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História Moondust (camren) - O Fim


Escrita por: tainamendes196

Notas do Autor


É minha primeira fic, entao peguem leve. Garanto que irao curtir pq a ideia da história ta muito boa.
Tt: tainamendes196

Capítulo 1 - O Fim


Fanfic / Fanfiction Moondust (camren) - O Fim

P.O.V Camila Cabello


Mamãe diz que não importa o quanto as pessoas sejam pobres, mesmo que você seja um ricaço, um duro ou algo do tipo, o mundo dá o que tem de melhor quase de graça. Por exemplo, o modo como a luz clara e quentinha da manhã reflete feito diamante na superfície do nosso córrego. Ou o próprio riacho, balbuciando música o dia todo, que nem Sofi fazia quando era bebê. A felicidade é de graça, o que é tão certo quanto o brilho das estrelas, os galhos secos que as árvores deixam cair para as nossas fogueiras, nossa pele à prova d'água e as línguas do vento circulando as folhas de nogueira antes de deslizar para os nossos ouvidos.
Pode ser apenas efeito do cachimbo de metanfetamina. Mas gosto da maneira como de graça soa poético.


Feijões não são de graça, mas são baratos, e aqui no Parque Moondust, devo saber quase cem maneiras de preparar feijões. Desde o tipo reidratado aos enlatados, feijões cozidos, feijão-fradinho, mulatinho...
Não parece importante. São apenas feijões, afinal de contas, que fazem soltar tremendos peidos, como diria minha irmã com risadinha. Mas quando alguém vive no mato, como Sofia e eu, sem água encanada ou eletricidade, com a mãe ficando um tempão na cidade, deixando você com a responsabilidade de cuidar e alimentar a irmã mais nova que tem um estômago que ronca que nem um terremoto, aí realmente se torna muito importante inventar jeitos novos e interessantes de preparar feijão.
Fico pensando nisso enquanto encho o restante da panela arranhada com a água do jarro de porcelana lascada e acendo a chama azul flamejante do bico de Bunsen: como posso fazer para que os feijões tenham um gosto diferente esta noite? Também penso em como queria que tivéssemos manteira para o restinho do pão, mas não temos, porque manteiga não fica boa fora do gelado.

Às vezes, depois de um tempinho longe, mamãe aparece do nada, agarrada a um saco de papel engordurado da lanchonete da cidade. Então, tudo o que comemos ganha uma camada grossa de manteiga, como abelhas de mel, porque eu e Sofi ficaríamos arrasadas se aqueles quadradinhos dourados fossem desperdiçados.
Pelo menos a gente tem pão. Fico feliz que Sofi não esteja aqui para me ver raspar os círculos verdes felpudos da parte de baixo. Se raspar com cuidado, nem dá pra sentir o mofo, que, quando eu farejo, sinto o mesmo cheiro que o solo da floresta tem depois de um mês mais úmido.

Assobio

Fico paralisada assim que enfio o abridor de latas enferrujado na latinha. Sofi? O estalar de folhas e gravetos sob pés desleixados e o som claro de galhos raspando no material brilhante de um casaco de inverno é muito barulho para ser feito por Sofi, com seu casaco de pano e passos tão quietos quanto os de um índio.
Mamãe? Observo a linha das árvores tentando localizar o brilho amarelo de seu casaco estiloso de esqui comprado em alguma loja chique. Mas o único amarelo que dá pra ver vem do sol, borrando os espaços existentes entre centenas de folhas brilhantes.
A gente não tá esperando ninguém. Penso na minha cara: as roupas surradas frouxas que nem pelancas de elefante, o cabelo pegajoso solto parecendo espaguete encharcado depois de ficar de molho no óleo de milho a noite inteira. Em minha defesa: passei dias agarrada ao violão, treinando uma parte que ainda tinha que ser melhorada. Mas isso, aqui na mata a alguns km de Miami, não tem muita importância. Aconteceu de apenas uma ou duas pessoas que faziam trilha trombarem no nosso acampamento em todos esses anos desde que mamãe escondeu a gente nessa maldita casa caindo aos pedaços no meio do mato.
Escuto com mais atençao. Nada. Talvez sejam só turistas. Passo os dedos pelo cabelo, depois esfrego a gordura em minha calça jeans.
Nas poucas vezes que me vi em espelhos de lojas chiques, não me reconheci. Quem era aquela garota esculhambada, magrela e com joelhos de gafanhoto? O único espelho que temos é um pedacinho de vidro que achei mo meio das folhas. Nele, só consigo ver um olho de cada vez, como um ciclope, ou metade do nariz. O belo contorno do meu lábio superior ou a penugem cor de pêssego na ponta da minha orelha.
"Sete anos de azar", diz mamãe depois de ver o caco do espelho. E nem fui eu que quebrei ele. A sorte não é de graça. Sete anos podem também ser dez, vinte ou para sempre, porque a sorte é tão rara quanto a manteiga é pra minha mãe, pra minha irmã e pra mim.
Cadê a Sofi? Caralho, onde ela se meteu? Eu me agacho, meus olhos examinando o chão à procura de um galho quebrado pra usar em minha defesa, só para o caso de eu nao conseguir pegar a espingarda a tempo. Depois da tempestade da noite passada, tem vários galhos para escolher. Os ruídos recomeçaram, e percebo que o som está vindo em direçao da casa. Fico rezando pra que Sofi não volte mais cedo da caça às fadas.

Vai ser melhor para os estranhos se forem embora sem ver nenhuma de nós.




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