1. Spirit Fanfics >
  2. Momento Angular >
  3. Vou lutar ao seu lado

História Momento Angular - Vou lutar ao seu lado


Escrita por: ValotDeadly e Ether_Squad

Notas do Autor


Tô bem mal que minha cachorrinha morreu, mas como prometido trouxe esse cap.

Boa leitura

Capítulo 3 - Vou lutar ao seu lado


Não ganhamos o campeonato nacional em pares daquele ano, ficamos em segundo lugar pela queda de Minseok, mas isso não era importante, não quando eu soube o motivo da falta de forças dele, dos seus hematomas e da sua fraqueza.

Os exames haviam ficados prontos no primeiro dia das competições, e Minseok sabia o tempo todo o que estava acontecendo, porém escondeu tudo de mim, como se eu fosse desistir dele ou do nosso par, e assim, tudo fez sentido na minha mente quando sua mãe me contou o diagnóstico.

Leucemia.

Câncer.

Chorei no corredor do hospital entendendo que ele não queria ficar longe de mim, mas tinha medo de me contar sobre isso, me senti o pior ser humano da face da terra quando pensei que havia o forçado indiretamente a competir, eu me senti o pior dos monstros e rezei aos céus pedindo que o tempo  voltasse e que eu pudesse simplesmente ficar ao seu lado e lhe dar apoio, não o forçar a patinar no inverno.

Na minha mente eu o havia forçado a competir.

Forçado a tudo - passava um filme em minha cabeça: das suas quedas e meus beijos e isso só me fazia sentir ainda mais culpado, como se eu tivesse causado o câncer nele -, mas a mãe dele insistia em dizer que o teimoso era o meu namorado e que ninguém havia conseguido tirar da sua mente o campeonato.

Chorei por perceber que sua mãe sabia sobre nós e chorei ainda mais por me sentir impotente quanto toda a situação, afinal das contas eu ainda era uma criança aprendendo a viver e se apaixonando pela primeira vez, não sabia muito sobre o mundo ou sobre encarar seus problemas de frente.

Minseok não queria me receber de forma alguma e eu não entendia o porquê, então todos os dias, quase religiosamente ia o visitar, mesmo que ficasse no corredor do hospital, chorando quase todo o líquido de meu corpo e implorando por piedade para todos os deuses que eu possuía conhecimento.

Foram exatas três semanas e quatro dias até que Minseok concordasse em me receber, fui munido de muitas balas de menta e todo o meu carinho para com ele.

O meu moreno estava fraco, mas sorriu ao me ver, aquele seu sorriso que sempre quebrava todas as minhas estruturas, eu segui até chegar bem perto da sua maca e lhe dei uma das balas que carregava, o que o fez sorrir mais abertamente.

-- Prefiro rouba-las da sua boca.

Foi o que ele me disse com aquele seu sorriso arteiro e o rosto pálido que eu tanto amava.

Agradeci por perceber que ele estava melhor do que eu esperava, mesmo com as marcas da medicação nos braços e a pele ainda mais pálida do que de costume, não levaria esse obstáculo como o fim do nosso mundo, éramos os reis desse, venceriam os essa doença.

Lutaria ao lado dele.

Coloquei uma bala na boca, tremendo pelo nervosismo e saudade e me aproximei lentamente da sua face, selando seus lábios finos e deixando que ele aprofundasse aquele beijo desengonçado, e ele o fez, roubando a bala logo em seguida, sorrindo com nossos lábios colados.

Sempre quando nos beijavamos, Minseok sorria ainda com os lábios colados nos meus, e eu sorria junto, o que sempre nos fazia abrir os olhos e nos encarar daquela forma tão íntima.

E não foi diferente daquela vez, abri meus olhos e pude ver aquele seu sorriso arteiro enquanto brincava com a bala na boca, sorri de volta e me sentei na cadeira que ficava ao lado do seu leito, pronto para lhe contar tudo que havia acontecido na escola e o que ele estava perdendo naquele hospital.

Foi quando me dei conta de como eu era estúpido, Minseok não precisava saber sobre o que estava perdendo, era evidente pelo seu rosto que isso ele já sabia, eu precisava falar de tudo que ele estava ganhando: meu amor, meu coração e apoio.

Parece egoísta, mas eu me daria por completo para ele, e todos os dias tentaria vencer essa doença ao seu lado.

Dia a após dia o meu moreno dominava mais um pedaço do meu coração, então mesmo que fosse clichê e romântico demais eu lhe dizia, em forma de poemas piegas, com músicas ainda mais românticas e até mesmo com meus cuidados para consigo.

Todos os dias, naquelas semanas que Min ficou no hospital eu lhe dizia que lhe amava e que queria viver a vida toda ao lado dele, mesmo quando a quimioterapia lhe deixava dolorido e estressado, ou quando ele não conseguia comer pelo estômago doer, ou quando simplesmente ele chorava com medo de morrer.

Sinceramente, eu tinha medo de o perder, então maximizava o tempo que podia passar ao seu lado, mesmo que as esperanças existissem, o medo e a angústia viviam ao lado dessa.

Viviam ao nosso lado, eram íntimas de nossas mentes e nosso coração.

Eu o entendia e carregava esse medo comigo, afinal aquela ala no hospital cheirava a morte e carregava com ela esse sentimento, eu não podia ficar ao lado dele quando esse recebia as medicações, mas ouvia nos corredores os gemidos de tantos outros que também sofriam.

Minseok havia me dito que a quimioterapia - mais precisamente os remédios -, queimavam, que dava para se sentir eles passando pelo corpo, e eu chorava escondido, não demonstraria meus medos a ele, apenas minhas esperanças, mas escondido; sozinho eu chorava até que não possuísse mais forças.

Queria tomar o seu lugar, dividir a sua dor com ele, mas eu não podia.

Me limitava a lhe ajudar com os deveres da escola - mesmo que eu fosse uma série adiantado -, e a tentar o animar com pequenas coisas.

Mesmo quando a sua internação não foi mais necessária, mesmo quando Minseok só precisava ir ao hospital para fazer a quimioterapia, eu estava lá e tentava o animar.

Me sentia um bobo da corte com piadas fáceis e brincadeiras bobas, mas para o ver sorrir eu tomaria a vida de qualquer personagem.

Parece idiota e até mesmo tosco, mas eu sabia que tudo que o moreno precisava era relaxar e parar de pensar em tudo que acontecia a sua volta, e assim, eu me tornava aquilo que ele precisava.

Não que eu omitisse minha vida ou me anulasse para ele, definitivamente esse não era o caso, apenas entendia que naquele momento ele precisa de mim, de carinho, de sorrisos e distração, se estava sendo difícil para mim passar por tudo aquilo, eu imaginava para ele.

Só quem passa por essa dor de se sentir impotente ao sofrimento alheio entenderá como é dia após dia tentar com pequenos atos ajudar.

Eu não queria perder a chance de ajudar, por o amar, como melhor amigo e namorado, tentaria o meu máximo.

Minseok não conseguia comer muitas coisas, seu estômago doía e mesmo quando comia ele vomitava, seus braços voltavam doloridos e quase imóveis pela medicação, seu corpo perdia massa aos poucos; eu conseguia ver os ossos de sua costela e isso me destruía aos poucos.

Passaram-se os meses e a rotina pouco mudava, Minseok tinha semanas consideravelmente boas e outras que precisava se internar pois até mesmo um resfriado poderia o deixar ainda mais fraco.

Foi quando ele voltou da quarta internação que ouvi o pedido mais estranho de todos:

-- Dae, eu quero que volte a treinar.

-- Sem você? Nunca!

-- Eu vou te treinar. Não posso estar na pista, mas se ficar bem agasalhado posso te ajudar a treinar.

-- Somos um par, nunca vou conseguir sem você.

-- Dae, - Segurou minhas mãos e suspirou cansado. - por favor, ganhe o campeonato esse ano, por mim!

Minseok segurava meu rosto e eu só conseguia chorar, ele limpou minhas lágrimas e eu concordei, ganharia o campeonato por ele.

Éramos os reis do mundo, não?

--X--

Treinava duro, com Minseok me auxiliando, ele havia montado uma série com uma maestria fenomenal para um solo, sempre que ele estava bem ia comigo na pista, já que o Rideal estava descongelando.

Eu aprendi aquela linguagem alienígena que era típica dele, e seguia passo a passo conservando meu momento angular, com a ajuda da inércia e de algumas leis que pouco a pouco eu me esforçava para entender.

Minseok inseriu muitos axes e piruetas inversas na série, algo que ele gostava de fazer e vez ou outra quando se sentia bem, entrava na pista e patinava um pouco.

Afinal a patinação era uma grande parcela da vida dele e isso o fazia feliz.

Ele não podia fazer muitos exercícios físicos e se cansava facilmente, mas isso não me impedia de pega-lo no colo e girar com ele em meus braços, mesmo que isso fosse desajeitado.

Aos poucos a quimioterapia ia lhe deixando sequelas, e e mesmo que ele não quisesse falar sobre isso, eu sabia e entendia.

Tentava entender.

Tentava, pois era complicado, eu não estava no seu lugar para saber exatamente, e por mais que me fizesse presente, não era o mesmo sentimento.

Até que um dia ele me ligou chorando de maneira desesperadora, e eu fui até a sua casa correndo pela rua sempre fria, olhando para os céus e pedindo a algum senhor desse que cuidasse do meu moreno.

Quando cheguei na sua casa, subi pata seu quarto sem nem ao menos cumprimentar seus pais e o peguei sentado na cama, chorando. Ele tirou o gorro verde da cabeça e mostrou-a sem nenhum fio de cabelo.

-- Dae, eu estou horrível.

Eu o abracei.

-- Você continua lindo.

-- Você ainda vai gostar de mim assim?

-- Eu não gosto de você. - Limpei as lágrimas que desceram pela sua face. - Eu te amo.

Selei os lábios finos de Minseok nos meus, tentando de todas as formas mostrar que estava sendo sincero, e ele retribuiu ao beijo, mesmo que o gosto salino de suas lágrimas se fizessem presentes.

Minseok não foi na aula no dia seguinte, como sempre nas segundas-feiras ele ficava no hospital, recebendo a medicação que o salvaria.

Eu precisava acreditar nisso.

Salvação.

Era a palavra que me mantinha firme, dia após dia.

Resolvi raspar meus cabelos castanhos, para lhe mostrar que ainda éramos espelhos um do outro, seja na pista ou na vida e fui vê-lo em sua casa, com um gorro avermelhado na cabeça e um sorriso de quem havia aprontado alguma coisa.

Como sempre nos dias de tratamento, Dae se mantinha deitado na cama, lendo algum livro de línguas alienígenas que eu aprendi a respeitar e a gostar ou assistindo alguma série na televisão.

Não disse nada, sentei ao seu lado pegando um pouco da pipoca que ele tentava comer - quase nada parava em seu estômago -, e retirei meu gorro avermelhando, passando a mão livre na minha própria cabeça e lhe mostrando o quanto ela estava lisinha.

Minseok chorou e sorriu.

Sinceramente eu não soube distinguir sua reação, mas pude sentir a sua gratidão quando ele pegou minha mão e sussurrou um “não me faça te amar mais.”

Nos beijamos e assistimos alguns filmes, lado a lado, em uma calmaria tão gostosa que refletia os nossos estado de espírito.

Aquela tarde foi a última que passamos juntos assim, pois no dia seguinte em uma crise de dor ele foi internado novamente.

Depois disso, descobrimos que o tratamento não estava fazendo o efeito esperado e que o meu namorado precisava de medula óssea.

Eu quis doar, era meu namorado afinal, queria poder fazer algo por ele, já me sentia impotente demais me mantendo apenas ao seu lado, assim eu insistia muito com meus pais que me levaram no hospital onde os médicos disseram que eu não podia doar pela minha idade.

Meus pais fizeram um exame de sangue para testar a compatibilidade com Minseok, assim como os pais dele já haviam feito.

Todos falhavam.

Ninguém era compatível com Minseok.

Então ele me explicou com aquela matemática do satã que eu tentava aprender aos poucos que a probabilidade de achar alguém compatível era muito baixa, segundo ele de um para mil.

Mas isso não me parou, fiz cartazes informando sobre a doação, explicando tudo e neles coloquei a foto de Minseok.

“O futuro da nossa patinação artística depende de vocês.”

Expliquei nos cartazes que inicialmente apenas seriam feitos exames, e que posteriormente elas poderiam salvar o meu Minseok.

Todos os dias saía e colava cartazes em pontos de ônibus, nas escolas, nos restaurantes, postes, lojas.

Esperança, era a palavra que me movia rumo a salvação.

Colava cartazes em todos os lugares e com a esperança que reinava na minha mente e alma, procurava a pessoa que salvaria aquele que eu amava, nada e ninguém no mundo iria me parar, eu venceria o mundo aos poucos, mesmo que silenciosamente meu coração fosse despedaçados pelas notícias negativas dos médicos.

Mesmo assim ainda mantinha minhas esperanças.

Precisávamos ser os reis do mundo.

Era uma promessa.


Notas Finais


Juro que tudo tem um propósito.

Não me matem, volto amanhã com o final.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...