História Minha doce flor de cerejeira - As palavras não ditas

Os dedos trêmulos e incertos de Sakura denunciavam sua inexperiência e seu nervosismo, eu estava tomado pelo momento, os toques, os lábios, o cheiro. Quase havia me esquecido da foto. A maldita foto. Com um suspiro deixei meu peso cair sobre o corpo esguio de Sakura, era uma posição que não deixava que ela pudesse ver meu rosto, agora afundado sobre o travesseiro.

- Quem é o garoto que te acompanhava no festival?

 Minha voz soava meio abafada pelo travesseiro.

- Você quer dizer Hoshi?

- Hoshi? Aquele é o Hoshi?!

Sakura havia me contado há alguns meses que um primo de Tomoyo havia se mudado de Tokyo para Tomoeda, uma vez que sua mãe e seu pai se separaram. No entanto, Sakura falava do garoto como se fosse um bichinho, ele acompanhava ela e Tomoyo a todos os lugares. Pensei que nenhum garoto de 17 anos passaria tanto tempo com duas garotas a não ser que estivesse interessado em uma delas – Tomoyo estava fora de questão, eu bem sabia de seu amor platônico por Sakura. Além disso, toda Tomoeda sabia sobre mim e Sakura, se alguém se metesse a engraçado com ela apesar de tudo, um dos nossos amigos interferiria ou no mínimo me contaria-. Passei a segunda opção, portanto, o garoto devia ser tímido e isolado, o tipo que não oferece perigo a ninguém e ao imaginar essa figura minguada e patética, em nada se parecia com o forte e alto garoto que escoltava Sakura como se fosse seu segurança particular.

- Mas que garoto teria um raio de nome como esse?!

Eu sei, é uma dedução ridícula, mas alguém que se chama “estrela” (esse é o significado do nome) não inspira muita masculinidade.

- Nós o chamamos de Hoshi, mas seu nome é Hoshiko, é, na verdade, um lindo nome.

Sakura enrubeceu ao dizer isso. O que isso significava?! Por que ela ficou assim?!

- Sakura, quer dizer que é esse Hoshi que tem andado com você por aí?! Por que você está vermelha?!

Sakura me olhou com aqueles incríveis olhos com nada mais do que pura surpresa.

- O que quer dizer com “esse Hoshi”? eu te falei sobre ele várias vezes e sim, é ele que tem andado conosco e eu não estou vermelha.

Sakura desviou o olhar ao dizer isso, como se tivesse algo a esconder.

- Sakura, o que você está escondendo? O que não está me dizendo?

Eu mesmo percebi como estava alterado, nem precisei ver o rosto da minha amada Sakura que, agora, parecia aterrorizada. Esse mesmo rosto que há alguns minutos estava repleto de amor e devoção. Eu sabia que estava sendo um idiota, mas não conseguia conter o fluxo de emoções que jorravam de mim agora: Amor, saudade, necessidade, ciúme, paixão, confusão. Deus, eu nem me reconhecia mais.

Com lágrimas nos olhos e a voz embargada Sakura mal conseguia pronunciar uma sentença completa, mas no momento em que se pronunciou, eu sabia estar derrotado.

- Eu não sei por que você está assim, você chega de surpresa no festival e sai correndo comigo por aí. Me beija daquele jeito e, de repente, estamos aqui e você fica com raiva e me beija de novo desse jeito incrível e me põe pra dormir. Me acusa e eu nem sei do quê estou sendo acusada! Me desculpe por ficar vermelha! Pensei que era um lindo nome para uma criança!

Ah Sakura.. que dor eu senti nesse momento. Minha cabeça trabalhava a mil e a única coisa que você estava pensando era no dia em que teria uma criança. Uma criança minha. À essa declaração, minha raiva não pôde resistir e enquanto as lágrimas caiam livres e abundantes pelo seu rosto eu o tomei com ambas as mãos e beijei cada uma delas.

- Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe.. por favor..

Mesmo dilacerada pela dor que o meu ciúme provocava, Sakura continuava linda e doce e mais uma vez eu enxergava como tinha sorte por ela me amar. Tudo que eu queria era fazê-la feliz, mas, desde que voltei não fiz nada além do oposto.

- Meu amor, você tem que me entender.. esse garoto tão próximo de você o tempo todo e eu em Hong Kong! Ele deve saber mais coisas de você do que eu, ele...

E então, à sua maneira inocente e pueril, Sakura sela meus lábios e toda baboseira que saíam deles com um beijo. Quando ela finalmente se liberta, deixa um rastro de beijos sobre meus olhos ainda fechados, na testa, nos meus cabelos e se encaixa na curva do meu pescoço.

- Syaoran, você sabe tudo o que é preciso saber sobre mim. Eu te amo meus pensamentos estão preenchidos sobre você e provavelmente Hoshi aprendeu mais sobre você do que sobre mim.

Ela tomou uma das minhas mãos e pôs sobre o peito, no lugar do coração. Ele batia forte e rápido.

- É por você que ele bate.

Mais uma vez descontrolado pelas minhas emoções, tudo o que eu queria era beijá-la forte até que ela não tivesse mais fôlego e abraçá-la a ponto de quebrar. Queria rodopiá-la no ar e sair correndo por aí anunciando que essa linda garota me amava. A mim e só a mim. Mas decidi que Sakura já havia tido muita emoção por uma noite e já era alta madrugada, não queria privá-la do sono.

- Vamos dormir sim?

Sakura não disse nada, mas logo se encaixou entre o meu braço e a lateral do meu corpo, uma coisa absolutamente incrível era que não importava a posição nossos corpos se encaixavam perfeitamente bem. Logo Sakura estava suspirando profundamente com seus pés enroscados nos meus, as mãos repousadas sobre meu peito. Então eu sussurrei no seu ouvido:

- wǒ ài nǐ*

Nunca disse que era perfeito, abri o celular de Sakura e tirei uma foto de nós dois dormindo e enviei para o tal Hoshi, apaguei a mensagem e a foto. Por via das dúvidas. Dormi profundamente bem naquela noite.

*”Te amo” em Chinês