História Não resisto a nós dois - Ele

- Bom dia Pietra - Laura saudou a governanta enquanto entrava na cozinha.

- Bom dia, senhorita. - respondeu com um sorriso. - Dormiu bem?

Laura que já havia se sentado a mesa, se servia de chá, pensou que a última coisa que fez a noite passada foi dormir, no máximo descansou o corpo num banho de banheira por um longo período de tempo e se achava revigorada. Sempre foi uma pessoa com a rotina diferente das demais, poderia ficar uma noite sem dormir ou dormir tarde, que mesmo precisando acordar cedo no dia seguinte, no horário combinado estaria em pé. E agora estava ali, depois de uma noite insaciável e muito prazerosa com um jogador espanhol, muito bem disposta para aquele dia que só começava.

- Dormi um pouco, mas bem, obrigada por perguntar. Eu tô é morrendo de fome. - disse pegando uma torrada, passando geleia de morango.

- Fique a vontade. As meninas já passaram por aqui e foram dar uma volta com o Julius. - informou. - Cinthia  pediu pra avisar que voltam antes de vocês irem para as entrevistas.

- OK! Eu só preciso terminar esse café da manhã delicioso, que depois o trabalho me espera. - falou, enchendo um pratinho de frutas frescas.

- Está animada para essas entrevistas? - Pietra perguntou, sempre andando de um lado a outro da grande cozinha. - Pedro falou que são quartos candidatas e que você tinha escolhido. Tem alguma que lhe chamou mais atenção?

Laura ouvia atentamente as perguntas que Pietra lhe fazia e não deixou de notar que ele estava bem a par de muita coisa que acontecia na empresa da família Hazzan.  Isto não era incomum, mas acabou aguçando a curiosidade da cacheada.

- Você trabalha com o Pedro há muito tempo, Pietra? - perguntou com cuidado, não queria ser indelicada, mas gostaria de saber mais sobre ele.

- Bastante tempo. - a governanta a olhou de um modo gentil e se sentou numa cadeira disposta na frente de Laura. - Dona Elizabeth me contratou para poder ajudá-lo aqui. De início ele não gostou muito da ideia. - soltou um risinho. - Sabe bem como são esses jovens querendo viver a vida sem ninguém no seu pé, mas depois ele acabou aceitando minha ajuda e ganhei sua confiança. Não foi fácil, mas eu não sou uma pessoa que desiste tão rapidamente.

- Imagino como não deve ter sido. - disse, após ouvi-la com atenção. - Pedro pode ser muito teimoso quando quer.

- Você não faz ideia. - Pietra afirmou sorrindo se levantando, levando consigo alguns pires e canecas que ainda estavam na mesa. - Mas eu sinto falta daquele teimoso. Nossas conversas pelo Skype não são as mesmas coisas.

- Mas por que ele não vem mais pra cá?

Perguntar aquilo foi puro impulso e somente depois que as palavras saíram de sua boca que Laura viu no quanto estava sendo invasiva.

- Nossa!!! Me desculpa, Pietra. - pediu sentindo vergonha. - Eu não devia ter sido tão indelicada. Por favor, esquece o que te perguntei. Isto não é da minha conta.

A mulher mais velha a olhava de um modo que Laura não conseguia compreender, mas parecia haver algo ou alguma coisa nesse olhar que a deixava inquieta e até mesmo com uma cisma de que a outra podia ler seus pensamentos mais profundos. Ela não se sentia desconfortável, longe disso, pois Pietra mostrava ser alguém completamente confiável e amável.

- Vou te contar uma coisa. - seu olhar era bem fixo nos de Laura.  - É algo que  poucos sabem e que eu gostaria que não saísse daqui.

- Claro, Pietra. Eu não contarei a ninguém, pode confiar em mim. - Laura disse essas palavras no meio de vários pensamentos conflitantes.

- Eu sei, Pedro deixou isso bem claro ao te confiar o rumo da Rouge.

Foi um choque ouvir aquilo de novo, vindo agora de uma outra pessoa. Alguém que não a conhecia e que mesmo assim confiava plenamente nas palavras e ações de Pedro Hazzan. Isso fazia com que ela tivesse mais dúvidas ou certezas sobre o que realmente importava para ele. As palavras de Mariah não saíam de sua mente, tampouco as de Pietra sairiam.

- Eu nem sei como agradecê-lo por isto. - começou a dizer, mas foi interrompida.

- Ele sabe que você está grata e isto pra ele já basta, Laura. Você não sabe como.

- Talvez eu saiba. - murmurou, mexendo-se na cadeira.

Pietra então contou o que tinha acontecido com Pedro no ano anterior, de como tudo desmoronou quando ele descobriu o que Nicole fazia, de como saíra de Londres arrasado e sem esperanças, de como perdera totalmente a fé no amor e principalmente nas pessoas.

Aquelas palavras as seguiram por todo o caminho até a sala de convenções que a empresa havia alugado. Cinthia não parava com as ligações, sempre fazendo uma ou duas observações sobre os assuntos que deveriam ser resolvidos. Laura ao seu lado fingia estudar os papéis em suas mãos, sua mente estava em outro lugar. Precisava se concentrar, mas era realmente difícil pensar depois de tudo o que ouviu. Será que algum dia isto sairia de sua mente? A resposta era um belo e sonoro NÃO!

**

- Gostei bastante dela. - Cinthia  falou após a loira elegante sair da sala. - O que você achou? - perguntou voltando-se para Laura que fazia suas anotações em uma agenda.

Laura sempre foi uma pessoa atenta às modernidades, mas amava o toque da caneta no papel.

- Se mostrou conhecedora da Rouge, mas isso não basta. - apontou. - Ainda faltam mais duas e preciso ser totalmente imparcial, mesmo sendo difícil.

- Ah! Então você gostou de uma delas. - Cinthia Observou divertida.

- Uma me chamou mais atenção que a outro, mas veremos na segunda o que nos espera. - disse finalizando o assunto, juntando suas coisas para irem embora.

As entrevistas com as duas candidatas haviam durado algumas horas daquela tarde cinzenta, sendo bem produtiva. Laura pôde conhecê-las e fazer um perfil de cada uma e como poderiam somar na Rouge. Não era algo fácil, mas isso nunca a impediu de fazer o que vinha as suas mãos. Mariah chegou pouco depois com Julius, passara a tarde toda rodando a cidade e conhecendo seus pontos turísticos, mesmo estando sozinha disse que tinha se divertido e que tudo ali era maravilhoso. Entrou numa conversa com Cinthia sobre a noite anterior, rindo de cada situação que a assistente tinha passado com o jogador belga. Laura apenas ouvia e ria, seus pensamentos se encontravam longe dali, mas acabou contando que havia chegado bem tarde, porém evitou contar muitos detalhes.

Pieira estava terminando de fazer a janta quando elas entraram pela porta, riam de Cinthia que falava ao celular com Hazard. Os dois haviam se dado muito bem pelo que parecia, o que fez Laura lembrar da noite que passara com César e da mensagem que ainda não tinha respondido.

- Vocês topam uma festa na casa do David Luiz? - Cinthia perguntou, tapando o bocal do celular, esperando uma resposta das duas.

- Do David Luiz??? - Mariah inquiriu animada, podia ver o brilho em seus olhos.

- Sim. Do David. Vamos?

Mariah olhou para Laura que só mexeu os ombros e subiu as escadas. Estava sem ânimo para sair aquela noite, mas não queria deixar de aproveitar os dias deitada na cama pensando em besteira.

- Diga que nós vamos. Eu cuido dela. - disse subindo atrás da amiga. - Posso entrar? - empurrou a porta vendo Laura deitada de costas na cama, com os braços tampando os olhos.

- Só preciso descansar uns minutos que  estarei nova em folha. - murmurou, com voz fraca.

- Se não quiser ir, tudo bem. Você está de pé desde cedo. - se sentou na beirada da cama.

- Eu vou! - insistiu. - Amanhã eu durmo até tarde, isso não é problema.

- OK! - disse se deitando ao lado dela. - Vai me contar da noite em claro que teve com aquele espanhol lindo? - olhou sorrindo para Laura, que deu uma risada.

- Todos os detalhes?

- Poupe-me de alguns. Não preciso saber de tudo.

- Tem certeza? Foi bem divertido. - riu.

- Anda logo, Laura. Desembucha. Já já teremos que estar lindas, belas e sorridentes para mais uma noite em Londres!!!- disse animada.

Aquela animação toda a contagiou por completo, que contou como havia sido sua noite com César e de como se sentiu. Não escondeu o fato de que foi um momento que se permitiu e adorou cada segundo.

**

As três brasileiras estavam deslumbrantes naquela noite fria de sábado. Haviam chegado na casa do zagueiro com Eden Hazard, que as buscara em seu carro esporte luxuoso, super simpático e cavalheiro. Se sentiam à vontade entre os poucos convidados, que conversava pela grande sala de estar.

Pelo que elas entenderam aquela festa era em comemoração a volta do capitão Terry, depois de um tempo afastado por conta de uma lesão.

Laura conversou alguns minutos com César, mas logo se viu presa a duas mulheres que conversavam sobre moda e outras coisas que ela já perdera o interesse. Pedindo licença foi procurar por um lugar mais calmo e isolado. Encontrou uma varanda que ficava no segundo andar, era um lugar perfeito, pois precisava ficar sozinha com os pensamentos que insistiam em perturbá-la.

Quando estava a caminho da festa, recebeu uma mensagem de Gabriel, que dizia estar sentindo sua falta. Não conseguiu responder de imediato, pois constatou que embora gostasse do que compartilhavam não queria dizer algo que não sentia. Pensava nele com carinho, gostava de ouvir sua voz quando se falavam por celular e até das brincadeiras que faziam. Porém,  não conseguiu lhe dizer o mesmo. Não queria mentir.

- A festa não está te agradando? - uma voz masculina a sobressaltou, fazendo-a virar rapidamente. - Desculpa se te assustei.

- Tudo bem, eu que estou distraída e nem te ouvi chegar. - disse, tomando das mãos dele a taça que lhe era oferecida. - Obrigada.

Se encostaram na beirada do muro da varanda e o silêncio reinou entre os dois, enquanto olhavam a vista. Estavam em um ponto alto da cidade e lá de cima podiam desfrutar de uma imagem deslumbrante, das pequenas luzes e dos sons que o tráfego fazia, mesmo naquela hora avançada.

- Posso perguntar o porquê de estar tão distraída? - John quebrou o silêncio.

- Sabe quando sua mente não para de pensar numa coisa, mesmo você fazendo de tudo para ignorá-lo? - virou o rosto para ele, sendo capturada pelo seu olhar.

- Pode ter certeza que sim. - respondeu depois dê um instante. - E não tem como a gente fazer parar… porque quanto mais tentamos mais fica martelando na nossa mente. Uma hora ele vai embora.

- Você tem razão. - concordou, sorrindo e recebendo um sorriso gentil.

Aquele sorriso a deixava perturbada, sempre que o via, mesmo que fosse pela TV ou em alguma rede social, pessoalmente então a sensação se multiplicou. Terry tinha um magnetismo tão forte, algo que a deixava com a boca seca e seu coração agitado. Sempre teve uma queda pelo zagueiro, coisa de fã e estar a sua frente era surreal.

Reparou que naqueles poucos minutos ali com ele os pensamentos que a incomodavam já não a mais perturbada. Era incrível como acontecera em tão pouco tempo.

Ele estudava a linda mulher parada a sua frente. A sensualidade que emanava dela era algo natural, não forçava ou insinuava, era de um jeito incrivelmente instigante.

Desde quando a vira na boate pela primeira vez sentiu um desejo ardente, o qual teve que se controlar, afinal amava sua esposa e seus filhos, não faria algo para magoá-los  novamente, porém estava sendo difícil se manter longe.

Seus olhares ainda se encontravam presos no do outro, se estudando, como se nada a volta tivesse importância. O coração de Laura batia descompassado dentro do peito e a tensão sexual que emanava dos dois era praticamente palpável. Era deliciosamente perigoso.

- Posso te falar uma coisa? - perguntou depois de desviar o olhar e dar fim ao líquido da taça em suas mãos.

- Deve. - John respondeu dando um sorriso.  

- Eu nem sei como dizer ou se devo. - riu sem graça.

- Por que não? - ele franziu a testa sem entender.

- Vou ficar morrendo de vergonha, mas lá vai então. - respirou fundo e riu antes de falar. - Eu tinha uma “quedinha” por você. - confessou. - Meu Deus!!! Eu não acredito que disse isso. - escondeu o rosto com as mãos, sentindo-o esquentar.

Os dois acabaram caindo na gargalhada quebrando o clima estranho que tinha se instalado ali.

- Agora eu posso te contar uma coisa? - John perguntou chamando sua atenção novamente.

- Deve. - imitou ele.

John fixou os olhos nos dela chegando mais pra perto.

- Sinto o desejo de saber que gosto tem os seus lábios desde que a conheci. - sussurrou descendo seu olhar para a boca rosada de Laura.

O corpo inteiro dela estremeceu, era como uma descarga elétrica tivesse passado por ele fazendo seu coração dar um pulo e sua boca secar. Olhava pra ele com os olhos assustados e sem saber o que fazer.

- Eu … preciso ir. - precisava sair dali o mais rápido possível.

Mas antes de dar um passo em direção à porta sentiu mãos encostando em sua cintura e a puxando de encontro a um corpo firme, quando menos percebeu finos lábios tocaram os seus. Foi tudo tão rápido que Laura não saberia dizer o que aconteceu depois. Só lembrava de ter ficado apavorada, principalmente com a ideia de alguém aparecer. Foi perigoso. Foi insano. E totalmente errado, mas incrivelmente gostoso.

Tão rápido começou, terminou.

Com ambas as respirações aceleradas e olhar de surpresa. A morena abriu a boca várias vezes, mas nada saía era como se tua voz tivesse desaparecido.

Deu as costas para Terry sumindo para dentro da casa. Desceu as escadas correndo encontrando Mariah no caminho.

- Preciso ir embora agora. - disse desesperada.

- O que aconteceu, amiga? - Mariah se assustou com o jeito que sua amiga se encontrava.

- Só vamos embora, OK? - suplicou. - Juro que te conto tudo depois.

Não precisou dizer de novo, as duas rapidamente encontraram Cinthia e Eden e avisaram que estavam indo embora, mas o belga sempre solícito falou que não teria problema em levá-las até em casa.

As meninas ficaram surpresas quando souberam do acontecido, mas decidiram não comentar mais nada e cada uma foi para seu quarto descansar.

Laura precisava dormir, se sentia cansada fisicamente e psicologicamente. Uma noite inteira de sono era o que ansiava. Tirou suas roupas colocando em seguida seu pijama de flanela, mesmo com o aquecimento ligado ainda podia sentir um pouco de frio, afinal não era acostumada com o frio da Inglaterra. Na verdade a nenhum frio, Rio de Janeiro não era conhecida pelo seu inverno.

Assim que deitou sua cabeça no macio travesseiro, dormiu. O peso do seu corpo foi totalmente acolhido pelo colchão daquela maravilhosa cama e todos os pensamentos e acontecimentos do dia caíram na escuridão.

Sentiu a cama se afundar ao seu lado, mas não abriu os olhos. Apenas se virou um pouco e tornou a se entregar a escuridão.

Naquele sonho os seus olhos se abriram e viu o rosto de Pedro na penumbra acima do seu. Seus olhares se encontraram e Laura sorriu, recebendo um sorriso de volta.  Como sentira falta daquele sorriso, ela pensou, mas os olhos dele não expressavam alegria, parecia que estava com receio ou medo de algo.

Ela queria que aquilo sumisse, que ele se sentisse amado novamente e querido. Precisava que ele soubesse que era amado.

- Me beija. - murmurou.

Ele exitou por um momento,mas foi muito rápido, pois rapidamente sua boca tomou a dela num beijo suave, onde se sentiam sem pressão ou pressa. Era doce, mas intenso, com suas línguas se tocando numa dança sensual e em sincronia. Laura se deixou levar pelas sensações, precisava se agarrar aquele momento e não queria que terminasse, mas ele terminou com os dois recuperando a respiração e a sanidade. Ele se afastou e ela voltou para a escuridão.

Já se passava do meio dia quando Laura acordou e se viu lembrando do sonho que teve aquela noite, porém a ela parecia que havia sido real. Balançou a cabeça pensando em como estava sendo uma louca e se levantou. Se sentia incrivelmente bem, seu corpo estava mais leve e sua mente tranquila. Aquela noite de sono foi muito bem vinda.

Após tomar um banho e se sentir nova em folha desceu atrás das meninas e do almoço, já que sua barriga começava a doer de fome.

Chegava na cozinha enrolando os cabelos num coque alto, quando parou no meio do caminho ao ouvir aquela voz tão conhecida. Seu corpo gelou e seu coração perdeu um compasso. No meio da cozinha rindo de algo que Cinthia falava estava Pedro Hazzan  vestindo apenas  uma calça jeans, camiseta branca, descalço e incrivelmente lindo.