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História My Imperfect Puppet: Born To Die - Nascemos para Morrer


Escrita por: lisbeth_wg

Notas do Autor


Oeeee szsz
Eu sei que eu disse que essa semana que passou seria maratona e tudo mais, mas adivinha quem esqueceu disso? Sim, eu. Na verdade, foi um erro de cálculo e distração minha mesmo. A maratona vai ser essa semana, e... Bom, será a ultima semana de My Imperfect Puppet s///z É hora de dar "tchau". Me julguem, mas nunca assisti teletubbies, era bem assustador (olha quem fala) shuahs
Sou realmente muito grata por tudo que vocês fizeram, desde os comentários até as ameaças shausha Saibam que tudo isso fez com que a fanfic chegasse até aqui e é um GRANDE "até aqui". Provavelmente quando a fanfic acabar, estarei abandonando essa conta também, não digo abandonando o site, mas fazendo uma nova conta mesmo. Ainda tenho projetos e se tudo ocorrer bem (rezando para passar no vestibular), postarei mais fanfics, dessa vez, sem longos atrasos hushaush
Isso tá parecendo uma despedidaaaa shau
Comentários, opiniões e xingamentos serão aceitos, xingamentos é novidade, principalmente depois dessa capítulo.
Amo vocês povooo sz

Capítulo 55 - Nascemos para Morrer


 

 

 — Você mentiu para mim! — berrou Konan, lágrimas abundantes preenchiam seus olhos compulsivamente, prendendo-a no próprio mundo.

Sasori caiu de frente para Sakura, como um abraço, de modo que não conseguiu resistir e o apertou ainda mais forte entre seus braços, sentiu cada parte de suas costas com as mãos, o tórax, os braços e então o rosto, cansado e de olhos fechados, mas respirando. Sorriu, e na verdade quis chorar. Ele estava próximo, agora verdadeiramente próximo. Um pouco sem jeito, com todo o cuidado possível para não machucá-lo enquanto estivesse inconsciente, o deitou em suas pernas e rasgou uma parte do próprio kimono, suspendendo a manga do sobretudo que ele usava e amarrando a tira no braço baleado. Já havia tratado de ferimentos semelhantes em diversos momentos de sua vida, entretanto, lágrimas escorriam e caiam no queixo e na maçã do rosto adormecido. Ele estava realmente muito perto, tão perto que temeu. Sentiu os ossos vibrarem, como se eles estivessem fora do corpo, a energia que somente ele proporcionava preencher sua carne e misturar-se a corrente sanguínea, como droga. Temeu outra vez quando os dedos se afastaram da tira de pano em volta de seu braço e mais lágrimas caíram no rosto de Sasori, pois pela primeira vez, Sakura conseguia entender o que Itamo havia dito que ele sentia. Temia que ele não estivesse seguro perto dela. Temia feri-lo sem saber.

Agarrou-se a ele, protetora, mesmo que o perigo também habitasse nela.

— Konan-chan, o que está dizendo? — a voz de Itachi se instalou lentamente na floresta. Ele desceu do topo do grande rochedo em um piscar de olhos.

— Você mentiu para mim, você disse que era o guardião do medo, me prometeu que eu nunca mais sentiria medo — Konan fungou como uma criança, espremendo os lábios a tal ponto que pareceu querer arrancá-los, a maquiagem borrando o rosto claro com trilhas negras. — Eu estou tão assustada.

Vindo de longe e passando por Konan, que ainda abraçava desesperadamente o corpo morto de Nagato, a ajuda apareceu em forma do rosto de Ino, com mais alguns agentes Anbu, que Sakura notou serem enfermeiros. Sorriu instantaneamente, soltando o ar pela boca em cansaço e alivio, sentindo que agora Sasori estaria a salvo.

— Sakura-testa! — chamou Ino, poucos metros antes de chegar, retirando uma maleta de primeiros socorros da mochila que um agente Anbu de cabeça rapada levava.

Ino quase saltou, agachando-se ao seu lado e analisando rapidamente Sasori, para depois analisá-la. Os olhos azuis se arregalaram.

— Meu Deus! Eu cuido desses ferimentos!

Foi quando notou que o motivo de estar zonza era por causa do ferimento superficial na barriga e no braço, que sangrava excessivamente, pintando o tecido branco. Branco. Continuava sendo tão irônico o fato de ninguém saber que sua cor favorita era vermelho. Abriu a boca para dizer que primeiro cuidasse de Sasori, mas um inesperado mexer de pálpebras a fez prestar atenção no rosto que despertava em seu próprio ritmo, sem os olhos demoníacos. Prendeu a respiração.

— Veja — exaltou Ino, mas antes que terminasse a frase, uma sombra engoliu suas palavras.

Abruptamente Itachi a pegou pelo braço, sem qualquer palavra, muito menos uma olhada para demonstrar suas intenções, ele a arrastou com sua força sobrenatural até um pouco mais próximo do grande rochedo entre as arvores. Sakura superou a breve vertigem causada pelo deslocamento inesperado e olhou para trás, repuxando o braço, no entanto, os dedos apertavam seu antebraço forte demais, a ponto de Sakura ter certeza que ficaria roxo depois. Roxo do mesmo modo que ele dissera nunca fazer. Itachi era um perfeito mentiroso, não se admirava dele mesmo acreditar nas próprias mentiras.

— Me solta!

Olhou para trás outra vez, Ino e o agente de cabeça rapada levavam Sasori para perto de um tronco de arvore caído, o único ponto esverdeado no chão que fazia contrastes com as folhas verde-escuras de pinheiros cobertas de neve, sempre resistentes ao inverno intenso. Não conseguiu ver muito além, Itachi firmemente a pegou pelos braços e em seguida, a obrigou olhar para as íris negras perturbadoras. Ele estava furioso, por um motivo que Sakura suspeitava.

— Olhe para mim — ordenou.

— Não — afastou o rosto de suas mãos. — Me solta.

— Solte a Sakura-chan! — a voz de Naruto, por mais potente que houvesse soado entre o resmungo de agentes feridos e soluços de Konan, não conquistou atenção de Itachi.

Ele continuou encarando, imutável. Suas mãos tremiam. Medo penetrou a carne de Sakura de repente. Itachi não parecia estar apenas tocando em seu rosto, havia algo a mais, um risco desconhecido saindo de seus olhos. Alguma coisa se alterava. Mas o que? O que estava alterando?

— Não ouviu? — a voz de Gaara se seguiu de um trincar contínuo de fuzis sendo postos em mãos. — Solte-a, Uchiha!

Itachi olhou para eles por cima dos ombros de Sakura.

— Calem a boca! Ela é minha noiva — retornou a olhá-la. — Você é minha noiva. É tudo que eu tenho na minha vida, deve ficar comigo.

Sakura não via nada além dos olhos, mas imaginava a cena: todos ao redor de Itachi, apontando para ele, consequentemente para ela também.

— Chega, Itachi. Acabou, não vê? Sua melhor arma acaba de quebrar e você não está muito longe disso também!

— Eu? Quebrar? Não, querida, eu nunca vou quebrar.

— Como pode ter tanta certeza? — Sakura riu, balançando a cabeça e achando engraçada a certeza irrefutável de Itachi em tudo, mesmo estando obviamente errado. — Você é tão inteligente, Itachi, mas porque não consegue ver o que está diante de seus olhos? Tudo que você acha ser certo, na verdade não é. Eu não sou sua. Eu nunca fui sua.

— Mentira. Não sabe o que está falando, você se enganou por bastante tempo até aqui, quem garante que não está se enganando agora?

Sakura não estava errada e disso tinha certeza. A resposta era tão clara para todos que explicar para ele só prolongaria seu tempo de discussão, o que ela não queria. A presença de Itachi, agora sem conter seu poder, causava uma sensação prolongada de instabilidade, tanto emocional quanto física, se ficasse por muito tempo perto dele, não sabia o que poderia acontecer. A única coisa que queria naquele momento era olhar para Sasori e ter certeza de que ele estava bem de verdade. Fechou os olhos, a ponto de xingá-lo, mas ao retornar a abrir, viu o rosto de Shikamaru aparecer por detrás de uma arvore. Ele colocou o dedo indicador na frente da boca, sem som. Sakura engoliu saliva.

— Eu posso ter me enganado bastante até aqui — respondeu, — eu posso ter andando cega por todo esse tempo e feito muitas coisas ridículas. Sejamos francos, dignas de pena, mas quando eu digo que nunca fui sua, Itachi, eu tenho certeza.

— Me dê apenas uma chance, e eu posso mudar isso.

— Não.

— Apenas uma chance e eu posso mostrar que sou tão bom quanto o Akasuna.

— Não, Itachi — soltou o ar pela boca, a respiração começava a falhar. — Depois de tudo que fez, como ainda tem coragem de pedir chance? A pessoa que você quer, a que tanto desejou, não está aqui.

— Você não me ama?

A pergunta foi tão momentânea e absurda que Sakura precisou de uma pausa para pensar. Mas não havia pausa, mesmo que tentasse, a pressão do poder de Itachi pressionava seu crânio e deixava tudo mais confuso.

— O que?

— Você não me ama?

Franziu as sobrancelhas, o toque de Itachi começava a queimar.

— Não amo.

— Você nunca me amou?

— Não amei.

— Nem mesmo quando carreguei você em meus braços, em Veneza? — perguntou, a voz suave, o jeito direto de falar, como o antigo Itachi.

Balançou a cabeça, pensou em qualquer coisa que não fosse o antigo Itachi.

— Não era você.

— Era, é claro que era.

— Não, Itachi! Não insista! — Gritou, afastando do toque dele, como se tivesse queimado de verdade. Olhou para o homem parado atrás de Itachi. — Shikamaru!

Shikamaru rapidamente apontou o revolver para Itachi e ergueu o braço esquerdo, ferido, clicando no botão do aparelho de choque que tinha em mãos, ejetando os dardos que prenderam nas costas de Itachi. Um segundo e as ondas de choque percorreram pelo corpo de Itachi. Entretanto, ao contrário do esperado, ele permaneceu em pé, o corpo tremia, mas não tanto e seus olhos altivos desviando para Shikamaru denunciavam que aquele tipo de armamento não fazia qualquer efeito, mesmo que ele estivesse sem o campo de força e com o corpo tão frágil quanto de um humano. Ele riu e Sakura sabia que se fosse ele, riria também, pela situação ter decorrido tão estupidamente.

— Parece que não funcionou — deu de ombros.

— Mas isso vai — a voz baixa de Sasori preencheu as lacunas da mente de Sakura, uma textura macia como de rosas.

Quis olhar para ele, mas em uma velocidade sobrehumana os fios astrais se prenderam nos antebraços de Itachi, os amarrando rapidamente e o impedindo de desviar da bala. O polegar de Shikamaru acionou o cão, a vibração de agentes Anbu que presenciavam a cena foi inevitável, mas Itachi falou mais rápido:

— Uma armação?

— É o que parece — respondeu Shikamaru, dando de ombros também.

— Como conseguiram chegar até aqui?

— Como eu gosto de falar... Uma armadilha dentro de uma armadilha — Os olhos experientes de Shikamaru alternaram entre Sakura e Itachi. Apertou os dedos no revolver e um sorriso triunfante apareceu. — Sabíamos que se você notasse que Sakura já sabia de tudo, tentaria escapar com ela. Por isso o rastreador. Mas a questão mais difícil foi em saber como acertar você, até que encontramos o livro que fala exatamente como o corpo de feiticeiros renegados funcionam. São mortais, por isso utilizam o campo de força. Mas você precisa desativar para ter contato com Sakura. Digamos que, sim, Sakura foi nossa isca, tanto para acertar quanto atrair você até a guerra. Afinal, você seguiu ela até aqui.

— Em outras palavras — concluiu Sakura, — você está morto, Itachi.

Itachi levantou as sobrancelhas, virou o rosto para fitar Sakura diretamente. Riu, inclinando a cabeça levemente para cima.

— Mas como pode ter tanta certeza?

Sakura congelou, sendo pega não somente pela própria frase na boca dele, mas também pelo olhar que ele havia lançado. O evasivo ainda permanecia, mas algo nos olhos e no sorriso meio torto a fez perceber que não estava só imaginando, algo realmente se alterava. Em seu interior.

Não precisou esperar para saber do que se tratava. Ele abriu mais o sorriso e então o anel que estava grudado em seu dedo perfurou a carne, uma injeção inesperada que a assustou. Gritou rápido. Olhou para própria mão. No dedo anelar da mão esquerda, perto do filete de sangue que escorria, o anel prateado de noivado permanecia intacto, mas a pedra vermelha não estava mais lá, sua estrutura física havia se alterado, formando uma ponta fina semelhante a uma broca que furou as camadas de pele e penetrou os músculos. Não entendeu e ainda sem entender, olhou para Itachi em busca de respostas, mas seu rosto não estava lá, era um borrão. Piscou três vezes, começou a suar, sentiu-se tonta. O borrão continuava.

— O que fez comigo? — conseguiu resmungar, caindo na neve depois que o próprio corpo a traiu. Os joelhos estavam fracos, alguma coisa crescia em seu interior. Havia alguém chamando na floresta?

— Sakura-chan! — Era a voz de Naruto, mas não era seu rosto.

— Não foi por acaso que esse anel permaneceu com você, querida. Ele faz parte de sua transição até a verdadeira Taya — alguém deve ter se inclinado para atirar nele, uma vez que Itachi alterou a própria voz e certificou o que ela mais temia: — Vocês não podem me matar agora. Minha vida está conectada a de Sakura. Se me matar, ela morre!

Precisou de sustento. Pensou em sua cama macia, não da casa em Kyoto, mas em sua casa em Tóquio, onde partilhava de jantares com seus pais, que estavam mortos. Quem sabe a casa de Tsunade também? Fora lá que seu pesadelo começou certamente, mas ainda era lá que o viu pela primeira vez. Será que ele se lembrava daquele dia? Ou ainda estava com as memórias roubadas? Abriu a boca para vomitar, mas nada saiu. Olhou para o chão, a trilha do próprio sangue fazendo contraste agora com os borrões, assim como em seus pesadelos mais terríveis. Olhou para Itachi, para o que poderia ser Shikamaru, mas todos pareciam iguais, todos pareciam Uchiha Itachi.

Alguém se aproximou, com o rosto de Itachi, mas ela se afastou mais rápido. Levantou-se de algum jeito estranho e correu para longe. Ofegava, sem precisar fazer qualquer esforço extra.

— Não, Shikamaru! — o grito veio de longe, inidentificável.

Outro clique fez seus ouvidos se atentarem, olhou para onde estava anteriormente, perto do rochedo e de repente havia dois Itachi, mas um deles tinha um revolver em mãos, com o cano direcionado diretamente para sua cabeça. Ela morreria ali? Não. Não estava com vontade de morrer. Respirou fundo todo o cheiro de sangue fresco, a carnificina embolada entre o gelo e projéteis quentes, despertando a criatura que acordara no dia em que Sasori a baleou. Se continuasse parada, morreria, como uma maldita vadia inútil.

Procurou o revolver que havia caído durante a batalha com Sasori, encontrando perto da Katana que fora obrigada a usar pra se defender, brilhando em negritude na neve. Correu e se inclinou para pegá-la o mais depressa possível.  O clique cessou quando o dedo havia puxado o gatilho, era tarde demais. No entanto, não era. Inesperadamente Itachi apareceu em sua frente e a bala atingiu o campo de força, ricocheteando para longe, praguejou baixo e levantou uma das mãos, usando o poder para arremessar o outro Itachi, que também parecia ser Shikamaru, para longe. Bateu fortemente contra uma arvore, a neve caiu junto com ele e permaneceram os dois ali, unidos, um novo ser.

Itachi se virou e a pegou pela cintura, porém ela o acertou bem no maxilar, afastando-se e caindo para trás quando retrocedeu um passo e não sentiu o chão. Tombou entre neve e pedras cobertas de neve. Havia neve e sangue em todo o lugar, porque era inverno, porque o pesadelo não havia acabado, agora vivia nela. Ele ria. Fechou os olhos e por segundos viu a si mesma caída no chão, pálida, o kimono rasgado, sangue fluindo de todas as aberturas, como uma lâmina ensangüentada, ouviu uma voz, de Itachi, confirmando para si mesmo que estava linda. A imagem se repetia a medida que sua visão continuava escura. Abriu os olhos e quis gritar, talvez já o tivesse feito. Não compartilhavam só as próprias vidas, mas também as mentes. Conectados. Tentou controlar a própria mente assim como os médicos haviam ensinado, pensou no próprio nome, mas ele não estava mais lá. Não sabia mais o maldito nome, só sabia que era uma vadia ridícula. Uma vadiazinha em busca de redenção, alcançada somente pelo infinito poder de liberdade que fluía como vômito.

Itachi estava em todos os lugares. Inclinando a cabeça para trás em uma risada, afirmando que ela não tinha mais nome, que era uma vadiazinha, que era um leopardo, assim como ele. Lentamente todos os Itachis se aproximavam, afirmavam seu novo nome outra vez e rodavam em volta dela, cantando simultaneamente “brilha, brilha estrelinha”. Pegou o revolver do chão e apontou para cada um dos Itachis, a procura do certo. Mas de repente não importava qual, todos eram o certo. Os homens continuavam uivando na floresta, mas dessa vez ela os domava. Outro tiro perfurou as camadas de sua roupa e então um Itachi correu até ela, chamou por um nome diferente, inclinando a Katana para cima, pronto para desferir um golpe. Foi mais rápida. Deu um passo para trás e atirou bem no peito, se tivesse calculado bem, beirando o coração.

O rosto de Itachi tremeu em dor, um zunido distante impediu que ela ouvisse o gemido de dor que saiu de sua boca ao expelir sangue negro, enquanto ele olhava para o buraco no próprio peito e deixava a Katana cair. O baque mudo da lâmina ao cair no chão não veio, mas ela sorriu, verdadeiramente satisfeita: havia acertado o primeiro, faltava apenas todo o resto. Pegou a Katana do chão.

— Sakura-chan — um gemido de dor diferente saiu da boca de Itachi.

Ela olhou para ele, sem entender o que aquela voz fazia lá e só então percebeu que na verdade não havia Katana, não havia coisa alguma em suas mãos além da arma, porque o baque mudo não veio. Olhou novamente para o rosto de Itachi. O zunido permaneceu. Não era o rosto dele, era o de Naruto.

Abriu a boca para recuperar o ar, assim como havia feito ao acordar na banheira, como se pudesse recuperar Naruto também, pegando-o nos braços antes que seu corpo tombasse no chão. Ele sangrava.

Sakura não havia atirado em Itachi, mas sim em Naruto.

— Sakura-chan — sussurrou para ela e rápidas lágrimas escaparam no rosto, misturando-se as dela, que caiam entre o sangue escorrendo na boca. Com a respiração acelerada, os dedos firmes tentaram alcançar alguma coisa em seus braços. — Sakura-chan.

Tentou chamar por ele, mas sua voz saia esganiçada, um grunhido feio como de um animal decrépito. Sentiu o gosto salgado das próprias lágrimas na boca, e por mais que tentasse com todas suas forças, apenas o som grotesco de seu choro preenchia o vácuo da voz de Naruto. Afastou alguns fios de sua testa em desespero e chorou ainda mais.

Ele inclinou a cabeça, tentou falar, e por um momento só houve bolhas de sangue. A terceira tentativa pareceu ter êxito.

— Não fique triste.

 E mais lágrimas caíram e o soluço veio, desprendendo da garganta como um osso entalado. Olhou ao redor, implorou por ajudar sem falar, e percebeu que não havia qualquer risco de que vários Itachis estivessem rodeando-a, apenas os olhos dos agentes, incluindo de Ino. Olhos de raiva, dor e também espanto. Tudo não passava de uma alucinação feita pela sua mente, tentando recuperar o espaço que Itachi havia tomado, se convergindo em alguma coisa que ela não entendia.

— Diga... A Hinata... Diga a ela...

Ela viu o rosto de Naruto sorrir, sangue vazar, igualmente Deidara e as palavras ficaram presas em sua boca. Recebeu um espasmo perturbador e fechou os olhos. Não estava mais lá.

— Não! Não! — tentou reanimá-lo, mas suas mãos estavam imundas de sangue. Não havia mais nada a ser feito.

Quando viu Konan abraçar o corpo morto de Nagato, não conseguiu entender a dor que um ser humano tão miserável quanto ela poderia sentir. Mas ela conseguia agora, porque a miserável que havia matado a única pessoa sobrevivente de sua família era ela mesma. A vadizinha havia matado Uzumaki Naruto, o próprio primo. Repetiu o nome dele, implorou que Deus aparecesse e o fizesse viver outra vez, embora não acreditasse tanto em Deus. E mesmo que ele estivesse ouvindo-a, não entenderia, pois era o grunhido incessante de um animal egoísta.

Dois agentes Anbu correram até ela, suas mochilas de primeiros socorros penduradas atrás das costas, parando antes de alcançar. Se avançassem mais, provavelmente seriam arremessados contra uma arvore como Shikamaru. Olhou para eles e para a arma entre as duas mãos. Sangue. Sangue. Sangue. Levantou-se, cambaleante, mirando a arma para ele. Precisava sair. Qual lugar? Tóquio? Konoha? Não, Konoha não existia mais. Estava sozinha, dentro de uma grande bolha inflamando entre todo o oxigênio, somente ela e Sakura.

Caminhou entre tropeços até Itachi, redirecionando a arma na direção da cabeça. Ele sorriu como se houvesse visto a melhor coisa do mundo, abrindo os braços e dizendo seu nome. A ponta da arma estava apenas centímetros de distância dele. Novamente a chamaram, dessa vez, a voz que ela nunca conseguiria ignorar.

— Sakura!

A sonoridade de seu nome na voz dele a fez sentir medo, um calafrio sombrio ao pensar que aquela era a ultima vez. Viu o rosto, viu a boca sussurrando seu nome, talvez estivesse surpreso demais por ter chamado-a pelo primeiro nome tão claramente sem estarem sozinhos. Ele continuava lindo, com seus olhos castanhos, com sua falta de expressão clara, mais lindo por estar longe dela. Era a ultima vez. Por todos aqueles sete anos havia lutado por vingança, abandonado qualquer risco de sua vida e o procurado em todos os lugares, tudo por ele, e agora, ela deveria deixá-lo. Havia matado alguém. Perdido a cabeça. Existia alguém dentro de sua cabeça. Deveria morrer, não deveria? Todos, uma hora ou outra, deveriam morrer. Esse era o propósito da vida, a nova fase que tornaria Psique perfeita para Eros, o único caminho para salvá-lo. Renasceria como um novo alguém, com um novo nome e quem sabe, nessa outra vida nasceria para ser de Sasori, mas naquela isso não era verdade. Mudou a direção da arma.

— Está tudo bem, Sasori-kun — acreditou que estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Feliz e triste. Velha e nova.

Sasori era o fogo que queimava seu coração, e a nova pessoa que surgiria saberia disso. Quis dizer que o amava e que havia encontrado a forma perfeita para ficarem juntos, mas ao vê-lo surpreso, viu que ele já sabia de tudo e mais um pouco.

Sakura havia nascido para morrer.

— Sakura! — Ino gritou de longe.

— Sakura!

Inclinou o cano da arma na têmpora direita. Fechou os olhos, puxou o gatilho.

 

••

 

— Sakura! — um berro partiu da multidão, fino e desesperado, seguido de súplicas a qualquer Deus que os pudesse ouvir.

Dentre todas as balas disparadas naquele dia, apenas aquela no inicio da tarde fez com que todos ficassem surdos e muito distantes. O silêncio foi seguido de choro, suspiros e xingamentos. Todos pensavam que em seu momento de loucura, Sakura acertaria Itachi e a bala ricochetearia, mas as coisas tinham ido por um lado irracional. Sakura havia baleado Naruto e em seguida, metido uma bala na própria cabeça.

Ela vacilava entre um passo e outro, o kimono manchado, respirando rápido, os olhos vermelhos de tanto chorar, a arma vibrando em suas mãos fracas. Ninguém nunca havia a visto dessa forma, a flor sangrenta da Anbu, desmanchando em pétalas.  Encostando o cano da arma na têmpora direita e atirando, o sangue espirrando do lado esquerdo quando o projétil perfurou o osso esfenóide e o cérebro em uma passagem rápida. Uma pancada profunda quando o corpo caiu de uma vez só. Era engraçado como os anos de vida eram muitos, momentos marcantes, que poderiam acabar com uma simples bala, em menos de um segundo.

Haruno Sakura morreu instantaneamente, o sangue vazando na neve, sua coroa sendo arrancada. Era isso que a Akatsuki fez com ela. Era isso que a Akatsuki faria com todos se ganhasse mais poder. Mas graças a Sakura, não havia mais o que temer.

— Sakura, não, por favor — chorava Ino. Tentou correr até ela, mas o corpo de Sakura estava próximo demais do Líder, era perigoso chegar mais perto. Gaara precisou prendê-la em um abraço para que ela desistisse de se aproximar.

Uchiha Itachi tossiu uma ou duas vezes e na terceira, uma bolha de sangue negro vazou pela boca, escorrendo pelo queixo. Limpou o líquido preto com o dedo indicador e polegar, erguendo as mãos para analisar. Riu pelas narinas e pela boca, que começava a escorrer mais do líquido.

— Você conseguiu — sussurrou ele. Pensando que não havia nada mais romântico do que morrer junto com a pessoa amada. — Conseguiu, minha garotinha.

Ajoelhou-se ao lado dela e esticou as mãos para pegá-la em seus braços, metade dos fios róseos estava vermelho pelo sangue. Antes que conseguisse, fios astrais facilmente enrolaram-se ao corpo dela. Riu outra vez e seguiu os fios até sua origem, encontrando Sasori caminhando até eles, o rosto sério como sempre, mas com alguma mudança no olhar. Ele deveria estar triste também, eles amavam a mesma mulher afinal. Uma mulher que estava morta. Taya e Sakura. Quem seria a próxima? Não importava, ele não estaria mais lá para saber.

Akasuna no Sasori abaixou ao lado direito do corpo inerte, manipulando os fios astrais para atrair o corpo para ele, até que se acomodasse entre seus braços, com tal leveza que o surpreendeu. A cabeça de olhos belamente fechados apoiada na curvatura de seu braço esquerdo e a parte de trás dos joelhos no braço direito, até que o corpo ficasse entre suas pernas e somente o braço esquerdo apoiasse a cabeça. Com a mão livre, Sasori limpou o sangue que escorriam pelo pescoço, em vão. Por algum motivo que não compreendeu no momento, não impediu que Sasori a puxasse para mais perto, apenas observou, como um quadro. Ele estaria enganado pela primeira vez? Sakura realmente não pertencia a ele? Eram questões que ele levaria para morte.

Sentia a pele se despedaçar como vidro, as forças fugirem pelos buracos das rachaduras, mas não sentia dor. Na verdade, talvez nunca tivesse sentido nada realmente. Continuou a olhá-la, pensando que até mesmo morta ela continuava linda. Com certeza se pudesse, tentaria limpar o sangue que escorria e ver a cor de seu crânio, imaginava que seria tão branco quanto a pele dela. Mas era uma das questões que nunca saberia a resposta, uma vez que os próprios dedos começavam a despedaçar também. Em silencio, observou o braço esquerdo despedaçar ao lado do corpo de Sakura. Diziam que as pessoas nunca se sentiam tão vivas quanto quando estão perto da morte. Itachi riu. Nem mesmo a morte conseguia fazê-lo se sentir completamente vivo.

Ergueu os dedos restantes para tocar no rosto pálido, mas eles se despedaçaram mais rápido. Não sentia mais as pernas.

— A verdade é que, eu sempre quis ser morto por você.

A brisa de inverno sussurrou entre eles, e como papel, a existência de Uchiha Itachi desapareceu, sem som algum, sem sensação alguma. Como se nunca houvesse existido.

 

 

 

 

CONTINUA...



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