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História Midnight of Halloween - 1964


Escrita por: ClaraMarques04

Notas do Autor


Oi oi gente, tudo bom? Bom, recomendo uma coisa: NÃO LEIAM ESSA PORRA A NOITE. Obrigada ^^ Estou no aguardo das fichinhas de vcs ;3

Boa Leitura.

Capítulo 2 - 1964


Fanfic / Fanfiction Midnight of Halloween - 1964

1964

O tédio consome as gêmeas da cutícula ao fio de cabelo, tão contagioso quanto uma gripe. A trilha sonora era entediante, a sala de estar era entediante, as feições de ambas eram entediantes, até o gato gorducho preguiçoso ronronava tedioso. Estavam de castigo e por isso não podiam encontrar os vizinhos, do lado de fora da janela eles brincavam de amarelinha e dono da rua. O tédio causa náuseas. Cruzes que sensação horrível para duas crianças esbeltas e travessas. Havia punição pior que aquela?

A mãe delas saiu ao mercado, convencida de que eram grandinhas o suficiente para ficarem sozinhas e que não aprontariam. Se a senhoria não passasse tanto tempo mostrando o decote e contando a boa história de viúva para os charlatões da feira, a confiança não seria depositada nesse banco corrupto.

A primeira gêmea surrupiou o estilingue da prateleira mais alta, a segunda enche os bolsos do vestido xadrez de pedra e em seguida tomando o gato dorminhoco no colo. O último quarto do corredor é o reino da poeira, carregado de mofo e de velharias desinteressantes, útil para brincar de esconde-esconde e caçar aranhas. A única janela grande de madeira permite a luz solar iluminar o bolor no papel de parede. De cima do móvel, o bichano perde a chance de se acomodar por causa de uma pedra maliciosa da dupla.

Os mimos ganham efeito, pois ele é incapaz de fugir da crueldade das donas. Os finos e estridentes miados não causam comoção, pelo contrário, é fonte de incentivo.

- Pontaria horrível – debocha a garota de olhos azuis, cabelos louros escuros. Sua irmã se indignou e entrega o estilingue. – Se ele tem sete vidas. Tenho o direito de tirar uma na base da pedrada.

Os curtos pulos do felino gorducho trazem as gargalhadas, rindo da incapacidade dele. Preso ao medo. Indefeso. Pobre gato. MIAU! Logo, o tiro ao alvo trouxe o tédio novamente para a tristeza das irmãs, já riram o suficiente dos hematomas destacados nos pelos amarelados. No canto do quarto, diante daquele show de poeira o palco tinha outro destaque na particularidade das garotinhas. Um lençol. Ele deveria ser branco há anos, agora é o amarelado esquisito. Dispostas a apunhalar aquilo que as mataria, puxaram o pano criando expectativas sobre o que ele escondia.

Não era tesouro, um achado, e sim um espelho. Espelho redondo de bordas prateadas, sujo. A decepção no rosto delas refletiu no objeto. Pensando que a tarde estava perdida e que a única saída é o abismo da chatice, a menina cutuca o ombro da irmã fazendo-a lembrar das histórias que ouviram no acampamento de verão.

A história conta sobre uma belíssima moça, narcisista no caso, que vivia se olhando no espelho e agradecendo a Deus pela sua beleza. Por culpa de sua beleza, ela causava intrigas entre os casamentos, deixando as esposas furiosas. Seja grande a inveja, o recalque, mas os pecados não as levariam a tirar a vida. A inveja partiu daquela que todos menos esperavam, da sua mãe. Ela sabia que o pai a mimava mais, a amava mais, dava-lhe mais presentes. Para a esposa restavam ordens da comida e noites sem nenhuma paixão envolvente. Quanta humilhação. Uma noite, uma faca, uma mulher, uma decisão. Não a mataria, deixaria menos bonita. O rostinho angelical tornou-se num rosto cheio de cicatrizes. Que homem iria querer alguém daquele jeito? O espelho agora é o inimigo da pobre moça que odiava o próprio reflexo. Outra noite, a mesma faca, outra decisão. Diante de tanta feiura ela penetra a lâmina nos olhos. Os gritos são o alerta para todo o povoado. Os pais obviamente queriam saber o que diabos estava acontecendo no quarto da filha, tudo que acharam foi o corpo da virgem caído na frente do espelho. Sem olhos. Eles guardam a maldade e a inveja da mãe. As cicatrizes do rostinho belo sangravam como se fossem frescos, bom, eles foram frescos na memória da mesma que lhes concederam. Pronto. O povoado a nomeou de...

- Maria Sangrenta...

A vela na mão de uma, a pronúncia vinha de outra. Janelas fechadas e a porta fechada. A chama se dava o trabalho de iluminar as feições debochadas duplicadas.

- Maria Sangrenta...

- Chama duma vez! Quanta frescura!

-Shiu. Cala a boca.

Por que levariam aquilo a sério? É só uma história boboca que aquele pedófilo do acampamento contou, não era real. Daquelas bocas pequenas saltaram o nome maldoso que o povoado deu para o cadáver. Estava feito. Silêncio. Esperou algo acontecer, só se ouvia o compasso dos pulmões. Nada. Absolutamente nada.

A primeira gêmea a desistir se direciona a porta. A maçaneta não girava, parecia emperrada. Puxou com a força dos braços magricelas, impulsionou o ombro, nada funcionava. Acusa a irmã de trancar a porta que em sua defesa declara que nem se quer pegou a chave.Larga vela no chão e abre as janelas, que transmitiram a noite escura repleta de estrelas. Juntas tentaram abrir xingando a porta que pela falta de boca não pôde revidar. Socam, gritam por socorro, desespero maior quando o vento invadiu o cômodo levando a pequena chama embora. As pernas tremem, o coração gela e a garganta faz um nó.

Tentam a liberdade com pontapés. A madeira não demonstrava sinais de que enfraqueceu. O frio repentino causa arrepio na espinha, os xingamentos vão embora restando gritinhos agudos do esforço de arrombar a porta. Prensadas no batente da porta, ouviram alguma coisa nos fundos.

É só imaginação...

O banco cai. Os saltos tiveram sincronia. Não eram mais gritos, mas vozes embargadas desesperadas. Eis que a porta é aberta e as gêmeas são envolvidas pela luz do corredor, tropeçando nos próprios pés. Foi então que deram de cara com a mãe, que antes mesmo de as deixarem bolar uma boa mentira, puxou-as pelas orelhas dando bofetadas na nuca. Foram jogadas no quarto como forma de extensão do castigo e que logo apanhariam se soubessem que tinham quebrado alguma coisa.

O choro da dor se mistura com o choro de medo. Pelo menos a segurança é garantida, as cobertas as protegeriam.

Era Halloween finalmente, e como castigo tinham que passar novamente pela inveja de ver a vida passar pela janela. Apesar de o quarto ser no andar de cima, podia ouvir vozes infanto-juvenis pedindo doces e ameaçando com travessuras. Mas como a mãe estava distraída virando taças de vinho, aproveitaram para quebrar novamente o castigo. Levaram a vela. Passava das onze e deveriam estar dormindo, a mãe não iria desconfiar de nada enquanto o vinho lhe fizesse dançar na cozinha.

Outra tentativa.

- Acho que quando você me interrompeu ela não apareceu. – deduz uma fechando lentamente a porta, torcendo pra cretina não ranger.

Outra vez se viam pendentes da pequena chama da vela. O espelho continuava ali, a diferença era a maneira de encarar ele. Tinham receio, mas curiosidade. Nunca ficaram tão intrigadas como na noite anterior e no fim das contas deduziram que tudo que se passou era fruto da imaginação. Então, nada melhor a se fazer do que tirar a maldita dúvida. De dedos cruzados fazem o juramento de não atrapalhar mais e acontecer o que fosse acontecer, não gritariam.

Mamãe fica furiosa quando beija o vinho

- Maria Sangrenta. – Respiraram fundo – Maria Sangrenta... – Fecharam os olhos – Maria Sangrenta. – Agarraram a mão uma da outra.

A ousadia de abrir os olhos veio depois de o silêncio sepulcral sussurrar no ambiente. Nada mudara nada caíra nada escapa das bocas. Foi então que o silêncio espantou-se com uma gargalhada. Uma não. Duas. O pavor da noite anterior foi esquecido pelo melhor show de comédia delas.

- Ah pelo amor... Não vai se revelar a nós? É tímida? – debocha uma.

- Que nada. É feia mesmo. – ri a outra, apertando a mão da irmã de forma cúmplice.

- Pelo visto tem que ter hora marcada para encontrar a coisa feia.

Não tiveram problemas em abrir a porta. Todo aquele tremor agora é piada. De pijamas, abajur apagado, se entregaram ao sono.

A primeira badalada da meia-noite anuncia a chegada da madrugada de trinta e um de outubro. As garotas ressonavam tranqüilas na ausência de sonhos ou qualquer fenômeno que as levariam a crer serem frutos da mente. Mas ainda assim, as ruas eram tomadas por adolescentes fanfarrões que curtiam o “Espírito de Halloween”, em resumo, tacar ovo nas janelas, gastar papéis higiênicos e quebrar vidros de carros a base da pedrada.

Foi então que a garota escutou algo debaixo da cama, semelhante a algo sendo arrastado. Algo pesado. O susto foi grande. Olha para o lado vendo a irmã de cabelos amassados contra o travesseiro, dormia feito neném. Nheeeeec. Ela treme, automaticamente usa o escudo que é a coberta sussurrando o nome da irmã que com toda certeza não ouviria. Retira lentamente o tecido que cobre a visão ampla do quarto, e tinha que criar coragem para identificar a origem do ruído. Joga o pescoço para debaixo da cama, apoiando as mãos na beirada, os longos cabelos louros tocam no chão, daquele vazio um vulto passa próximo de seu rosto fazendo-a cair no chão. O estrondo e o grito agudo fazem a outra acordar e num gesto desesperador, puxa a irmã pelo antebraço para cima.

O gato miou abanando a cauda na direção da porta.

Pronto, as chacotas começaram.

Terminaram assim que ouviram passos e o gato sibilar. Seja a ameaça que se apresentou ao gato, chutou-o contra uma parede. Mamãe jamais bateria no felino já que é o seu maior xodó da casa. Ambas fazem a maior das burrices da ocasião: Investigar. De pijamas de ursinhos idênticos não se incomodaram de colocar os pés nus no chão frio e pouco limpo.

A casa é delas desde recém nascidas e sendo da maneira delas conhecem a casa de cabo a rabo, a lanterna é desnecessária. Primeiro passo é ir ao quarto da mãe que fica justamente ao lado. Trancada. A escada range. Olham uma para a outra tentando entender a situação. A porta só é trancada quando ela dorme ou quando está acompanhada, então por que diabos trancaria se a intenção é ir para a cozinha? Não fazia sentido.

- Se fizermos barulho, o bandido saberá que estamos aqui. – explica uma a outra, querendo não demonstrar pânico diante daquela situação. Encolheram-se no chão dando passos curtos de joelhos dobrados na direção da escada que tanto rangia. Nheee nheee . Nenhuma sombra, nenhuma figura se revelava na escada. Andaram mais um cadinho. Ao apoiar a mão no piso, sentiu algo estranho, algo líquido e que mais fundo é peludo. Recua prestes a soltar um berro quando a mão da irmã cobra-lhe a boca. Na janela do corredor que permite a entrada da luz do luar, puderam ver o bichano. Mas não mais o bichano de instantes atrás. Ele estava vivo e não esfolado no chão lambuzado de sangue.

A escada torna a ranger. As gêmeas ficam aflitas. A escolha de ligar para a polícia é válida se o telefone não ficasse no andar de baixo. A escolha de chamar a mãe seria válida se não estivessem num ultimato. Esconder-se é a única escolha. O quarto delas sempre foi o cenário perfeito para um pique - esconde e mais do que nunca aquilo seria útil. O armário de roupas foi a melhor opção. A gêmea começa a chorar vendo a mão suja de sangue do gato. Mesmo instável com a mesma cena a garota ordena num sussurro a irmã engolir o choro.

Nada. Absoluto silêncio.

A porta range, sendo aberta lentamente. Prendam a respiração meninas. Bisbilhotar o invasor arrisca o esconderijo e a chance dele entender que o quarto é vazio, mas evidências estão espalhadas. As camas bagunçadas. Apertam as mãos torcendo para não as encontrarem. Nunca pediram tanta ajuda da mãe mentalmente. Lágrimas descem naqueles rostos, e o soluço escapa. Tapar a boca não adiantou. As portas do armário são abertas bruscamente, o destaque vai para as duas mãos segurando firmemente facas ensanguentadas. Antes mesmo de desvendarem o rosto, ouviram uma frase.

- Tenho hora marcada com as gêmeas. 


Notas Finais


Gostaram? Odiaram? Me digam o que acharam.


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