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História Nem por Meio Milhão de Libras! - Dois bicudos não se beijam!


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal.
Desculpem a demora ao postar... Enfim, não posso prometer regularidade na frequência de atualizações desta fic. De qualquer forma, estoy aquí queriéndote, ahogándome ♫ #ShakiraFeelings
Tenham paciência com a Kikyou, queridos. A vida (e o Naraku) vão fazê-la mudar. Aguardem. hihihihi XD

A imagem do capítulo não me pertence; créditos ao fanartista Nolven, do Deviantart.

Boa leitura!

Capítulo 10 - Dois bicudos não se beijam!


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - Dois bicudos não se beijam!

***

 

John Sesshoumaru, no fim das contas, acabou indo embora do Instituto com seu motorista. A turma onde estava recebeu outro professor, o escocês e também físico Bankotsu Stewart. A aula transcorreu sem mais novidades e Kohaku Agnelli se dispôs a ser voluntário nas atividades do grupo de apoio anunciado por Sir Toga Ferguson.

Razoavelmente à vontade dentro da sala 21, Rin, sentada à escrivaninha, observava fascinada a tela de um Macbook, cujo navegador ilustrava a página de um site de ensino de idiomas¹. A morena agora digitava lentamente algumas palavras com os indicadores, se perguntando internamente por que o ensino de língua inglesa no ensino médio das escolas brasileiras era tão superficial. Conjugar infinitamente o verbo to be nas aulas não lhe ajudou em nada, no fim das contas.

Alheios às dúvidas de Rin, Toga e Naraku conversavam sobre Sesshoumaru.

— Você acha então que não devo ir atrás dele, Octavio?

— Melhor não. Sei que é difícil para você, como pai, mas é mais viável deixar que ele esfrie a cabeça sozinho. Aliás, duvido mesmo que ele esteja tão mal assim. Quer ver? — e o espanhol tirou o smartphone do bolso. O dono do Instituto estranhou ao ver que não era para seu filho que Naraku estava ligando.

Hola, Byakuya. Onde estão vocês? Esse barulho... Quê, boate? E John... Hein? Foi para o dark room²? Não deixe não, sua louca! Quem está querendo levá-lo...? Dá um chega nessa racha sebosa. Ela deve estar de olho na carteira de Sesshoumaru... Hein? Pegou a carteira dele?! P*** que pariu! — gesticulava o espanhol, enquanto o pai de Sesshoumaru estava lívido. — Hã? Fala mais alto, Byakuya! Hã? Ah, o segurança reconheceu ele e pegou a baranga ladra? Menos mal. Convença o John a voltar, Byakuya. Um beijo na sua boquinha de morango, boy magia. Tchau.

— Como assim, assaltaram o meu filho?!

— Tentaram. Mas um segurança estava por perto e evitou o roubo. Já está tudo bem.

Toga suspirou pesadamente, desanimado, se levantando da cadeira e indo até a jovem indígena.

— Vamos ver o que nossa garota está descobrindo.

Empolgada, Rin ergueu os olhos para ele, que lia a tela. Ela havia acertado um bom número de exercícios nível básico.

— Eu tô aprendendo uma renca de coisa, seu Toga — disparou ela, em português mesmo, feliz. Naraku se aproximou da mesa também e decidiu testar a menina.

— Rin.

— Oi? — fez ela, olhando para o espanhol.

He is a man (ele é um homem) — disse ele, apontando para Toga. — And you... (E você...)

— Hum... I am a girl (Eu sou uma garota) — respondeu ela, devagar. O dono do Instituto sorriu, satisfeito.

Yeah! So good. And me, Rin? (Sim, muito bem! E eu, Rin?)

You are a man. (Você é um homem.)

No, no — retrucou ele, piscando um olho, matreiro. A morena começou a rir.

You are a DIVA! (Você é uma DIVA!)

Mesmo Toga Ferguson não resistiu e se rendeu a uma homérica gargalhada com os outros dois.

 

***

 

Após haver mentido para Ann Kikyou que estava precisando muito ir socorrer Andrew Miroku, que desmaiara de fome (na verdade, o jovem motorista já estava bem, apesar de nervosíssimo), Raymond Inuyasha foi até o micro-ônibus do irmão. Algo dizia ao irmão caçula dos Wright que Sandie Cameron lhe permitiria assinar a lista de presença na próxima aula.

Andando vivamente tenso até o veículo, estacionado na rua à direita do Instituto, Inuyasha se remoía, irritado consigo mesmo. Ele percebera, desde os dezesseis anos, que sentia atração por rapazes também, todavia nunca aceitara aquilo. Até então, cria que era algo diabólico que carregava em seu interior e que, com o passar do tempo, se dissiparia por si só. Então, o jovem havia conhecido Kagome durante o terceiro ano do curso de Administração e se apaixonou rapidamente por ela, sendo plenamente correspondido. Sentiu-se relativamente seguro ao notar o quanto seu corpo reagia bem, e bem até demais, à proximidade com a garota japonesa que não tinha receios em relação à própria sexualidade. Os encontros a sós do casal eram regados a muita volúpia e desejo, de forma que Inuyasha nem se lembrava mais dos seus outros desejos.

Porém, ele nunca havia se deparado com um flerte por parte de outro homem. Suas certezas ruíram no momento em que viu abalado ao extremo com a provocação do excêntrico Naraku Octavio.

Miroku, sentado no degrau do veículo, roía as unhas e olhou com surpresa para seu irmão, pálido como a morte, vindo a seu encontro.

— Mano?!

— O-oi, Andy. Eu queria falar com você.

— Está doido? De jeito nenhum — volveu o mais velho, franzindo o cenho e se levantando. — Volte lá e vá estudar, seu à-toa. Esse curso é caro. Nada de matar aula!

— Eu não posso voltar agora — sibilou Inuyasha, coçando o antebraço por cima da camisa com insistência. — Por favor, Andy. Só quero desabafar.

— Nem vem, Inu. Eu já estou por aqui — e Miroku indicou o pescoço — de problemas. Já pensou?! Mrs. Cameron vai voltar daqui a pouco, eu vou com ela para aquele condomínio de rico com essa roupa de pobre e depois ela vai me...

— Hein?! Você está me zoando, só pode — fez Inuyasha, indignado. — Você vai transar com uma milf, isso não é problema nenhum! Quem tem problemas sou eu, viu? Eu!

— Espera. Inuyasha, eu só sei de uma coisa que te deixa assim tão apavorado... — afirmou o outro rapaz, estudando a face expressiva do irmão e logo suas sobrancelhas se ergueram. — Quer entrar aqui para a gente se falar melhor?

— Sim, eu quero...

Os dois irmãos se sentaram dentro do veículo — Miroku no banco do motorista e Inuyasha no banco do primeiro passageiro.

— Andy, você pode mesmo me ouvir? Não quero te encher com minhas caraminholas.

— Claro que posso, moleque. Vamos fazer assim? Você desabafa e eu desabafo, pode ser?

— Pode. Você se lembra do sobrinho do Reverendo James?

— O Minamino? Aquele ruivo que morava no Japão, que curtia jardinagem e andava com rosas³? – o rapaz baixou o tom de voz. – E que você... Ahn... Ficou com vontade de beijar ele uma vez?

— É... — concordou o rapaz, rubro como um tomate. — Ele mesmo. E não fui só eu, tá? Foram praticamente todas as garotas do conjunto jovem da igreja. Todo mundo babava pelo Minamino!

— Menos eu — replicou Miroku com expressão desconfiada. Aquele lado diferente do seu irmão lhe assustava um pouco. — — Inuyasha, não me diga que você topou com ele aí dentro...

— Antes fosse... Pior!

— Como?!

— O coordenador-geral do Instituto é um viadão, Andy... E um viadão descarado. Ficou me provocando... E eu saí correndo.

— Você correu do coordenador? Não é um tal de Naraku DeMarco? Foi o homem que contratou Mrs. Cameron.

— Claro... Ele tem uns olhos de cigana, oblíquos e dissimulados[4].

— É o Naraku ou a Capitu, afinal? — brincou o mais velho.

— Keh! Você me entendeu!

— Não entendi nada. Seja mais claro!

— Ele... Me olhava como se estivesse querendo me comer. Mas o problema foi como eu fiquei, sabe... Começou a passar pela minha cabeça que não iria ser ruim, que... Droga! Não consigo dizer mais nada!

Miroku fez cara de nojo.

— Urgh. Deus me livre, Inuyasha. Se um homem olhasse para mim desse jeito, eu não iria gostar nadinha.

— Eu também queria não gostar! Acha que isso é legal? — sibilou o outro, inconformado. — Mas não sei por que isso foi acontecer comigo. Isso é coisa do demônio.

— Mano... Por que não assume que você pode... Sei lá... Pode ser meio gay? — Inuyasha fez menção de interromper, mas Miroku não o permitiu. — Calma, mano, calma. Não quis te ofender, só que...

— Escuta aqui, Miroku, só porque eu andei sentindo tesão pelo sobrinho do Reverendo James não quer dizer que...

— Como é essa história?! Você sentia tesão por ele?! Não era só vontade de beijar?!

Vendo o que tinha dito, Inuyasha Wright estapeou o próprio rosto, tendo imediatamente as mãos agarradas por Andrew Miroku.

— Keh! Droga! Como eu sou burro! Burro!

— Eeeeei, para com isso! Poxa... Isso você não tinha me contado.

— Para que eu iria dizer, Andy? Você iria rir de mim e me chamar de viadinho.

— É claro que não iria... — replicou Miroku, erguendo as mãos.

Inuyasha arqueou uma sobrancelha, descrente. Algumas pessoas saíam do Instituto.

— Bem, talvez eu risse só no primeiro dia... Mas, seu bobo, você é meu irmão. Mesmo que seja gay...

— Eu NÃO sou gay, Andrew Miroku!

— Deixa eu terminar de falar, moleque. Enfim... — e Miroku pousou a mão no ombro do irmão. — Deus te ama assim mesmo, se quer saber. Não acho que Ele vá te condenar por ser gay ou meio gay, sei lá. E eu te amo também, nunca vou deixar de admirar a pessoa maravilhosa que você é. Afinal, também sou um pecador, não sou? Sou um promíscuo que me dei à fornicação. Acho que fui excluído do céu.

— Ah, mano... Obrigado — volveu o outro, um pouco triste. — Eu também amo você. Acho que não conheço irmãos mais unidos que nós. Sobre fornicação, não acho que seu pecado seja tão grave assim não.

— Valeu, Inu... Você é muito compreensivo — afirmou Miroku, seu rosto agora tomando fisionomia severa. — Mas tem uma coisa.

— O quê?

— Eu posso te compreender e tudo, mas, se souber que você traiu Kagome, eu saio de Coventry e vou até Wetherby só para te dar uma surra. Entendeu bem?

— Keh! Que ideia, Miroku! Eu amo Kagome. Sou um pecador, sim, mas nunca vou traí-la.

— Mesmo que estejamos cheios de pecado, vamos procurar ser honrados, pelo menos.

— É assim que se fala — ambos trocaram um aperto de mão caloroso.

Miroku suspirou fundo.

— Inu, eu estou tão nervoso. O que vou fazer com Mrs. Cameron? Eu não sei transar, ela praticamente abusa de mim.

— Dê uma chupada nela — respondeu o outro, com naturalidade. O motorista corou até a raiz dos cabelos.

— Que safadeza, Raymond Inuyasha! Você não tem vergonha de dizer uma coisa dessas?!

— Ih... Nem vem! Depois de hoje, você perdeu o direito de me chamar de safado, entendeu bem? E dá um tempo com esse nome horrível.

— N-não é bem assim... Aconteceu!

— Pois é... Comigo também aconteceu, ora. Eu estava com Kagome hoje, no quarto dela. A gente estava naquele amasso quando ela levantou a saia e me pediu para fazer aquilo...

— E você soube fazer?

— É fácil, Andy. Você tem que deixar ela dizer como quer que faça. Mais rápido, mais devagar... O segredo é nunca lamber o clitóris o tempo todo. Senão ela enjoa.

— Clitóris...?

— Você não sabe o que é?

— Sei, mas não sei onde fica.

— Ora, fica na... Ih, lá vem a sua milf gostosa, mano — cochichou o caçula, já se colocando de pé para se retirar. — Preciso ir, Ann deve estar preocupada comigo.

Os dois irmãos desceram do micro-ônibus e estranharam que Sango vinha um pouco nervosa, sem sua bolsa.

— O que foi, Mrs. Cameron? — indagou Andy Miroku, preocupado. — Algum problema?

— Sim — respondeu ela, séria. — Gostaria que vocês dois viessem comigo.

 

***

 

Trinta minutos antes, Naraku Octavio afixava um cartaz médio ao lado da porta da sala 21. Por estar acalorado, tirou o lenço do pescoço e o guardou, tendo agora uma aparência discreta, porém igualmente agradável.

O cartaz continha informações acerca do grupo de apoio a crianças e adolescentes em risco e tinha os números de telefone de Izayoi Ferguson, uma das colaboradoras do Centro Espírita de Paddington. Apesar de ateu, Naraku dava seu total apoio às atividades caridosas daquele grupo, principalmente porque a madrasta do amigo estava envolvida. O espanhol era órfão e tinha verdadeiramente adoração por aquela mulher.

Distraído, não percebeu que alguém se aproximava. Era Ann Kikyou, com as fichas de inscrição. A figura do psicanalista alto e esguio lhe chamara a atenção, principalmente por notar suas pálpebras maquiadas. O Instituto Craddock tinha muitos estudantes e funcionários homossexuais, pelo visto. Mas aquele rapaz não parecia ser um qualquer; mesmo duvidando que ele fosse heterossexual, Kikyou o achou viril e... Como ela diria? Atraente... Belo. Misterioso. E...

O Sangue de Cristo tem poder... Estou pensando um monte de besteiras...

Então, ela leu o cartaz que Naraku terminava de afixar na parede e, antes que pudesse se conter, disparou:

— Eu não concordo com a forma como o espiritismo fala sobre Deus.

Naraku se assustou ligeiramente e olhou para trás, se deparando com a moça de cabelos muito lisos e aquela saia de tweed que lhe dava abaixo do joelho, sapatos um pouco gastos e um olhar desafiador. Não chegou a dar muita importância, apenas sorrindo com certo sarcasmo.

— É mesmo? — volveu ele. — Por quê?

— Porque Deus é um Ser pessoal, ao contrário do que vocês dizem. Não faz sentido pregar que Deus é Superior a todas as coisas sem falar em sua imanência e...

— E sem falar na onipresença e transcendência dele. Não é?

A moça se calou por alguns segundos. Aquele homem não era um leigo; estava a fim de um debate.

— É... É isso mesmo.

— O espiritismo vê Deus manifesto em todas as coisas e seres que há no mundo. Uma força supremae ativa que rege o universo.

— Mas não é bem assim. A Bíblia diz que tudo o que feito, foi feito por Ele.

— A Bíblia também diz que é pecado cortar a ponta da barba e comer bacon, milady.

— Isso tem a ver com um conjunto de regras destinadas ao povo judeu, que atravessava o deserto, sir — replicou Kikyou.

Naraku então se virou para ela mais uma vez, analisando seus traços. Os olhos amendoados, o nariz pequeno, a boca de lábios delicados. A pele da face parecia ser suave ao toque e não tinha marcas nem linhas de expressão. Então o espanhol soube de quem se tratava – afinal, ela era razoavelmente parecida com o rapaz que lhe despertara desejo, horas atrás. Era a irmã de Inuyasha.

— Interessante, senhorita...

— Meu nome é Kikyou, sir.

— Não sou um nobre, pode me chamar de DeMarco apenas. Traz o que aí? Fichas?

— Sim, mister. São as fichas de inscrição... – nesse momento, a moça pareceu constrangida. Algo a deixava sensivelmente incomodada na presença daquele homem. – Esqueci as outras em casa. Tome.

Sem cerimônia, Naraku Octavio recebeu as fichas das mãos de Ann Kikyou e se pôs a lê-las, curioso. O pagamento das matrículas já havia sido feito, então, não havia muito mais a ser resolvido ali. A jovem ponderava se deveria retornar à sala de aula (afinal, Sandie Cameron ainda não havia dispensado a classe), quando uma jovem de cabelos negros e curtos passou por trás de si. Olhou para as roupas humildes da jovem Wright com ar de desdém e se encaminhou até Naraku, de forma afetada e provocativa. Ele, distraído, mal a viu chegar. Em seu crachá, as palavras “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Contábeis — Yura Smith, auxiliar administrativo”; no corpo, um camisete rosa-bebê em conjunto com uma calça social preta apertadíssima. Bonita, sim, mas fútil e um pouco vulgar até. Aos olhos de Kikyou, Sango era bem mais elegante e bem menos oferecida.

Como essa mulher consegue andar?!, pensava a religiosa, buscando disfarçar sua desaprovação.

— Posso pegar o grampeador, Mr. DeMarco? — indagou a recém-chegada, capciosa. — Uau. Adorei sua camisa nova. É Giorgio Armani?

— Não, Yura. O grampeador está sobre a mesa de Lefevre — respondeu ele, subitamente desconfortável. Aquela menção à sua roupa, diante de Ann Kikyou, que era visivelmente mais desprovida de recursos que eles dois, o deixou incomodado. Foi possível ver as bochechas da jovem enrubescendo e ela olhou para o chão. O psicanalista detestou a atitude da outra mulher e seu olhar agora era duro.

— Ah, não vai me dizer qual a marca?

— Gucci — disse Naraku, cara séria. — Em que mais posso ser útil?

— Hum... Adoro roupas Gucci. O senhor parece incomodado com alguma coisa... — replicou ela, encarando Kikyou ostensivamente, e voltando a olhar para o homem com um sorriso plástico no rosto. — Não é preciso que seja útil para mim. Mas, se quiser — deslizou a mão pelo ombro do homem. — EU posso ser útil para o senhor.

— Estou muito bem, Yura. Agora, se me permite, preciso voltar a conferir essas fichas.

— Argh — fez ela, levando a mão ao rosto de forma quase teatral. — Como o senhor suporta esses alunos irresponsáveis que não respeitam o prazo de inscrição dos cursos?

— Da mesma forma como tenho que suportar subalternos intrometidos, cariño — retrucou o espanhol, com seu melhor sorriso falso. O sorriso dela murchou. — Era só o grampeador?

— Era... — volveu Yura, um tanto azeda. — Com licença.

E lá se foi a mulher, pisando duro, não sem antes olhar para Kikyou com desprezo nítido. A moça se sentiu enojada, mas logo a voz do psicanalista a atraiu de volta.

— Espero que não tenha ficado aborrecida com a nossa colega de trabalho. Ela...

— Ela é uma pessoa superficial demais.

— É — afirmou o espanhol, com um meio sorriso. — Algumas pessoas têm o péssimo defeito de se ater demais às aparências. Eu não contrataria uma pessoa dessas para trabalhar comigo.

— De fato. A Bíblia diz que enganosa é a beleza e...

— E vã é a formosura — completou ele, fazendo a jovem ficar mais animada. — Mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada.

— É, isso mesmo — afirmou Kikyou, surpresa. — Que interessante, não sabia que vocês espíritas conheciam a Bíblia.

— Os espíritas leem os Evangelhos, Miss Wright. Já eu quis ir mais além e li a Bíblia, como também leio um ou outro tratado de teologia por curiosidade. Mas não sou espírita.

— Ah, não?

— Não, sou ateu gnóstico.

Os olhos da moça se arregalaram desmesuradamente.

— Eu não acredito! — exclamou ela.

— Pois é, eu também não — troçou Naraku, achando graça na feição irritada dela.

— Como pode não crer em Deus?!

— Não crendo, ora.

— O senhor está brincando comigo!

— Não, não estou. Na verdade, nem paro para ficar pensando nessas coisas. Tenho muitas outras coisas com que me ocupar, sabe?

— Como acha que o problema do mundo será resolvido?! O mundo é um antro de perdição! Sem Deus, não há como...

— O mundo sempre teve problemas, por que seu Deus não os resolveu até agora?

— O senhor não entende as coisas!

— Não, quem não entende as coisas é a senhorita. E não estou interessado em ser convertido ao cristianismo, obrigado. Vá falar das lendas da Bíblia para outra pessoa.

Kikyou estava vivamente indignada; até esqueceu da vergonha que estava pelas roupas velhas.

— Não são lendas! Para sua informação, sabia que Charles Darwin se arrependeu de haver divulgado a teoria evolucionista?

— Mas o que isso tem a ver com a conversa?! — volveu Naraku, impaciente. Não imaginava que aquela jovem seria tão insistente naquele assunto.

— Tem tudo! Pois a maioria dos ateus crê na evolução...

— Miss Wright, a teoria evolucionista não é tão absurda quanto a senhorita pensa.

— A teoria evolucionista é antibíblica! — exclamou ela, já vermelha. Parecia irritada. — Se não sabe, os cientistas de hoje têm diversas publicações provando o criacionismo.

— Ok, muchacha, ok! — replicou Naraku Octavio, revirando os olhos. — O criacionismo é de Deus e a teoria da evolução de Darwin é do demônio, do capeta. Está tudo bem agora?

— E essas toneladas de sarcasmo, hein, Mr. DeMarco?!

O homem levou as mãos à cabeça, soprando todo o ar dos pulmões, agastado.

— Você não me ouviu dizendo que não estava interessado em ser convertido para crença alguma, Miss Wright?

— O seu coração está endurecido pelas trevas do pecado! E irá para o inferno se não se arrepender.

O homem arregalou os olhos ao ouvir aquela afirmação um tanto drástica.

— Você disse que eu vou para onde?!

— Para o inferno.

— Miss Wright, seu fanatismo me assusta.

— Isso é para o bem da sua alma...

— Você não acha que está exagerando? Afinal, se o seu Deus existisse, haveria tantas outras coisas para ele se preocupar em resolver por aí. Tipo, a fome na Somália... Não acho que ele iria ficar se importando com as minhas opiniões ou minha orientação sexual.

Algo soou dentro da mente de Ann Kikyou como um alerta.

— O senhor é gay?!

— Eu sou um homem livre para fazer o que me apetece, prezada. Sou bissexual. Algum problema? — sorriu ele, agora achando muita graça na expressão escandalizada da jovem.

— Que horror! Não tem vergonha de dizer isso?

— Vergonha de dizer que adoro dar para homens bonitos? Não!

— Está vendo só?! O senhor é um pecador! A Bíblia diz que...

— Miss Wright, a Bíblia diz coisas demais. Poupe-me.

— O senhor é um perdido!

— Eu, não! Sei muito bem onde estou e sei bem o que quero. Há coisas na vida mais importantes com o que se importar. Já deu um prato de comida a um morador de rua hoje?

— Não mude de assunto!

— Pare, já basta, carajo! Eu não aguento mais esse assunto. Se a senhorita não tem o que fazer, eu tenho!

— Está me chamando de desocupada?! Eu trabalho! Eu pago as minhas contas e sustento minha casa, seu ímpio!

— Pois deveria arranjar um emprego com salário mais decente para comprar roupas melhores! — explodiu ele.

Kikyou entrou em choque ao ouvir aquelas palavras. Aviltada, se afastou às pressas do psicanalista, agora genuinamente arrependido. Afinal, ele mesmo vivera momentos de total escassez no passado. Não foram poucas as vezes que Naraku revirara lixeiras atrás de comida, quando criança em León.

Que merda, eu não deveria ter dito aquilo! É tão ruim ser pobre. Essa crentelha me irritou, mas... Eu joguei sujo.

E ele correu atrás dela, alcançando-a facilmente; a saia impedia a jovem de se mover livremente. Agarrou seu braço e a virou para si; o rosto de Ann Kikyou estava lavado de lágrimas. Abandonando a formalidade e procurando ser gentil, o espanhol disse a ela:

— Wright, eu sinto muito por...

— ME SOLTE, SEU ÍMPIO FILHO DA PERDIÇÃO! SEU SODOMITA PROMÍSCUO E LIBIDINOSO! AS TREVAS O AGUARDAM NO JUÍZO FINAL COM O FOGO QUE NÃO SE APAGA! SEU...

— Não vai me deixar falar?!

— NADA DO QUE DISSER VAI MUDAR O FATO DE QUE VOCÊ É UM PERDIDO PECADOR PREDESTINADO AO INFERNO!

— E VOCÊ É O QUE, SUA CRENTELHA MALUCA?!

— EU SOU CRISTÃ, REGENERADA E SANTIFICADA SEGUNDO AS INSTITUTAS DE CALVINO!

— VOCÊ É UM PÉ NO SACO, SABIA? ESSE FANATISMO TODO É FALTA DE ROLA!

— NÃO SE ATREVA A FALAR ASSIM COMIGO, SEU ENDIABRADO!

Naraku continuou segurando o antebraço da jovem que, estranhamente, não fazia esforço para se desvencilhar. Os olhos castanhos de ambos se encaravam magneticamente e a moça paralisou com a força do olhar do espanhol.

— Vou corromper você, sua fanática insuportável – murmurou ele, cada vez mais próximo.

— Corromper a mim?! Do que está fal-

Os lábios finos de Naraku foram de encontro aos de Kikyou, deslizando devagar por eles. Eram tenros e delicados ao toque. Ela, por sua vez, pensou que iria desfalecer ali — a última coisa que a jovem esperava ver na vida era ter seu primeiro beijo com um ateu gay que a havia ofendido por suas roupas pobres.

Meu Jesus! O demônio se apossou de DeMarco e quer me perverter!

O espanhol, que tivera a ideia de beijá-la por vingança após ouvi-la insultando-o, também experimentava dificuldade de cessar o beijo. Ann Kikyou não o correspondia; ele percebeu que ela era inexperiente. Deduzir isso o deixou alvoroçado e, imediatamente, passou a prender os lábios da jovem entre os seus como se os mordesse. Sem cerimônia, empurrou-a contra a parede, ao que ela não teve condições de impedir. Então, Kikyou sentiu a ponta da língua suave de Naraku Octavio contornando seus lábios, devagar.

O ar pareceu rarear para a primogênita dos Wright; seu coração batia enlouquecido no peito e uma sensação estranha, desconhecida, se fazia sentir em seu ponto íntimo mais sensível. A moça abriu a boca ligeiramente; o espanhol não resistiu e a invadiu com a língua, disputando por espaço dentro dos lábios carnudos femininos. Involuntariamente, Kikyou gemeu de encontro à boca de Naraku, que enfim a enlaçou em seus braços, colando o corpo esguio ao dela. Nem ele estava se compreendendo mais, àquelas alturas.

Eu só queria beijá-la... Mas esse jeito bobo, essa inocência... Que cheiro gostoso... Ela deve estar bem molhada. Aposto meu piano que ela deve ser virgem. Ah, que vontade de enfiar a mão dentro dessa calcinha e fazer essa crentelha cheirosa gozar aqui mesmo... Pena que não posso fazer isso aqui, Izayoi ficaria decepcionada. Eu adoraria ser o primeiro de uma virgem. E esta aqui não é feia...

Como o corredor estava deserto, Naraku não pensou duas vezes antes de pressionar a ereção contra o púbis da jovem, que tremia de desejo, embora não soubesse sequer explicar o que estava acontecendo consigo. Acabou deixando escapar um gemido mais alto, sem querer, e seus braços enfim retribuíram o abraço de Naraku, que estava a cada instante mais disposto a não soltar a jovem.

Acabaram se apartando por breves momentos para respirar. Kikyou estava totalmente rubra e parecia incapaz de olhar para o espanhol, que estava um tanto aborrecido consigo mesmo. Aquilo não era para acontecer.

— Como eu sou idiota — resmungou ele, em espanhol. Ann Kikyou, atônita, permaneceu olhando para baixo e ficou vivamente envergonhada ao perceber o volume óbvio nas calças cor de creme do homem à sua frente. Chegou mesmo a fechar os olhos com força, nervosa.

— Idiota s-sou eu — lamentou-se ela, em espanhol também. Naraku a olhou, surpreso.

— Você fala minha língua?

— Está em m-minha ficha. Sou fluente em espanhol.

— Oh.

Os olhos de ambos se encontraram; Kikyou desviou a face para o outro lado. Sua respiração ainda estava opressa. Foi surpreendida pelos braços do psicanalista a envolvendo mais uma vez. Fez um esforço não muito convincente para escapar dele:

— Tire as mãos de mim, seu pervertido...

— Se eu tirar as mãos de você, Wright, você mesma desejará tê-las tocando seu corpo de novo — afirmou ele, sensual, próximo ao ouvido da jovem.

— E-eu não sou dessas oferecidas que você deve encontrar por aí... Não aceito q-que... — Naraku escorregou o lábio inferior pela lateral do pescoço de Kikyou, desnorteando-a. Ele agora estava mais consciente e levaria a cabo sua vingança. — N-não aceito isso, não lhe dei essas liberdades!

— Eu sei que esse foi o seu primeiro beijo, mamacita[5].

— C-como sabe...?

Naraku deu uma risada baixa e grave que por pouco não levou Kikyou a uma síncope de desejo. Ela estava desesperada; sentia que algo naquele homem a estava pervertendo, pois não parava de desejar secretamente que ele a beijasse novamente.

— Sabendo, mamacita. Agora... — e ele agarrou a cintura da jovem, puxando-a e colando-a ao seu corpo excitado mais uma vez. — Vou citar a Bíblia para sua apreciação.

— S-seu incircunciso... Suas b-blasfêmias não serão p-perdoadas no dia do apoc-

— “Subirei à palmeira; eu me apossarei dos seus frutos. Sejam os seus seios como os cachos da videira, o aroma da sua respiração como maçãs, e a sua boca como o melhor vinho” — declamou ele, em voz compassada e sedutora, enquanto a jovem tremia. Nunca imaginara ouvir o versículo daquela forma tão mundana e tentadora. — Ah, o rei Salomão era um poeta bem safadinho, não acha?

Os dedos ágeis de Naraku se aventuraram a acariciar o colo arfante de Kikyou, cujos olhos estavam fechados; a moça estava bem entregue às sensações novas e irresistíveis que estava descobrindo com o homem. Prestes a alcançar uma de suas mamas, o espanhol murmurou:

— Pense em mim lambendo os bicos desses peitinhos gostosos quando for se masturbar mais tarde, mamacita pibón.

Grave erro.

Um ruído estralado se fez ouvir; horrorizada com o que ouvira, Ann Kikyou esbofeteou o rosto de Naraku Octavio.

 

***

 

Os dois irmãos Wright seguiam a apressada Sandie Cameron pelas escadas do Instituto.

— Como assim a Ann estava discutindo com o coordenador, Mrs. Cameron?! — indagou Inuyasha.

— Eu não sei! Ela me pediu licença para ir entregar as fichas e, passados alguns instantes, eu saí para ir ao banheiro. Ela e Mr. DeMarco estavam gritando no meio do corredor...

— Ah, meu Deus, era só o que faltava! Com certeza ela deve tê-lo ouvido falar algo sobre gays e parou para tentar salvar a alma dele. Kikyou não muda! — afirmou Miroku, contrariado.

— Como assim? — perguntou Sango. — Ela é homofóbica?

— Não é isso. Ela quer converter o mundo inteiro, é diferente. A reação de Kikyou não muda se a pessoa com quem estiver falando for gay, espírita, muçulmana ou comunista. Se não for cristã e, de preferência, calvinista, ela debate mesmo.

— Bem, ela disse algo sobre Charles Darwin — ponderou Sango, pensativa.

— Eu sabia — resmungou Inuyasha. — Eu sabia, ela sempre faz isso!

Os três subiam a rampa de acesso para o segundo andar. Logo, chegavam ao corredor e se sobressaltaram ao ver o coordenador do Instituto diante de Ann Kikyou, a presbiteriana intolerante.

Naraku tocava a face dolorida com uma expressão vitoriosa no rosto; a moça, por sua vez, parecia vivamente perturbada e saiu correndo de perto dele, passando por seus irmãos encegueirada de raiva e constrangimento.

 

***

 

1 — O site é o Duolingo. Não sabia se poderia colocar o nome no corpo da história, então preferi colocar aqui nas notas.

2 — Dark room de boate é um local de pegação (ou de sexo propriamente dito). Além de safadeza, rola uns assaltos também.

3 — (Shuuichi) Minamino, aqui, é o famosíssimo #Kurama, o youkai das rosas de Yu Yu Hakusho. XD

4 — Uma referência à personagem #Capitu, do romance brasileiro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.

5 — Mamacita: gíria equivalente a mulher gostosa, em espanhol.


Notas Finais


Sesshoumaru foi assaltadooooooo! OMG!
Inuyasha e Miroku, indecisos sobre quem pecou mais... =/ Complicado!
Sobre o Naraku "corrompendo" a Kikyou... Será que deu certo?!

kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Volto depois para editar estas notas.

NOVIDADE
Para quem acompanhou minha falecida fanfic #WhatsAppFeudal, conseguirá repostá-la no ff.net. Link --> https://www.fanfiction.net/s/12192692/1/WhatsApp-Feudal
Aguardo vocês lá. <3

~Okaasan


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