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História Na Linha do Tempo - Fôlego


Escrita por: SamanthaL

Notas do Autor


Aos meus leitores queridos, fieis leitores que sei que acompanham minhas histórias, o meu muito obrigada. A SamantaUchiha, que gentilmente me apresentou os meses, segundos e horas que aguardava pela continuação da história, você me deixou muito feliz, e senti uma enorme vontade, desejo e dever de concluir mais um capítulo para vocês. Peço que tenham paciência, tenho uma monografia para produzir e provas para dar conta, mas isso não significa que abandonarei a história. Posso até demorar, mas irei conclui-la. Deus e vocês são a razão de eu ainda continuar a escrever. Um abraço forte e apertado, obrigada por tudo.

Capítulo 22 - Fôlego


Fanfic / Fanfiction Na Linha do Tempo - Fôlego

22. Fôlego

 

O Baile de Inverno

 

 

Ela mal podia se reconhecer naquele vestido. Talvez os medos que algum dia possuía em relação à sua aparência se dissiparam rapidamente e diante de seus olhos emergia uma nuance de alegria. Ino sorriu ao encará-la e Hinata estava satisfeita. E sim, ela mal podia se reconhecer.

Lá fora a neve caía, tão lentamente que os segundos podiam ser cronometrados pelo relógio do universo, pacientemente quanto o silêncio. Em meio ao branco da neve, o negro destacou-se em seu corpo, alinhando-se devidamente em cada perfeito lugar.

 

- Você está de tirar o fôlego.

 

A voz ecoou alta por detrás das três. Seu pai a observava admirado, calçando as pantufas enquanto o pijama listrado era coberto por um hobby masculino azul. Sorriu, aproximando-se. Sakura o abraçou gentilmente.

 

- Obrigada, otosan. O senhor sempre é muito gentil. O que achou do vestido?

 

- Ficou muito bonita nele. Nenhum cara é maluco a ponto de dizer que não gostou.

 

- Foi o que eu disse, tio Kizashi! – Ino agarrou o pescoço de Sakura, perturbando-a propositalmente. - Esta é a minha melhor obra! Quem mais além de mim para fazê-la desistir do jaleco branco do laboratório? Ela só veste aquilo!

 

- Ino, eu não visto apenas o jaleco! Argh, se afasta, porquinha! Está me sufocando!

- Ela jamais esteve tão bonita como hoje, senhor Haruno. Vai arrasar os corações dos gatinhos.

 

Irritada, Sakura retirou o braço de Ino envolta de seu pescoço e exclamou bem alto.

 

- Pelo amor de Deus! Eu só quero ter uma noite em paz, não venha jogar nenhum garoto para cima de mim!

 

- Filha, relaxe. Aproveite o baile e se divirta! Esta é a sua noite.

 

- Certo. Nada vai estragar minha noite.

 

A limusine paga pelo senhor Yamanaka estacionava em frente ao Colégio Gakuen. Com a ajuda do chofer, que segurou cada uma pela palma da mão, saíram. Um carpete vermelho hollywoodiano se estendia do passeio até a entrada da escola. Alguns outros estudantes também chegavam.

Ino agradeceu a Inácio, o chofer australiano, e pediu ao mesmo que ficasse com o celular sempre por perto. A neve caía. Inácio cobriu cada uma com uma capa de gala preta, aquecendo-as, e se foi.

 

- Essas sandálias estão me matando! – Sakura retrucou, erguendo os calcanhares e alcançando a ponta do salto.

 

- É lógico que estão! Você só calça all star. Deixe elas onde estão, e nem pense em tirá-las, ou vou fazê-las descer pela sua garganta.

 

- Jesus Cristo, Ino. Às vezes me dá vontade de te socar até não restar mais nada!

 

- M-Meninas, acalmem-se. Vamos aproveitar o baile.

 

Analisando o lugar, a Yamanaka percebeu alguns casais, e quando se deu conta, havia muitos casais. As três chegaram ao topo da escadaria bege.

 

- Puta que pariu, somos as únicas sem um par!

 

Ino revirou os olhos, não acreditando no que estava ouvindo de Sakura.

 

- Esta é a vantagem, bobinha! Assim poderemos ficar com quantos garotos quisermos!

 

- E-Eu só quero o Naruto-kun.

 

Sakura e Ino deram uma longa e debochada encarada em Hinata, até que as três gargalharam.

 

- Bom, não vamos discutir gostos. Eu vou pegar metade da festa. Se você quiser, Sakura, pode ficar com a outra metade.

 

- H-Hein? – Sakura virou, olhando para Ino, desacreditada. – Olha, Ino, eu não sei em que vibe você está hoje, mas esta não é a minha.

 

Ino então sussurrou maldosa segurando os ombros da amiga.

 

- Quando os garotos souberem que essa sua boquinha nunca foi beijada, vão fazer fila para ficar com você.

 

- Ah, pelo amor de Deus! Ino, eu não vou beijar garotos apenas porque todo mundo está fazendo. Quero beijar alguém pelo qual eu sinta alguma coisa. E vai se ferrar! Nem a pau que você vai abrir essa boca!

 

- Tudo bem, eu pego todos então. Prontas?

 

Começaram a descer as escadas enquanto o DJ tocava uma música eletrônica de fundo.

Sasuke conversava com Naruto algo sobre o campeonato provincial que iriam disputar na semana seguinte. Karin estava ao seu lado, lhe enchendo o saco para irem para um lugar mais reservado para ficarem juntos. Ele então sugeriu: - Por que você não vai pegar um ponche para mim? Como ela fazia tudo o que ele queria, assim o fez.

 

- Nossa, Sasuke, às vezes tu é maldoso. – Naruto meneou a cabeça, segurando o riso.

 

- Que nada! Eu já estou ficando cheio dela!

 

- Então por que a convidou?

 

- O que é que você acha?

 

Ele bebericou um pouco do ponche, distraído, observava a multidão. A luz do holofote iluminou a escadaria e então ele a viu. Era ela. Seu coração de repente deu um ataque. Aquela não podia. Não podia ser ela. Estava segurando uma capa escura entre os braços, mas dava para ver perfeitamente o vestido negro cobrindo o seu corpo e um corte em v formando um decote comportado em seus seios.

 

- Não pode ser.

 

Sussurrou sem ar. Naruto o olhou arqueando uma das sobrancelhas.

 

- Não pode ser o que?

 

- Olhe para a escadaria.

 

- A escadaria? O que te...?

 

Deus, Naruto desejou que um raio o partisse em dois. Nunca havia reparado bem em Hinata, nunca. Mas nesta noite reparou bem na comissão de frente dela, totalmente escondida por aquele vestido roxo escarlate brilhante e tomara que caia.

Dois idiotas, olhando para elas como tontos sem saber o que fazer. Sasuke emburrou, afastando-se de Naruto e saindo, nervoso.

 

- Hey, para onde você está indo? Sasuke!

 

Ele saía para os fundos, para o jardim do colégio. Praguejou aos deuses enquanto Naruto corria atrás de si. Abria o terno preto, revelando o colete de mesma cor por debaixo e a gravata vermelha presa ao mesmo.

- Sasuke!

 

- O quê?

 

Parou de caminhar, virando-se com um olhar confuso.

 

- Não pode sair assim! E tem a Karin, e...

 

- Eu estou pouco me lixando para a Karin!

 

- Por que ficou irritado de repente? Você a vê praticamente todos os dias!

 

- Não daquele jeito! O problema é ela, sempre foi ela!

 

- Está apaixonado por ela?

 

- Não, eu! – Silenciou por alguns segundos. – Eu não sei. Ela me deixa confuso!

 

- Mas vocês dois se detestam! Não conseguem nem fazer uma prova juntos, não conseguem ficar juntos no mesmo ambiente sem soltarem pelo menos uma faísca ou piadinha um no outro.

 

Sasuke repensou. No final de tudo, Naruto estava com a razão.

 

- Vamos voltar para o baile. Minha acompanhante deve estar me esperando.

 

As palavras saíram em tom amargo. Naruto tocou seu ombro e lhe ofereceu um copo com ponche.

A música eletrônica saía, balançando a grande sonorização do evento. O baile de inverno era feito todo ano, nele, os alunos poderiam se divertir e se relacionar à vontade sem sofrerem retaliações. Karin chegou com uma taça com ponche, entregando-o a Sasuke e beijando-o nos lábios.

 

- Eu vou dar uma volta.

 

Naruto berrou, a música estava bem alta.

 

- O quê? Pra quê?

 

Mas antes que pudesse impedir o amigo, ele já havia partido. Karin ficou ali, a dançar, esfregando-se em seu corpo, agarrando-lhe o pescoço e de longe ele observando ela, e apenas ela. A festa ganhou ainda mais ânimo quando o DJ soltou palavras de incentivo e agitação.

Sakura estava sentada no bar junto com Hinata. Ino havia partido em sua caçada aos meninos. Estava no meio da pista de dança mostrando do que era feita, muito charme e energéticos.

 

- A Ino consegue ficar bem à vontade nesses ambientes. – Sakura falou, sugando um pouco do coquetel de morango com kiwi. Sentiu o gostinho leve do álcool no fundo da substância.

 

- Ela é assim. Adora liberdade, festa, amigos e muita agitação. Eu admiro isso nela. Não conseguiria ser tão espontânea.

 

- Você é, Hinata. Nós somos, do nosso jeito, mas somos.

 

Jogaram conversa fora e riram durante alguns segundos.

 

- Hinata?

 

Esta voz não era de Ino, e pertencia apenas a uma pessoa. Hinata e Sakura olharam-se por dois segundos, perplexas. O cabelo de Hinata estava preso em um coque, ela virou-se, vendo-o se aproximar.

 

- Tudo bem? – Sorriu. O terno preto aberto, uma gravata laranja presa a um colete também escuro.

 

- Claro, Naruto-san.

 

- Não precisa dessa formalidade. Nos conhecemos há um bom tempo!

 

- C-Claro. – Envergonhou-se. – Desculpa.

 

Naruto retirou o lírio preso no bolso de seu paletó, olhando-o com carinho e delicadamente o entregou a Hinata.

 

- Quer dançar comigo?

 

- C-Como?

 

Ele riu. Hinata parecia engraçada aos seus olhos, um pouco medrosa, mas ele via charme nisso. Tinha que admitir. Desde que as fofoqueiras do grupo da Karin sussurraram em seu ouvido que ouviram as três conversando na biblioteca e que Hinata admitira que gostava de dele, andava perturbado. Ela, uma menina tão direita e idônea, e ele, um curtidor que não estava nem aí para as regras e que só tinha um sonho na cabeça, ser jogador de futebol.

 

- Dança comigo. Espero que não se importe se eu roubar sua amiga por alguns minutos, Sakura.

 

- Nem um pouco. Vai lá, Hinata. Eu fico bem, aqui.

 

- Tem certeza?

 

- Toda. Vão se divertir.

 

Sakura permaneceu no bar. Pediu ao barman mais um coquetel e riu quando ele disse que o teor de álcool era pouco, mas o perigo era muito. O barman era divertido. Ficaram ali conversando e trocando risadinhas.

Um pouco mais atrás, Sasuke a observava. Karin sussurrava algo em seu ouvido. Estava acompanhada das amigas. Perturbado, afastou-se de Karin de repente.

 

- Karin, eu..., eu preciso ir ao banheiro.

 

- Quer que eu te acompanhe, querido?

 

- Deus do céu. – Ele revirou os olhos. – Não, posso ir sozinho.  – Retrucou, ríspido.

 

- Vou te esperar. Bem aqui. – Ela gritou, balançando o braço enquanto ele já estava distante.

 

Sakura chupou um limão, fazendo careta e rindo. Saindo do bar e retirando o avental, o barman chamou-a para dançar.

 

- Eu vou logo avisando, não sei dançar muito bem.

 

- Eu te ensino. Não é difícil. Um passo para esquerda, outro para a direita. 

 

- Não vai ficar encrencado por sair do serviço?

 

- Só se nos pegarem. O que eu acho difícil, tem uns quinhentos alunos aqui.

 

Ele se posicionou em frente a ela, segurando sua cintura, neste instante, levou uma trombada, caindo para o lado e Sasuke assumiu seu lugar, espantando Sakura.

 

- Boa noite, Sakura.  – Disse safadamente.

 

Sem reação, porque praticamente ele deu cum coice no seu par, afastou-se dele.

 

- Oh, meu Deus. O que você quer? Eu quero uma trégua hoje. – Confidenciou-se a ele. – Sasuke, por favor.

 

- Concordo plenamente.

 

Sorriu. Ela estava linda. Os dois se olharam por um momento, e ficaram assim, até que ela sentiu todo o ar de seu pulmão se prender, e então...

 

- Ótimo, com licença.

 

Ia saindo quando ela segurou pelo braço, o DJ soltou I Can’t Live My Life Without You, de Dan Torres e ele a puxou para perto de si, tocando suas costas nuas. Sakura tremeu, assustada.

 

- O-O que está fazendo? Me larga, agora!

 

- Calma, eu não mordo.

 

- Duvido, você age como um cão raivoso.

 

- Dentro desse vestido você pode me chamar do que quiser.

 

- C-Como é?

 

Nunca havia reparado de fato nos olhos dela, eram lindos. Sorriu, deixando-a confusa. Sakura tentava se afastar, segurou no peitoral dele, empurrando-o, mas ele a agarrou de modo que ela não conseguia sair.

 

- E-Eu quero sair, por favor.

 

- Nós nos detestamos, brigamos. Eu... gostaria que pudéssemos mudar isso.

 

- Não vamos. E está ótimo assim. – A voz saiu áspera e truculenta.

 

Sakura se remexeu violentamente nos braços dele.

 

- Me solta! Eu quero sair.

 

Quando percebeu que estava fazendo mal a ela, triste, respeitou sua vontade.

 

- Claro.

 

A raiva era evidente no olhar de Sakura e desolado assim, foi afastando-se, soltando-a aos poucos, sozinho.

 

- Desculpa, vou dar o fora.

 

Caminhou em direção a saída do salão. O calor do corpo dela ainda estava misturado com o seu. Socou uma coroa de flores na parede, machucando a mão.

 

- Aí está você! Te procurei por todos os cantos!

 

- Karin, agora não.

 

- O que é que você tem? Está grosso assim! Ah, não, se encontrou com àquela idiota? O que ela te fez?

 

- Ela não me fez nada! – Virou-se violento. – Cai fora! Me deixa em paz!

 

- Você é estúpido, Sasuke.

 

Karin jogou o copo cheio de ponche sobre o rosto dele, saindo. Imobilizado, com ponche escorregando por seus cabelos, desabotoou o colete e retirou a gravata.

E era assim que começava, aquele sentimento de raiva, de receio e arrependimento. Um sentimento que esmagava a alma, a ponto de fazê-lo surtar. A mão sobre a testa, com a sensação de impotência, tão grande que o paralisava por completo.

 

Dentro do banheiro, com as mãos apoiadas na pia e encarrando-se no espelho, não acreditava. Retirou o anel, colocando-o sobre a pia. Encarou seu reflexo. Um sentimento começava a incomodar seu coração. Não, jamais iria acreditar em qualquer solução oferecida por ele. Sasuke não passava de um idiota que gostava de brincar com os sentimentos dos outros.

As luzes começaram a piscar de repente e Sakura ouviu gritos. Esqueceu-se do anel e caminhou em direção a porta. Tentou abri-la, mas estava travada.

 

- Hey, eu quero sair!

 

 Socava a porta de metal, puxando a maçaneta até que ela soltou. Sakura a suspendeu, incrédula.

 

O cheiro de fumaça começava a se alastrar, e ela o sentiu. A fumaça estava demasiada, fazendo-a tossir.

 

Muitos estudantes saíram correndo, criando um tumulto na saída. Sasuke estava na calçada quando se encontrou com Naruto, que estava ao lado de Hinata e Ino.

 

- O que está acontecendo? – Questionou ao Uzumaki.

 

- Os professores disseram que foi um curto circuito numa tomada onde estava conectado os aparelhos de som. As cortinas pegaram fogo, e o lugar todo também. Sorte que saímos a tempo.

 

- E por que a Sakura não está com vocês?

 

Hinata e Ino pareciam aflitas. Só pela resposta de Hinata já ficava claro o sentimento.

 

- Pensamos que ela estivesse aqui fora, mas não a encontramos. Estamos preocupadas.

 

- Ela não saiu?

 

Tudo ficou claro. Imediatamente saiu em disparada para dentro do prédio.

 

- Sasuke, não!

 

Os professores tentaram impedi-lo de entrar, mas empurrando-os assim ele o fez.

O fogo alastrou-se imediatamente pelas cortinas e pelo carpete, não restava mais ninguém no salão. As cortinas caíram e o aparelho de som explodiu, alguns destroços atingiram a mão de Sasuke, queimando-a. Cortando caminho por entre o fogo alcançou o corredor dos banheiros. Ouviu um som de batidas violentas e alguém tossindo.

 

- E-Eu quero sair!

 

A porta estava travada com alguma coisa. Parecia que alguém havia trancado a porta propositalmente por fora.

 

- Sakura!!

 

Ele berrou, destravando a porta e abrindo-a. Sakura estava pálida, quase sem ar e caiu diretamente nos braços dele, o banheiro estava totalmente tomado pela fumaça.

 

- Meu Deus... – Sussurrou horrorizado. – Você está bem?

 

- Não, eu...

 

Desmaiou nos braços dele.

 

O corpo de bombeiros adentrava o local para apagar o fogo. Sakura estava inconsciente na ambulância, recebendo oxigênio. Um paramédico enfaixava a mão de Sasuke.

 

Acordando, Ino lhe tranquilizava. Hinata também estava ao seu lado. Ela ia retirando a máscara de oxigênio, mas Ino a impediu.

 

- Não mexa, você precisa respirar. Inalou muita fumaça.

 

- Ino, o que está acontecendo?

 

- Você quase morreu. Se o Sasuke não tivesse entrado para te salvar, você estaria morta!

 

- Ele se arriscou só para te procurar, Sakura-chan. – Hinata sorriu. – Ele não é tão mau assim.

 

De longe, o observava. Ele havia salvado a sua vida, entrado no meio de um lugar totalmente incendiado só para resgatá-la. Sasuke estava coberto de cinzas e agradecia ao paramédico. Saiu naquela noite do mesmo jeito que havia entrado, sem falar além do necessário.

E ela o viu, saltando do fundo e caminhando em direção à multidão.

Pasmou-se.

 

...

 

 

 

 

 

 

 

A terra gira em torno do sol, dois e dois são quatro, se você passar uma lâmina na pele irá se cortar, se pôr as mãos no fogo irá se queimar. Um calçado número trinta e sete não cabe em um pé com tamanho trinta e nove. São coisas irrefutáveis. Mas, quem morre, pode voltar a viver? Milagrosamente, eles se encontravam em um universo anormal, onde carros voavam, robôs estavam sendo criados, doenças não persistiam, onde hologramas eram normais, e figuras misteriosas de capuz surgiam. Era um mundo antiquado, então, coisas assim poderiam sim acontecer.

Sakura ajoelhou-se diante de Aki, boquiaberta, rendida e confusa. A menina inteligente de treze anos era mais do que aparentava mostrar. Durante todo esse tempo e.... ela era a pessoa misteriosa. Sua própria filha, enrolada nesse mistério até o pescoço.

 

- Você fingiu tão bem, durante todo esse tempo. (A Haruno dizia, sorrindo espantada). - Agora consigo entender como as mensagens chegavam até nós com tanta facilidade.

 

                - Está muito surpresa?

               

                - Porra, surpresa não chega nem perto do que estou sentindo neste exato momento.

 

                - Você me odeia?

 

                - Odiar você? Nunca, jamais! Sabia que eu era sua mãe esse tempo todo? E que ele era o seu pai?

 

                - Sim, desde o momento em que os vi pela primeira vez. O mago do tempo havia chegado até a mim bem antes de vocês aparecerem lá em casa. Ele me explicou tudo. No começo, fiquei assustada, mas fiquei imaginando. Seria uma oportunidade e tanto de poder ver como meus pais se apaixonaram pela primeira vez.

 

                - As peças no estádio, e no parque. Você as colocou lá?

 

                - Sim. O mago do tempo veio até mim, entregou-me duas peças do quebra cabeça e me disse que as outras duas ele havia enviado para lugares diferentes. Nas duas primeiras peças, vocês teriam que desvendar charadas para descobrir onde elas se encontravam. Agora, as outras duas, ele me disse. Fui eu quem pôs a ideia na cabeça do papai para viajarmos até a África do Sul. Eu sabia que ele iria conversar com a mamãe sobre o assunto. E o último desafio se aproxima.

 

                - Você sabia que o Sasuke iria morrer?

               

                - Sim. (Aki sussurrou pesarosa). - Desculpe-me, mas era inevitável. Agora que o preço foi pago, iremos atrás da outra peça. Ela está dentro de uma urna no Museu Histórico de Cabo Verde. Quando abrirmos o baú e lermos o pergaminho que está lá dentro a alma do Sasuke será trazida de volta da Colônia Espiritual onde se encontra.

 

                - Colônia Espiritual?

               

                - É o lugar para onde os mortos vão. É a sepultura da humanidade. É o lugar para onde as almas de todas as pessoas vão depois que elas morrem.

 

                - O Sasuke está lá?

 

                - Sim, vamos resgatá-lo do e pegar a penúltima peça do quebra-cabeça.

 

                - Por que só agora? Por que não antes?

 

                - Tente entender, mãe. (Era a primeira vez que Aki a chamava daquele jeito). - Eu fui a escolhida para essa missão. Eu me sinto mal por ter mentido para vocês, mas eu precisava fazer! Vamos salvar o papai, eu prometo.

               

                - Mas, e quanto ao outro Sasuke, Dan e a outra Sakura?

 

                - Não se preocupe. Vamos utilizar isso para chegar até o museu.

 

                Aki ergueu o braço, o relógio mágico de ouro estava preso em seu pulso. Sakura ficou muda. Ergueu a mão, apontando em direção ao relógio.

 

                - Claro. Você sabia sobre o relógio também, certo?

 

                - Ahm, sim. Vamos logo, não vai demorar, papai e mamãe nem notarão nossa ausência.

 

               

 

                Sakura levantou-se, aproximou-se de Aki, olhou-a bem nos olhos, desesperadamente a abraçou. A menina inteligente e esperta foi pega de surpresa. Sakura segurou-a pela cabeça, bagunçando a cabeleira negra, envolvendo os braços em torno da menina. Aki, perplexa, erguia os braços para retribuir o gesto. Carinhosamente, chorando, Sakura sussurrou no ouvido dela.

 

                - Eu te amo tanto! Este mundo é estranho, mas estou com medo, de perder vocês também.

 

                Aki sorriu, olhando para baixo. No fundo de seu coração ela sabia da dura verdade. Tudo, inclusive ela não passava de invenção.

 

                - Nós não somos reais, mamãe. Pode ser que, passemos a existir algum dia, mas somos projeções. Nada disso é real, logo teremos que partir e, vocês, retornarão à realidade. Acordarão desse sonho.

 

                - Eu não quero acordar! (Sakura berrou, abraçando-a mais e forte enquanto continuava a chorar). - Por favor, Aki, eu não quero que vocês desapareçam, estou com medo!

 

                - Não tenha medo de nada, mamãe. As luzes logo se acenderão, logo vocês voltarão a ver.

 

                - Eu estou vendo! Isso é tudo o que eu preciso ver!

 

                Sakura segurou-a no rosto, sorriu, untando seus olhos verdes aos dela.

               

                - Eu sinto falta dele, mas não quero sentir.

 

                - Nem sempre conseguimos o que queremos, mamãe. Vamos, não podemos perder tempo.

 

                Aki girou os parafusos do relógio, um portal apareceu diante das duas. Um brilho ofuscando ambas as visões legitimava os segredos vindos através dele. O portal tinha a forma de uma porta comum, retangular e vertical.  A resplandecência tinha uma cor amarelada. Aki segurou a mão de Sakura, conduzindo-a ao portal. As duas atravessaram. Sakura protegia os olhos com o braço. Quando o brilho desapareceu, Sakura contemplou o salão, com um esqueleto enorme de dinossauro suspenso por cordas transparentes, havia também outros objetos, como bonecos trajando roupas tribais e portando lanças e escudos africanos. Encontravam-se num museu.

 

...

 

Beijou a bochecha de Dan, cobrindo-o com o edredom. Carinhosamente, acariciou a cabeleira do filho, que era muito semelhante à sua quando mais novo. Pegando o dinossauro verde que estava no chão, colocou-o perto de Dan. Sakura encontrou alento em seus braços, repousando a cabeça no ombro do esposo.

 

- Como é que vai ser agora, querido?

 

- Eu não sei. Temos que ser fortes, é tudo o que temos agora.

 

- Vamos dormir.

 

- E quanto ao Dan? Não podemos deixa-lo aqui sozinho!

 

- Vamos dormir aqui. A Aki e a Sakura podem dormir normalmente no quarto delas.

 

Sakura encheu o furô fazendo a água transbordar. Dan dormia serenamente no meio da cama de casal, aninhado ao dinossauro. O vapor quente neblinava o vidro, borrando-o com uma camada de depressão aguda e química. Ele entrou na banheira, olhando para a parede, distraído. Sakura agachou-se, tocando-o no ombro.

 

- Você está bem?

 

- Estou. Vem... – Tocou-a no braço, chamando-a.

 

Sakura se despiu, entrando na banheira e ficando de frente para ele. Eles se olharam, o medo e a aflição estavam tão na cara, que os olhos de Sasuke marejaram. Ela aproximou-se de Sasuke, abraçando-o.

 

- Não fica assim. Não foi culpa sua. – Dizia a ele, lhe acariciando o cabelo. – Vai ficar tudo bem. Vai dar tudo certo.

 

Sakura tocou-o no peitoral, arranhando-o levemente, olhando-o gentil enquanto se aninhava no colo dele.

 

- Seu coração é maior do que deixa transparecer. Eu quero que saiba o quanto eu te amo, Sasuke.

 

Ouvir aquilo acalmou o coração dele.

 

- Fala de novo, por favor.

 

- Eu te amo.

 

Sasuke a beijou, devagar, lentamente e arrancando-lhe um riso.

 

- Está a fim? – A questionou, olhando-a penetrantemente e beijando-a outra vez.

 

- Muito. – Sussurrou entre os lábios dele.

 

Sasuke segurou sua cintura, acomodando-se na banheira para que os dois pudessem se encaixar e quando aconteceu, ela lhe tentou, aproximando os lábios dos dele, mas não deixando que se tocassem, até que ele rompeu a distância, tocando-os. Segurou nos seios dela e os beijou, eriçando os poros de sua pele. Sakura o puxou para trás e ele teve toda a liberdade para fazer amor com ela naquela banheira mediana.

Dan dormia agarrado ao dinossauro, ora se remexia, empurrava o edredom com os pés. Apenas um barulhinho quase baixo de risadas vinha do banheiro e a luminosidade surgia por debaixo da porta, criando uma sombra agora clara de formato desconhecido.

 

...

 

                Sakura estava fascinada. Um relógio que abria portais. Santo Deus, não faltava mais nada. Queria recuar diante de tudo aquilo, mas a vontade de vê-lo mais uma vez vencia qualquer medo bobo que viesse em sua cabeça.

               

                - P-Puxa vida!

 

                As palavras quase não saíram quando ela exclamou.

 

                - É, eu sei. Vem, a urna deve estar por aqui. O relógio irá nos indicar o caminho.

 

                Aki apertou um botão vermelho e uma seta em forma de holograma surgiu, levando-as ao caminho. As duas atravessaram corredores enfeitados com quadros e esculturas africanas. Adentraram uma sala e lá encontraram o baú protegido por uma caixa de vidro. O baú era escuro, com desenhos africanos brancos estampados.

 

                - Como vamos abrir esse troço? (Sakura exclamou).

 

                Aki arqueou a sobrancelha, analisava a sala, procurando por alguma coisa que a ajudasse a quebrar. Tinha uma estante, com alguns objetos. Lá, Aki leu em voz alta a descrição.

 

Cutelo da tribo Kikimo. Idade, 1500 a.c

 

                A menina pegou o cutelo de madeira, polido e afiado, era pesado.

 

                - E-Espera, vai utilizar isso para quebrar o vidro? E se algum alarme soar?

 

                - É o único jeito. Vamos rezar para que não tenha um alarme.

 

                Sakura benzeu-se, fazendo o crucifixo. Aki bateu o cutelo contra o vidro, quebrando a caixa de vidro. Nenhum alarme soou, ela então sorriu para Sakura.

 

                - Que tipo de museu é este? (A Haruno interrogou, surpresa).

 

                Aki então abriu o baú. As duas esperavam encontrar a peça do quebra cabeça, mas, em vez disso, depararam-se com um pergaminho. Sakura pegou o pergaminho, desenrolando-o e o leu, estava escrito em inglês, mas ela então fez a tradução.

 

               

                Me diga, uma coisinha. O que pode deturpar a verdade? Me diga apenas esta coisinha.

 

                - Mas que diabos! Outra charada? (Sakura exclamou).

 

                - O que pode deturpar a verdade? Mãe, você tem que usar o cérebro! O que pode atingir a verdade a ponto de destrui-la?

 

                A verdade. A verdade era como uma tarde ensolarada de verão, como uma manhã de outono, onde as folhas caíam sempre ao mesmo tempo. Mas uma mentira, uma mentira era como uma nevasca em uma noite na estrada, era como neblina ofuscando a visão no escuro ou na manhã. Algo que sempre atrapalhava as coisas. Algo que sempre dificultava tudo. E então, ela havia mentido para si mesma mais do que qualquer um. Precisou perde-lo para descobrir que o amava. Sua mentira deturpou sua verdade. E por isso ela sabia a resposta, mais do que qualquer um. E tudo estava assombrosamente conectado, criando remakes de seu passado em apenas um segundo.

 

                - Uma mentira. (Arregalou os olhos). - Uma mentira! A lie!

 

                Berrou, quase como um expurgo.

 

               

                Um fundo falso do baú abriu-se, uma peça do quebra-cabeça cintilava, e ao seu lado, um pergaminho amarelado, enrolado com uma fita vermelha.

 

 

                Aki pegou a peça e Sakura o pergaminho. Sakura o abriu e leu em voz alta.

 

Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe".

Mateus 19:6

 

Querida Sakura,

 

A vida é um aglomerado de mistérios, uma embolorada interrogação, sempre cheia de dúvidas, repleta de ganhos, mas também de ônus. Se chegou até aqui, é por que já percebeu o que sente. Mas devo alertá-la, o preço final se aproxima. Repita a palavra a seguir, e traga-o de volta à vida.

Puer ad vitam rediit

(Volte à vida)

 

               

                Ela respirou fundo, conhecia um pouco de latim. Com as mãos trêmulas enquanto segurava pergaminho, fechou os olhos e repetiu, concentrando-se na imagem do rosto dele em seu subconsciente. Aki guardou a peça dentro do bolso de seu casaco. Depois de repetir as palavras, nada aconteceu, o lugar ficou calmo.

 

                - E agora?

 

                - Esperamos.

 

                - Isso não está certo.

 

                - O que não está certo, mãe?

               

                - Sempre que encontramos uma peça, algo acontece, na maioria das vezes ruim. Mas agora, tudo ficou quieto. Eu sei lá, só é meio estranho.

 

                - Vamos embora.

 

                Um som estridente ecoou pelo salão, espalhando-se assustadoramente pelos corredores. As duas paralisaram.

 

                - Você ouviu isso?  (Aki a encarou, assustada).

 

                - Parece com um som de um animal, um animal bem grande.

 

                - Aki, abra esse portal para voltarmos para, certo?

 

                Aki girou os parafusos, mas nada acontecia. Nada.

 

                - Não está funcionando! E-Eu não entendo.

               

                Sakura então soltou hunf, debochando.

 

                - Está aí a nossa coisa ruim.

 

...

 

               

                Doutor Luanga sempre cumpria com seu horário de trabalho, mas gostava de ficar mais tempo do que o necessário para estudar alguns cadáveres. Depois de um tempo convivendo com a morte, acostumou-se com ela.

                Lia alguns documentos e assinava algumas certidões de óbito. Um homem da região sul de Cabo Verde havia falecido por conta de infecção intestinal. Luanga pensou, deve ter caçado um elefante e comido ele todinho.

                Bocejou, estava ficando com sono. Resolveu levantar-se para beber um pouco de água quando ouviu um som abafado. Primeiro procurou ouvir com atenção de onde vinha o som, quando percebeu que na verdade tratava-se de um barulho oriundo de uma das gavetas, assombrou-se, tornando-se mais frio que os cadáveres.

                Seu coração acelerou, e ele sabia de qual gaveta estava vindo. Com licença? Um defunto ressuscitou? Impossível, isso era impossível, praticamente todos estavam sem os órgãos vitais, menos o...

                Tudo ficou tão claro. Caminhando com as pernas bambas aproximou a mão trêmula da gaveta onde o corpo de Sasuke estava e quando a puxou, o corpo emergiu-se. Doutor Luanga berrou e desmaiou paralisado tombando no chão, duro.

                Sasuke estava nu, respirava com dificuldade, não sabia onde estava. Os olhos abertos, paralisados, e o hálito gelado ia tornando-se quente. Estava de volta ao mundo dos vivos.


Notas Finais


Obrigada por ler, por comentar e por acompanhar.


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