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História Minha terra tem palmeiras... - Vermelho na Neve


Escrita por: Tyke

Capítulo 2 - Vermelho na Neve


 

Neve!

A mancha branca do inverno que caia do céu, cobria o cenário de uma pequena vila bruxa no condado de Londres. Quando ela cobria o chão era a representação física da alegria das crianças, tanto bruxas quanto trouxas.

Naquela manhã de domingo bolinhas voavam pelo pátio do Circulo Norte. Circulo norte, era como moradores da vila chamavam um dos grupamentos circulares de casinhas bruxas. Quatro agrupamentos formavam a vila e todos eram conectados por duas estradinhas que se cruzavam.

O menininho que anos atrás "fugiu" em um navio submerso com o pai, no momento estava agachado atrás de uma muralha de neve e era atacado por bolinhas geladas. Inesperadamente uma bolinha espatifou-se contra seu rosto causando uma suave sensação de queimação. Ele riu. Se tinha algo que ele achava mais engraçado do que gelo queimar, era de desconhecimento de todos.

A brincadeira estava boa. Não usavam magia, apenas as mãos e neve comum. Mas mesmo assim a garota e garoto se divertiam incondicionalmente. E teriam continuado se não tivessem escutado um grito interrompedor cuja a voz desagradava o menino.

— Hey, Denilou!

Denilou! Denilou! Denilou! Por que ninguém nunca conseguia pronunciar direito?! Por isso ele preferia ser chamado pelo apelido Dan, o qual falavam Den e estava tudo certo. Mas aqueles dois garotos que se aproximavam não tinham porque chama-lo pelo apelido e tão pouco pelo primeiro nome. Não eram seus amigos. Viviam no Círculo Sul, raramente apareciam no Norte e tinham uma adoração sem sentido por gozar do nome incomum.

— Oi, Coock!

Coock. Isso sim é um nome engraçado, pois lembra cookie. E uma família ter um nome que lembra doce era algo que fazia aquela risada-cuspido sair pelas narinas. O garoto, cujo nome se pronuncia corretamente Danilo, segurou a risada e também os pensamentos para não acabar rindo na cara do menino-doce... Coock tinha um rosto arredondado e os olhinhos pretos como gostas de chocolate... Segura outra risada. Ok! Melhor parar.

— Está rindo do quê, Hooper? — Foi o outro garoto quem perguntou, o de cabelos escuros e dentes vanguardistas: sempre um passo a frente do rosto.

— Nada, Bell. O que querem? — Danilo respondeu cruzando os braços enquanto sua amiga e vizinha, Sally, praticamente escondia em suas costas.

Medo? Ele não tinha medo daqueles pirralhos. Podiam ser mais velho, mas ainda enfiavam o dedo no nariz quando ninguém estava olhando e Danilo tinha certeza que eles pediam para os pais coferir em baixo da cama a procura de bichos-papões antes de dormirem. Pois então, não a motivo para demonstrar medo à criaturas assim... mesmo que elas chutem sua bunda. Nunca demonstre medo! Danilo tinha sangue grifinório, ele acreditava, e por isso não abaixaria a cabeça.

— Estávamos pensando em brincar. — Coock balançou o baú de madeira que carregava o tempo todo nos braços. — Vocês querem?

Ok! Regra número 42 das crianças: Trégua para a brincadeira era sempre permitido.

Então sorrindo, Danilo desarmou os braços cruzados, Sally saiu do esconderijo ineficiente e ambos se aproximaram do baú que Coock depositava no chão esbranquiçado. Ele abriu e havia dois tacos e uma bola presa por correntes.

Balaços? Mas eles não trouxeram vassouras para jogar quadribol e de qualquer forma o pátio do Círculo Norte era muito pequeno para brincadeiras assim. Por tanto, sendo a criança que era, Danilo questionou no instante seguinte que viu o conteúdo.

— A gente não precisa de vassouras. Podemos brincar só de rebater. Jogamos de dupla, quem for acertado pelo balaço cinco vezes perde e outro toma o lugar. Entenderam?

— Ah! Pode ser. O que acha, Sally? — Danilo se virou animado para a amiga e ela olhou inserta.

Você pode comparar Sally a uma boneca de porcelana. Daquelas antigas com uma bola rosa perfeita em cada bochechas e com vestidos de babados. E o principal de tudo: Corpo mole e cabeça-dura. Aquela garota era assim. Boa amiga é claro, simpática para conversar e divertida para brincadeiras seguras. Mas era só mencionar uma brincadeira agressiva que ela pulava fora. E pulava como uma delicada gazela.

— Não, eu vou só assistir.

— Ótimo então você vai ser a juíza. — Bell entregou a ela uma pena e uma prancheta com um pedaço de pergaminho preso.

Maravilha!!! Era a palavra que podia-se ver brilhar nos olhos claros de Sally. Ela pegou seus apetrechos de juíza e correu para a mureta baixa da casa mais próxima. E esse mais próximo é quase duzentos metros de distância. Seguro! Dificilmente um balaço voaria no rostinho quebrável de porcelana.

O jogo começou. Hooper versos Bell. O que dizer desse jogo? É apenas bola aqui, bola ali, como um jogo de tênis. O mais interessante é o balaço tentando provocar fraturas ósseas nas crianças sempre que vai e volta.

 Danilo quem levou a primeira pancada, bem no estomago. Ai! Consegue sentir essa dor? E o pior é que a bola demoníaca não espera sua vítima recuperar. Ela espanca, vai e logo volta com tudo para uma nova surra.

 O menino ignorou a dor e reabateu com força o balaço que voltava, como se fosse possível descontar a dor que sentia naquele pedaço de couro. O balaço atravessou o pátio a toda velocidade fazendo aqueles barulhinhos irritantes "ruaruuadruaru". As vezes Danilo acreditava que haviam diabretes dentro daquelas bolas. Mas o que importa nisso tudo, foi a pancada que acertou Bell entre as pernas.

Um arrepio percorreu a espinha de Danilo só de olhar o outro garoto se contorcendo. O balaço foi ignorado, caiu no chão e ficou pulando no mesmo lugar. Lágrimas escorria pelo rosto magro de Bell no momento que Danilo e Coock correram para ampara-lo. E Sally não ousou sair da mureta, olhava os meninos de longe preocupa e também olhava o balaço possuído a alguns metros.

— Me desculpe! — Suplicou o menino de cabelos pretos assim que se aproximou.

Bell não respondeu. É claro que não, ele não era capaz de articular palavras e talvez nem pensamentos coerentes.

Coock começou rir... Danilo olhou para ele chocado, ele estava rindo da dor do melhor amigo. Que coisa horrível!

— Você séria um ótimo batedor, sabia? Acertou em cheio! — O garoto de rosto redondo falou pousando uma mão nos ombros do menino menor.

— Foi sem querer. — Danilo tentou se justificar, pois se sentia muito culpado.

— Vai para Hogwarts esse ano?

— Sim.

Se a carta chegar é claro, mas Danilo não tinha duvida que era um bruxo. Uma vez fez um gato preto mudar de cor... mas isso é uma história que fica para outra hora.

— Hum...  — Coock fez uma cara de pensativo — Talvez eu consiga te colocar no time. Se você for para a Grifinória.

— Mas eu vou estar no primeiro ano.

— Sempre tem como dar um jeito. Eu sou apanhador, sabe? É um posto importante.

Então Coock jogava quadribol? E no time da Grifinória... mas a pergunta que não quer calar: Como assim ele era da casa dos corajosos?  Sendo que uma vez, no Halloween, ele fez a vila inteira se assustar com seus gritos, pois estava com medo de um rato. Tudo bem que era uma ratazana monstro, mas mesmo assim, cadê a coragem?

Danilo sabia que Coock e Bell já estavam no segundo ano de Hogwarts. Os dois sempre voltavam para a vila nas férias de inverno e adoravam contar para os mais novos como era incrível a escola. Causavam inveja, mas naquele ano seria a vez dele! Dele e de Sally pisarem pela primeira vez nas escadarias da tão almejada escola. Estavam ansiosos para esse dia, mesmo ele estando a meses de distância.

— Vamos voltar ao jogo! — Coock falou tomando o taco das mãos de Bell.

— Hey eu ainda não perdi. — O outro protestou. Estava melhor, mas ainda dobrava o corpo sentindo dor.

— Balaço no saco vale por cinco pontos.

Bell tentou procurar Sally com o olhar. Ela era a juíza, não? Mas logo ele viu que seria inútil. A menina cantarolava e balançava os pezinhos cobertos pela sapatilha de laçinho. Nem ao menos olhava para eles e a prancheta estava caída e esquecida no chão. Suspirando derrotado Bell caminhou para o lado dela, querendo se manter o mais longe possível do balaço até a dor passar completamente.

Coock foi até o balaço possuído e o pegou, jogou para cima e bateu com o taco de madeira. Danilo sentiu o braço doer quando rebateu a bola que voou veloz em sua direção. Coock podia ter nome de biscoito, mas ele era bom, forte e estava cansando o menino mais novo.

Depois de... hum...umas vinte rebatidas e duas balaçadas no braço, Danilo ofegava e sentia o suor escorrer pelo rosto enquanto a brisa  gelada de inverno lhe dava choque térmico.

— Está cansadinho? — Coock provocou, ele segurava a bola para fazerem uma pausa. — Se quiser desistir...

Desistir? Danilo nunca desistia. Então ele endireitou o corpo, controlou a respiração e fez um sinal para continuarem. Coock sorriu de lado antes de mandar o balaço com força. O garoto semicerrou os olhos e rebateu o mais forte que conseguia. Até que ele não era fracote. O balaço voou para cima em alta velocidade e então... acertou algo.

A mancha vermelha, atingida, caiu do céu e aterrissou na neve. O balaço foi esquecido outra vez, o jogo interrompido e as quatro crianças - incluindo Sally - correram em direção ao misterioso pássaro agredido.

Estava vivo? Danilo se adiantou na frente de todos e agachou ao lado da cratera feita na neve. Sim, estava vivo. E era o animal mais lindo que o menino já tinha visto naquela "vila de círculos".

O animal possuía o bico curvo, olhinhos pequenos rodeados por penas brancas, a penugem superior do corpo era de um vermelho vivo e homogênio, nas assas as penas assumiam um lindo tom de azul que se prolongavam até a comprida cauda e entre as penas inferiores azuis misturavam-se algumas amarelas.

— Que bicho é esse? — Bell perguntou alguns passos atrás de Danilo.

— É uma arara — O menino encurvou os lábios em um sorriso alegre.

Oh sim! Ele sabia o que era. Já havia visto aquela ave em fotos, desenhos e descrições nos livros que ganhava de presentes dos avós. Tais livros vinham do outro lado do Atlântico em uma língua que quase ninguém naquele país europeu sabia. E Danilo amava esses presentes dados com tanto carinho, não só por conter histórias interessantes, mas também por ser a maior ligação que ele ainda tinha com a mãe e sua antiga vida.

Danilo se aproximou mais da ave. Ela tremia e parecia machucada. Ele sentiu uma pontada de culpa. A pegou nos braços e ela não fez objeção. A arara era grande, não gigante, mas maior do que ele imaginava que era, uma vez que nunca tinha visto uma pessoalmente. Notou pela primeira vez que ela carregava uma bolsinha amarrada ao corpo, feita de um tipo de folhas secas e transadas. Ela era uma mensageira assim como as corujas eram.

— Ela está bem, Dan? - Sally perguntou, mas em seguida o menino saiu correndo ignorando as outras crianças.

Danilo correu para uma das casinhas tortas e mal arquitetadas que formavam o Círculo Norte. Era a sua casa de madeira e pedras. Ele pulou os dois degraus da entrada, caminhou pelo carpete, subiu a escada de madeira, virou um cômodo a direita e encontrou o pai sentado na cadeira da escrivaninha.

— Olha, pai! - O menino falou animado mostrando as aves nos braços.

O homem tirou o olhos do pergaminho onde escrevia e piscou abismado ao ver a ave. Parecia uma invasora, um animal como aquele não deveria estar ali! E também, fazia anos que David Hooper não via uma penugem tão colorida e viva como aquela. Depois de algum tempo boquiaberto com o animal, David afastou o tinteiro e os pergaminhos para um canto, em seguida fez sinal para o filho colocar a ave sobre a mesa.

Assim que foi colocada em pé, a arara curvou o corpo na frente do homem. Ele enfiou a mão dentro da bolsa de folhas secas e tirou um rolo feito de pergaminho. David leu os escritos na vertical do rolo e depois leu uma espécie de etiqueta que pendia por uma cordinha presa no topo.

— É para você. — O mais velho arqueou as sobrancelhas parecendo surpreso.

— Oh! — Danilo correu pegando a carta.

Não era de Hogwarts, isso é obvio. Também não poderia ser de seus avós, uma vez que eles utilizavam corujas para mandar as cartas, corujas americanas, mas ainda assim corujas. Agora, receber uma arara era uma completa surpresa do começo ao fim. Da onde poderia ser? Danilo rolou sua "carta-rolinho" nas mãos até encontrar um brasão carimbado com tinta sobre o local onde poderia desenrolar o papel que parecia pergaminho, mas não era.

O brasão era um animal, dentro de um círculo, rugindo ameaçador. Parecia um gato selvagem cheio de pintas pelo corpo. Danilo conhecia aquele animal, mas se esqueceu do nome. Todavia, o que realmente importava era o que vinha escrito logo abaixo do brasão: Castelobruxo.

Oh! Seu coração fez novamente e seu queixo caiu. O menino não sabia muito bem o que pensar daquilo, mas sentia uma estranha sensação boa espalhar pelo corpo. Suas mãos agarraram a etiqueta que o pai havia lido e nela estava escrito de vermelho:

Para: Danilo Oliveira Hooper

Nº 2 Círculo Norte - Borough Clurican, Londres - R.U

 

 

 



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