História My Best Photo - Capítulo 7 - Plano Errado

POV Camila

Lauren estava péssima. Seus cabelos estavam extremamente bagunçados, seu rosto estava vermelho por conta de seu choro na boate e parecia muito cansada. Seus olhos verdes estavam meio avermelhados, enquanto ela com os olhos um pouco abertos, estava me encarando, triste.

Fui ao banco de trás com ela, enquanto Normani e Dinah estavam conversando baixo no banco da frente do carro. Eu não me importei com o que elas conversavam, pareciam tensas, e provavelmente não queriam que eu me metesse na conversa.

-Pode descansar. –falei- Quando chegarmos a sua casa eu lhe acordarei.

Sem falar nada, seus olhos se fecharam. Ela estava dormindo, parecia tão cansada. Lucy nem devia saber que ela já foi embora. Infelizmente eu não posso voltar lá e dar um soco bem no meio de sua cara.

-Estamos chegando. –disse Dinah ignorando o que Normani tinha acabado de lhe falar, causando uma indignação na mesma.

Alguns minutos depois, já estávamos em casa.

-*-*-*-*-

-Será que ela terá condições de ir para o colégio amanhã? –perguntou Normani- Ela parece cansada.

-Ela está cansada. –afirmou Dinah- Não acho que ela terá condições de ir à escola. O que você acha Mila?

Olhei Lauren novamente, que dormia em sua cama profundamente.

-Ela ficará em casa. –disse decidida- Lauren não terá condições de ir para o colégio. Qualquer coisa eu deixo a comida pronta, com alguns filmes aqui e se ela acordar muito cedo ela fica aqui vendo enquanto eu estou na escola. Eu queria faltar, mas não posso.

-Ela não gostará de ver que você a deixou, aqui sozinha. –Normani comentou.

Nós três olhamos para Lauren. Cruzei os braços, sem saber direito o que fazer. Ouvi seu celular tocando dentro de sua bolsa. Aproveitando, corri até sua bolsa para tocar o aparelho que tocava uma música de rock bem alta.

Ali dentro achei várias coisas, como chiclete, folhas de anotações de aula que não sei o que estão fazendo ali, uma identidade falsa (provavelmente feita por Lucy) e assim achei o seu celular.

-Alô?

-Alô? Lauren é você?

Percebi a voz de Lucy. Uma sensação de raiva tomou conta de meu corpo, que no momento tinha vontade de partir para cima dela e lhe dar vários socos.

-Não, é a Camila. O que você quer?

-Camila... Desculpe, eu não sei o que deu em mim. Lauren está bem? Por favor, preciso me desculpar com ela pelo que aconteceu.

-Você acha mesmo que eu deixarei você falar com ela? –perguntei indignada- Eu não sei o que aconteceu aí, mas sei que se você estivesse do lado dela, ela não estaria quase desmaiando. Sério, isso foi ridículo...

-Eu já pedi desculpas. Por que você agora está tão chateada comigo só porque eu não cuidei dela? Isso não é sua tarefa, já que estão namorando?

Lucy pensa que eu e Lauren estamos namorando. Isso faz parte do plano, não faz? Não sei se o plano ainda está de pé.

-Sim, eu posso até ser a namorada dela, mas isso não é motivo que eu vá atrás dela em todos os lugares que ela frequenta. Ela não estava sozinha, ela estava com você, que a conhece há mais tempo que eu. Eu pensei que estaria tudo bem, mas pelo visto me enganei.

Ela não respondeu.

-E outra coisa, caso a Lauren volte a falar com você depois disso, você tem muita sorte de ter uma amiga tão gentil como ela, que mesmo quando tenta machuca-la, ela continua conversando e sendo gentil.

-Camila...

-Eu não tinha nada contra você. Sério, eu não tinha absolutamente nada contra você. Mas depois disso, eu não consigo nem mais olhar na sua cara.

-Camila, por favor, me escuta...

Fiquei em silêncio para que ela falasse.

-Lauren tem muita sorte te ter alguém como você. Desculpe se eu não pude ser uma boa amiga para ela, pelo menos eu me sinto feliz por ela ter alguém como você, que a protege sempre. Sério... Espero que algum dia vocês possam me perdoar.

Eu nem sabia direito o que ela havia feito, mas por ela ter ligado ao ponto de chorar enquanto falava, tenho certeza que ela fez algo naquela boate que provavelmente provocou esse choro em Lauren.

Eu não sabia o que responder a ela, mas nem foi necessário, porque ela encerrou a ligação. Tirei o celular do meu ouvido, ainda tensa. Dei um suspiro, e virei para falar com Dinah e Normani.

O estranho é que elas tinham saído do quarto e eu nem percebi, devem estar indo conversar sobre os assuntos particulares delas. O que eu percebi era que tinha alguém me encarando. Quando olhei para a cama, vi Lauren com seus olhos um pouco abertos.

-Lauren... –me aproximei da ponta da cama, onde ela estava deitada- Está tudo bem?

-Acordei com a conversa... –ela falou, com sua voz falhando um pouco- Eu ouvi tudo.

Engoli em seco.

-Não fica triste comigo por ter falado assim com Lucy, é que eu acabei ficando muito irritada. Sério, não fica chateada comigo.

-Eu não estou chateada com você. Obrigada, na verdade. Eu não sabia que você se importava tanto assim comigo.

Corei um pouco e sorri.

-Sempre me preocuparei com você.

Ela sorriu também. Fiquei ao lado dela, segurando sua mão enquanto a esperava dormir. Mesmo depois de quando ela já havia pegado no sono, continuei mais um pouco perto dela, apenas a olhando e me apaixonando cada vez mais.

-*-*-*-*-

[08 de novembro – 08h13min]

Depois de uns vinte e quatro nomes, a professora começou a chamar os nomes que eu conhecia.

-Shawn Mendes.

-Presente. –Shawn não parecia tão animado. Na verdade, o nível de animação dele na escola era pior que a animação de Dinah.

-Veronica Iglesias.

-Presente. –ela estava triste, percebi isso em sua voz.

Até hoje eu não entendo porque a chamada a feita aleatoriamente, e não por ordem alfabética. Isso só acontece na aula dessa professora, não entendo o porquê disso, mas é melhor eu nem comentar nada.

-Ally Brooke.

-Presente. –Ally como sempre animada.

-Lauren Jauregui.

-Ausente. –respondi- Ela está se sentindo mal. Não teve condições de vir para cá hoje.

Joguei um olhar indignado para Lucy, que abaixou a cabeça se sentindo culpada. Eu não podia fazer absolutamente nada por ela. O que ela falou ontem para mim até me deixou com um pouco de pena dela, mas não muita porque eu ainda preciso descobrir o que ela fez.

-Camila Cabello.

-Presente. –fui a última da chamada, nesse ponto ninguém prestava mais atenção nos nomes chamados.

-Certo, entregarei o teste para vocês. –a professora pegou os testes- Estou decepcionada, a maioria tirou nota baixa. Eu não entendo, eu explico muito bem a matéria e passo exercícios...

Exercícios que ela nem corrige.

Enquanto ela ia entregando, percebi o olhar triste dos meus colegas de classe. Pelo visto poucos tinham estudado para esse teste. Ally pareceu feliz com sua nota, o que eu não vejo muita novidade, enquanto Normani bufou e jogou a prova na mochila.

-Camila querida. –a professora veio em minha direção com duas provas- Você é uma amiga muito próxima de Lauren, poderia entregar a ela, por favor?

-Sim claro.

A professora entregou minha prova e a de Lauren. Tirei a nota máxima, e não pude deixar de espiar a nota de Lauren. Lauren se saiu muito bem, ela só não tirou a nota máxima porque errou uma questão de múltipla escolha.

Fiquei feliz por ela, que tinha se esforçado tanto para tirar uma nota boa.

Depois, o sinal bateu e fomos para o intervalo. Saí da sala conversando com Ally, que me contava o que estava acontecendo com a sua família.

-Eles acham que eu estou me afastando muito deles. –ela comentou meio triste- Eu avisei a eles que eu não estou me afastando, mas parece que eles não me compreendem. Minha tia teve uma briga com a minha mãe e a coisa está bem feia. O pior é que meu pai defendeu a minha tia. Imagina a minha mãe como está?

-Não consigo imaginar. –comentei- Você teve que ouvir a briga inteira?

Ela assentiu meio chateada. Abracei-a de lado e fomos procurar por Normani e Dinah. No caminho, nos esbarramos em Veronica, que continuava triste. Geralmente estava sorrindo, mas dessa vez não.

-Oi Veronica. –a cumprimentei- Aconteceu alguma coisa?

Ela assentiu e enxugou os olhos. Imaginei que tinha algo haver com o namorado dela, então olhei ao redor do corredor e o vi com uma garota.

-Ele terminou comigo de repente. –ela falou- Lucy tinha me avisado, mas eu não tinha dado atenção. As pessoas estão debochando de mim, falando que ninguém me aguenta realmente. Eu não sei se isso é verdade.

Pelo canto do olho, pude perceber que Lucy a olhava, magoada.

-A Lucy realmente te avisou. –coloquei minha mão sobre seu ombro- Você gostava muito dele, por isso não deu atenção para o que ela lhe contou. Vai lá falar com ela... Ela se preocupa com você.

Lucy assentiu com um sorriso fraco e foi em direção à Lucy. Nesse momento eu me dei conta. Lucy não se preocupa com ninguém. Geralmente não, na verdade. Tem um motivo para que ela ficasse tão preocupada com Veronica por conta desse namoro e ainda ter terminado o dela de dois anos, é porque a própria queria um relacionamento novo.

“...Provavelmente, a pessoa que ela queria estava namorando. Ela então tentou descobrir motivos que podiam acabar com esse relacionamento para assim conseguir ficar com essa pessoa”.

Quando terminei de contar minha teoria louca para Normani, Dinah e Ally, elas me encararam como se eu fosse doida, com exceção de Dinah que pareceu ter ficado convencida do que eu falei.

-Se Lucy gosta da Veronica... Por que ela nunca contou? –perguntou Ally.

-Veronica estava irritada com Lucy, lembram? –perguntei- Elas não se falavam com tanta frequência. Eu acredito que Lucy queria colocar ciúmes a Vero se saísse com a Lauren, mas aí alguma coisa aconteceu na boate... Lauren e Vero conversam muito, então era bem capaz que Lauren contasse tudo para ela, assim a deixando, bem chateada com a Lucy.

-Faz sentido. –disse Dinah animada- Mas para termos certeza, precisamos descobrir o que aconteceu na boate.

-Assim que a aula acabar, vamos para a casa de Lauren, tudo bem? –elas afirmaram.

Antes que o sinal batesse senti Shawn me cutucando no ombro. Ele sabe que eu não gosto disso.

-O que foi? –perguntei irritada.

-Você não vai acreditar. –ele falou animado- Estou namorando.

Esqueci que eu estava irritada com ele e pulei de alegria.

-Sério, com quem? –indaguei ainda pulando.

Ele sorriu maliciosamente.

-Você descobrirá logo. –ele disse. Fiz uma cara de indignação e ele riu- Ele pediu que eu não contasse agora. Prometo que contarei depois, tudo bem?

Afirmei com a cabeça, mesmo que eu quisesse saber agora.

-*-*-*-*-

[13h47min]

Mal entrei em casa e fui correndo ver se estava tudo bem com Lauren. Dinah, Normani e Ally entraram logo atrás, mas não tão desesperadas quanto eu. Pude ouvir Dinah murmurando algo como “O que o amor não faz com uma pessoa...”, enquanto Normani retrucou “Por isso que eu não amo ninguém.”.

Quando entrei no quarto de Lauren, ela já estava acordada. Estava sentada em sua cama vendo alguma série na televisão, eu não consegui identificar. Já tinha tomado um banho, percebi porque seu cabelo ainda estava molhado.

Ela sorriu assim que me viu.

-Oi. –ela disse animada.

-Oi. –falei me sentando ao lado dela e a abraçando- Você me deixou preocupada, sabia disso?

-Desculpe, eu não tenho culpa se você me ama tanto. –ela falou rindo e eu corei, mas ela não viu porque ainda estávamos abraçadas.

-Estamos aqui. –Dinah falou interrompendo o clima. Aliás, que clima? – Seria muito bom se também pudéssemos receber um abraço, até porque ontem fui eu que dirigi.

Lauren riu. Eu a soltei e dei espaço para que as meninas a abraçassem também. Lauren poderia até estar sorrindo, mas não parecia realmente feliz como sempre. Elas se sentaram na cama também, e fizemos uma rodinha ali com nós cinco.

-Conte o que aconteceu. –pediu Ally- Pelo que as meninas falaram você estava péssima.

Ela respirou fundo.

POV Lauren

“Quando chegamos lá, bebemos. Eu achei que não faria efeito muito rápido, mas o pouco que eu bebi no início me prejudicou. Então eu falei a Lucy que iria ficar sentada em algum sofá mais longe.”

“A música cada vez ficava mais alta, eu não sabia direito o porquê de eu ter sugerido dar um saída, sendo que a Lucy com certeza falaria desse lugar.”

“De repente, ela chegou ao meu lado e tirou uma foto comigo, sem falar absolutamente nada. Eu estava tonta, então demorou até que eu percebesse que era ela.”

“-O que você está fazendo? – perguntei.”

“-Tirando uma foto. – ela respondeu. Pelo pouco que eu vi da tela do celular, ela estava mandando a foto para o particular de Veronica.”

“-Por que está mandando para o particular da Vero...?”

“-Quero que ela perceba como estou me divertindo sem ela.”

“Antes que Lucy saísse da minha vista, eu percebi o que estava acontecendo. Pensei que estava saindo com uma amiga para me divertir, mas ela estava apenas me usando. Pelo menos naquele dia ela estava.”

“-Você está me usando! –gritei- Eu não acredito nisso! Você quer apenas colocar ciúmes na Veronica, não quer?”

“Ela com raiva, gritou de volta.”

“-Ainda bem que você sabe o que eu realmente quero!”

“Em toda a minha vida, eu nunca me senti tão traída. Saber que eu estava com uma pessoa só por interesse me deixou frustrada. Ela não falou mais nada, apenas saiu andando para procurar seus amigos.”

“Comecei a beber cada vez mais, e algumas vezes ela aparecia para tirar mais foto comigo. Eu não conseguia dizer nada, porque eu tinha bebido demais. Então eu peguei o meu celular e tentei falar com você, Camz”.

Camila me olhou com pena.

“Uma hora eu não aguentei e comecei a chorar. Lucy nem parecia ligar para aquilo. Ela tem uma resistência impressionante com álcool, então estava totalmente consciente do que estava acontecendo.”

As meninas não sabiam o que dizer. Não foi uma história tão emocionante, nem triste. Apenas dei de ombros, eu não queria ouvir um “sinto muito” ou “lamentamos por você”, com certeza não era isso.

Eu queria apenas sentir que tinha alguém que realmente gostasse de mim. Não alguém que estava me usando, ou então queria apenas ficar comigo em um dia e no outro largar. A pessoa que eu sentia algo me usou, e eu não sei como superar isso.

A pessoa que eu SENTIA algo. Não consigo mais falar que eu gosto dela depois do que aconteceu.

-Lauren... –Ally falou- Você gostava dela...

Assenti com a cabeça, sem falar absolutamente nada.

-Sabe... Eu não acho que a gente devesse ficar com raiva dela. –disse Camila. Olhei-a confusa, enquanto ela apenas deu de ombros- As pessoas erram. Todas nós erramos em algum momento na vida. Em nenhum momento eu tive a ideia mais certa do mundo, ou a ideia que ajudasse a todos, mas pelo menos eu tentei pensar em algo. O que eu quero dizer é que as pessoas não precisam acertar totalmente, mas precisam errar de vez em quando. Quando erramos e percebemos isso, tentamos acertar, e ás vezes conseguimos acertar em dobro do que acertaríamos na primeira vez sem errar.

Ela deu uma pausa, então continuou.

-Muitas pessoas querem perdão e poucas são perdoadas. Elas não acertarão dá próxima vez se não receberem esse perdão. Sentirão medo que a mesma coisa aconteça na próxima vez e perderão as esperanças de que talvez elas acertem.  O perdão que Lucy quer não é para ela ter esse mesmo plano com outra pessoa, e sim que essa pessoa que a perdoou ajude-a a ter um plano melhor. Todo erro tem um acerto.

Eu e as meninas não falamos nada por pelo menos cinco segundos. Camila até olhou para o lado tentando disfarçar o seu constrangimento por esse discurso que tinha feito. Um discurso maravilhoso.

-Genial. –falei- Sério isso é genial.

Ela sorriu.

-Como foi que você começou a olhar as pessoas desse jeito? –perguntei.

Ela deu de ombros.

-Sabe, eu comecei a olha-las por outro ângulo.