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História Não vele, revele - O que está em meu coração...


Escrita por: twofold

Notas do Autor


Olá, cottonzinhos ♡

Mais um capítulo (embora um pouquinho atrasado) de 'NVR', mas desta vez é a Biaz aqui ;;

Eu sei que a fanfic é da Raquel, que não dou as caras por aqui já faz um tempo (cof cof 'ADN') e estou invadindo o espaço dela, mas foi por um bom motivo ♡ Sem entrar muito em detalhes, a Quel está se mudando, por isso teve alguns problemas com a internet e o computador, e esse pequeno impasse gerou o atraso. Mas não se preocupem, amores, está tudo bem e, se der tudo certo, na próxima semana ela já estará de volta para responder aos comentários direitinho e dar muito amor a todos vocês ♡

E, agora, mais um capítulo gostosinho de 'NVR' ♡

Capítulo 4 - O que está em meu coração...


Mas eu quero ficar com você para sempre, vivendo e compartilhando o mesmo ar.
Eu queria que nós fossemos felizes como no início...

 

Capítulo Quatro

Chan Yeol recordava bem do motivo que os levou a se mudarem para a Inglaterra...

Baek Hyun sempre manteve em mente que iria embora da Coreia um dia, para poder ter um casamento de verdade, sem precisar se esconder por conta do preconceito. Até aí não era nenhuma surpresa para Chan Yeol. Contudo, eles ainda não sabiam para onde iriam. Mas foi numa tarde de inverno, quando os dois assistiam a um programa juntos, soterrados pelas cobertas quentes, que uma notícia veio para mudar tudo: “Ativistas comemoram a aprovação do casamento gay em frente ao Parlamento britânico em Londres.” Esta foi a frase que mudou o rumo de sua vida. Ele jamais esqueceria do olhar determinado do, até então, namorado, ao lhe dizer: “Nós vamos para Londres.”

Assim que eles conseguiram juntar o necessário dinheiro para fazer um intercâmbio, durante as férias de verão, prontamente arrumaram as malas e correram para Londres. Lá, eles conheceram outros casais gays, e que lhes deram dicas e instruções precisas sobre o procedimento matrimonial.

Conseguia até recordar do entusiasmo e a excitação que sentiram.

No entanto, as surpresas não pararam por aí.

Restando apenas um dia para a viagem ter seu fim, eles resolveram aproveitar o tempo e a disposição para perambular, num bate-e-volta rápido pelas cidades nos arredores. E como haviam ganhado, em uma aposta, um bilhete de ida e volta para uma cidade litorânea, resolveram unir o útil ao agradável. Com destino a Brighton, que fica menos de uma hora e meia de distância de Londres.

E foi algo semelhante a amor à primeira vista.

Brighton possui um ar que é difícil descrever, mas é o tipo do lugar que faz você querer sempre mais. A cidade é completamente outro clima, outro povo, outro tudo. Era a versão do inglês de chinelos e sem gravata, onde não se preocupavam com os botões da camisa abertos. Ao contrário de outras cidades, e da própria capital, onde as pessoas se preocupavam muito com o que estavam vestindo. Brighton tem uma ar atípico, as pessoas sorriem, estão leves e felizes. Você vê aquela quantidade de europeus e ingleses com um ar tranquilo, diferente de muitas cidades do mundo.

E foi aquilo que os prendeu ali.

Chan Yeol passou a mão pela foto deles ao lado do “Kiss Wall”: uma placa de alumínio pintada ao lado do Píer que revela imagens de um beijo entre homens e mulheres de raças e idades diferentes – bem de acordo com a vibe paz e amor de Brighton, levantando a bandeira de que o amor transcende questões de raça, idade e sexo.

Não era à toa que Brighton é também famosa por ser uma das cidades mais gay-friendly do país. Com uma comunidade gay grande e bem organizada, a cidade tem até uma parada de orgulho gay que ocorre anualmente em agosto. Então ali, estavam de fato em casa.

Aquela foto que Chan Yeol mantinha em mãos, é a prova da primeira barreira que transpassaram juntos, ele e Baek Hyun, com a determinação e a parceria que ele desejava que nunca fosse perdida.

 

"— Amor…

Baek Hyun sussurrou rente a bochecha corada de Chan Yeol, este, que mantinha a cabeça baixa pela timidez do momento.

— Eu estou falando sério, Baek…

— Ei, olha pra mim. — pediu mansinho, pegando o rosto do namorado entre suas mãos, para fazê-lo olhar para si, e não se preocupar com os transeuntes. Que também não se preocupavam com o casal, visto que ali, em Brighton, uma relação homossexual era normal — Nós podemos fazer isso aqui.

Chan Yeol encarou aquele que, de formas incríveis, fazia com que se sentisse seguro com tão pouco. Um olhar, um toque, uma palavra, uma atitude. Baek Hyun nunca precisou ser extravagante para lhe trazer algum sentimento. Seu namorado era simples. Como o verão. Era seu sol, sua estrela grande, que era apenas ela mesma e mudava tudo.

— Eu tenho vergonha.

— É apenas um beijo.

— Eu sei... só que... nunca fizemos isso em público.

— Então temos que fazer nossa primeira vez ser inesquecível, certo? — disse com um sorriso descontraído, piscando para o namorado, que lhe retribuiu o sorriso — Acho que iremos conseguir, já que estamos ao lado de uma placa enorme que levanta a bandeira de que o amor transcende questões de raça, idade e sexo.

— Você é tão persuasivo.

— Apenas beije o homem da sua vida. — pediu com um sorriso ladino, fazendo o maior rir. Estavam há longos segundos naquela proximidade tão gostosa, que Chan Yeol até conseguia se sentir mais confortável. Visto que ninguém os olhou com repulsa.

— Olha, — o amigo de intercâmbio deles, que a mais de um minuto segurava a câmera para tirar a foto, os chamou a atenção — apesar de achar vocês dois lindos juntos, eu não tenho o dia inteiro não. — ambos riram e concordaram, esqueceram até que ele esperava eles se decidirem para tirar a foto — No três, viu?

E depois da contagem, ambos fizeram daquele momento, realmente, inesquecível.”


 

— Se lembra da primeira foto que tiramos aqui? — Chan Yeol indagou de forma suave.

Baek Hyun estava sentado em frente a mini geladeira, olhava algo nela afim de saber o que suas filhas e a louca da sua irmã os deixou para comer enquanto se mantinham em cárcere.

— Aquela ao lado do Kiss Wall? — indagou distraído, escutando o marido confirmar num murmuro — Não tem como esquecer, você deu muito trabalho para tirar essa foto. Quase não me beijava! Mesmo que eu tenha repetido mil vezes que por aqui as pessoas não se importavam... sinceramente.

Chan Yeol sentiu sua bola da alegria e nostalgia murchar rapidamente.

Abaixou a foto e olhou indignado para o insensível do seu marido.

— Sério isso? — inquiriu inconformado, estalando a língua no céu da boca — É por isso que sempre estamos brigando.

Baek Hyun desviou seu olhar para Chan Yeol, a língua coçando para lhe retrucar.

— O que eu fiz agora? Será que a culpa sempre será pelo que eu falo-

Amor… — Chan Yeol o chamou, fazendo Baek Hyun se calar. Não pela interrupção repentina, mas sim pela forma que fora chamado. Quanto tempo fazia desde que seu marido o chamou assim? — Não se trata de culpa. Vamos parar de tentar colocar a culpa um no outro, e apenas aceitar que erramos, certo? Por favor, apenas… — suspirou, encarando o outrem — Não vamos mais fazer isso.

Baek Hyun respirou fundo, abaixando suas pálpebras de forma demorada, e voltando a olhar para o marido. Ele estava certo. Mas não conseguia se desculpar no momento.

— Então… — Baek Hyun começou hesitante, escolhendo as palavras — O que você quis dizer?

— Que brigamos por sempre procurar as falhas, e nunca dar crédito ao que é merecido. — disse de forma branda — Eu sei que dei trabalho, mas veja bem, somos diferentes. Você se adaptou mais rápido...eu não. Afinal, sofremos muito lá na Coreia. Mas veja bem, eu lembro da forma paciente que me tratou, passando confiança com o olhar, me confortando com suas palavras. Você precisou apenas ser... você.

Baek Hyun encarou o marido por alguns segundos. Como se esperasse algo...talvez estivesse tão mal acostumado com as palavras grosseiras que trocaram durante anos, que sequer conseguia acreditar que se tratariam bem, e só. Ficariam por aquilo mesmo. Que ironia.

Quão contraditório era.

Ele pigarreou e passou a mão pela nuca, tentando exteriorizar o que de fato sentiu naquele dia tão especial.

— Depois disso...você me beijou de novo e...eu fiquei orgulhoso. — falou baixinho, mas como não havia nenhum som ao redor, sua voz foi perfeitamente ouvida. Ficou sem jeito ao ver um sorriso meigo ser desenhado nos lábios do marido. Como podia parecer tão estranho ter sinais de carinho da parte do outrem? — Bem… — pigarreou, voltando a olhar para a geladeira — Nós temos uma cardápio bem alternativo, que contém peixe empanado mais batata frita, torta de carne e enroladinho de salsicha.

— Nada doce?

— Bem, temos scones e elas deixaram pasta de amendoim, geleia e chantilly em spray, para o recheio.  — comentou, mas logo sorriu de forma arteira ao ver o doce preferido do marido no fundo do eletrodoméstico — Ah, e temos toffee. Pouco, mas temos. Caso esteja interessado.

— Minhas meninas me conhecem bem. — disse orgulhoso — Mas se tem pouco, não é nosso, é apenas meu. — Corrigiu Baek Hyun, que olhou de forma indignada para o marido que apenas encolheu os ombros — Sobrevivência.

— Está indo contra objetivo pelo qual elas nos prenderam aqui. — murmurou aborrecido — Seu egoísta, espero que tenha diabetes.

Chan Yeol nunca gostou muito de dividir seus doces. O que já gerou muita discussão boba entre eles. Chan Yeol poderia dividir tudo de bom grado, mas como ele mesmo dizia: “O doce não, por favor”. Ele riu do que o marido disse e se levantou, indo em direção as outras caixas. Tinha certeza que a câmera polaroide, que Baek Hyun usava bastante em sua adolescência, estava por ali, em algum lugar.

— O que eu ganho se dividir meu doce com você? — indagou de forma maliciosa, descansando os braços na caixa que batia na altura do seu peito e olhando para Baek Hyun, que estava inclinado para dentro da geladeira.

— Eu não quero seu doce idiota. — retrucou ao pegar uma garrafa com o suco da laranja.  

— Estarei aberto a negociações. — disse de forma sugestiva, fazendo Baek Hyun rodar os olhos — Nossa, quanto tempo fazia que não usávamos essa câmera?

— Não sei porque gosta tanto dessa velharia.

— Primeiro, não é velharia. É vintage, e bem fofa. — partiu em defesa — Segundo, nossos primeiros encontros, e várias outras coisas em nossa vida foram registrada por essa belezinha aqui, ou já se esqueceu?

Baek Hyun rodou os olhos e voltou a se concentrar na comida, que retirava da geladeira e organizava os potinhos sobre o colchão.

— Porque não admite que é um acumulador?

— Por que não sou. — Chan Yeol afirmou, olhando o que tinha na outra mini geladeira, encontrando algo que nunca imaginou que suas filhas pensariam em colocar ali. Com certeza era coisa de sua cunhada, só podia — Eu não acredito! Temos vinho.

Baek Hyun olhou para a garrafa que Chan Yeol balançava no ar, sustentando uma felicidade incompreendida em sua expressão.

— Vai beber vinho a essa hora? — arqueou uma sobrancelha, cortando o barato de Chan Yeol.

— Temos café?

— Apenas suco... e vinho.

— Então... é, vou de vinho. — falou ao se sentar de frente a Baek Hyun — Eu não gosto de suco, você sabe.

— Não acha que além de vinho, está também tomando muito café ultimamente?

— Café e vinho, depois das nossas filhas, são as únicas coisas que continuam a me dar prazer. — disse sem realmente querer ofender, mas ao reparar a expressão indignada do marido, riu da forma precipitada que ele o entendeu — Desculpe, não foi proposital.

— Tudo bem, não é como se você estivesse dando conta também...

— O que você quis dizer?

— Nada que tenha sido proposital, é claro…

— Porque você sempre gosta de ter a última palavra? — indagou — Mesmo que magoe, você simplesmente não se controla.

— Então o que? Quer que eu te der o prazer de me magoar, sem que eu retribua o favor?

— Quero que me diga quando eu passar dos limites, apena isso. — disse — Então imediatamente eu vou me desculpar, e serei mais cuidadoso.

Baek Hyun olhou bem para o maior, e indo contra toda a vontade de ser irônico, se agarrou ao impulso de realmente tentar ser sincero e não guardar nada para si.

— Certo, você acabou de me ofender. — confessou de forma afobada — Como assim, apenas café e vinho te dão algum prazer? Acha que não estou afetivamente e sexualmente frustrado também? Eu sequer lembro a ultima vez que transamos! Que me olhou com desejo e me beijou…

Confessou tudo num tiro só. Recuperando um pouco o fôlego logo em seguida, enquanto Chan Yeol sustentava uma expressão pensativa, parecendo abalado pela confissão do marido.

— Como eu posso fazer isso...quando toda vez que nos olhamos me sinto um intruso? — murmurou cabisbaixo — Não é proposital, mas você nunca gostou de fazer nada a força, e eu sempre te respeitei. Acha que eu nunca quis te jogar na cama, só pra te lembrar do porque damos tão certo juntos? Eu também tenho necessidades, assim como você.

— Pois deveria ter feito… — murmurou baixinho, olhando para outro ponto — Não é como se eu fosse cortar seu pau fora, por causa disso.

Chan Yeol riu, se jogando no colchonete e descansando a cabeça no travesseiro de corpo. Ele olhou para o marido, que estava visivelmente desconcertado, e sorriu ainda mais.

— Vem cá. — o chamou de forma branda, batendo no espaço vazio ao seu lado.

— Não quero. — retrucou, pegando o vinho e o guardando na pequena geladeira, a fechando em seguida. Não era uma boa ideia nenhum dos dois ficarem bêbados aquela hora,

— Apenas venha, ou eu te agarro... não esqueça que acabou de me dar liberdade para isso. — Baek Hyun olhou para o marido de forma séria, mas acabou abrandando, apenas um pouco, quando viu a forma que ele lhe encarava.

Se entregou lentamente, o fazendo ao deitar a cabeça no peito do marido. Ele podia escutar a respiração do maior. As batidas aceleradas do seu coração. Ele queria tanto poder falar mais, contudo a insegurança era tremenda. Não sabia mais se Chan Yeol ainda o amava de verdade, ou apenas o suportava pelas crianças e pelo costume. Mas um calor surgiu em seu peito quando sentiu as mãos do marido lhe subir pelas costas, em um carinho brando, e logo depois o apertar em um abraço. Não qualquer um, mas sim daquele jeito que sempre o fez se sentir bem. Seguro. Como se pudesse enfrentar o mundo. Um abraço do qual tinha sentido muita falta, que lhe deixava o recado de que ele tinha para quem voltar no final do dia.

— O que vamos fazer? — Chan Yeol indagou, findando o silêncio.

— Como assim?

— Nós vamos apenas passar o dia escondendo tudo, como sempre fazemos, ou vamos começar a revelar tudo que nos incomoda e tentar fazer dar certo.

Baek Hyun ponderou. Ele tinha medo. E se piorassem tudo?

— Pare de apenas pensar e me fale o que vier a sua cabeça.

— Eu não sei se isso vai dar certo.

— E por que não?

— Se estamos nessa situação, é justamente pelas palavras erradas…

— Vamos apenas tentar. — insistiu — Para que amanhã não tenhamos nenhum arrependimento, ou dúvida, pelas palavras não ditas.

Baek Hyun ainda estava hesitante. Abrira a boca diversas vezes, afim de começar a falar algo, mas sempre achava que aquilo não seria uma boa, então mordia o lábio inferior apreensivo, como se isso o impedisse de falar alguma besteira. Chan Yeol, vendo a relutância do marido, respirou fundo e decidiu que iria falar primeiro, assim ajudaria o outrem a se soltar.

— Certo, então eu vou em frente... — avisou — Na sexta-feira, quando estávamos brigando, você disse que tinha outros planos para nós... — “Mas ao invés disso, você me vem com um pedido de divórcio. Acha que foi isso que eu planejei para nós?” Essas foram as palavras exatas, as que foram ditas em meio ao desespero e a mágoa — Eu quero saber o que você espera... o que está na sua cabeça acerca do nosso futuro.

Baek Hyun ouviu tudo atentamente, e se tornou pensativo. Mas Chan Yeol deu o seu tempo, afinal, eles tinham o dia inteiro. Não podiam fugir. E pela forma que seu marido estava em seus braços, ele não queria exatamente fazer isso.

— Envelhecer juntos. — Baek Hyun respondeu, divagando por cada desejo que desde que conhecera Chan Yeol, ansiou e guardou em seu coração — Quero acordar todos os dias ao seu lado. Quero poder te abraçar sem temer uma rejeição e te beijar sempre que sentir que preciso fazer isso. Acima de tudo, quero poder conversar com você sem o medo do desentendimento, da desconexão, sem a distância entre nós que é preenchida por egoísmo. Não quero que sejamos apenas pais, mas também quero que sejamos um casal. Como antes. Apenas... quero que sejamos felizes, assim como no início.

Ah, o início de tudo. Onde uma vez quando jovens, achamos que se encontrarmos a pessoa certa, seremos felizes para sempre. Mas é aí que está a surpresa, pois um dia despertamos do sonho e vemos que, por mais que amemos aquela pessoa e ela seja fantástica, ela não nos faz feliz em todos os momentos, todos os dias. E esses momentos tendem a aumentar e você percebe que aquela história de "na alegria e na tristeza" vai aparecer mais vezes do que você imagina. Então, na montanha russa emocional, você olha para aquela pessoa e pensa: “Então é isso? Só isso?” Sim é. E é absolutamente isso que você aceitou no altar.

— Eu quero te falar algo, mas vou ser sincero... eu estou com medo. — Chan Yeol falou perceptivelmente hesitante. Recebeu uma olhar do marido, que demonstrou sua desconfiança pelo o que seria dito, e acabou rindo — Se me olhar assim eu não vou conseguir falar.

— Apenas me diga que não envolve traição, então eu me acalmo.

— Eu acho que o que eu fiz foi pior do que traição. — respondeu, e Baek Hyun arregalou os olhos, seu coração passou a acelerar. Já sentia o medo da verdade — Eu te abandonei, — começou, tentando manter seu olhar no do marido — na verdade, eu não quero o divórcio, e eu sei que você não vai voltar a confiar em mim tão cedo depois de saber disso, mas eu fiz isso apenas para chamar sua atenção.

— Então…por que…?

— Eu sabia que você não ia assinar, na verdade, eu estava contando com isso.

— O quê? — indagou ao se sentar, mas logo foi puxado pelo marido de novo, voltando agora com a cabeça em seu braço — Você me deixou desesperado de propósito?

— Sim! — abraçou Baek Hyun ainda mais forte — Essa foi a única maneira que encontrei de chamar sua atenção. E sim, foi a forma mais estúpida. Porque sim, eu sou estúpido e sempre tomo as decisões mais extremistas.

— Seu cretino! — xingou ao chutar a canela de Chan Yeol, que se contorceu mas não afrouxou o abraço — Por que não tentou de outra forma? — bradou revolto — Nossa, que vontade de descer a mão na sua cara. Céus!

— Eu não via outra forma. — disse ao tentar controlar a risada, caso contrário, realmente iria apanhar ali — Geralmente os casais conversam, mas não conseguíamos nem fazer isso sem sair uma avalanche de insultos.

— Terapia de casal? — indagou em tom de óbvio.

— Eu não acredito nisso.

— Mas acredita no poder da chantagem que poderia ter destruído nosso casamento?

— Você não iria assinar os papéis. — afirmou — Eu tenho certeza que tentaria qualquer outra coisa, mas não faria isso. Porque você é o meu oposto, Baek. Não é impulsivo, e sim realista. É por isso que ficamos tão bem juntos. — se afastou para poder encarar o marido nos olhos — Eu sou suas asas, para quando você precisa voar um pouco. É comigo que você encontra um refúgio da realidade, quando precisa relaxar. Embora eu tenha falhado com isso nos últimos dois anos. — disse e viu o marido aquiescer com uma expressão triste, porém muito fofa — E você… — passou a mão pela bochecha do menor, apreciando a tez macia que tanto amava — é o meu chão, que traz a realidade necessária. Você me dá a certeza de que sempre vou ter para quem voltar, você é o meu lar.

— Por que eu fico com a parte mais difícil?

— Eu sei que não é fácil, mas a minha parte é igualmente complicada, veja bem, se uma função fosse mais importante que a outra, não estaríamos nessa confusão. Concorda?

Baek Hyun ponderou, mas sabia que aquela era a verdade. A cada dia longe do seu Chan Yeol, sentia-se afundar no antro da irritabilidade. Sem as piadas sem graça do marido, e sua constante falta de noção para certos assuntos, se sentia ficar amargurado. Mas sua ausência fez estrago também, pois sem Baek Hyun para guiar Chan Yeol, ele deixou os limites da razão e partiu para algo sem raciocinar por completo as consequências. Eles precisavam um do outro, aquela notável diferença era o que fazia tudo dar certo. Assim como peças de um quebra cabeça, que jamais são iguais, mas que possuem seu canto específico para se encaixar, formando assim, um todo que é certo.

— Onde foi que nos perdemos? — Baek Hyun inquiriu pensativo.

— Nas prioridades, — Chan Yeol respondeu — estávamos tão confiantes que poderíamos fazer tudo, sem deixar de nos amarmos, que fomos estabelecendo prioridades e nos rebaixando até chegarmos em último plano.

— Trabalho, filhas, velhice. Eu não imaginava que seria tão difícil.

Casamento é difícil. E como não seria? Apenas duas pessoas, lutando contra os problemas, ano após ano, envelhecendo, mudando. É uma super maratona. Só que às vezes, estão juntos a tanto tempo que param de ver a outra pessoa. E depois de tantas brigas, e novas descobertas — que nem sempre são agradáveis — você olha para seu cônjuge e só vê projeções estranhas do seu próprio lixo interno. E em vez de falar com o outro, você sai dos trilhos, age de maneira suja e toma decisões estúpidas. Você às vezes machuca aqueles que mais ama, não sabendo o porquê.

— Certo, agora eu tenho algo muito sério para perguntar. — respirou fundo e encarou Baek Hyun, mas logo desviou o olhar — Você sabe que eu nunca fiz a linha ciumenta, certo? — indagou e ouviu um murmúrio de confirmação do marido — Sério! Eu nunca fui assim antes de te conhecer, o que me saiu como uma grande surpresa, já que…

— Chan Yeol…

— Eu não quero que me entenda mal, e que ache que estou querendo invadir sua privacidade. Porque todo casal também precisa manter um pouco de seus próprios interesses particulares, para que um casamento seja saudável...

— Desembucha logo.

— Quem é Amélia? — indagou ao fechar os olhos, como se estivesse com medo de ver a resposta. O que não fazia muito sentido, mas acreditava que a dor seria menor — Você gosta dela, ou algo do tipo?

— O quê? Não! — disse indignado — Está insinuando que estou te traindo?

— Sinceramente, eu prefiro ser taxado de tolo por acreditar que você jamais faria isso. — comentou — Eu realmente não posso questionar sua fidelidade...mas o ciúmes faz coisas estranhas com a gente. — se defendeu — Eu me senti num confronto interno quando descobri sobre as ligações. Parecia que estava fazendo algo escondido de mim.

Respirou fundo.

— Não era só impressão sua... Eu realmente não queria que soubesse. — começou — Ela é minha psicóloga. — disse de forma hesitante, e viu a expressão de preocupação do marido. Ele sabia como Chan Yeol iria se sentir sobre aquilo. Talvez fosse esse o motivo que o levou a não falar sobre — Eu fui diagnosticado com depressão…

Chan Yeol se sentiu o mais estúpidos dos homens. Como pôde não perceber isso no seu próprio parceiro? Ele mesmo já havia passado por um período difícil por conta da depressão. Ele se sentiu tão culpado, tão inútil, que não sabia o que fazer. Olhou Baek Hyun de forma desesperada, como se o fizesse, poderia encontrar uma solução. Mas sua mente apenas retomava a todos os dias de infelicidade, onde não esteve mais ao lado do marido. Ele colocou a mão acima da boca, não conseguia pensar corretamente.

— Eu sabia que você iria ficar assim... por isso não falei antes. — Baek Hyun comentou.

De fato, quisera sentar e conversar sobre isso. Afinal, era o tipo de coisa que falaria com o seu melhor amigo, mas apenas Chan Yeol era seu melhor amigo, só que com tudo que vinha acontecendo, quando deu por si, já não sabia mais o que eram um para o outro além de pais da Yoo Ra e da Charlotte.

— Desde quando?

— Um pouco antes de me entregar os papéis do divórcio.

— Então eu agravei tudo?

— Sinceramente, eu não sei o que responder. Uma parte quer dizer que sim... mas a outra sabe que eu também errei. Só que parece mais fácil te culpar, embora eu que me sinta o fracassado na relação.

Então, por mais que Chan Yeol quisesse passar por todos os pontos que o fizeram fracassar como um casal, para que chegassem até aquele extremo, que envolvia uma separação, resolveu lembrar de algo muito mais importante: Todos os pontos que os fizeram se tornar conhecidos, amigos, namorados, noivos, um casal, e finalmente, pais. Eles eram todo um pacote repleto de histórias. Passaram por tudo aquilo juntos. E se estavam ali, sentindo algo, um pouco do que fosse, ainda teriam alguma chance de reerguer tudo novamente.

Chan Yeol se levantou, indo até a caixa que lembrava estar algo que já fora muito importante para Baek Hyun.

— O que está fazendo?

— Quando eu te conheci, achei que era louco por tirar tanta foto das coisas, por medo de esquecê-las. — disse ao finalmente encontrar a câmera, ele então a ligou e apontou para o marido, que inclinou a cabeça para seu lado direito e o olhou de forma confusa. Ele continuava perfeito por trás das lentes, e a foto que logo fora revelada, era a prova eternizada disso — Mas na verdade, eu não conseguia entender, já que passei toda a minha vida tentando esquecer meus dias passados... — disse ao encarar a foto e sentir uma pontada no peito — Até conhecer você, o homem que me faria querer nunca mais esquecer nada, pois todos os dias me mostrava que na vida tínhamos propósitos. Eu só não sabia, naquele tempo, que o meu era te amar... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.

Baek Hyun piscou de forma trêmula, seu olhar vacilou ao encarar seu marido. Queria dizer belas palavras, assim como as que ouvira, mas pareceu engoli-las em seco. Então Chan Yeol ergueu a câmera mais uma vez, a tempo de capturar os olhos intensos e o sorriso sincero que há muito não via. E estava prestes a ir além, quando fitou os lábios trêmulos do marido. Mas um som engraçado cortou todo o clima romântico e o substitui por um repleto de graça e risadas. A barriga de Baek Hyun denunciava sua fome.

— Acho que cheguei tão fundo em você, que atingi seu estômago. — Chan Yeol falou ao enxugar uma lágrima no canto dos olhos.

— Não seja convencido, ninguém gosta de pessoas assim.

— Que sorte a minha que você me ama então. — disse ainda mais convencido, só que com certa expectativa. Baek Hyun riu e tampou a cara do marido, indo em direção a mini geladeira — Afinal, se eu tiver você, não preciso me preocupar com o resto.

— Vamos devagar, certo? — disse aos risos — Eu não entendo, mas é estranho estarmos dessa forma.

— Então o quê? — indagou — Somos casados há doze anos, temos duas filhas e em breve completaremos quarenta anos. Resumindo, estamos envelhecendo, e não precisamos respeitar mais o espaço pessoal um do outro.

— Não estamos velhos! — retrucou.

— Velho não respeita o espaço pessoal de ninguém, nem tem vergonha na cara. Igual ao seu avô, que arrota na frente de todo mundo e faz pergunta alta e constrangedora. — Baek Hyun riu, lembrando da ultima vez que o encontrou num jantar de família e ele perguntou bem alto se a vida sexual de um casal gay era boa. — Mas o ponto é que eu não preciso fazer jogos, ou ir devagar quanto ao que sinto. Não é uma surpresa, afinal, estar aqui contigo a tanto tempo já é a maior prova do meu amor. Eu sei que ficamos ausentes, paramos de dedicar carinho e afeto, mas o que eu sinto pelo garoto estranho da câmera polaroide não diminuiu, pelo contrário, cresceu.

— Eu só… — respirou fundo — só me dê um tempo, hum? Você sempre foi o mais expressivo entre nós dois… — confessou, apontando os dedos indicadores em sua direção, com um olhar adorável — Eu sou o sutil, lembra? Até para chegar em você eu tentei ser cuidadoso... Vamos por partes.

Chan Yeol concordou, e acabou rindo quando a barriga do seu marido concordou junto. E diante daquela nova memória que se formava, constatou que o melhor de um casamento de muitos anos, é apaixonar-se muitas vezes, sempre pela mesma pessoa.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                       


Notas Finais


Bom, espero que tenham gostado tanto quanto eu, a pessoa mais apaixonada por 'NVR' da história ;;

Caso alguém se interesse e ache que eu enterrei essa vida, ou me enterrei, viva, estou com alguns projetos que, possivelmente, sairão em breve. Então não, não foi dessa vez que a Biaz se aposentou, por isso peço um pouquinho mais de paciência e prometo chegar com algo novo bem legal.

Logo logo a Raquel estará de volta, então deixem muito amor e carinho nos comentários para deixar nossa princesa feliz ;a; Muito obrigada por lerem, e até a próxima semana ♡

Biaz


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