Com um suspiro, Rogue se virou novamente na cama. A loira ao seu lado dormia já fazia algum tempo, mas o sonho não vinha para ele com a mesma facilidade que vinha para ela. Tinham conversado muito naquela noite. Ele, pela primeira vez em anos, disse o que realmente sentia em voz alta e, para sua alegria, recebeu em troca os mesmos sentimentos vindos de Lucy. Não tinha certeza de como chegaram na situação de confiança em que se encontravam, mas ele não tinha nenhum problema com aquilo. Se pudesse, ficaria daquele jeito com a maga pelo resto da vida.
Se virou mais uma vez, procurando o rosto adormecido de Lucy no travesseiro ao lado do seu. Já era a terceira vez que dormiam juntos daquele jeito, e ele ainda não se sentia no direito de se aproximar como queria. Ainda assim, se permitiu uma leve aproximação, deixando seu rosto logo em frente do da garota, e ficou assim por um tempo, de olhos fechados. Ele não sabia como prosseguir. Já havia dito tudo o que sentia, e já havia recebido de volta todos os pensamentos de Lucy, mas agora não sabia mais o que poderia fazer para dar o próximo passo.
Lucy era sem sombra de dúvida a garota mais incrível que conhecia. Com um coração puro, animação contagiante e coragem enorme, Rogue sabia que tinha sorte por tê-la compartilhando o mesmo sentimento que ele. Era realmente uma menina de ouro. “Além de ser linda”, completou em pensamento, mas não se demorou muito nessa parte. A parte mais bonita de Lucy estava em sua personalidade.
Delicadamente, Rogue puxou o cobertor para que cobrisse o braço da maga e se aproximou mais, apoiando seu nariz no topo da cabeça dela. Fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro dela lhe acalmando os músculos e pensamentos. “Também acho que te amo”, ela lhe dissera. Amor? Será que Rogue teria, mais uma vez, se apaixonado? Mas dessa vez ela lhe correspondia. Se era amor, por que não se entregar logo de uma vez?
“Por medo”, respondeu à própria pergunta. Mas dessa vez, com Lucy tão próxima de seu corpo e com seu cheiro embalando os sentidos de Rogue e o levando para um lugar distante, o moreno deixou para pensar em tudo depois. Apesar de todas as declarações, ainda tinham muito a conversar...
~*~*~
Frio. Muito, muito frio. Teria derrubado os cobertores de novo? Não, sentia-se bem coberta. Abriu os olhos e se encolheu mais na cama. Sentiu a presença de Rogue ao seu lado e estranhou. Ele costumava levantar mais cedo que todos. Aproveitando que o garoto estava virado para si, Lucy se aproximou mais de seu peito e encontrou calor ali. Ainda assim, calafrios percorriam seu corpo.
Sua cabeça girou quando ela tentou se ajeitar melhor, e a garota estranhou. O que estava acontecendo?
— Ei, Rogue — chamou, puxando a camiseta do homem ao seu lado e sentindo-se meio grogue — Rogue, acorda...
O moreno se mexeu, e a envolveu com um braço. Ainda estava acordando.
— Rogue, eu não me sinto bem.
Dessa vez, o moreno se sentou e olhou para ela preocupado. Coçou os olhos, espantando o sono, e viu as horas na lacrima ao lado. Até mesmo para ele aquilo era muito cedo.
— O que houve? — perguntou, sua voz ainda rouca pelo fato de ter acabado de acordar. Utilizando-se de uma delicadeza que não costumava demonstrar, Rogue afastou os cabelos da menina de seu rosto. Só quando entrou em contato com sua pele foi que entendeu. Lucy ardia de febre.
Levantou-se quase que imediatamente, pedindo que esperasse. Se xingou no caminho para a mala onde se encontravam os pertences gerais. Deveria ter pedido que ela levasse uma blusa no dia anterior, ou ter oferecido sua capa antes. Agora seria perfeito tê-la doente algumas semanas antes dos jogos e enquanto visitava sua família. Apenas seu olhar abatido já tinha quebrado o coração de Rogue, não sabia o que faria se ela piorasse.
Pegou algumas das ervas de Rain mesmo sem a permissão da garota. Ela entenderia. Preparou um chá da melhor maneira que pôde, e já começou a adiantar o café da manhã para que Lucy comesse alguma coisa.
— Rogue? — ouviu uma voz sonolenta atrás de si.
— Bom dia, Sting — disse ele, ainda ocupado preparando as coisas — ainda é cedo, pode voltar a dormir se quiser.
Ignorando completamente o moreno, Sting se aproximou para ver o que fazia. Reparou no chá e, o cheirando, se afastou com uma careta no rosto.
— Quem pretende matar com essa poção? Isso fede!
— Lucy está doente, idiota — Rogue terminou de cortar algumas frutas e começou a colocar tudo em uma bandeja que encontrara por ali — leve isso aqui para ela e faça companhia, já que não quer dormir. Ela precisa melhorar logo.
— Virou babá por vontade própria, Rogue? Achei que era Rain que cuidava dos doentes — Sting deu um sorriso cínico e pegou a bandeja, se dirigindo para o quarto antes que apanhasse.
Rogue não deu atenção e passou a terminar o café da manhã dos outros, aproveitando para limpar a bagunça do dia anterior. De seu quarto, uma risada alta chamou sua atenção. Ao menos Lucy estava se distraindo. Logo, logo ela estaria melhor.
Voltando para o quarto, Rogue encontrou Sting deitado em seu lado da cama, enquanto Lucy estava no mesmo lugar, tomando chá e soprando dentro da caneca por conta do calor. Pela sua careta, o gosto não era dos melhores.
— Cuidado, Lucy. Não quero que você morra jovem. Se por acaso se sentir enjoada por causa do chá, teremos a certeza de que é veneno. Então beba aos poucos, tudo bem? Não queremos que o veneno aja rápido.
Lucy riu novamente, e bebeu mais um gole do chá. Em sua mão havia uma torrada já mordida e ainda restava muito mais comida na bandeja. Apesar das risadas, ela ainda aparentava estar cansada e meio abatida. Sting parecia ter percebido isso, e suas brincadeiras não passavam dos limites. Rogue pegou algumas roupas em sua mala e foi ao banheiro para seu banho matinal, não sem antes mandar Lucy comer tudo que estava na bandeja para que ficasse forte. Sentia como se falasse com uma criança, mas não se importou e ela aparentemente também não.
Foi no meio de seu banho que Rogue ouviu o barulho alto do lado de fora seguido por vozes com tons preocupados. Secou-se como pôde e se vestiu rapidamente, saindo do banheiro para ver o que tinha acontecido.
— Droga, loira. Não pode se levantar e sair andando nesse estado, precisa ir devagar — ouviu a voz irritada de Sting.
— Desculpe...
— O que Rogue te deu? Um chá? Sabe quais ervas ele usou? — Rain também já tinha se levantado, aparentemente.
— Usei as mesmas que você usou quando estávamos treinando. — respondeu o moreno, já entrando no quarto — O que houve?
Lucy estava sentada no chão, Sting abaixado ao seu lado recolhendo cacos de vidro ao seu lado. Rain o ajudava na tarefa de recolher os cacos, então Rogue se aproximou de Lucy.
— Ela decidiu que seria uma boa ideia sair andando por aí com a xícara de vidro na mão e foi o que fez, mas esqueceu que a febre ainda não passou e sua fraqueza também não — respondeu o loiro, ainda irritado.
— Eu achei que podia pelo menos andar — defendeu-se Lucy enquanto Rogue a ajudava a levantar e a sentava na cama mais uma vez —, desculpa por preocupar vocês.
Logo, os quatro se encontravam amontoados na cama. Procuravam uma solução para que Lucy não se esforçasse demais, e ir à guilda não era uma boa ideia naquele dia frio. O resultado foi que um deles fosse avisar aos membros o ocorrido e que avisasse que a maga estelar ficaria de repouso no hotel naquele dia. Segundo Rogue, em pouco tempo ela estaria completamente bem de novo, mas ela precisava descansar nesse primeiro dia.
Lucy era uma pessoa agitada e animada, mas a diferença de animação estava estampada em seu rosto. A maga sorria e conversava normalmente, mas quando deixada sozinha se encolhia na cama e fechava os olhos, procurando dormir. Rogue a encontrou naquele estado quando foi avisar que Rain e Sting tinham saído para avisar a Fairy Tail sobre o ocorrido.
— Está se sentindo bem? — perguntou, sentando-se na beira da cama ao lado da menina.
— Só um pouco cansada — respondeu baixinho, soltando um sorriso fraco logo em seguida — se prepara pra bagunça, porque tenho certeza que Erza, Gray, Natsu e Happy vêm para cá. Pelo menos Natsu, mas duvido que qualquer um dos outros deixe de aparecer também. E Levy-chan, ela vai me falar sobre alguma erva medicinal que poderia me ajudar. Gajeel vai me mandar melhorar logo, assim como Mira provavelmente vai mandar alguma mensagem por algum dos outros — Lucy suspirou e abriu os olhos, virando-se para olhar diretamente para Rogue — eu senti tanto a falta deles...
Rogue fez carinho em seus cabelos e a menina voltou a fechar os olhos. Rogue não costumava gostar de bagunça, muito menos em sua casa. Mas se isso deixasse a maga melhor, não via por que não. Talvez até lhe fizesse bem.
~*~*~
— Luuuxy, não morra! — gritou um gato azul voador entrando de supetão no quarto onde Lucy descansava.
— Lucy, lute contra essa gripe com sua vida! Não se deixe vencer por algo simples assim! — Erza vinha logo atrás, seus olhos brilhando enquanto discursava sobre a força que deveríamos ter contra o mal.
— Oe, Erza, você está no caminho. Deixe-me ver Lucy melhor — reclamou Gray, sua camiseta perdida em algum lugar já distante.
— LUUUCE! — berrou Natsu, a peça que faltava para completar a bagunça no quarto de hotel — você é muito fraca, Luce. Como pôde se deixar derrotar por uma gripezinha?
Lucy, que antes se encontrava deitada e amuada, levantou-se na cama para poder cumprimentar os amigos, que logo estavam espalhados pelo quarto. Sting e Rain vinham atrás, arfando pela corrida atrás das fadas desesperadas. Rogue, por outro lado, se encontrava quieto no canto do quarto, passando quase despercebido pelos outros.
— Não estou morrendo, relaxem — riu Lucy, sem se importar com o exagero dos amigos — e minha febre já baixou, então vou melhorar logo.
Os amigos da loira se aproximaram mais, fuçando em suas malas e soltando comentários aleatórios apenas para irritá-la. Como nos bons e velhos tempos.
— Mas Lucy, não vamos ficar por muito tempo — disse Erza, cortando a animação dos outros dois. —; pegamos uma missão essa manhã, achando que você pudesse ir com a gente. Já vimos que não, mas precisamos ir de qualquer forma.
— Eu não vou! — declarou Natsu, deitando-se ao lado da loira e não se importando se aquela cama era ou não só dela.
— Você realmente não será necessário, foguinho — provocou Gray. — apenas a minha força é o bastante para acabar com aqueles monstros!
Quando a discussão entre os dois parecia eminente, um espirro fez-se presente no local. Todos voltaram seus olhares para Lucy, que sorriu envergonhada.
— Se quiserem lutar, vão lá fora — interveio Rogue, sem sair de seu lugar. — Lucy não está em condições de ficar no meio da bagunça de vocês.
Sua frieza habitual se fazia presente com todas aquelas pessoas ali. Ele não se sentia tão à vontade com eles e, para melhorar seu humor, Dragneel o estava irritando. Já não gostava muito do garoto por conta dos acontecimentos durante o treinamento de Lucy, mas não permitiria que ele saísse dos limites enquanto Lucy estivesse doente.
— Não se preocupe, Rogue. Nós já vamos. — Erza sentenciou, puxando Gray pela orelha para fora do quarto — Se Natsu fizer bagunça, conte-me. Ele terá sua punição.
Sem os outros dois no quarto, o local parecia mais silencioso. Lucy suspirou e voltou a se deitar na cama, cobrindo-se um pouco melhor. Natsu logo estava ao seu lado, sem fazer barulho, apenas se deixando observar a loira. Sting e Rain foram se ocupar, mas Rogue não saiu do quarto e continuou a observá-los. A saudade que Natsu tinha sentido de sua amiga era incalculável, e apenas de poder ficar ao lado dela e observá-la já o animava. Rogue entendia o sentimento, mas não podia negar o ciúmes que sentia daquela situação, onde o Dragneel deitava-se em seu lugar na cama e observava de tão perto a garota por quem Rogue sentia algo mais. Mas não fez nada para impedir aquilo. Sabia que seus instintos gritavam por dentro para possuí-la apenas para si, mas as coisas não eram assim. Lucy amava seus amigos e amava estar rodeada por eles. Rogue não tinha o direito de tirá-la de perto deles, além de que isso faria a garota sentir-se presa. Ele já a conhecia o suficiente para saber que seu espírito nunca aceitaria ser enjaulado, e ele mesmo se odiaria se a deixasse triste por conta disso. Então, mais uma vez, Rogue engoliu seu ciúmes e foi até a mala da loira, arrumando a bagunça que tinham deixado para trás e pegando uma muda de roupas para que ela tomasse um banho mais tarde.
— Oe, Rogue — ouviu Natsu chamando-o. Virou-se para ele, mas os olhos do rosado continuavam presos nas feições adormecidas de Lucy — ela realmente gosta de você. Você sabia disso?
Os olhos do rosado de repente voltaram-se para os surpresos de Rogue. O moreno não esperava que ele trouxesse isso à tona logo naquele momento, e seus olhos traziam um brilho perigoso.
— Não quero ela triste, Rogue. Depois de tanto tempo cuidando dela, sua felicidade não está mais apenas em minhas mãos. Isso me dá medo.
Ele voltou a olhar para a garota, seus dedos afastando alguns fios de seu rosto. Rogue estava admirado pela revelação do medo do Dragneel. Esperou alguns segundos para ver se o garoto gostaria de dizer mais alguma coisa e, quando percebeu que não, resolveu responder:
— Lucy é a garota mais incrível que conheço. Ela não precisa de mim para ser feliz, e sua independência é o que torna seu espírito tão apaixonante. Eu não pretendo tirar essa felicidade dela, e sei que ela não me deixará triste também. Mas não precisa se preocupar, ela é forte o bastante para cuidar de si mesma.
Natsu olhou novamente para Rogue, dessa vez com um sorriso no rosto.
— Faça-a a mulher mais feliz do mundo.
~*~*~
Quando Lucy acordou, seu corpo parecia mais leve. As ervas medicinais pareciam ter finalmente surtido efeito. Olhou ao redor e percebeu que até mesmo Natsu e Happy já tinham ido embora. Suspirou e se sentou, notando que já escurecia. Se espreguiçou e se levantou, decidindo tomar um banho. Reparou na muda de roupas quentinhas em cima de sua mala e sorriu. Rogue era mesmo muito cuidadoso com ela.
No caminho para o banheiro, ouviu barulhos de algum filme vindos do quarto de Sting e Rain. Ao dar uma espiada, viu os dois super animados com o que assistiam, e vez ou outra soltavam alguma exclamação para a lacrima onde assistiam. Sorriu com a visão e entrou no banheiro, despindo-se e entrando embaixo do chuveiro quente. O que ela gostaria mesmo era poder passar bons vinte minutos em uma banheira, mas o hotel não proporcionava tudo isso. Triste, mas ela aceitava o banho quente de bom grado.
Ao sair do banho já vestida com roupas quentinhas e com um moletom que não tinha certeza de quem era, Lucy sentiu o cheiro de comida que enchia o lugar. Seu estômago imediatamente reclamou, lembrando-a que não tinha chegado a almoçar. Se dirigiu para a cozinha e encontrou Rogue, como sempre com pelo menos três bocas do fogão ocupadas e picando alguma coisa para despejar em uma das panelas. Seu cabelo estava preso, assim como deixava quando treinava ou fazia alguma coisa que exigia mais de sua atenção. Lucy estava cansada de falar para si mesma sobre como achava o garoto sexy com o cabelo daquele jeito.
— Rooogue, estou com fome... — ouviu Sting reclamar do quarto. O filme provavelmente estava interessante demais para que ele fosse reclamar na própria cozinha.
— Só mais alguns minutos, aguente.
Lucy se sentou, ainda sem revelar sua presença ali. Estava gostando de observar o moreno trabalhar em silêncio.
— E você, Lucy, trate de comer bem, sorte a sua que tive dó de te acordar para o almoço — ele completou, virando-se para colocar uma salada na mesa.
— Como me descobriu? — perguntou Lucy, levantando-se para ajuda-lo agora que já não tinha como se esconder.
— Seu cheiro — ele disse, ficando em silêncio em seguida enquanto aceitava a ajuda de Lucy para supervisionar as panelas.
Não disseram mais nada enquanto trabalhavam, até que Lucy começou a procurar algum assunto para não ficarem em completo silêncio.
— De quem é o moletom que estou usando?
— Meu, emprestado.
— E há quanto tempo Natsu foi embora?
— Ele só ficou mais uma meia hora depois que você dormiu.
— Ele fez muita bagunça?
— Não.
Lucy franziu o cenho. Não gostava de respostas curtas, o assunto não fluía. Rogue costumava conversar assim com ela no começo, mas tinha começado a se abrir mais com o tempo. O que tinha acontecido?
— Você está bem?
Rogue a olhou confuso, como se não entendesse sua pergunta. Imaginando que sua mente estava criando confusões por ainda não estar recuperada, Lucy voltou a ajuda-lo silenciosamente. Já que era assim, preferia não incomodar.
O Dragon Slayer das sombras, por outro lado, estranhava o silêncio da garota mais do que a pergunta da mesma. Sabia que Lucy gostava de conversar e essa era provavelmente uma de suas especialidades, não entendia por que ela tinha se silenciado de repente. Em seu interior, porém, uma coisinha realmente o incomodava. Apesar de seus esforços, ainda não tinha conseguido acalmar por completo seus instintos super-protetores que sentia pela loira. De certa forma, gostaria de afastá-la de tudo e todos até que ela se sentisse recuperada novamente, e não se expor tanto como ela provavelmente faria.
Terminaram de preparar a janta e comeram todos juntos, como sempre faziam. Era quase como uma tradição familiar realizar as refeições juntos. Mesmo que a bagunça de Sting irritasse todos os outros, e normalmente as discussões se prolongavam por todo o momento, ainda gostavam de ficar juntos como estavam.
Já alimentados e Lucy já tendo tomado seu remédio, lá estavam os bocejos. Tinha sido um dia preguiçoso, e queriam passar ainda mais tempo na cama para que pudessem fazer alguma coisa no dia seguinte. Lucy, inclusive, parecia também estar com sono mesmo depois do tanto que tinha dormido à tarde. O remédio e sua gripe a deixavam meio mole, mas os outros pareciam não se importar. Só a queriam melhor logo.
— É para se cobrir bem essa noite, ouviu? — resmungou Sting, bagunçando seus próprios cabelos enquanto ia para o quarto que dividia com Rain — não vou ser babá de ninguém amanhã.
— E se acontecer qualquer coisa, acorde o Rogue — lembrou Rain, seguindo o loiro para o quarto — me acorde se precisar de algum remédio também. Não me importo de acordar se for você — concluiu, dando um beijo na testa de Lucy antes de finalmente entrar em seu quarto e fechar a porta. Foi uma cena um tanto engraçada, considerando que Rain era um tanto menor que Lucy e teve que se esforçar para alcançar seu objetivo.
Lucy suspirou. Não era assim tão frágil, mas mesmo assim insistiam em trata-la como uma boneca de porcelana. Escovou seus dentes ao lado de Rogue e os dois se dirigiram para o quarto. O garoto pegou seu pijama e voltou ao banheiro para se trocar enquanto Lucy já se ajeitava em seu lado da cama. Ao deitar a cabeça no travesseiro, um cheiro amadeirado chamou sua atenção. Puxou a manga do moletom para seu nariz e respirou fundo. Sorriu sozinha e fechou os olhos. O cheiro de Rogue era muito bom...
A cama afundou ao seu lado e ela voltou a abrir seus olhos. Ele ainda estava sentado, de costas para ela, se ocupando em soltar seu cabelo e procurar alguma coisa em sua mala. Lucy se aproximou silenciosamente e passou levemente as mãos pelo cabelo do garoto. Ela já tinha feito aquilo antes, e a sensação dos fios negros entre suas mãos brancas era sempre maravilhosa.
Rogue parou o que estava fazendo e sentiu os dedos da maga em sua cabeça por um momento, fechando os olhos. Devagar, se deitou para trás, e se acomodou na barriga da garota.
— Por que você estava estranho hoje?
Ele se levantou um pouco para olha-la nos olhos, e decifrou preocupação em seus olhos. Do que ela tinha medo?
— Senti ciúmes — foi aberto, não via motivos para esconder algo tão banal e sem sentido dela.
As feições da menina mudaram para confusas, e Rogue aproveitou o momento para se deitar de forma que ficasse cara a cara com ela.
— De quem?
Rogue deu de ombros. Esse terreno já era um pouquinho mais perigoso. Não queria que ela achasse que ele seria possessivo com ela, sabia que se fosse ela acabaria triste.
— Ninguém. Já passou. Não se preocupe com isso.
Nesse momento, as mãos de Lucy, que antes estavam em seus cabelos, recuaram e seu olhar se abaixou. Ela parecia magoada. Rogue sentiu um aperto em seu peito pela visão, e suspirou. Será que estava sendo muito frio ou grosseiro com ela?
— Você está estranho desde que viemos para cá — ela sussurra, seus olhos voltando a encontrar os de Rogue — você não está se sentindo confortável, né? Quer voltar para Crocus? Vocês podem voltar se quiserem, eu fico com alguém da guilda, posso me virar...
— Claro que não — ele respondeu, um rosnado querendo se formar em sua garganta só de se imaginar deixando-a sozinha — somos um time, não vamos te deixar sozinha aqui.
— Mas não quero que você fique irritado por não estar se sentindo bem. Se for assim, o melhor mesmo é voltar e...
— Lucy — Rogue interrompeu, colocando suas duas mãos em cada lado do rosto da garota — irritado eu ficaria se estivesse longe de você sem saber sobre seu estado.
Nesse momento, se calaram. Lucy por não saber como responder àquilo, e Rogue por não saber como prosseguir. Na falta de palavras, ele apenas se aproximou mais, até que estivesse com seu rosto diretamente à frente do de Lucy, e seus corpos praticamente colados. Brincou com os cabelos da maga, e aproximou um pouco mais seu rosto do dela.
— Posso? — perguntou, os olhos presos aos de Lucy, e juntou seus lábios antes de receber uma resposta. Sentiu as mãos da garota segurarem sua camiseta e puxarem-no um pouco mais para perto enquanto aprofundavam o beijo. Aquilo foi o bastante para despertar mais alguns instintos em Rogue, mas ele voltou a ignora-los enquanto estavam fracos. Lucy provavelmente ainda não se sentia confortável para fazer mais do que estavam fazendo no momento, e Rogue só daria o próximo passo com a total permissão da garota.
Separaram-se e o garoto abriu os olhos, observando o rosto de Lucy naquele momento. Tinha seus olhos fechados e um pequeno sorriso no rosto. Rogue amava como ela sempre acabava por soltar esses sorrisos durante os beijos, mas não disse nada sobre isso.
— Idiota — ela disse baixinho, encaixando ainda mais seu corpo ao de Rogue —, vai acabar pegando minha gripe.
Rogue riu, e a beijou de novo. Estava apaixonado por aquela garota, e de alguma forma não conseguia mais segurar aquilo em seu peito.
— Lembra que você perguntou o que nós somos ontem à noite? — perguntou, tentando resgatar a memória da garota. — Vou repetir minha pergunta: o que você quer que sejamos?
Lucy levantou as sobrancelhas, provavelmente sendo pega de surpresa. Pensou por algum tempo e sorriu, um sorriso lindo que Rogue tratou de gravar em sua mente.
— Será que poderíamos estar, talvez, em um relacionamento um tanto mais sério? — perguntou a garota, ainda sorrindo. Em seu peito, o coração batia forte. Difícil dizer se por alegria, ansiedade ou ambas.
— Se a senhorita deseja — brincou Rogue —, então não vejo por que não.
Naquela noite, dormiram mais próximos um do outro do que tinham das outras vezes. Rogue sentia seu cheiro misturado ao dela de maneira tão fascinante, e adormeceu pensando naquilo. De alguma forma, aos poucos parecia que tudo que os representavam estava começando a se fundir. Começou com a pequena joia de Lucy, e agora seus cheiros também estavam seguindo o mesmo caminho. Imaginou onde aquilo levaria, e quais obstáculos encontrariam pelo caminho, mas tentou não se importar no momento. Estava com ela, e era isso que importava.
I’ve been looking for the conqueror
But you don’t seem to come my way
I’ve been looking for the only one
But you don’t seem to come my way
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