E lá estava eu de novo, o observando de trás daquele balcão. Os olhos castanhos focados nas letrinhas do livro, a xícara de café no fim, os óculos que escorregavam pelo nariz e ele sutilmente os colocava de volta no lugar. Aquilo era apaixonante, apenas o modo como ele fazia isso todos os dias. Chegava aqui na cafeteria sempre entre as três e quatro da tarde e ficava aqui até a noite, tomando xícaras e mais xícaras de café, sempre com a cara enfiada em um livro.
Ele me atraía tanto, apenas com essa rotina dele.
- Por que você não vai lá falar com ele? Fica ai babando todo santo dia e as únicas palavras que troca com ele é "mais alguma coisa?". - Dara me enchia o saco de novo.
- Pela milésima vez, eu não vou falar com ele. Não sei nem o nome dele. - falei nervosa.
- Se você não for, eu vou. - ela disse.
- O quê?
Vi ela sair de trás no balcão e ir até a mesa no canto em que ele estava.
Quando os dois começaram a conversar eu me senti curiosa e envergonhada pelo que aquela doida poderia dizer.
Então ele olhou pra cá, meu coração acelerou, meus olhos se arregalaram e tudo o que eu queria fazer no momento era fugir para a colina mais alta que existia. Mas eu não conseguia me mexer.
Ele vinha em direção ao balcão e então eu congelei completamente.
- P-Posso ajudá-lo s-senhor? - gaguejei.
- Eu vim pagar a conta. - ele disse.
- Ah, claro. - chequei o visor do computador. - O total é de dezoito reais.
- Eu vou querer um donut de doce de leite pra viagem também.
- Ai são vinte e um reais.
- Aqui o donut. - Dara me entregou o saquinho com o doce.
O garoto pagou e eu o entreguei seu troco. E ele saiu da loja com seu livro em mãos.
- Abby, o donut do cliente. - Dara falou.
- Ah, droga! Esqueci de entregar.
Saí correndo do lugar para ver se ainda o encontrava lá fora.
- Moço! - gritei e ele olhou. - V-Você esqueceu seu donut.
Ele voltou andando devagar e então pude olhar bem para seus olhos, e eles me prendiam tanto.
- Me desculpe, eu esqueci de te entregar. - falei.
- Não tem problema, eu que sou distraído. - ele sorriu.
Não pude evitar de sorrir também. Ele era tão fofo.
- A propósito, sou Allen. - estendeu a mão.
- Abigail. - apertei a mesma.
Ele sorriu novamente.
- Seu nome é tão bonito, parece o nome de uma personagem de livro. - ele falou.
- O-obrigada. - corei.
- Até mais Abigail, a gente se vê. - ele falou e se virou indo embora.
- Até mais, garoto do livro.
E mais uma vez, percebi que não havia entregado o Donut a ele.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.