Minhas habilidades haviam crescido, creio que ninguém naquele reino ou até mesmo o melhor arqueiro, saberia lançar flechas como eu. Regina ajudava-me sempre e da melhor forma, mostrando o que sabia com a montaria e a manusear a espada. Ruby, minha melhor amiga, ensinava-me, agora além de burlar coisas simples, a me defender e entre demais atividades que julgava serem importantes. A única coisa que não aprendi foi a arte de fazer pão, se dependesse de mim, todos daquele reino morreriam de fome.
Passei anos, que para mim foram longos, entre idas e vindas da presença de Regina, todos os afastamentos eram causados por meu pai, e até eu descobri isso sozinha, sofria muito por achar que ela pudesse me culpar de algo ou que não me desejasse ao seu lado.
-O que tem Snow?
-Nada, só não quero mais passear, Ruby.
- Qual a razão? Estavas tão feliz hoje pela manhã.
- Eu sei, mas meu humor mudou de ideia.
- Hum...vou sentar ao seu lado e esperar que melhore.
- Ficarás o restante do dia assim.
- Não me importo, sou sua amiga.
Ruby procurava todos os meios para me deixar bem, até o silencio ela praticava quando eu não desejava compartilhar o que estava sentindo. Assim, Granny com suas delicias me mimava e todos daquele lugar sabiam a falta que sentia e pareciam não suportar me ver triste. Leopold mudou completamente, me tornei um nada para ele e algumas vezes senti vontade de tirar minha vida, pois até alguns anos atrás, me sentia culpada pela morte de minha mãe e Regina com seu carinho e paciência, retirou cada dor de mim.
- Regina...Regina...cuidado...não.
- Snow – a acordei.
- Regina –a abracei.
- O que aconteceu querida?
- Um pesadelo terrível, você...tinha ido e – falava enquanto a olhava – ah, não suma da minha vida nunca – a abracei outra vez.
- Não farei isso minha menina, jamais, mesmo que um dia eu venha a ficar longe, estarei em seu coração e você no meu –sorri.
Hoje, aos 18 anos sou praticamente dona de minhas decisões, falo isso porque não consegui a coragem suficiente para sair do reino, na verdade, quero mudar os planos do rei para comigo, preciso e devo ser rainha, mas não uma que precise de um homem para dizer como governar. Um companheiro, talvez, mas nunca um homem que possa tratar-me mal como meu pai o faz com Regina. Não quero alguém que mude ou apenas escute a si mesmo e não leve em consideração a dor alheia. Quero um amor verdadeiro e o buscarei.
Aquela noite foi divertida, dançamos , jogamos cartas e Ruby surrupiou o beijo de alguns moços que eu fazia questão de dispensar. Ela os beijava e me olhava como um desafio. Eu ria de suas atitudes e voltava a beber vinho. Dançamos mais e saímos de braços dados em direção ao castelo e meu quarto.
- Não entendo como não gosta de nenhum deles. Você tem medo?
- Eles simplesmente não me atraem, são todos fortes e imbecis, não sabem dialogar, só querem atacar nossas bocas e apertar nossos seios. Como gostar disso, me diga?
- Ah, creio que seja natural os aceitar, são homens e nós mulheres, a lei da vida.
- E desde quando alguma lei dita o que faço e quero? – rimos – se algum dia surgir alguém você será a primeira a saber.
- E se este alguém estiver perto de você e você nunca percebeu?
- Se estivesse perto, eu o teria notado – lancei o lençol sobre nós.
- Snow...
- Diga – falo, já deitada.
- Você já sentiu atração por alguma mulher?
- Engoli em seco e a primeira pessoa a vir em minha cabeça foi Regina – Não, nunca, por que? Você já?
- Se eu dissesse que você me da arrepios as vezes – a olho.
- Eu? Mas nem atraente sou, veja meus seios, pequenos.
- Não é isso, apenas gosto demais de você e tenho vontade de fazer isso – passo a mão de leve por sua coxa por debaixo da camisola – você gosta?
- É...bem..- meus olhos se prenderam aos dela – pode continuar, me da uma sensação boa.
- E isto? – Subi o carinho por sua barriga e apertei um de seus seios.
- Ruby...eu...
A beijei, simplesmente meus lábios foram até os dela como um imã e tinham sabor de vinho, sua mão apertou mais meu seio, seus lábios percorreram meu pescoço e eu senti algo fervilhar por entre as pernas.
-Reginaaa...- soltei sem querer.
- O que disse? – levantou depressa da cama – ela apareceu aqui?
-Não Ruby...eu...achei que a tivesse visto mas não é ela.
- Melhor eu ir – pegou suas roupas – deixe esses jogos de prazer para uma próxima vez.
Não consegui impedir sua partida, ela havia ficado com medo e isso foi um alivio para mim, já que não entendeu aquele nome ter vindo em minha boca. Meu corpo ainda fervilhava e como a muito tempo não me tocava, decidi faze-lo. Fechei meus olhos e passei a acariciar meu corpo que correspondia a cada imaginação por Regina. Era ela quem eu queria que estivesse alí, era ela que havia entrado em meus desejos juvenis e permanecido até então. Quando pequena não sabia descrever aquele desejo imenso de sempre ficar ao seu lado, mas agora neste momento eu sei bem o que quero e almejo, só não saberia dizer se ela corresponderia, talvez não, só me olha como uma menina. Deixei as interrogações de lado e mergulhei no prazer que estava proporcionando ao mim até cansar e dormir profundamente.
Levantei após o almoço e sorridente desci procurando tudo que tinha pela cozinha.
-Ponha muito feijão Granny, estou com uma fome terrível.
- Você se divertiu tanto quanto minha neta, ontem?
- Absolutamente, como não divertir estando com Ruby.
- E com centenas de rapazes – a olhou séria.
- Rapazes? – risos- logico que não Granny, meu interesse é outro.
-Não sei menina, minha neta esta de castigo, pois chegou ao lado de um rapaz.
- Você tem certeza? –franzi a testa.
- Sim, achas que sou cega?
-Não...
Ruby saira de meu quarto as pressas e foi deleitar-se certamente com aquele rapaz ferreiro. Sorri de sua atitude, pois ela não tinha jeito. Peguei meu arco e fui praticar um pouco, ao longo do caminho aquele moço de ontem a noite, o atravessou com uma margarida nas mãos.
- Bela donzela, aceite meu apreço por você.
- Não, obrigada – passei por ele sem pegar a flor.
- O que fiz de errado para que me rejeites?
-Parei no caminho e o fitei – sua existência, me de licença que tenho mais o que fazer – voltei a caminhar, mas virei outra vez para ele – e por favor, diga aos seus amigos para não perderem tempo com isso, galanteios não me atraem e tão pouco suas falácias infantis – revirei os olhos e segui para onde haviam os alvos. Para minha surpresa, Regina estava lá, sentada e lendo.
- Bom dia, rainha – me curvei e sorri.
- Pare com bobagens e dê- me um beijo –ela o fez.
- Sua noite foi boa?
- Maravilhosa – dizia enquanto preparava o arco e retirava uma flecha.
- Descreva – falo sem levantar a cabeça que parecia mergulhada na estória.
- Dancei, joguei, bebi muito e –respirei - sai com alguns rapazes – apontei para o alvo e o acertei.
-E o que aquele rapaz a fez? Por que não aceitou sua flor?
-Para que eu aceitaria? – respondi de modo nervoso e um tanto ríspido - Ele iria querer me beijar e não tenho tempo para isso – lanço outra flecha e erro o alvo.
- Não precisa ficar assim, minha querida, foi apenas uma pergunta – passei a mão com carinho em seu rosto e sai – vou cavalgar depois nos falamos.
Seu toque deixou meu corpo tenso e enquanto ela sumia no caminho, não retirei meu olhar de seu corpo coberto por aquela imensidão de tecidos. O deseja ver e saber como era. Terminei minhas práticas e retornei ao castelo, mal entrei e soube que Regina havia caído de Rocinante e estava desmaiada. Sem perda de tempo subi as escadas como se não existisse a imensidade de degraus, adentrei o quarto e solicitei providencias o mais rápido possível, Ruby ajudou-me e depois que um curandeiro veio olha-la, fiquei ao seu lado até seu despertar.
- Snow, o que aconteceu?
-Você caiu de cima de Rocinante, a cela estava solta – me abracei a ela – achei que tivesse morrido e temi por isso.
- Estou bem, um pouco de dor de cabeça, mas nada que me matasse. Pode chamar Ruby, preciso de um banho.
- Para que ela? Eu faço seu banho – segui com rapidez até a banheira e preparei do melhor modo – vou ajudar – tiro com cuidado sua roupa.
- Obrigada – ela virou para agradecer e percebeu meu olhar – esta tudo bem?
- Sim, eu...imaginei que pudesse ter algum hematoma e...
- Certo, você não é mais uma criança, tem dezesseis anos e o desejo é estranho nessa fase.
- O que quer dizer?
- Nada que deva se preocupar – sorri, já na banheira
- Ah, não sei...Ruby tem atitudes um tanto estranhas, adora pegar em meus cabelos e beijar-me a face– peguei a esponja para passar nela.
- Obrigada – afastou para frente para que eu pudesse passar em suas costas e sentir um pouco que fosse a sua pele – entendo. Ela tocou em seu corpo de modo mais íntimo?.
- Não! - afastei assustada - Por que faria isso?
- Vou perguntar-lhe algo – ela me olha - O que sentiu ao me ver nua?.
-Admirei sua beleza, apenas - engoli em seco, pois não revelaria o que vinha sentindo e se eu estivesse errada, poderia afasta-la de mim.
Ela não questionou mais nada e após o banho pediu que me retirasse para que pudesse dormir e assim o fiz. Sai de lá aliviada por saber que estava bem. Precisava pensar em algo para o dia seguinte, seria seu aniversário de vinte e seis anos e queria alegra-la. Ruby disse para eu levar o café na cama e por uma rosa ao lado, apesar de simples, seria melhor que nada. Assim o fiz e o primeiro sorriso da manhã me foi dado com satisfação. Conversamos um pouco, depois sai para cavalgar.
A floresta era deliciosa naquele horário do dia de verão, as copas das arvores balançavam a cada brisa que passava por ela. Subi em uma pedra próxima a uma árvore frutífera quando ouvi um barulho.
- Quem esta ai? Responda ou o matarei – olho para todos os lados, já de arma em mãos, ouvi o barulho mais uma vez – anda, sai de trás dessa árvore, estou vendo você – ele não me ouve e disparo uma flecha.
-Calminha – apareço levantando as mãos – quem é você e o que faz tirando frutos de minha arvore?
-Diga primeiro e esta arvore não tem dono, a caso a plantastes? – ainda apontando a flecha.
- Se abaixar isso, posso me apresentar – ela duvida e não o faz – me chamo príncipe David das terras baixas do Leste e estava caçando e você bela moça, quem é?
- Por que caçando tão longe de suas terras, príncipe David? Se é que não mentes e de fato é um príncipe – ainda apontado a arma para ele.
- Vim trazer um comunicado de meu pai para o rei Leopold. Não vai me dizer quem é?
- Sou Snow White, o que quer com o rei?
- Ahhh...prazer princesa, vejo que não é mais uma afrescurada donzela como as outras – sorri e ela permaneceu de cara fechada – meu pai quer tratar de negócios com o seu e vim pessoalmente entregar seu recado, mas antes, resolvi caçar, pois sinto fome.
- Como posso acreditar que não esta inventando tudo isso?
- Por isto – mostro o anel e a carta com selo real e ela abaixa o arco.
- Sinto muito, mas meu pai não esta, viajou e ainda não retornou.
-E eu poderia hospedar-me em seu castelo para espera-lo? Estou precisando de um banho e...
-Não sei quando voltará, acho melhor entregar a carta e mim e tomar seu rumo.
-Neste caso, virei em outro momento, pois as ordens de meu rei foram para que isto fosse entregue nas mãos de Leopold.
- Que assim seja. Tenha um bom retorno e pegue – jogo meu alforje – não morra de cede pelo caminho – me viro e volto para o reino.
- Agora mais do que nunca aceitarei a proposta de meu pai, a princesa me interessou enormemente.
- Ainda bem que ela não me viu.
- Se não o teria matado Will – ri dele.
- Não obrigada – puxo de suas mãos a água – prefiro ir para casa.
- Esta bem, vamos.
Retornei para o castelo e ele estava calmo. Meu pai havia voltado e fui até a sala do trono para vê-lo.
- Boa tarde, meu rei – curvei-me.
- Onde estavas? – perguntou sério.
-Treinando e...
-NÃO MINTA – a olhei com raiva – sei que andas cavalgando a muito tempo e que aquela vadia fez sua cabeça.
- Não chame Regina desse modo, ela é sua rainha.
- Ela não é nada e como nada foi dispensada – viro a taça com vinho.
- O que que dizer com dispensada? – o questionei.
- Não importa, o reino voltou a ser apenas meu e seu.
- O que fez a Regina? – avanço para cima dele – onde ela esta?
- Largue-me – a empurro – não me interessa, só não me serve mais.
- Vou atrás dela – sai em direção a porta.
- Se fores, não serás mas a princesa.
- Não podes fazer isso – parei por um instante e virei a cabeça para olha-lo.
- Posso fazer o que quiser, sou o rei.
- Então morra com sua riqueza, ela não me interessa.
Saio de lá as pressas, pois ouvi suas ordens para me prenderem e não me deixarem sair. Subi em meu cavalo e com a ajuda de Ruby que sabia de tudo, pude escapar pela parte de trás do castelo que dava acesso a vila mais próxima.
- Obrigada amiga, volto para recompensa-la.
- Cuidado e ache Regina.
Cavalguei o máximo que podia e busquei por minha rainha, quando avistei um dos guardas do rei retornando de algum lugar. Lancei mão de meu arco e atirei, o derrubando do cavalo.
- Onde ela esta?
- Se eu disser o rei me matará.
- Se não disser, morreras agora – aponto para a cabeça dele.
- Próxima ao lago no fim do bosque.
Retomei a busca o deixando para trás e foi após muito correr que avistei um corpo jogado. Desci de meu animal e sem o prender me atirei em direção a ela.
-Regina! Regina!
Não se movia. Estava completamente machucada e quase desfigurada. Suas roupas eram trapos e estavam com sangue. Encostei meu ouvido em seu peito e pude ouvir suas batidas bem lentas. Com toda a força que tinha tentei carrega-la mas não consegui.
- Regina, por favor, por favor, não morra.
Meus olhos se enxiam de lágrimas com a cada não resposta dela. Até que com dificuldade ouvi um gemido baixo. Peguei minha água e despejei em seus lábios. Ela pareceu engolir mas voltou a desmaiar. Puxei seu corpo para perto de uma árvore o mais longe que pude do local em que estávamos e a cobri. Estava gelada. Fiz uma fogueira rapidamente e a abracei.
- Não se preocupe, cuidarei de você – beijei sua testa.
Ela não conseguia dormir de dor, a deixei por instantes em busca de alguma erva curativa e por sorte encontrei. Fiz uma espécie de pasta que aprendi com Granny e cobri partes de seu corpo que se encontravam machucadas. Ela reclamou um pouco mais, dei água a ela e assim depois de muito tempo voltou a adormecer.
Velei por seu sono e quase nunca deixei que o meu viesse, minha missão ali era cuidar de minha rainha. Na manhã seguinte a coloquei em cima do cavalo, mesmo debilitada precisava tirá-la de lá ou em pouco tempo nos encontrariam. Foi então que ao descer pela colina, achei uma gruta, antes verificando se não havia algum urso ou outro animal. Lancei uma flecha com fogo e nada saiu, constatei que estava limpa. Entrei, acendi uma fogueira rapidamente, estendi uma manta que levara comigo e coloquei Regina nela.
- Onde estou? –falou baixo.
- Regina? Sou eu, Snow White, estas a salvo.
- O que aconteceu? – abria os olhos com dificuldade.
- Estamos em uma caverna, estou cuidando de você, estou aqui é o que importa.
- Snow...- levantou uma das mãos que menos estava ferida.
-Regina – a segurei com cuidado.
- Água, por favor.
- Aqui – dei aos poucos o líquido – você precisa comer.
- Não sinto fome, sinto muitas dores, preciso me lavar, ainda sinto o cheiro dele em mim.
- Antes irá comer, assei uma lebre e...
-Obedeça sua rainha, preciso me lavar.
A deitei novamente e sai dali em direção ao lago, levando apenas um copo e uma tigela que pudesse trazer o liquido. Rasguei um pedaço da manta, retirei suas roupas e passei em seu corpo com cuidado. Ela chorava de dor, mas não queria parar de se lavar.
-Me leve até o lago, isso não adianta – disse com dificuldades.
-Estão a sua procura e a minha, não correrei esse risco.
- Não aguentarei ficar assim.
- Esperaremos a noite vir.
E deste modo foi feito. Com paciência e carinho a levei até o lago já fim de tarde quando a escuridão estava prestes a nos cercar. Lavei seu corpo por inteiro, retirando o sangue e o fedor que dizia ter. Regina era forte, não gritou, apenas deixava as lágrimas descerem e eu, uma boba, fazia o mesmo, não pude ser tão forte para ela como deveria. Voltamos para a caverna, a embrulhei outra vez na manta, mas o frio era tamanho que começou a tremer. Fiz com que o fogo ficasse maior, porém ela tremia. Não tive escolha. Removi minhas veste e me deitei ao seu lado, a abraçando e nos cobrindo. Seu corpo foi esquentando com a proximidade do meu, mesmo pequeno pude aninha-la. Senti seu coração voltar a bater forte e sua cabeça pousar em meu peito. Beijei sua cabeça e Morfeu nos conduziu.
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