do apartamento vizinho, pensou em bater à porta de seu vizinho para lhe oferecer um café, mas o som do interfone lhe interrompeu os pensamentos.
- Sim?
- Estou procurando o sr. Kim, do 3A - disse uma voz feminina.
- Não, ele está no apartamento 3B.
- Oh, droga, então por que ele não está respondendo?
- Provavelmente porque não ouviu o interfone, já que o som está alto.- explicou SoRi.
- Então poderia me anunciar, querida? Sou a empresária dele e já estou cansada de ficar aqui tocando esse interfone.
- Empresária dele? - SoRi repetiu. Bem, se Kim tinha uma empresária, queria conhecê-la. Já havia pensado em indicá-lo a várias pessoas e talvez essa fosse sua chance de ajudá-lo de alguma maneira.- Claro, pode subir - dizendo isso, acionou o botão que destravava o portão de entrada.
Em seguida, abriu a porta de seu apartamento e ficou esperando do lado de fora. A mulher que saiu do elevador parecia muito profissional e bem sucedida, segundo SoRi notou, com certo espanto. Ela estava muito bem vestida e feminina. SoRi franziu o cenho. Então por que o cliente dela parecia estar passando por dificuldades financeiras?
- Você é a moradora do 3A?
- Sim, meu nome é SoRi.
- Sou Park GaIn. Obrigada por haver aberto o portão para mim, SoRi. Nosso "garotão" aqui não está atendendo ao telefone e, pelo visto, esqueceu-se de que tínhamos uma reunião à uma hora, no Restaurante Top Cloud.
- Top Cloud Restaurant? - SoRi se surpreendeu. Aquele era um dos restaurantes mais caros da região. - Em Jongno-gu? Perto do rio Han?
- Esse mesmo. - Com um sorriso, GaIn apertou a campainha do apartamento 3B. - HanBin é muito talentoso, mas temperamental demais de vez em quando.
- HanBin? - SoRi levou um instante para entender sobre quem ela estava falando. - Ah, Kim HanBin - Com um suspiro de indignação, acrescentou: - O autor de Empty.
- Isso mesmo - confirmou GaIn. - Vamos lá, HanBin, abra logo esta porta... - falou ela, tamborilando os dedos sobre a madeira. - Quando ele decidiu passar alguns meses na cidade, pensei que conseguiria ter mais acesso a ele. Mas, pelo visto, eu me enganei mais uma vez. Ora, até que enfim.
Ambas ouviram o ruído das trancas sendo abertas com gestos súbitos e, aparentemente, mal-humorados. Então ele abriu a porta.
- O que diabos... GaIn?
- Você perdeu o almoço - ironizou ela. - E não atendeu ao telefone.
- Eu me esqueci do almoço e o telefone não tocou.
- Você carregou a bateria?
- Provavelmente não. - HanBin continuou no mesmo lugar, olhando para SoRi, logo atrás de GaIn. - Entre - disse à empresária. - Só me dê um minuto, sim?
- Eu já lhe dei uma hora - ironizou GaIn, falando por sobre o ombro enquanto passava pela porta. - Obrigada mais uma vez, querida - ela agradeceu a SoRi.
- Não há de quê. - SoRi forçou um sorriso. Então fuzilou HanBin com o olhar.- Canalha - disse ela por entre os dentes, antes de entrar em seu apartamento e bater a porta.
- Não há nenhum lugar para se sentar aqui? - protestou GaIn atrás dele.
- Não. Quer dizer, sim. No andar de cima - resmungou em resposta, tentando ignorar a onda de culpa que o atingiu. - Não costumo ficar muito neste andar.
- Estou vendo. Quem é a garota que mora em frente?
- O nome dela é Han SoRi.
- Achei que ela me parecia familiar. É a criadora das tiras cômicas Vizinhos, não é? Conheço o empresário dela. O homem é louco por ela. Vive dizendo que ela é sua única cliente à prova de ego e livre de neuroses. Nunca se queixa, não atrasa os prazos e está sempre lhe dando lucro com a venda de seus personagens em agendas, calendários e outras coisas do gênero.- Diante do silêncio de HanBin, GaIn acrescentou.- Imagino como seria bom ter um cliente livre de neuroses, que se lembrasse dos almoços de negócios e que me mandasse presentes no meu aniversário.
- As neuroses fazem parte do pacote, mas sinto muito sobre o almoço.
O aborrecimento de GaIn cedeu lugar à preocupação.- O que aconteceu, HanBin? Parece alterado por algum motivo. O roteiro não está indo bem?
- Não, ele está caminhando. E melhor do que eu esperava. O problema é que não tenho dormido muito bem ultimamente.
- Continua saindo até altas horas da noite?
- Não.
Estava era passando as noites em claro pensando em SoRi, HanBin admitiu para si mesmo. Andando de um lado para outro e desejando tê-la em seus braços. Só que agora ela devia estar profundamente magoada com ele.
- Bem, já que não teremos mesmo o almoço, que tal me oferecer um café? -sugeriu GaIn.
- Ainda há um pouco na garrafa - disse ele. - Estava fresco às seis horas da manhã.
- Então, deixe-me preparar outro.
Depois de preparar o café, com os ingredientes que já se encontravam sobre apia, GaIn abriu alguns armários, à procura de algo para comerem. Considerava o bem-estar de HanBin como parte de seu trabalho.
- Meu Deus, HanBin, por acaso está fazendo greve de fome? Não há mais nada aqui, além de restos de batatas fritas e do que um dia foi um pão francês, mas que agora só serve para experimento científico.
- Não fui ao supermercado ontem - explicou ele, sem conseguir deixar de pensar em SoRi. - Para jantar, geralmente faço um pedido a algum restaurante.
- Pelo mesmo telefone que você não atende?
- Eu vou recarregar a bateria, GaIn.
- Espero que sim. Se pelo menos ele estivesse funcionando, agora estaríamos sentados a uma mesa do Four Seasons, tomando champanhe Cristal para comemorar. - Com um sorriso, acrescentou: - Fechei o contrato, HanBin. Empty vai se transformar em um grande sucesso do cinema. Terá os produtores que quiser, o diretor que preferir e a opção de fazer o roteiro pessoalmente. Tudo isso regado a uma generosa quantia, claro.
- Não quero que estraguem o roteiro - foi a primeira reação dele.
- Isso só dependerá de você. - GaIn suspirou. - Para não correr o risco de que algo não o agrade, faça você mesmo o roteiro.
Sem dizer nada, HanBin se aproximou da janela, ainda tentando absorver a notícia. Um filme mudaria a perspectiva que a peça havia atingido no teatro, mas, por outro lado, geraria uma renda de milhões de dólares.- Não quero me envolver demais nisso, GaIn. Toda aquela loucura do cinema não me agrada.
Ela serviu duas xícaras de café e se aproximou da janela, entregando uma a ele.- Então faça apenas o trabalho de supervisão. Ou de consultoria, se preferir.
- Sim, acho que isso será suficiente para mim. Providencie tudo, está bem?
- Pode deixar comigo. Agora, se você conseguir parar de dar pulos de alegria, poderemos conversar sobre seu trabalho atual.
HanBin curvou os lábios, sem conter o sorriso. Levado por impulso, deixou a xícara sobre o parapeito da janela e segurou o rosto de GaIn entre as mãos.- Você é a melhor e, com certeza, a mais paciente empresária desse ramo.
- Está absolutamente certo. Espero que esteja tão orgulhoso de você quanto eu estou. Vai dar a notícia à sua família?
- Deixe-me primeiro digerir a idéia por alguns dias.
- A notícia vai se espalhar logo, HanBin. Não vai querer que eles a recebam por outros meios, não é?
- Tem razão - anuiu ele. - Vou ligar para eles. - Com um sorriso, completou: - Depois de recarregar a bateria do telefone, claro. Por que não saímos para comemorar, tomando champanhe?
- Pensando bem, por que não? Ah, só mais uma coisa - falou GaIn em um tom casual. - Não vai me dizer o que está havendo entre você e a bela garota do apartamento 3A?
- Não tenho certeza de que haja alguma coisa para dizer - respondeu HanBin, em um resmungo.
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