Com meus olhos fechados, permaneci quieta. Me assustei, mas não por ter algo grande e gelado me prendendo, e sim, por não senti nenhum pouco de temor por isso. Não queria lutar contra isso, porque eu sabia que a única coisa que poderia me machucar, e já o fez, está longe de mim. Jimin não pode me machucar mais, apenas a lembrança de tudo que aconteceu. Mas o apenas é uma palavra tão insignificante quanto o sempre, ou o Eu Te Amo. Não é uma palavra, eu sei, mas continua com a mesma insignificância. Porque tudo é tão pouco e insignificante agora. Porque nem a palavra mais devastadora pode descrever o que eu sinto, e isso sim me assusta.
Eu, agora, sabia que era uma pessoa. Podia ouvir a respiração acelerada e gelada no topo da minha cabeça. Não me importo com quem possa ser, até que ouço sua voz. Não foi nenhuma palavra o que ouvi, parecia um urro esquisito e extremamente desconexo. Era a voz de quem eu mais temia ver, a voz de quem eu nunca queria ver. Era Jimin.
Levantei minha cabeça num segundo, empurrando seu corpo pra longe do meu. Fiquei de pé e, agora sim sentia todo o medo e pavor que jamais poderia sentir. Ele era a representação da mentira. O único ser que me poderia fazer mal.
- Você está bem?
Sua voz estava muito baixa, mas o desespero e o alívio eram nítidos nela.
Não quero falar com ele, minha respiração desregulada também não quer deixar. Contudo, sinto meus pés presos ao chão e não consigo correr.
Ele levantou, ligou sua lanterna e caminhou pra perto de mim, parecia cansado e estava completamente sujo. Seu rosto não era mais ilegível. Eram nítidos nele a aflição. Ele esticou o braço e tentou tocar meu rosto, mas antes que conseguisse, dei um tapa na mesma e gritei:
- Não toque em mim.
- Sim, você está. - Seu sorriso era um tipo de alívio, porém não era feliz. - Precisamos conversar.
Como se um balde de água caísse sobre mim, acordei do transe da dor e da tristeza ao qual me prendia e, andando rápido sai de perto dele. Mas eu não tenho pra onde ir, e não tenho luz. Estou presa por entre essas árvores, com a única fresta entre duas árvores que mostrava a lua e iluminava fracamente o local. Estou presa por essa única fonte de luz, e ele é quem deve sair, porque ele tem a lanterna. Ele é quem deve me deixar em paz. Ele foi quem errou. Ele.
- Não. Não temos nada com que conversar. - Minha voz estava rouca, portanto, não saiu tão alto quanto pensei.
- Por favor - Sua voz era calma, enquanto ele se dirigia até mim novamente. -, me deixe explicar.
- Explicar... - Repeti com desdém. - Eu é quem vou explicar.
De repente eu soube que, para eu seguir adianta com isso, precisava vestir uma máscara. Uma máscara de raiva. Porque tudo o que eu posso fazer é transformar um pouco da dor que eu sinto em raiva. E o pouco dela já seria suficiente.
- Você é podre, Jimin. - Eu cuspo, mas não consigo impor a raiva quando o faço.
Meu coração dói e, é tão forte que não posso máscarar a dor com a raiva. E não posso fingir nada na frente dele. Não posso esconder dele. Não consigo esconder de ninguém.
- Você é...
Eu sou fraca, não consigo dizer. As lágrimas idiotas e traidoras caem sobre minha pele e eu não consigo impedir.
Jimin caminha até mim. Minha visão borrada facilita as coisas pra ele, e, no segundo seguinte, estou sentada no mesmo lugar em que estava antes de ele chegar. Pisco várias vezes, tirando as lágrimas dos meus olhos e o vejo sentado em minha frente, a lanterna iluminando seu rosto, no chão.
Por um momento podia jurar ter visto raiva passar pelo seu rosto, porém, antes de eu concluir algo, tornou-se a ser impassível.
- Você... Droga... - Ele sacudiu a cabeça. Parecia lutar contra algo dentro de si mesmo. - Eu não entendo.
- O que? - Grito. - Você não entende? Eu é que não entendo. Eu é que... Você não entende como eu descobri sua pouca vergonha, é isso?
- Não entendo como você pode acreditar nisso, com tudo o que te disse. - Ele não gritava, mas era algo perto disso. - Não entendo como, pra você, é tão fácil pensar que simplesmente não sinto nada. É tão fácil acreditar que não te amo. Faz parecer tão pequeno tudo o que sinto. Você... Merda!
Não sabia no que pensar. A primeira coisa que me veio a cabeça foi que um de nós dois estava louco. Não estamos falando, ou sentindo a mesma coisa.
- Eu... eu só queria saber... Por quê?
Jimin respirou. Só isso que fez, antes de eu ver a raiva possuir seus olhos mais uma vez, e depois ficou impassível novamente.
- Pense... Por favor, pense. - Sussurra. - Você realmente acredita que eu enganei você todo esse tempo?
- Eu vi, Jimin, ninguém me contou, n... - Me cortou.
- Qual o sentido de tudo isso?
- Não sei, me diga você que...
- Não estou perguntando isso. Qual o sentido de tudo, eu, você, as pessoas, a vida?
Me sentia fraca. Eu não conseguia contra argumentar, não conseguia xingá-lo. Meu eu estava fraco por ele. Por tê-lo tão perto de mim. Por ver seus olhos impassíveis ficarem tristes e voltarem ao estado normal, ilegíveis. Eu me sentia fraca e boba.
- Eu vou te dizer qual o sentido da vida, _____. - Seus olhos teimavam em ficarem tristes, todavia ele tentava se mater ilegível. - E depois disso, se você quiser, eu vou embora.
Seus olhos se fechavam e abriam tão rapidamente quanto se tornavam tristes e ilegíveis.
- Talvez vivemos aqui e tenhamos todos um papel, uma missão a cumprir. Talvez Deus realmente exista e tenhamos um ciclo de vida ao qual não termina se morrermos. Talvez cada um de nós tenha algo específico que nos torna especial. Deus, anjos... Qual o sentido da vida? Para que realmente existimos? - Eu estava presa nos seus olhos. Não conseguia protestar, nem chorar. Aquilo era mais forte que a dor que sinto. - Bem, eu, particularmente, não acredito em Deus, ou num céu. Não acredito em vida após a morte, ou em vida espiritual. Mas qual o sentido de tudo que fizermos e vivermos aqui? Todos vamos morrer um dia e tudo vai ser escuro, então qual o sentido? Você pode não saber o sentido. Taehyung pode não saber o sentido. Mas, eu... Eu sei. Tudo, cada pedacinho do que eu faço ou sinto, é para você. Não teria um sentido se não existisse você. Me desculpe, mas, tudo o que eu tenho feito, desde que te conheci há três anos, é viver e sentir por você. Me desculpe. Nada o que você ver, ou ouvir, vai se comparar com o que eu sinto. Porque nunca teve um sentido enquanto eu não te vi. Agora você me pergunta o porquê de eu nunca tê-la chamado para conversar. Bem, eu estava tentando entender tudo o que eu sinto por você...
Ele queria que eu acreditasse nele antes das provas. Queria que eu acreditasse na palavra dele com todas as coisas depondo contra elas. Queria fazer-me acreditar em algo que ninguém acreditaria sem provas. Eu entendia o porquê. Eu sentia isso dentro de mim, de uma forma agonizante e confusa. Todavia, acreditava nisso como acredito em Deus.
Enquanto minhas lágrimas caíam, ele se atrapalhou. Seu rosto estava mais inundado por água salgada que o meu. Ele não diria isso se estivesse mentindo. Eu me sinto uma idiota por ter acreditado tão facilmente que ele não me ama. Loucura, eu sei, mas era algo que vinha de dentro de mim. Nada comparável, explicável.
Jimin tentava falar, porém sua voz não vinha. Seu rosto se contursia de tal maneira que era agonizante. Mas, quando achei que ia desmoronar, me empurro para ele, encostando nossos lábios e, enfim, o beijando.
Não foi como nenhuma das vezes em que nos beijamos. Sentia meu coração acelerado. Meu corpo queimando. Meus pensamentos voando apenas entre seu nome. Era como se seu lábio fosse tudo o que eu tinha para sobreviver. Era algo que eu podia sentir em cada pedacinho do meu corpo. Nossos corpos estavam tão juntos, que eu desejei poder fazer parte do seu ser, colar-me nele, literalmente.
Jimin me colocou sentada em seu colo, sem parar de beijar minha boca, e se encostou no tronco da árvore enquanto tentava fazer - e eu também - com que a Lei de Newton, de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, não fosse realmente verdade.
- Mesmo que quisesse e não entendesse, eu não iria embora. - Sussurrou.
Seus lábios batendo nos meus enquanto falava.
- Essa foi a única mentira que te contei. Nunca menti pra você, _____.
Com relutância, separei nossos rostos.
- Me desculpe por duvidar, mas... Quem não iria? - Ele pareceu indignado com isso. - Quero dizer... Eu ainda não sei como isso foi acontecer e você estava com as mãos...
- Estive pensando quando fugi do acampamento pra te procurar. - Ele me interrompeu. - Foi Sun Hi quem armou tudo.
- O que? - Perguntei, confusa. - Sun Hi? E por que motivo ela faria isso? E como?
- Pense, _____, pense.
Quanto mais eu pensava, mais não fazia sentido. Talvez Namjoon, ou Taehyung... Mas, Sun Hi? Eu nem sequer tinha a visto.
- Não foi difícil. - Ele falou, quando percebeu que eu não chegaria a conclusão alguma. - Ela é amiga de Suzi e Taehyung. Suzi gosta de mim, Taehyung de você...
Então tudo começou a fazer sentido. Taehyung disse que pensava que eu fosse o par de Jimin, porém algo o fez mudar de ideia. Ele teria me dito, mas eu havia o interrompido.
- É. Taehyung iria me dizer algo, mas eu não o deixei terminar. Algo, como " É. Foi o que pensei antes de..." - Jimin sorriu. - Eu tinha lhe dito que faria par com você, quando ele disse isso.
- Então Sun Hi deveria ter lhe dito que eu estava com outra pessoa. Ele olhou a lista e confirmou, aproveitando e anotando seu nome junto com o dele.
- Sim, mas... E Suzi?
- Sun Hi sabia que eu não iria acreditar nisso tão facilmente como você - Quando ele disse isso, senti minhas bochechas esquentarem. -, então convenceu Suzi a colocar meu nome junto com o dela, antes que eu fosse marcar nossos nome na lista. Ela chegou na barraca e começou a agir de uma maneira estranha... Estava, descaradamente, me dando mole...
- Sun Hi deve tê-la convencido que você senti algo por ela, claro. Ela é muito boa. Não imagina seu poder de persuasão.
- Estranhei quando Suzi me disse que assinou meu nome junto com o dela, mas... Bem, não se pode tirar mudar, de qualquer forma. Depois, Sun Hi apareceu junto a supervisora e nos mandaram pra fila, não me deixando falar com você antes...
- Mas... - Desviei meus olhos dele. - Você... Eu vi você com a mão na cintura e outra na altura do seios dela e...
Jimin não deixou-me terminar e caiu na gargalhada.
- Qual é o problema, idiota?
- O problema é que você precisa de uns óculos. - E voltou a gargalhar. - Eu estava com a mão na cintura dela, sim, mas pra tentar afastá-la do meu corpo. E, como você tão lindamente supôs, estava com a outra na altura dos seios dela, não neles em si.
- E o que o senhorinho pensa que estava fazendo, quando colocou as patinhas lá?
- Tentando empurrá-la? - E soltou mais gargalhadas.
Meus olhos ainda estavam em seu rosto quando ele parou de rir. Ficamos nos olhando por, acredito eu, dez minutos. Era bom poder olhá-lo de perto. Bom senti-lo por baixo de mim. Poder sentir o calor de seu corpo. E o silêncio só foi cortado quando uma gota de água pingou bem em meu nariz.
Jimin passou seu dedo ali, limpando o local e sorrindo.
- Parece que vai chover. - Concluiu.
- Vamos voltar? - Pergunto, me referindo ao acampamento.
- Não. Não sei o caminho e suponho que você também não saiba, não é?
- E você concluí isso tão calmo assim? - Desespero-me.
- Não me importo se estou debaixo de cobertas aconchegantes, ou perdido em uma floresta no meio da chuva. Não quando sei que nunca mais vou perder você.
Meu coração, tão previsivelmente, acelerou. Selei nossos lábios rapidamente e disse, num sussurro ardiloso e sincero:
- Eu te amo.
- Eu te amo, também.
Nossas testas estavam coladas quando um trovão fez um enorme barulho, e a água começou a cair sobre nós. Abracei seu corpo, encolhendo-me em seu peito, enquanto ele deitava o corpo no chão.
Agora estávamos deitados. Ele no chão, com terra e mais terra, servindo-lhe de cama, e eu no seu corpo. Minha cabeça exatamente onde seria seu coração, escutando o mesmo bater tão rapidamente quanto o meu. Ou talvez mais.
A lanterna acabara de se apagar e, agora que a lua não era mais visível, a única luz que tínhamos era quando algum relâmpago caía. Bem, deveríamos temer, estávamos bem debaixo de uma árvore enorme, porém, eu apenas sentia felicidade. Também não era como se tivéssemos escolha, afinal estamos perdidos em uma floresta, e desprovidos de luz. Era estranho o quão feliz eu estava em tais condições.
- Nunca duvide do que eu sinto por você, por favor. - Ouvi o sussurro de Jimin, por mais que a chuva estivesse muito barulhenta. - Nunca mais.
Balanço, levemente, minha cabeça em seu peito.
- O que você está pensando? - Ele pergunta.
- No que você me disse. - Não podia ver Jimin, mas sabia que ele estava sorrindo agora. - Você realmente não acredita em Deus?
Fez-se um silêncio até que ele respondeu.
- Se quer saber, não.
A chuva caía sobre nossos corpos, ensopando nossas roupas. Jimin apertou-me em seus braços, acariciando ora meus cabelos, ora minhas costas.
- Talvez eu acredite que depois da morte tudo acabe. Mesmo assim, sei que o que sinto por você, de alguma forma, não vai morrer. E, bem...
- E...
- E, vamos adoecer se essa chuva não parar.
Eu gostaria de saber o que ele pensa. No que está pensando agora. No que não quis me dizer. Mesmo assim não o forcei a falar.
- Quando amanhecer, vamos encontrar água e depois procuramos o acampamento.
- Eles devem ter chamado alguém pra nos resgatar.
- Chamou. Eles vem amanhã. Estava preocupado demais pra esperar de braços cruzados.
Mesmo com a chuva, os trovões e os relâmpagos distante e clarões, senti meu corpo pesado e cansado. Minhas pálpebras estavam pesando cada vez mais. Porém, mesmo assim, meu sorriso continuava firme em meus lábios.
- E, vamos voltar pra casa quando voltarmos ao acampamento. - Jimin dizia, fracamente.
Suas mãos tateando meu rosto, ele sentiu meus olhos fechados, meu sorriso nos lábios e apertou-me mais sobre si.
- Sente muito frio?
- Um pouco, acho. - Sussurro, quase sem voz nenhuma.
Estava um passo do sono e meio da lucidez, quando os lábios grossos e frios de Jimin tocaram-me a testa.
- Perdoe-me por deixar isso acontecer... - Escuto vagamente suas palavras e não sei se é real ou apenas um sonho. - Sun Hi não ficará tão ilesa quanto pensa, eu prometo.
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