Segunda, 28 de agosto de 2017
- Ji-Jimin?
Jungkook não conseguia acreditar no que via. Era ele, Park Jimin, seu crush desde a nona série. E estava bem ali, na sua porta.
Mas como? Jungkook nunca havia dito a ele onde morava, ou dado qualquer informação além de nome e idade. Mas de alguma forma o baixinho ruivo com quem começara a conversar seriamente há quase um mês atrás estava parado em sua frente.
Jimin não estava diferente. Ao colocar os olhos no mais novo parecia que seu mundo havia parado. O Park sabia que o moreno era bonito, mas sua confirmação foi olhar diretamente nos belos olhos escuros do garoto que agora percebia ser um pouco maior que si. Sem nenhuma tela de celular como intermediária, o ruivo poderia comer o maior com os olhos. Jeon extrapolava suas expectativas, parecia etéreo demais para ser real.
Mas a realidade o atingiu ao finalmente notar os riscos translúcidos em suas bochechas, sinal indubitável das lágrimas que por ali correram. O moreno, percebendo para onde o outro olhava, rapidamente levou suas mãos ao rosto, esfregando com violência a pele enquanto tentava esconder as evidências de seu sofrimento. Não notou o momento em que Jimin se aproximou de si, preocupado com a ação exagerada do dongsaeng, e segurou seu pulso com delicadeza, como se Jungkook fosse uma frágil peça de porcelana que poderia quebrar-se ao menor toque.
E quanto ao Jeon, este travara no lugar ao sentir o calor das palmas do ruivo invadindo-lhe a derme, estático demais para sequer conseguir pronunciar ou fazer qualquer coisa. E aquela troca de olhares foi sustentada pelo que pareceram minutos até que o mais velho finalmente quebrasse o silêncio.
- Por favor... – começou, sua voz saindo uma oitava acima sem querer – não faça isso. – pediu – Não se machuque mais.
E com essas palavras Jungkook explodiu em lágrimas novamente, numa expressão enrugada que poderia ser considerada muito feia, se ele não fosse tão lindo.
- Jiminie... – pronunciou com dificuldade, parecendo que qualquer outra palavra que não fosse o nome do rapaz por quem era apaixonado travaria em sua garganta – eu... eu posso te abraçar? – questionou num fio de voz, mas a verdade é que não sabia de onde havia tirado tamanha coragem para fazer aquela simples pergunta.
Jimin pareceu chocado por um momento, mas não demorou a respondê-lo.
- É claro que pode, bebê. – disse numa voz fina e calma, seus olhos marejados querendo compartilhar das gotas salgadas com o mais novo.
O Park envolveu-o com ternura, e só quando Jungkook teve certeza de que era mesmo ele ali, sentindo o doce perfume de café e a maciez da pele alheia, é que se deixou desabar nos braços do menor.
*****
Nenhum dos dois sabia quanto tempo haviam passado naquela posição, e para falar a verdade pouco se importavam. Depois de vários minutos consolando o mais novo na porta de casa, Jungkook e Jimin de alguma forma migraram para o sofá da sala. E agora, mesmo já um pouco mais calmo, o Jeon continuava agarrado ao ruivo, com os dedos gordinhos os quais o maior achava adoráveis percorrendo seus fios castanhos e sua cabeça apoiada no ombro do menor.
- Minha mãe... – começou o primeiranista, assoando o nariz com um lencinho já um pouco rasgado – odeia homossexuais. – completou.
Jimin era todo ouvidos, e embora sentisse a tristeza na voz do maior ao tocar num assunto tão delicado não se atreveu a interrompê-lo. Jungkook precisava disso, precisava colocar tudo para fora e Park foi a pessoa que encontrou para tal. Ele confiava no ruivinho mais do que deveria para apenas um mês de amizade, mas a sensação de proteção que lhe invadia ao conversar com o menor, ou estar como agora, em seus braços, era o suficiente para saber que Jimin era seu porto-seguro.
- Meu pai era homossexual. – revelou, e o mais baixo não pode deixar de arregalar os olhos com a confissão, mas novamente não interrompeu – Ele era apaixonado pelo melhor amigo da minha mãe quando eles estavam no colégio. E minha mãe, por obra do destino, era apaixonada por ele. – falou num tom divertido, como se o universo fosse um grande piadista que merecesse reconhecimento – Mas não era só minha mãe quem estava de olho nele, meus avós também. A família do meu pai era muito rica, dona de uma grande empresa de automóveis, e meus avós sempre tiveram o olho maior que a barriga e um senso de persuasão de dar medo. – continuou, ajeitando-se no calor do ruivo, agora deitado com as costas no braço do sofá com o moreno entre suas pernas – Pouco tempo depois estavam com o casamento marcado. Para minha mãe era um sonho realizado, casar com o homem de seus sonhos. Até o momento ela não tinha ideia da “opção” dele, e mesmo que tivesse acho que pouco importaria. Os dois casaram, a reclamações de meu pai, e mais a contragosto ainda me tiveram. – respirou fundo, aproveitando o carinho depositado em sua melenas escuras – Eles sempre tiveram conhecimento de que era uma relação instável, já que um dos cônjuges nunca quis fazer parte disso, mas parecia que minha mãe se fazia de cega para não ter que aceitar a realidade. Então, um dia, meu pai simplesmente saiu de casa e não voltou mais. Eu era muito pequeno na época, não entendia bem o que estava acontecendo, só ouvi os dois discutindo e depois disso nunca mais vi meu progenitor. – concluiu sua história com um ar indiferente.
Não é como se não se importasse, mas eram águas passadas e de nada adiantaria sofrer por algo que não se podia mudar. Jungkook tinha por volta dos quatro anos quando aquilo aconteceu, para todos os casos mal se lembrava da face do próprio pai.
- E quanto à sua mãe? – o mais velho finalmente se pronunciou, baixando as mãos e acariciando o braço do mais novo, o qual percebeu estar gelado.
- Ela ficou desolada, obviamente. – respondeu, estremecendo com o toque do outro em sua pele – Parecia que a realidade finalmente tinha a atingido e foi com força total. Ela entrou em depressão por um tempo e para falar a verdade acho que ela nem se lembrava que tinha um filho durante essa época. Minha avó, por mais mesquinha que fosse, cuidou de mim durante a crise. Mas eu ainda era uma criança e precisava de amor materno. Então eu tentava ir no quarto dela escondido quando podia, mas acho que era tão pior quanto. Ela sempre disse que eu sou a cópia escarrada do meu pai, olhar para mim era muito difícil pra ela. – explicou, jogando o peso de sua cabeça no peito do outro, era incrível como na primeira vez que se viram já estavam com tanta intimidade, mas ambos sentiam-se confortáveis compartilhando do calor alheio – Passaram-se os anos, minha mãe finalmente aceitou a separação e assinou o divórcio. Mas ela sempre me ensinou a nunca confiar num homossexual, que eram o lixo da humanidade, a escória dos renegados. Por um tempo eu acreditei, eu era muito pequeno para entender na verdade. Mas os anos se passaram e eu descobri que as coisas não eram bem assim. Pior, meu primeiro beijo foi com um garoto e foi assim que descobri que era o que minha mãe mais odiava. – fungou tentando fazer com que seu nariz voltasse a funcionar normalmente após o choro – Eu nunca contei pra ela, mas não foi necessário, ela me pegou um dia beijando um peguete na festa do meu amigo e o resto já dá pra imaginar. Desde então ela não deixa que nenhum menino venha aqui em casa e me olha como se eu fosse um ser repugnante para ela, como se estivesse arrependida de ter me tido.
- Então... – o terceiranista interrompeu-o, vendo que aquele assunto já tinha ultrapassado suas expectativas para o sofrimento do dongsaeng – na sexta...
- Ela me bateu. – completou, sabendo onde o outro queria chegar, mas Jungkook não se atreveu olhar para os olhos arregalados do Park, aliás, olhava para qualquer coisa que não fosse suas brilhantes írises amendoadas – Não foi a primeira vez, e provavelmente não vai ser a última. Mas tem algo dentro de mim que explode toda vez que ela dirige aquelas palavras horríveis pra mim. Porque queira ou não, ela ainda é minha mãe, e eu ainda a amo e preciso dela. – finalmente tomou coragem para virar-se no abraço e mirar os orbes do mais velho – Jiminie, eu nunca contei essa história a ninguém, nem o Hyun sabe de tudo, eu sempre omiti boa parte da verdade. Você foi a primeira pessoa que eu confiei verdadeiramente para dizer tudo. – confessou e o menor olhou-o surpreso.
Mas o que lhe surpreendeu mais foi sentir os dedos finos do mais novo tocando sua bochecha, depositando um carinho ali que era de fato muito agradável. Sentia-se amado de novo, sentia-se como no início de seu relacionamento com Taemin, onde tudo parecia mares de rosas, um confiava piamente no outro e o afeto mútuo entre os dois era palpável. Entretanto, ao mesmo tempo tinha medo. Medo de se jogar de cabeça num amor adolescente e acabar se machucando novamente. Medo de dar tudo para que aquilo desse certo e acabar sofrendo ao final. Medo de ser usado e descartado como um objeto como sempre foi.
Mas Jungkook não era Taemin. Prova disso era o que havia acabado de contar, coisa que não fizera nem para seu irmão mais novo com quem tinha amizade há anos. Mais que isso, desde a primeira vez que teve uma conversa séria com o dongsaeng Jimin sentiu que havia algo diferente naquele garoto, uma maturidade oculta no corpo de um garoto de dezesseis anos. Agora entendia o porquê, mesmo tão novo o Jeon já havia passado por muito mais que ele, e vendo agora sua situação se sentia até mesmo ridículo por fazer tanto drama por um “simples” término de namoro.
Sentia-se no dever de proteger o moreno. Não sabia quando essa sensação havia começado a se apossar dele, porém tinha consciência de que estava ali. E era essa mesma voz soando no fundo de seu cérebro quase adulto que dizia que não conseguiria ver seu dongsaeng sofrendo mais. Era esse mesmo murmurinho que martelava em sua cabeça só lhe dando mais certeza de que faria de tudo para ver sempre um sorriso nos lábios de Jungkook.
Porque se havia uma coisa que Jimin havia descoberto durante esse recesso na relação entre ele e o mais novo é que do mesmo jeito que o Jeon o via de maneira diferente, o Park também sentia algo pelo moreno que com certeza ultrapassava a definição de “amizade”. Ele ainda não sabia como rotular aquela sensação, aquele batimento mais arritmado que sentia no peito quando o maior lhe tocava como naquele momento. E ele sabia que ainda estava cedo demais para ser paixão, talvez não estivesse nem mesmo na casa do “gostar”. Mas ele reconhecia aquele sentimento de quando teve sua primeira paixonite quando ainda era um pré-adolescente descobrindo as desventuras do amor pela primeira vez.
Talvez ele pudesse realmente dar uma chance ao primeiranista de lhe fazer feliz. Talvez essa fosse a melhor escolha para descobrir aquele calor que insistia em lhe invadir o peito quando estava ao seu lado. Mas só havia um jeito de descobrir se aquilo realmente era verdadeiro, se era realmente o início de algo bem maior que o carinho amistoso entre os dois.
- Oh, você deveria ir embora, Jiminie. – o maior disse subitamente, fazendo o mais velho sair de seus devaneios e o olhar confuso, perguntando-se se o moreno estava realmente lhe tocando dali depois de tudo o que compartilhou com o Park – Não me entenda mal, - riu com a careta involuntária que o ruivo fez ao pensar em tal possibilidade – é que minha mãe vai chegar daqui a pouco. Eu já estou acostumado, mas não gostaria de lhe ver levar um sermão por estar andando com a aberração da família. – revirou os olhos ao reviver com desgosto as palavras da progenitora naquela sexta inesquecível.
Foi então que uma ideia clicou na mente do menor, como uma escapatória temporária para todos aqueles problemas.
- Kookie-ah, - chamou, vendo-o sair do conforto de seu corpo e se espreguiçar no sofá, estalando com deleite as costas rígidas enquanto olhava com curiosidade para o hyung – e se fugíssemos juntos?
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