Espelho, espelho meu, o que vês do outro lado de sua face? Será que enxergas tudo o que existe, ou será que compreende somente aquilo que os mesmos olhos que me olham podem ver? Será que és a minha saída para a verdade, ou apenas mais um infortúnio que as infinitas mentiras da realidade pretendem me mostrar?
Penso no que tu me mostras – um rapaz jovem, moreno de cabelos lisos e manchados de breu noturno, olhos negros como o mais profundo dos poços que já me desejaram imergir, recheados de marcas e lembranças as quais poucos tem a coragem de recordar. São nódoas e cancros que persistem na memória vaga do meu cerne e que martelam a mediocridade da existência. Mas isso não mostras a mim, não é mesmo? Só o que te importa é aquilo que me cerca as fronteiras do corpo, assim como tantos outros que passam por mim todos os dias na rua, em casa, na praia, na praça...
Estou sentado à sua frente, encarando-o com desgosto. Tu és o culpado de tudo isso. A fonte dessa falta de sensibilidade. Ainda assim, digo obrigado. Não partilhar meu mundo contigo, fez ele mais especial.
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