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História Minha terra tem palmeiras... - Vamos Fugir


Escrita por: Tyke

Notas do Autor


Olá,

Capítulo 1 - Vamos Fugir


 

Tudo parecia um sonho, ou melhor, um pesadelo turvo na cabeça da pequena criança.

Por seu pai chorava em desespero?

O pequeno menino, de cabelos negros como a noite e olhos azuis como o dia, estava sentado em banquinho de madeira. O lugar era um hospital ele sabia. A mamãe tinha a Maldição da Vida e os curandeiros cuidavam dela em um dos quartos brancos.

Mas por que papai saiu correndo para fora do hospital e o deixou para trás?

Pensando que estava sendo esquecido, o garotinho pulou do banquinho e tentou seguir o pai. Porém foi impedido por mãos gentis. Ele foi pego no colo e abraçado por uma mulher de cabelos pintados... ela também chorava. Por que sua avó e seu pai choravam?

Confuso com as ações dos adultos ele pediu para ver a mãe.

— Sua mamãe está dormindo agora. — Foi o que ouviu como resposta da avó, falado no tom mais doce que existia no mundo.

Horas depois, o menino se encontrava em casa. Sentado no sofá. Ele permaneceu quieto, sério, não sentia vontade de brincar... não sabia o motivo. Talvez fosse a forma como seus vovozinhos agiam que lhe causava esse efeito. Os dois adultos não conversavam, não moviam, não olhavam, não respiravam, apenas piscavam deixando cair gotas de lágrimas dos olhos.

Em algum momento ele adormeceu e acordou com raios de sol pairando persistentes sobre as pequenas pálpebras. A primeira imagem que viu foi de sua vassoura enfeitiçada, de brinquedo, flutuando no meio do quarto aconchegante. Por que ninguém estava ali? Quando acordava sempre havia alguém pajeando seu despertar. Não sabendo como reagir diante a situação, o garotinho permaneceu deitado e acordado esperando o pai ou a mãe aparecer. Ninguém veio.

Não vendo alternativa, ele jogou o corpinho para fora da cama baixa que tinha protetores de madeira nas laterais. Inseguro andou com os pezinhos descalços pelo corredor da casa silenciosa. O chão era gelado coberto por azulejos e as paredes brancas também geladas, ambos ótimos para jogar o corpo nos dia muito quente.

A criança, menino, levado, pequeno, com menos de meia dúzia de anos vividos caminhou pelo corredor. Abandonado ao mundo, era como ele se sentia. Até que encontrou o pai na onde era de se encontrar. No quarto do fim do corredor. O homem estava sentado na beirada da cama, os cabelos louros caídos sobre o rosto e este escondido entre as mãos. Ele sentia tanta dor que não percebeu a presença do menino, só se deu conta quando as pequenas mãos tocaram as grandes.

Puxado e preso em um abraço inusitado, o menino não entedia porque o pai agia daquela maneira.

— Vamo no hospital? — Era o que eles faziam todas as manhã nos últimos três meses, por isso o pequenino perguntou. E dos olhos de mar do homem escorreram lágrimas e um sorriso sofrido abriu-se nos lábios finos.

— Não. Não vamos mais ao hospital.

— Por quê? — O menininho pensou na mãezinha. Não podiam abandona-la naquele lugar sozinha, ainda mais quando estava dodói.

 — Porque agora o corpo de sua mãe está dormindo e coração dela está no céu.

— Como? — O rostinho redondo entortou para o lado.

— Sua mamãe morreu, querido.

Morreu? Ele percebeu pela primeira vez em sua curta vida o significado pesado da morte. Antes o que era apenas uma palavra solta pelos adultos, uma sentença abstrata, agora tinha um sentido. Ele não precisou olhar em volta para perceber que morte significa perda, despedida... nunca mais veria o rosto amoroso ou sentiria as mãos carinhosas da mãe em seus cabelos, era esse o significado da morte. Os olhos grandes para o rosto molharam-se salgados e por isso foi envolto pelos braços grandes do pai outra vez.

Horas mais tarde ele foi enfiado em uma roupa preta. Pela rua, a capa pequena, feita para a idade, quase arrastava no chão de pedras enquanto ele caminhava ao lado do pai para a igreja. O local sagrado estava abarrotado de bruxos, todos de preto. No centro do imenso salão, que fazia vozes ecoarem, tinha um pedestal e sobre ele uma caixa de madeira. Em direção ao centro eles caminharam. Quando estavam próximos o bastante o pai pegou o filho nos braços.

O menino arregalou os olhos abismado quando atingiu a altura necessária para o olhar o conteúdo da caixa de madeira. Mamãe!...?... Ela dormia... como o pai havia dito. Então ele esticou o braço para tocar a pessoa que mais amava no mundo, com a intenção de acorda-la talvez. Tocou. Gelada. Recuou espantado e agarrou ao pai escondendo o rosto na curva do pescoço adulto. Não queria olha-la, não daquele jeito, nunca mais.

O tempo passou lento como os caracóis que aparecem nas calçadas na época das chuvas. O garotinho permaneceu sentado no banco cristão sem olhar novamente para o pedestal. Pessoas iam, pessoas vinham e tudo que ele fazia era balançar os pezinhos distraído e triste. Sentia o popo doer contra a madeira dura, mas não ousava se mexer. Mexer era um crime diante o vazio do pequeno coração.

O que houve entre, o momento da igreja e o momento que o pai e o menino entraram em um navio em baixo d'água, foram diversos. Porém em grande maioria ignorados pela cabeça infantil e abatida pela vida.

O relevante foi; Eles fizeram as malas, papai vendeu quase tudo, despediram do vovô e da vovó, foram para o porto da cidade e entraram por magia em um píer submerso.

— Vamos para a Europa, Danilo. — O homem disse para o menininho sentado em seu colo.

Tudo que o menino fez foi olhar pela janela do navio submerso e observar os peixinhos fugirem...assim como eles também fugiam.



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