Desde muito pequeno eu costumo ouvir os apelidos "que não ofendem".
A primeira pessoa a se referir a mim como "bichinha" fora o meu pai. Também, pudera, um garoto que deveria estar incluído no clubinho dos carrinhos e do futebol, trocar tudo isso por sapatilhas e um mundo que era suposto pertencer a garotas?
Era inadmissível! Era absurdo demais!
“Pervertido, mal amado, menino malvado, muito cuidado!”
Eu deveria ter parado antes, deveria ter largado as minhas sapatilhas e corrido para o campo de futebol mais próximo. Isso faria o meu pai me amar. Ele não iria mais me bater, não iria mais gritar com a minha mãe, por ela me defender de todas as agressões.
Mas acredito que fui egoísta demais, ao decidir me agarrar ainda mais as minhas sapatilhas.
“Má influência, péssima aparência, menino indecente, viado!”
Mamãe sempre me disse que eu não estava errado, e que eu não deveria deixar nada daquilo me machucar, que eles eram os únicos errados.
Eu tentei acreditar, com tudo de mim em cada palavra dita pela mamãe. Mas porque a cada vez que um amigo me virava as costas, parecia quase me sufocar? Porque cada vez que eu escutava um comentário feito pelos colegas da minha escola, eu me sentia cada vez mais sujo? Eu não sabia a resposta.
“A placa de censura no meu rosto diz: Não recomendado à sociedade”
Doía.
Era como ser acertado por uma lança bem no meio do peito. Era sufocante. Era como ser continuadamente derrubado, quando eu sequer conseguia me equilibrar direito devido à força dos golpes. Eu dava o meu melhor, todos os dias, para encarar tudo de frente e permanecer firme.
Entretanto, depois de um tempo, todas as agressões psicológicas, verbais e físicas passaram a consumir tudo de mim.
Eu passei a sufocar dentro de mim mesmo. Essa foi a pior coisa que um dia eu senti. Eu não queria mais sair de casa, porque lá fora era ruim demais, era doloroso. Era como andar em um chão de brasas e vidro.
"Não olhe nos seus olhos, não creia no seu coração, não beba do seu copo, não tenha compaixão.
Diga não à aberração!"
Então eu caí. Caí de forma tão dolorosa, que eu sequer tinha forças para tentar me reerguer como sempre tentei fazer. Mesmo caindo tão profundamente no abismo, ainda estou em queda livre.
Por um momento, eu pedi com todas as minhas forças para ser capaz de voar novamente.
Agora, peço para encontrar o chão de uma vez.
A placa de censura no meu rosto diz: não recomendado à sociedade.
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