1. Spirit Fanfics >
  2. Moon Lovers: The Second Chance >
  3. A Noite das Desavenças

História Moon Lovers: The Second Chance - A Noite das Desavenças


Escrita por: VanVet e AndyeGW

Notas do Autor


Olá galera!!! Segue mais um capítulo de nossa fic. Agradecemos o retorno que estamos recebendo e vamos continuando. Ainda tem muito o que acontecer por aqui!

Capítulo 13 - A Noite das Desavenças


O otimismo de Shin para que aquilo terminasse logo surpreendia até ele próprio. Ao chegar naquela terrível reunião, sua esperança era que ela estivesse entrando no fim e o anúncio que o pai prometera, o motivo que o fez estar ali onde jurou nunca mais pisar, estivesse a poucos instantes de acontecer. Transcorrido vários minutos desde o momento em que fez todos ficarem perplexos com sua presença, o jovem via Wang Hansol continuar papeando com seus sócios sem dar sinais que encerraria a noite mais cedo.

 Ele precisava circular outra vez. Eujin, certamente eufórico com o reencontro, permanecia num ritmo que Shin não conseguia acompanhar. Após tantos anos acostumado ao silêncio, sem cultivar amigos ou relacionamentos duradouros, estabelecer um diálogo amigável por muito tempo se tornava cansativo.

    Pedindo licença novamente para a mesa acolhedora, o rapaz cercou as bancadas de petiscos e procurou algo com carne a fim de não perder o raciocínio sagaz por ficar um bom tempo apenas na bebida.   

—  Essas iscas de costela são o ponto alto da noite! Se eu tivesse de apostar em algo comestível aqui, seria isso — opinou uma familiar voz se aproximando dele que olhava indeciso para a quantidade de opções exóticas.

Ele se virou para o seu interlocutor e encontrou o irmão mais velho, Sook, o mirando carinhosamente.

—  Isto aqui é Kalbi-Kui? —  perguntou perplexo.

—  A decoração ao redor do prato não é lá muito inspiradora, mas eu provei e está delicioso. Se eu fosse você, Shin, continuava a confiar no seu velho irmão.

Terminada a frase, o gelo entre os irmãos se quebrou e eles se abraçaram sinceramente. O mais jovem guardava boas memórias de Sook, eternamente paciente com os filhos mais novos do pai, sempre reservando um incentivo ou uma palavra amiga quando o encontrava deprimido pelos corredores vazios daquela residência.

— Eu o esperava mais cedo… Alguns anos mais cedo —  Sook comentou, finalizado o cumprimento.

—  E apesar de algumas poucas companhias que valiam a pena, eu não senti nenhuma saudade desse lugar. Estou aqui faz meia hora e já sinto que nada mudou.

O outro soltou o ar pela boca, sereno e compreensivo, contudo disse:

—  Não importa, Shin. Tudo isso aqui é seu também. Por mais que tentem te excluir, você não deve deixar te afastarem do que te pertence.

Ele devolveu um sorriso cansado para Sook e o lembrou:

—  Mas até onde eu sei, você encontrou um modo de sair do olho do furacão e viver dignamente sem necessitar da empresa do papai.

O primeiro filho Wang pegou um prato e se serviu de alguns doces dispostos na bancada. Enquanto enchia a louça de uma variedade deles, rebateu:

—  De forma alguma disse para você se comprometer com o que não gosta… O que eu digo é: Apenas deixe claro para as pessoas, que nós dois sabemos quem são, que você não jogou a toalha. Não há porque desistir de algo apenas porque alguns se sentiriam mais confortáveis com a sua exclusão.

Refletindo naquelas palavras, Shin permaneceu silencioso. Sua meditação temporária sendo interrompida com a chegada de uma bela menina se unindo aos dois.

—  Estou com fome, papai. Vem logo! —  Ha Na puxou o pai pelo braço, ansiosa enquanto olhava o tio com cautela.

—  E doce lá sustenta, Ha Na?

—  Eu não consigo comer mais nada do que a mamãe me oferece. É tudo ruim demais —  a menina fez uma careta.

Shin riu da sinceridade infantil e esperou que o irmão a apresentasse.

—  Ha Na, olhe os modos —  Sook alertou —  E seja mais educada. Cumprimente seu tio, Shin. Você era somente um bebezinho quando ele te conheceu, sabia?

—  Pois é. —  o rapaz concordou e erguendo os braços, afastou meio metro uma mão da outra, para figurar sua próxima frase —  Você era desse tamanho quando te vi pela primeira vez! Uma coisinha de nada que me olhava com duas jabuticabas.

Curiosa, a menina olhou do pai para o tio e então perguntou:

—  O que é jabuticaba?

—  É uma fruta do Brasil —  ele a informou, gostando de ser o tio que passa sabedoria adiante —  Ela é do tamanho de uma bola de gude e é bem escura… igual aos seus olhos.

Por algum motivo a informação encantou a criança que riu entusiasmada. Não demorou para ela se esquecer do pai e da timidez, rebatendo o tio.

—  Escura igual suas roupas?

—  É isso aí.

— Eu gosto delas… as roupas. Você se veste mais legal que o meu pai e os outros tios.

Shin se curvou, apoiando as mãos nos joelhos, para ficar na altura do rosto de Ha Na e lhe piscou, confirmando:

—  Disso eu já sabia.

***

  De repente, toda a confiança que Gun conquistou em cima dos seus patéticos irmãos se dissolveu para um ralo imaginário. Obviamente, não estava disposto a mostrar fraqueza diante da mãe, muito menos de Na Na, e se portou firmemente pelo máximo de tempo que conseguiu, degustando a refeição da noite casualmente, mas não tirando os olhos do irmão desaparecido.

  Não existia a possibilidade daquilo ser um sinal bom. Apenas a existência de Shin enchia Gun de ódio, sendo esse reforçado com bastante empenho por Min-joo. Nada na postura e no passado daquele intruso condizia com o berço ao qual pertenciam. Os Wang significavam astúcia, disciplina e ordem na hierarquia empresarial de Busan, jamais a rebeldia desleixada.

 Ele era um delinquente. O motivo de sua mãe não estar mais casada com seu pai. A lembrança de tudo que Gun testemunhou Min-joo lamentar e se não era bem-vindo por ninguém, ao menos por ninguém importante, por que apareceu naquela noite?

 De alguma forma, Shin estava aderido ao motivo da reunião de Hansol. Ou o cão imprestável descobriu o que aconteceria naquela noite ou, na pior das hipóteses, o próprio pai o convocara ali. Caso a segunda opção fosse a correta, havia terríveis chances dos sonhos do herdeiro não se concretizarem. Aquilo estava, pouco  a pouco, lhe exasperando.

—  Você parece tenso… —  Na Na sussurrou discretamente, apoiando a delicada mão no joelho dele, que se assustou ao toque.

—  Eu estou ótimo —  objetou impaciente —  Vou circular um pouco pelo salão. Já volto.

  O motivo da saída repentina foi para ir de encontro à sua oportunidade de descobrir mais. Após ficar de conversa mole com Sook e afanar algo no buffet, Shin deixou o cerne da reunião e caminhou para fora, em direção às portas de vidro.

—  O que quer aqui? — perguntou petulante assim que viu o irmão solitário mastigando um canapé do prato enquanto avistava os jardins iluminados.

—  Isso não te interessa… mas de qualquer forma você logo descobrirá — o outro disse após engolir o alimento.     

—  Não ache que vai voltar e conquistar algum posto na empresa —  Gun vociferou, contornando Shin e parando de frente para ele; precisava encará-lo nos olhos e deixar claro suas convicções —  Ninguém, nem papai, seria louco o suficiente para entregar o patrimônio de gerações nas mãos do único filho que ele sempre considerou bastardo!

—  Vejo que pegou a mania de nossa mãe em me xingar com os melhores adjetivos que alguém pode receber… Bastardo é uma novidade — falou pensativo, recobrando os muitos xingamentos que já recebera — mas eu confesso, Gun, senti saudades de ser tão amado assim.

  Algo nos olhos de Shin, porém, denunciavam que aqueles insultos o incomodavam em demasia. Ele disfarçou, engolindo mais um petisco enquanto fitava as luzes da cidade, ao longe da colina.

—  Aproveite a comida, afinal, você está com um aspecto miserável, como sempre. Não perderei meus minutos falando com você…

—  Então não perca — o irmão o interrompeu bruscamente.

—  … contudo um aviso nunca faz mal —  prosseguiu, ignorando a intromissão do outro —  O comando da Wang S.A é meu e qualquer um que se puser no caminho, não importa quem seja, vai ser atropelado por mim sem piedade.

O mais velho desviou o olhar da paisagem e encarou Gun penetrantemente.

— Você está cada vez mais parecido com mamãe.

— Vou encarar como um elogio —  ele sorriu radiante e abandonou os jardins se sentindo mais leve por deixar as coisas transparentes.    

***

Sun esperava que tudo aquilo acabasse de uma vez. Se não fosse a entrada do irmão no meio do jantar, diria que aquela reunião não tivera nada de emocionante. As horas se arrastavam e quanto mais ele olhava o relógio, mais os ponteiros demoravam a se movimentar.

Percebeu um dos irmãos se aproximando dele. Taeyang parecia desconfortável e levemente agitado enquanto tomava algo e caminhava em sua direção. Pensou em se afastar, não estava inspirado para conversas, mas preferiu esperar que ele dissesse o que pretendia.

— Algum problema, Sun? — Taeyang perguntou tão logo se aproximaram.

— Poderia perguntar o mesmo pra você.

— Por que?

— Você parece bem mais perturbado do que eu… E não é pra menos... essa reunião já poderia acabar.

— Entendo… — Taeyang comentou com um leve sorriso, concordando silenciosamente com Sun, embora suas preocupações fossem outras — O que achou sobre a chegada de nosso irmão?

— Nada demais…

— Não acha estranho ele ter aparecido do nada?

— Não. Essa casa também é dele. Ele tem tanto direito como cada um de nós de estar aqui, então… Pra mim tanto faz.

— É bem verdade… Só que ele passou tanto tempo fora…

— Cinco anos não é tanto tempo assim, e ele tinha coisas pra resolver…

— Hmm… Vejo que já se familiarizaram bastante…

— Já disse que, pra mim, tanto faz.

— Tudo bem… A verdade é que quero me desculpar por ter brincado com você mais cedo sobre Doh Hea. Você pareceu ficar bem incomodado depois daquilo…

— Pois é, eu não gostei — deu de ombros enquanto respondia — Somos colegas de turma, apenas. Só não repita aquilo… Foi bem chato.

— Sun… — ele continuou depois de pensar um pouco — Falando sinceramente, e como seu irmão que sou, me preocupo com você…

O garoto olhou para o irmão com curiosidade, já imaginando o que viria a seguir precipitando a perda de paciência, fechando os olhos veementemente.

— Doh Hea é uma garota muito bonita, filha de um dos sócios e um grande amigo do papai e está claramente interessada em você. Eu acho…

— Você não tem que achar nada, Taeyang — respondeu com grosseria — Doh Hea é uma garota chata e insuportável. Não importa de quem ela é filha, pra mim, ela não passa de uma colega de sala, e só.

— Tenho medo de que esteja perdendo a oportunidade de estar com uma garota legal por infantilidade…

— Se acha Doh Hea assim tão legal, fique você com ela.

Sun saiu de perto do irmão e seguiu para a área privativa. Detestava quando os irmãos queriam lhe mostrar o quê e como fazer qualquer coisa. O fato de ser o filho mais novo não lhes dava o direito de se meterem dessa maneira em sua vida.

— Você não se cansa de ser sempre tratado dessa forma, Taeyang?

Yun Mi apareceu de repente às costas do irmão, fazendo com que ele tivesse um leve sobressalto e se virasse em seguida de frente para ela.

— Por que diz isso?  — não entendeu o comentário da irmã.

— Não se cansa de estar sempre correndo atrás das pessoas como se fosse um cachorrinho amestrado?

— Yun Mi, por favor, me respeite — Taeyang repreendeu irritado.

— Como posso respeitar uma pessoa como você, Taeyang? Você não faz nada pela mamãe ou por mim. Nada que possa garantir nosso futuro… Além do mais, parece ter prazer em ficar à sombra dos nossos irmãos…

— Do que está falando realmente? Isso tem a ver com a empresa? — a fitou curioso, já sabendo a resposta que ouviria.

— Você bem sabe que sim… Será que não percebe que nosso pai irá se aposentar e o controle da empresa ficará com um de nós? Você não tem o menor interesse em estar a frente dela? Ao menos, é o que parece. Não faz nada para que a sua situação seja diferente. Sente prazer em receber ordens e está abaixo de nossos irmãos… Por que está rindo? — Yun Mi perguntou ao perceber que o irmão sorria para ela.

— Porque perceber que você não me conhece é engraçado… Somos irmãos, deveríamos ser mais próximos… Talvez o fato de que você sempre esteve preocupada com suas coisas não te deu tempo para perceber que também me interesso pelos assuntos da empresa…

— É…? — a outra sorriu, o ar de ironia impregnado em sua expressão — Como fará para tomar a liderança da empresa?

—  Acredito que não seja interessante para você saber…

— Você está blefando… — irritou-se — Não percebe que, agora que Shin voltou, as coisas ficam ainda mais complicadas para nós?

— Yun Mi, não se preocupe… Papai dará a liderança para quem mais merecer. Shin não tem nenhum tipo de experiência empresarial, então descanse… E me deixe descansar. Até mais.

***

   Do retorno do outro filho de Min-joo, que acreditou estar morto há tempos, Wang Hansol não havia informado nada para Ah Ra. Entre uma suspirada e outra, a senhora da casa buscava todas as ferramentas mentais das suas aulas de meditação para fechar compota atrás de compota a represa violenta que se formava dentro dela e, com isso, não desaguar em ódio no meio do evento.

   Aguentar aquela cascavel volátil já era suplício suficiente para Ah Ra; ela pensava que, em alguma vida, certamente cometeu crimes terríveis para receber um carma daquele e agora, saber que Hansol lhe ocultara esse detalhe incômodo, a vinda do problemático rapaz, era mais uma punhalada nas costas. 

     Não havia como o esposo não saber de Shin; essa possibilidade sequer existia. Nada nunca acontecia sem o conhecimento do poderoso homem e o olhar que ele direcionou para o rapaz quando este chegou, com toda sua falta de educação latente, revelou satisfação ao invés de espanto.

    Aquilo seria discutido mais tarde, afinal, aquela senhora era refinada. Sua classe não permitia descer na mesma sarjeta que Min-joo, por exemplo. Contudo, algumas agulhadas naquela mulher aliviariam sua crescente indisposição, para variar.

Ela aguardou Hansol se entreter num assunto qualquer na mesa de Doh Yoseob - nunca entendeu a afinidade deles, seu esposo tão inteligente, o outro completamente intragável - e escapuliu para a mesa da rival, que havia sido abandonada pelos filhos e pela pobre nora.

   —  Aquele selvagem é mesmo Shin… O seu filho mais velho? —  Ah Ra perguntou, se sentando numa cadeira vaga, dando às favas para a outra que não lhe convidara a sentar-se ali.

   —  Hansol não te informou que ele vinha? —  Min-joo enfiou esse espeto dolorido no ego dela. A rameira era irritamente pontual nas provocações —  Eu aqui achando que não existia nenhum segredo entre marido e mulher… No meu tempo não costumava ser assim.

  —  Quem disse que eu não sabia da volta do seu marginalzinho? —  a senhora da casa respondeu, se lamentando por sua voz soar tão insegura.

  —  A sua cara de enguia atropelada quando ele entrou? Acho que foi esse detalhe que me fez ter a certeza.  

A mulher de vermelho riu debochada. A outra crispou os lábios e encarou a rival mortalmente. Um funcionário passou oferecendo vinho e ela, que não costumava misturar bebidas, arrematou uma taça para si.

—  Então eu acredito que a mãe também sabia da vinda do filho. Fico pensando como uma senhora tão elegante como você deixa o garoto vir igual um mulambo para a casa do pai. Meus filhos, pegue esse exemplo, são todos alinhados e educados… Jung hoje até está apresentável, mas costuma desfilar com cada moda assombrosa na nossa rotina por aqui. Mas tenho certeza que essas coisas vêm de berço, pobrezinhos…

  A segunda esposa apertou os olhos para ela, que sorriu encantada com o sucesso da sua provocação. A seguir, entretanto, ouviu algo muito desagradável.

— Se nós vamos falar de linhagem, seria um crime contra a humanidade não citar Taeyang. Cada vez que Gun me conta sobre o seu garoto, tenho mais certeza de que ele viveu para comer das sobras, como você. Soube da constante incompetência dele na empresa... Isso sim é triste — desdenhou com falsos sentimentalismos.

—  Não tem incompetência nenhuma! —  Ah Ra exclamou saturada —  Têm seu filho agindo como um mau-caráter para passar os outros para trás.

—  As velhas começaram cedo hoje… —  Chang Ru aglutinou-se às duas, sentando-se confortavelmente ao lado da atual esposa, enquanto gemia de dor nos joelhos —  Vou me sentar do seu lado, Ah Ra, porque, apesar de você ser outra intragável, Min-joo realmente mexe com meu imunológico.

—  Quem você está chamando de velha? —  as duas se viraram para Chang Ru perguntando quase no mesmo instante.

A mais velha riu, apoiando a perna reumática em outra cadeira vaga e massageando a canela, debaixo da meia calça, vigorosamente.

—  Já estão se exasperando em uníssono… Isso sim que é almas gêmeas —  zombou —  A melhor coisa desses encontros é reafirmar minha antiga ideia: vocês continuam duas mal amadas. Uma está com Hansol, a outra sonha com o momento que o terá de volta, mas nenhuma teve o coração desse homem, tenham certeza.

—  E por um acaso o grande amor da vida dele foi você, sua arara de carniça?! —  Min-joo perguntou desafiadora.

—  Eu? Não, não, não… eu não. E quer saber, nunca achei esse homem grande coisa — Li Chang Ru deu de ombros —  Nosso casamento foi excelente porque me rendeu Sook, porém nós dois sabíamos que não teríamos futuro, portanto seguimos com nossas vidas separados. A decisão mais inteligente de toda a minha vida… bem… exceto… teve a minha ideia de cruzar duas espécies raras de orquídeas. Essa ideia sim, foi genial! Ah, não, Eun Tak… Você não precisava vir fazer parte disto...

Para aderir ao grupo, a quarta esposa do empresário se aproximou timidamente. Ah Ra entornou o vinho, extremamente irritada. Já não bastasse a velha faladeira da primeira esposa, ainda teria de suportar aquela que despertava ciúmes nela mais do que Min-joo. Eun Tak casou-se novamente, além de ser sempre reservada, mas o fato de ser mais jovem, pouco mais que quarenta anos, a deixava muito incomodada. A coisa piorava quando Hansol parecia tão entusiasmado quando dialogava com ela.

—  Vi as senhoras todas juntas e aproveitei para trazer meus cumprimentos… Boa noite à todas.

—  Estava com medo de me encarar, Eun Tak? —  Min-joo a observou de cima à baixo —  Tive a impressão de te ver se afastando mais cedo.

—  E-eu? Impressão sua… Devo ter me distraído —  a mulher respondeu corando de leve.

—  Deveria ter ficado com seus filhos, criança. Essa araponga não merece nenhuma condolência. Me pergunto onde seus pais estavam com a cabeça quando fizeram você se casar com Hansol… As pessoas boas sofrem nessa vida mais do que as más. Só pode.

—  Em que boeiro você encontra seus ensinamentos, sua velha?  — a senhora de vermelho riu. Ah Ra, sentindo a cabeça pesar um pouco, achou graça e acompanhou a outra nos gracejos.

—  Nenhum desses insultos são originais, Min-joo. Você não vira o disco — Chang Ru baixou a perna e elevou a outra para a cadeira, repetindo a massagem —  Eu sou velha mesmo, assim como vocês duas. E entrando naquela assunto de antes, o que Ah Ra discutia animadamente antes de eu chegar, eu acho esse seu filho mais velho uma infeliz criança… Me doeu o coração ver o modo horrível como você o recebeu. Até para você tem que haver algum limite.

Ah Ra viu a rival transformar o rosto. Ela se empertigou na cadeira e disse para Li, não da forma sarcástica como elas levavam aquela conversa, mas com uma frieza implacável.

—  Cuide das suas fuças e não me atribua à Shin! Aquele…

Uma sombra cobriu as quatro mulheres que a fitaram em seguida. Era uma silhueta esguia e feminina, mas que emanava uma energia extremamente intimidadora, principalmente sobre a segunda esposa, interrompendo sua pompa no exato instante. Ah Ra vislumbrou a governanta Nyeo, que evitava sumariamente conversar na Mansão da Lua, debruçar-se sobre a mesa para pegar as taças vazias.

—  Pode continuar. Não precisa parar apenas porque me aproximei — a governanta comentou olhando diretamente para a mulher de vermelho — O que ia dizer, senhora? —  Nyeo perguntou diretamente para Min-joo.

A outra recuou no encosto e Ah Ra teve impressão de que ela ia desviar o olhar.

—  Falo quando bem entender, governanta. Não se meta no que não lhe interessa —  ela pareceu se recuperar no último segundo, vociferando.

— O que ia dizendo sobre seu filho? —  Nyeo retorquiu petrificada, metade do tronco curvado na direção de Min-joo.  

—  Como assim, Ah Ra, o que há com a criadagem? — Min-joo enfim não aguentou sustentar o olhar, procurando tirar satisfações com a senhora da casa, que costumava achar muito interessante a relação da governanta com a rival. Não ineditamente ela percebia essa tensão entre as duas.

—  É… o que há, governanta Nyeo? Não faz parte das suas funções se intrometer nos nossos assuntos.

—  Hin Hee, não se abale conosco —  Li Chang Ru se enfiou no meio, como sempre, e puxou o braço da governanta com delicadeza para despertá-la daquele transe macabro.

A governanta finalmente quebrou o olhar com Min-joo e voltou a recolher a louça suja. A primeira esposa tinha uma boa afinidade com ela porque, até onde Ah Ra foi informada, Nyeo era serviçal dos Wang desde seu tempo na mansão.

—  Sinto muito, senhora —  a governanta respondeu firmemente para a senhora da casa e saiu, terminada a tarefa original, deixando-as.

Um clima diferente se instalou entre as esposas. Talvez porque a personagem principal das ofensas, a mãe de Gun, se tornara repentinamente distraída e pensativa. Ah Ra voltou a experimentar nova onda de tontura, confirmando que abusara do álcool e antes que tivesse tempo de deixar a mesa para se recompor no vestíbulo, o Sr. Wang começou a chamar a atenção de todos os convidados para o grande anúncio.

***

Se seu velho pai visse como Hansol conduziu sua vida pessoal após sua morte, teria enfartado em cada um dos seus casamentos. Ele fora imprudente e impulsivo ao escolher diluir tanto sua árvore genealógica, algo não apreciado pelos Wang. Na antiguidade, seus antepassados tiveram fins terríveis ao tomarem tal escolha.

Na maioria das vezes, tantas ex-esposas e os muitos filhos o deixavam muito cansado, contudo havia pequenos momentos mágicos onde era curioso observá-los à distância. Eles, sem perceberem, revelavam seus verdadeiros “eu” quando interagiam entre si. E era se baseando nessas observações e após muito meditar, além de partilhar a ideia com os seus acionistas e amigos, que o velho homem se decidiu pelo que informaria a seguir.

— Olá amigos… Espero que tenham apreciado bastante nosso evento. Vejo vários rostos animados e saciados, e isso me deixa extremamente feliz. Entretanto, enfim chegamos a finalidade dessa reunião. Ao meu anúncio.

Os convidados, inclusive sua atual esposa e as outras - curiosamente, embora não surpreendentemente, todas partilhando a mesma mesa - emudeceram para escutá-lo com atenção. Do fundo do salão, Shin vinha ressurgindo após um breve sumiço entre os presentes encarando o pai cheio de interesse enquanto Sun surgia na sala com demasiada rapidez.

— Aqueles que estão mais próximos a mim devem saber, está ficando evidente a cada ano que eu ando me cansando de estar na liderança da empresa. Faz mais de trinta anos que meu finado pai me delegou essa função, prazerosa e sacrificante em igual intensidade, e nos dias atuais sinto a chegada do momento de repetir o gesto com meus filhos. E eu tenho muitos filhos.

A plateia riu com gosto e Hansol deu uma pausa sabendo que esse era um grande motivo de piada na empresa, já acostumado com as muitas brincadeirinhas em torno disso.

— Cada um dos meus garotos, e minha garota, são especiais de uma forma diferente para mim. Eles nasceram de mulheres incríveis e eu devo honrar cada uma das suas personalidades únicas. Também devo dar oportunidade a todos para mostrarem o quão competentes eles podem ser… Pensando nisso, resolvi não passar a presidência para ninguém em especial.

— COMO ASSIM? — uma voz esganiçada ecoou no salão, a voz que ele prontamente identificou como sendo de Min-joo.

— Tive uma ideia muito melhor, minha cara ex-senhora — Hansol sorriu emulando o sarcasmo natural da segunda esposa — Meus sete filhos, sete porque Sook já deixou claro seu desinteresse pela empresa, vão ter a chance de serem CEO’s da Wang S.A. Cada um terá sua vez de mostrar como conduz nossa matriz e ao fim de um período que eu estipularei, eu e os acionistas escolheremos o mais digno para comandar esse patrimônio.

— VOCÊ FICOU LOUCO?! — Min-joo berrou jogando sua taça de cristal no chão. O estoque estava diminuindo consideravelmente naquela noite.

— HANSOL, QUE IDEIA É ESSA? TAEYANG E YUN MI DEVERIAM TER DIREITO INABALÁVEL SOBRE A EMPRESA! — Ah Ra, parecendo ébria, deu seus gritos também.

— Isso só vai dar mais briga entre essas crianças… —  Chang Ru se fez ouvir.

— Papai… Como o senhor pôde fazer isso comigo? — Gun perguntou próximo a ele, o olhar chocado.

— Eu disse para você não sonhar tão alto, irmãozinho — Yun Mi riu olhando para Gun.

— E ESSE DELINQUENTE TAMBÉM VAI FAZER PARTE DESSA DISPUTA? — Ah Ra retornou a gritar, apontando para Shin.

Hansol começou a perder a paciência. Mais uma vez sua família daria histórias hilárias para os acionistas. As mulheres perdendo a compostura, os filhos tumultuando. Irritado, ele gritou por cima de todos.

— CHEGA!

— Chega nada! — Min Joo deixou a sua mesa e partiu na direção dele — Nós vamos resolver isso agora. Gun tem mais direitos que qualquer um. O escritório ainda é no mesmo lugar?

— É sim — Ah Ra se uniu à senhora de vermelho e ambas partiram na direção dos corredores — Estamos te esperando lá, Hansol.

Num repente, as outras esposas, além de todos os filhos seguiram numa marcha revoltada para os aposentos privados da mansão. Hansol permaneceu alguns segundos, desconcertado, encarando as pessoas. Shin foi o último a passar.

— Acho que também devo entrar — comentou alegremente e sumiu para o corredor.

O senhor da casa deu uma última olhada para os rostos dos seus acionistas suspirando pesadamente e viu seu amigo, Doh Yoseob argumentar:

— Eu avisei que você deveria contar para sua família primeiro.


Notas Finais


Abraços e até a próxima!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...