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História Nem por Meio Milhão de Libras! - Se importando, mas não admitindo


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Mais um capítulo cheio de emoções, tretas e purpurina... \o/

Perdoem eventuais erros. Ainda não pude responder a todos comentários, mas, voilá! :D Aos poucos eu respondo a todo mundo. *-*

Se algum de vocês for praticante de capoeira, eu agradeceria MUITO se me ajudassem, caso minhas menções à prática estejam erradas. ;-)

A foto da capa é de Zahy Guajajara, uma indígena cujo olhar me inspira EXATAMENTE o da Rin deste universo. Obviamente eu tive que colocar uma tarja no seio da moça, senão o site deletaria a foto!

Sem mais, boa leitura!

Capítulo 14 - Se importando, mas não admitindo


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - Se importando, mas não admitindo

***

 

Tá no sangue e na raça brasileira

Capoeira (É da nossa cor)

O berimbau (É da nossa cor)

O pandeiro (É da nossa cor)

O atabaque (É da nossa cor)

O agogô (É da nossa cor)

A galera (É da nossa cor)

 

O retinir do som das palmas e o toque singular do berimbau nas mãos pequenas de Ayame povoavam seus sonhos quase que diariamente.

Era tão bom gingar, erguer os pés ao fazer a ponte alta e, ao endireitar o corpo, ver o olhar de aprovação de Mestre Kouga. Mais um passo aprendido com sucesso.

Rin Tibiriçá deixava o centro da roda e se colocava ao lado de seu mestre, sorrindo e agora cantando também, batendo palmas para a outra dupla.

 

Oiá iá iá iá, foge o nego, sinhá

Oiá iá iá iá, traz o nego, sinhá

Oiá iá iá iá, foge o nego, sinhá

Oiá iá iá iá, traz o nego, sinhá

Paranauê, paranauê, paraná

Paranauê, paranauê, paraná

 

— Vem, Rin — chamou Kouga. — Vem comigo.

Alegre, a morena o acompanhou; tinha lá o seu quê de receio, pois sabia que o mestre não afrouxava com ela de jeito nenhum — seus treinos não eram restritos apenas à roda, o belo e forte índio truká a fazia praticar os movimentos em casa também. Mas Rin sabia também que ele jamais a destrataria, caso errasse um movimento. Ayame, lá no meio dos demais praticantes, marcava o ritmo de São Bento Pequeno no berimbau, sorrindo diretamente para ela.

Minha dificuldade até agora tem sido fazer o envergado. Será que hoje eu consigo?, pensava ela, se esquivando de um chapéu-de-couro de Kouga e fazendo um macaquinho de volta.

Tinha que dar certo.

Ela queria tanto ser boa como ele era!

 

Zum zum zum! Capoeira mata um!

Zum zum zum! Capoeira mata um!

Onde tem marimbondo? É zum zum zum!

Onde tem marimbondo? É zum zum zum!

Oá, oá, ê!

Quero ver bater, quero ver cair

Oá, oá, ê!

Quero ver bater, quero ver cair

 

Então, Mestre Kouga veio de lá para cá fazendo um aú sem mão e Rin não pensou duas vezes — saltou agilmente, girando com brusquidão as pernas e o tronco de forma quase poética no ar. Era o envergado, muito bem executado depois de várias tentativas frustradas.

Os seus amigos da roda gritaram, empolgados. Era hora de ir, outra aluna iria jogar com o mestre. Contudo, ele a segurou por breves segundos pela mão, felicitando-a pelo feito do dia.

Rin estremeceu levemente, abrindo os olhos; estava deitada em sua grande cama de dosséis, na mansão da família Ferguson. Ainda não eram seis horas da manhã. O silêncio era quase total.

Não havia pandeiro. Não havia atabaque, nem berimbau. Não havia a roda de capoeira com seus amigos – cafuzos, índios, galegos e negros – cidadãos de Cabrobó.

Não havia o carinho e os braços de Ayame. Nem os conselhos e o sorriso quase paterno de Mestre Kouga.

— Poxa... Outro sonho — murmurou ela, desanimada. — Pelo menos é um jeito d’eu ver aqueles dois de novo. Como será que eles estão?

Sentou-se na cama e viu que a bagunça do dia anterior não estava mais ali. Possivelmente, Izayoi retirou os muitos itens espalhados e os guardou. A jovem, então, pegou sua imagem da Virgem e começou a rezar. A saudade do casal que a acolheu após a partida do seu pai era torturante; as palavras se lhe embolaram na boca e uma mão cruel pressionava sua garganta.

O choro, silencioso a princípio, foi sugando Rin para um espiral de angústia. E se eles não estivessem bem? Quase dois anos se passaram. Ela havia perdido o telefone de Kouga por ocasião do rapto. E se nunca mais conseguisse falar com ele e Ayame?

— Ai, minha Nossa Senhora... — balbuciou ela. — Eu nunca deveria ter caído naquelas lorotas... Que judiação com eles dois, meu Bom Jesus! Eles devem estar sofrendo... E eu sou a única culpada...

E ela, então, se permitiu prantear por alguns momentos, até que adormecesse novamente.

 

***

 

Naraku Octavio adentrava Ferguson Manor vestindo roupas de corrida para o inverno, já que aquela manhã estava fria. Encontrou com Toga Ferguson preparando um chá na cozinha e lhe deu um breve abraço.

— Para onde vai assim, todo empacotado, meu filho?

— Já fazem alguns dias que Sesshoumaru e eu não corremos. Vim buscá-lo. Onde ele está?

— Estou aqui, retardado — rosnou o outro loiro, que não fora percebido pelo espanhol por estar detrás da porta aberta da despensa à busca da lata de torradas. — Depois eu é quem sou o cegueta.

— Oh, não tinha visto você aí, Sesshy. Perdóname, mi linda — replicou Naraku, zombeteiro. — Parece aborrecida, pobrezinha, tão pálida... Você está menstruada, amiga?

— MORRE, diabo! — uma torrada voou contra o psicanalista, que a aparou no ar.

Ay, quanto mau humor — volveu o moreno, com uma careta, vendo que o amigo também estava com trajes fitness. — Não tenho culpa se você não está divando como eu, hoje.

John Sesshoumaru estreitou os olhos, se aproximando do amigo, percebendo algo diferente em sua aparência; então se lembrou do auê da noite anterior, no quarto da indígena sobre o seu, dos ruídos de secador e dos muitos “ais” do espanhol. Estendeu a mão e tocou os cabelos agora muito lisos de Naraku, que ria. Toga, entretido com seu chá, comentou, vendo a cena:

— Rin é uma garota incrível. Até parece que você foi a um salão profissional, Octavio.

— Também achei. Depois dessa, acho até que vou desobrigar Kagura a hidratar meus cabelos, Toga. Aquela minha secretária é uma pessoa maravilhosa, mas ela me tortura um bocado... Sua mão é pesada demais. O que foi, John, perdeu a fala?

— P****, que bruxaria foi essa? Cadê o cabelo de Medusa? — indagou o loiro que, de fato, estava atônito. Os cabelos do amigo estavam do tamanho dos de Sesshoumaru, praticamente livres de volume e quase tão lisos quanto os seus; aquilo era impressionante.

— O melhor não é isso — comentou o espanhol. — Quando eu lavar a cabeça, minhas adoradas melenas estarão quase iguais às do meu divo lindo, o Michael, quando gravou o álbum ‘Bad’. Ay, que tudo! Hoje à noite eu vou ar-ra-sar naquele Instituto.

— Eu mereço — rosnou Sesshoumaru, irritado, tateando a mesa em busca de seu copo de leite e quase derrubando-o. Naraku, ainda de pé, comia torradas com geleia. — Vamos, coma logo para sairmos, seu viado.

— Você não dormiu bem, John? — inquiriu seu pai, curioso pela indisposição do loiro.

— O senhor me colocou justamente abaixo daquela selvagem, como esperava que eu dormisse? Eu escuto TUDO o que ela faz no quarto!

— Mas o que ela faz no quarto que te incomoda?!

Buenos dias, rapazes — cumprimentou a dona da casa, entrando na cozinha e abraçando os dois rapazes. Depois foi até o marido, afagando seus cabelos. — Já te disse que você está maravilhoso com esse novo corte de cabelo?

— Maravilhosa é você... Doce e meiga como um cravo vermelho... — respondeu ele, se levantando da cadeira e a beijando. As mãos do homem passearam pelas costas da esposa, sensualmente. — Deliciosa como um pêssego recém-colhido...

— Ih, começou a pegação. Naraku, hora de irmos — resmungou Sesshoumaru, ainda mais azedo. O espanhol, então, se aproximou dele e lhe ofereceu o ombro.

— Até mais tarde — despediu-se Naraku, se afastando com o amigo. Izayoi, porém, o interpelou:

— Filho, por que está tão vermelhinho?

— Quem? Yo? — fez ele, apressadamente, sorrindo sem graça. — Imagine, mama, são seus olhos.

Já do lado de fora da mansão, os dois corriam não muito depressa. O loiro procurava não se apoiar no amigo, a não ser quando em locais mais movimentados, o que não era o caso ali.

— Naraku? — chamou o loiro.

— Diga.

— É impressão minha, ou você também tem vergonha de ver meu pai e Iza se beijando?

— Tenho vergonha até hoje, por incrível que pareça.

— Eu me sinto ridículo. Sei que eles são casados e tudo, mas saber que eles transam e tudo o mais é uma das poucas coisas que me deixam envergonhado.

— Ah... Então somos dois, John. É como se eu fosse um molequinho de sete anos quando os vejo trocando carícias, me sinto constrangido. Eles, de certa forma, também são meus pais, não são? Mas, eu quero saber uma coisa.

— O quê?

— O que Rin fez que te incomodou?

— ... — Sesshoumaru emudeceu.

— Foi algum tipo de ritual barulhento e macabro para Guaraci?

— Quem?!

— Guaraci, ora. O deus sol dos guaranis.

— Você me disse que ela era ñandeva...

— Guarani-ñandeva, burro — e o espanhol sorriu, malicioso. — Interessante. Para quem não queria saber da ‘selvagem’, até memorizou o nome de sua etnia.

— F***-se, seu merda. Eu decorei porque... Porque minha memória é boa.

Ambos pararam em uma calçada, esperando o semáforo liberar a passagem para pedestres.

Okay, Sesshoumaru. Okay. Eu acredito muito em você. Então, ela fez um ritual com tambores para o deus Guaraci e te incomodou, foi?

— Quem é esse deus Guaraci?

— Já disse. É o deus sol dos indígenas guaranis brasileiros. Também é conhecido como Osíris na mitologia egípcia e Brahma, no hinduísmo. Estive pesquisando isso na semana passada.

— Eu não entendo é para que você quer tanto saber desse monte de informação inútil.

— Inútil, não. Quero conhecer Rin melhor, só isso.

— Tolice. Ela deve estar louca para ir embora, isso sim, senão não estaria chorando de madrugada e...

Naraku parou de andar repentinamente e Sesshoumaru se arrependeu de ter soltado o fato que tanto o perturbou naquela manhã.

Chorando? Pobrezinha! Mas por quê? — inquiriu o moreno, chocado.

— Eu... Eu não sei, Naraku.

Ele de fato não sabia o porquê daqueles soluços discretos, porém audíveis. Contudo... O que estaria motivando aquele pranto?

Será que ela se sentia sozinha? Seria saudade do seu país de ‘terceiro mundo’, como dizia ele? Será que ela amava alguém em sua terra?

— John, John! JOHN! — gritou o espanhol. — Acorda, Mister Magoo! Estou falando com você! Além de cego, está ficando surdo?

— Hein?

— Eu estava dizendo que você deveria deixar de ser egoísta e tentar fazer com que ela se sentisse melhor. Você é a única pessoa que se recusa a tratá-la com um mínimo de respeito, seu filho da p***.

— Não tenho que me preocupar com ela! Ela precisa é ir embora para aquele país quente horroroso e continuar vivendo sua vida de jogadora de carateira.

— CAPOEIRA, idiota!

Sesshoumaru ficou surpreso ao ver que estava chegando à rua da casa do amigo.

— Ué, por que me trouxe para cá?

— Você tem uma aula para planejar, esqueceu, tapado? Hoje é sexta-feira.

— E daí?

— E daí que vamos planejar essa aula juntos, seu burro! Vou criar um slideshow para facilitar as coisas.

— Eu... Eu não sei se quero dar aula depois do fiasco que foi a última, Octavio. Estou... — ele baixou a cabeça. — Enxergando ainda menos. Aqueles malditos alunos vão duvidar da minha capacidade...

— Deixe para se preocupar com sua capacidade quando tiver que endurecer o bilau para trepar com alguma mulher, estúpido. Já disse que é perfeitamente possível continuar lecionando, você é muitíssimo capaz. E quando você vai começar a fazer aquele negócio de orientação e mobilidade?

Sesshoumaru coçou a cabeça, aturdido. Ter que fazer um “curso de como ser um cego mais independente” lhe incomodava bastante, mas não tinha outra opção.

— Na segunda-feira, mas...

Perfecto, vamos juntos. Ah...

— O que foi agora?

— Vamos fazer outra aposta? Quem pegar uma mulher hoje até antes de meia-noite ganha.

— Vale colega de trabalho?

— Vale. Três mil, pode ser?

— Três mil, então. Se prepare para perder de novo...

O loiro não pôde deixar de sentir-se grato pelo esforço que o espanhol fazia para não deixá-lo deprimido.

 

***

 

Hora de almoço no escritório de Suikotsu Taylor. Ann Kikyou Wright costumava apenas fechar a porta e comer sua porção de comida lá dentro, mas, ultimamente, ela preferia sair e se alimentar em alguma praça. Seu patrão, ultimamente, vinha agindo estranho consigo, e ela estava cada dia mais desconfortável.

Naquela manhã, às dez, o advogado a surpreendera com um pedido para saírem juntos. Como era de se esperar, a moça recusou.

— Mas por que não, Miss Wright?

— Eu... Eu não gosto de sair à noite, Mr. Taylor. Não é adequado e nem seguro. Aqui não é o que podemos chamar de cidade tranquila.

— Mas você estaria comigo, Kikyou. Não confia em mim? — e a mão de Suikotsu, ligeira, cobriu a de Kikyou sobre a mesa; ela mal pôde disfarçar o estremeção. Aquilo não lhe dava a MÍNIMA sensação de segurança, muito pelo contrário. Não era como a presença de certo psicanalista espanhol, que a hipnotizava e... Não, não era hora de se lembrar daquilo.

O toque de Suikotsu a fazia se sentir ameaçada. Logo, ela retirava a mão, tentando manter a cordialidade.

— Seu jeito recatado me encanta — comentou ele, olhando-a profundamente. — E se eu te convidar para almoçar comigo?

— P-posso pensar no assunto, sir.

— Que bom — sorriu o advogado, aproximando o rosto do dela de supetão e lhe dando um beijo breve no canto dos lábios. — Oh, me perdoe. Era para ser na bochecha... — e riu, enquanto o estômago da jovem pareceu afundar dentro de seu corpo.

Aquele seu patrão, de umas semanas para cá, estava lhe despertando o mais primitivo sentimento de MEDO, e ela não entendia o motivo. Gaguejando, Kikyou murmurou:

— T-tudo bem, sir. S-só peço que m-mantenha o respeito por mim, p-por favor. Não gosto d-desse tipo de aproximação.

Sorry, minha querida, de fato, eu me excedi um pouco. Me desculpe. Não há nada mais para ser resolvido aqui hoje?

Buscando recuperar a compostura, ela lhe estendeu uma agenda.

— Não... Não, sir. Pode ser que Mrs. Schultz telefone para o senhor mais tarde devido aquele impasse com a pensão de seu falecido marido...

— Certo. Bem, isso eu resolvo. Se quiser ir para casa depois do almoço, pode ir.

— O-obrigada.

— Disponha, Miss Wright — sorriu ele, provocando um calafrio na jovem.

Enfim, a hora do almoço chegou e Ann Kikyou se despediu de seu cada dia mais estranho patrão, agradecendo a Deus internamente por não ter que vê-lo no fim de semana. A moça, rapidamente, andou pelo centro de Leeds com sua bolsa e sua modesta marmita, onde levava seu almoço. Sem pestanejar, foi até o seu lugar preferido, um pouco distante da agitação urbana: a Igreja Presbiteriana de Sheffield. Era um pouquinho longe do escritório, mas ela não se importava.

Não era hora de culto, mas Ann se sentiria bem melhor ali, sentada num banquinho do lado de fora do templo, que era rodeado de uma bela área verde. Desembrulhou sua marmita e fez sua refeição, serenamente; depois resolveu entrar para fazer uma breve prece a Deus.

Não era nenhum exagero dizer que a vida da jovem religiosa estava confusa depois da primeira aula do Instituto Craddock. Despesas a mais, a proximidade súbita do patrão, as preocupações que ela tinha com Miroku e Inuyasha... E o pior: o maldito Naraku Octavio, com seu maldito beijo que a deixara em chamas durante alguns dias, levando-a a ter malditos sonhos pecaminosos.

O impiedoso psicanalista mexera com algo até então adormecido dentro do íntimo de seu ser — seus desejos. Na verdade, a moça mal sabia que os tinha. Masturbação era apenas um nome de um pecado que lhe ensinaram a evitar. Ann Kikyou nunca havia se tocado. Não sentia a necessidade... Até há um mês atrás. A jovem despertava de seu sono agoniada de desejo; suas calcinhas úmidas a faziam se sentir um lixo. Lavava-as às escondidas. O pior, contudo, era desviar seus pensamentos para outras coisas. Era tão ingênua no tocante à própria sexualidade que não sabia o que fazer para aliviar os ímpetos provocados por sua libido.

E havia aula naquele dia. Era bem possível que visse o pérfido e malvado espanhol e... Não. O nome dele não estava no rol de docentes responsáveis por seu curso. Era só evitar o segundo andar, era ali que Naraku trabalhava.

É só não ir ao segundo andar sob hipótese alguma, Kikyou, dizia ela a si mesma. Procurando não pensar mais naquilo, ela fez sua oração e se levantou. Iria para casa. Iria para seu irmão mais novo e para seu tecladinho velho.

Iria para seu lar, onde sua mãe a ensinou a ser uma mulher madura e resistente a dificuldades.

Mas será que eu sou tão resistente assim? Sinto-me tão só... Queria ter alguém ao meu lado.

 

***

 

Naraku tomava notas dos desabafos de uma senhora com problemas conjugais, deitada em seu divã. Interiormente, o espanhol concatenava com seus botões que, de fato, o casamento era uma grande farsa e que ele jamais se prestaria a tal coisa.

Amor conjugal, fidelidade conjugal... Uma mentira. Eu estou farto de ouvir pessoas com a mesmíssima queixa, de que seus parceiros não as amam mais. Só prova que esse amor nunca existiu e que o casamento é apenas uma conveniência da sociedade...

Seu smartphone vibrou no bolso da calça e ele se recriminou por ter se esquecido de desliga-lo. Discretamente, pegou o aparelho e leu a mensagem de WhatsApp que havia acabado de receber do colega de trabalho, Jakotsu.

Oi, Octavio. Estou tão carente hoje, preciso de um bumbum macio e um ombro companheiro para chorar as mágoas. Tem certeza de que não quer me dar uma chance?

Meio sem pensar, o espanhol digitou:

Na sua casa ou na minha?

 

***

 

O dia de Rin fora tranquilo, apesar da crise de choro ao amanhecer. Após insistir com Izayoi para que a deixasse limpar os jardins de gerânios e rosas com o rabugento Jaken, um dos funcionários da mansão, a jovem enfim conseguiu dobrá-la e se pôs a mexer com prazer na terra. Gastou boa parte do seu tempo ali quando ouviu a voz de Toga Ferguson se aproximando, sério.

— Rin — começou ele, devagar, em espanhol. — O que está fazendo aí?

— Eu tô tra-ba-jan-do.

— Mas esse serviço é pesado.

Me gusta fazer isso.

O nobre coçou a cabeça; de fato, ela parecia bem à vontade ali, arrancando ervas daninhas com as mãos, um pouco suada e sorridente, de bermuda florida e regata branca (Rin adorava o branco).

— Rin, por favor, venha comigo. Vamos conversar lá dentro.

Será que eu vou levar bronca?, pensou a jovem, se levantando. Izayoi, na cozinha, acabava de colocar sobre a mesa uma travessa com nachos jalapeños.

— Vamos lanchar, cariño — chamou-a a mulher.

— Vou lavar as mãos, Iza.

O casal a aguardou pacientemente. Sobre o balcão, um pequeno embrulho. Logo a morena retornava, um pouco ressabiada.

— Venha, chica. Temos algo para você.

— Pra mim, seu Toga?

— Vai ser muito útil para você, querida – afirmou a espanhola.

Rin abriu o embrulho. Era um smartphone novo; seu queixo caiu. Aquilo deveria ter sido caríssimo.

— Mas... Mas é um celularzão arretado, seu Toga...

— Ar-re-ta-do? No lo entiendo, Rin.

— É muito bonito, muito bom e... Caro – tentou explicar. – Eu não posso aceitar! Nem trabalhar aqui eu trabalho, Iza.

— Não estamos lhe pagando, querida – retrucou Izayoi, pacientemente. – É um presente.

— É porque gostamos de você, cariño – complementou o nobre, sorrindo. – Se não aceitar, vamos ficar tristes.

— Eita bexiga... – Rin custava a acreditar naquilo. Ergueu os olhos do aparelho para seus anfitriões.

Os olhos afetuosos de Toga e Izayoi, naquele instante, lhes levou a lembrar dos de Mestre Kouga e Ayame quando, ocasionalmente, lhe presenteavam com um vestido novo ou um par de tênis para ela ir à escola.

Eram olhos de gente boa, de coração humilde. Aquela mansão com todo o luxo era apenas uma moradia bastante confortável, entretanto o conforto principal estava ali, diante dela. A ternura genuína daquele casal. Se o presente fosse uma caixinha de fósforos, mas viesse acompanhado daquele mesmo olhar de doçura, sua gratidão seria exatamente a mesma.

Então Rin, comovida, sorriu um tanto tímida, enquanto estendia a mão para Toga.

Thanks – disse ela. O casal, porém, a abraçou fortemente.

— Não agradeça. Você é uma garota linda e cheia de luz que apareceu em nossas vidas... — murmurou a mulher, ao que o marido completou:

— E, apesar de tão pouco tempo de convivência, já a amamos de verdade.

 

***

 

John Sesshoumaru esperava Naraku Octavio voltar para casa. Ele, impecavelmente elegante, estava parado à porta do amigo com Byakuya, seu fiel motorista particular. Kagura havia ido para casa mais cedo, pois Kanna tivera febre de novo. Alguns instantes depois e o moreno chegava com seu veículo; Byakuya então recebia autorização para se retirar. Os dois amigos, então, adentravam a refinada residência. O loiro se encaminhou até a geladeira e, forçando as vistas, notou algo que parecia uma torta gelada.

— Ah, Kagura e essas gordices deliciosas que ela faz para você! Naraku, veja que maravilha! Um negócio aqui que parece uma torta, deve estar perfeito!

— É uma torta holandesa, e de fato a minha dulce Miss Thompson é uma diva na cozinha mesmo, apesar de ser um terror como cabeleireira. Mas sossegue o facho, Sesshoumaru, eu pego um pedaço para você antes que derrube tudo.

O espanhol veio servir o amigo, que notou sua ligeira inquietação.

— Por que você está com essa cara de bunda?

— Cara de bunda, eu? Está ficando doido? — volveu ele, indignado. – Eu não sou uma bicha pão-com-ovo para você me chamar assim, seu babaca. Mais respeito, por favorzinho.

— Você estava trabalhando mesmo ou fazendo viadagens?

— Trabalhando, ora. Mas...

— Mas?

Naraku coçou a cabeça e acabou desabafando.

— Lefevre está insistindo muito para que eu dê uma chance para ele. E eu...

Damn it... Jakotsu, querendo dar para você?!

— Na verdade é o contrário, Sesshoumaru. Apesar de não parecer, ele é ativo.

— C******! Como eu faço para apagar essa imagem mental do inferno? Você dando para ele?! Vai haver uma intoxicação de purpurina no motel! Vocês juntos extrapolam todos os níveis de viadagem do universo! Ele usa macacões femininos, fala com voz de gay adolescente e você... Bem, você é você!

— Como assim “eu sou eu”, John?!

— Você é tão viado que...

— Bissexual.

— Cale a boca, deixa eu explicar. Você é tão viado com essa maquiagem e essas unhas pintadas que... Sabe... Eu acredito piamente que as malucas que topam sair com você é que te comem.

O espanhol riu, soberbo.

— Ora, ora... Bem, ainda não apareceu nenhuma querendo me comer. Não até hoje. Mas deve ser uma experiência e tanto. Por que você não descobre como é primeiro para me contar?

— Como assim?

— Simples. Peça à mulher com quem for trepar hoje que use um vibrador bem grosso em você. Vai ser inesquec-

Uma caneca de plástico voou em direção a Naraku, quase batendo em sua cabeça. Ele, porém, ria a valer da cara furiosa do amigo que protestava com veemência.

— Calma... Calma, mona... Não precisa ser um grosso, a gente arranja um pequenininho para você se acostumar...

— Vá para o inferno com essas piadinhas, espanhol arrombado. Para mim, homem que curte carinho no c* é viado e ponto final.

 

***

 

Condomínio Strauss.

Andrew Miroku Wright e Sandie Gottfried Cameron se despediam à porta do condomínio com beijos e carícias sutis. O motorista parecia absurdamente constrangido.

— Você vem me buscar, Andy?

— Venho, Mrs. Cameron. Até mais tarde... — e a beijou, mais uma vez. Estava encafifadíssimo. A escocesa sorriu, divertida.

— Ah, se eu soubesse que você ficaria tão sem-graça com a inversão...

— N-não espere que eu vá achar isso natural. Aí já é exigir d-demais de mim.

As mãos dela se entrelaçaram às dele, afetuosas, enquanto ela reclinava a cabeça ao ombro de Miroku, delicadamente.

— Miroku, meu lindinho, pare de se sentir tão mal. Você tinha me dito que gostou. Mudou de ideia?

— Não é b-bem isso... Gostar, eu gostei — sussurrou ele, roxo de constrangimento. — G-gostei de verdade, Sango. Na verdade foi a transa mais gostosa de toda a minha vida. Mas e... E se eu passar a gostar de dar o...

— Você não vai se transformar em gay só por causa da nossa brincadeira, seu bobo.

— Então... Você ainda me vê como um homem de verdade? — indagou Miroku, sem olhar para Sango. A resposta foi uma discreta mas vigorosa apalpada entre suas pernas, fazendo o rapaz quase pular.

— É óbvio que você é um homem de verdade, Miroku. Não só por causa das nossas transas. Você sabe disso. Nunca vi um cara ser tão honesto e dedicado aos irmãos como você é.

E Sango o abraçou, completando:

— Não precisa ter medo. Eu jamais exporia você ao ridículo. O que acontece entre nós dois pertence apenas a nós dois.

Devagar, ele a abraçou de volta.

— Obrigado, minha doce Mrs. Cameron. Volto mais tarde para te levar ao Instituto.

E, enfim, Miroku se afastou, caminhando pela Moseley Avenue em busca de seu ônibus. Ao andar, sentia com desagrado um incômodo no local mais íntimo de seu corpo. Consequência das ideias malucas e fetiches de Sango. Ao mesmo tempo que ele se recriminava, ponderava que dar aquela permissão à mulher de seus sonhos foi uma experiência sexualmente maravilhosa. A mera lembrança o deixava nas nuvens; a escocesa tinha sido muito gentil. Preparou-o da melhor forma, com cuidados e higiene, estimulando-o durante uma semana até que ele se sentisse preparado para fazer a bendita inversão com um plug anal colorido que parecia um brinquedo muito inocente.

Vexatório? Sim. Gratificante? Totalmente.

Por fim, Miroku entrou no veículo, sentou-se devagar devido à dor no reto e partiu dali, pensativo. O rapaz se sentia um pecador safado e pervertido. O que Inuyasha diria se soubesse que...

— Oh, meu Deus. Inuyasha não pode sequer sonhar com isso...!

 

***

 

Sentado no banco de trás do carro do amigo, Sesshoumaru estranhou; a ida para o local de trabalho parecia estar um pouco demorada.

— Octavio, por que a demora?

— Estou indo à sua casa, ora. Seu pai não pode levar Rin hoje.

O loiro fechou a cara.

— E para que vocês querem tanto aquela índia no Instituto? Praticamente todo dia vocês a arrastam para lá!

— Não é óbvio? Para ela ver pessoas diferentes e ir praticando seu inglês.

— Continuo não vendo p**** nenhuma de serventia nisso. Ela nem vai ficar aqui por tanto tempo assim!

— Ver com que olhos, seu cegueta? — retrucou o espanhol, entrando na garagem da mansão, meio aborrecido. — Escute, Sesshoumaru, você pode detestar Rin o quanto quiser, é um direito seu. Mas, pelo menos UMA VEZ na vida, pare com essa palhaçada!

— Não vou fingir que gosto dela só porque... — ia replicando o loiro, indignado, quando ouviu uma voz que o calou. Naraku havia saído do carro e gritava para que Rin viesse depressa, ao que ela respondia num inglês sofrido misturado com portunhol, correndo pelo jardim frontal de Ferguson Manor.

Enfim, a morena entrava e se sentava no banco de trás, sorrindo, até que prestou atenção e notou que o local não estava vazio. John Sesshoumaru, com um terno slim fit sem gravata e sapatos pretos reluzentes, estava ali, com seus olhos azuis muito abertos, olhando abobado para ela e baixando a cabeça em seguida. Rin estava desfocada para ele, que imaginava como ela estaria realmente vestida — um singelo vestido florido de alças com um bolero e sandálias de salto médio. Uma mecha de seus cabelos estava trançada como uma tiara em sua cabeça. Contudo, a jovem mal lhe disse um “good evening”; era impossível ficar à vontade ao lado de alguém que declarara não gostar dela, então ela se enrijeceu no banco. Apesar da ojeriza, Rin se lamentou por Sesshoumaru. Os olhos dele, tão belos, estavam já um tanto opacos.

Para tristeza de Naraku Octavio, ela estava sem maquiagem, fato exaustivamente lamentado por ele no carro ao longo do percurso até o Instituto Craddock. O loiro permaneceu mudo, apenas ouvindo a conversa trilíngue entre a jovem indígena e o psicanalista.

 

***

 

Raymond Inuyasha e Ann Kikyou tomavam notas das explicações diversas de Bankotsu Stewart, um homem moreno e forte que viera da Escócia para lecionar no Instituto Craddock naquele ano. Contudo, por mais que a moça procurasse prestar atenção unicamente na aula, seus pensamentos voavam até a maldita sala 21 do segundo andar. Seu cérebro se revolvia, seu coração a impacientava.

Ann Kikyou não conseguia arrancar Naraku Octavio de suas memórias. Ela não admitia, mas estava sentindo saudades dele.

 

***

 

Na sala 21 do segundo andar, o espanhol brincava com uma caneta entre os dedos, totalmente aéreo. Jakotsu estava sentado com Rin ao computador, ensinando a ela como acessar o YouTube, que reproduzia uma playlist de música pop eletrônica. Não era uma tarefa muito simples, já que o inglês do rapaz não era dos melhores e ele mal entendia o que Rin dizia.

— Naraku — pediu ela, já que a comunicação com o francês não fluía muito. — Eu quero ver um vídeo do Cal-ci-nha Pre-ta — foi o primeiro nome que lhe veio à mente. Não era tão entusiasta de forró, mas...

— Cal-ci-nha? Pantie (calcinha)? — indagou o espanhol, confuso. Jakotsu deu de ombros, também não entendeu direito. — Um biquíni?

— Não foi isso que eu quis dizer...

— Ela quer um biquíni, Octavio? — e Jakotsu abriu outra aba no navegador, digitando a palavra “bikini” no Google. Apareceram diversas opções de lingeries e Rin sentiu a face queimar de vergonha.

No! No! — exclamava ela, aflita, porém os outros dois abriam uma das páginas e olhavam curiosos para os modelos de calcinha e sutiã à venda no site.

— Olhe, mon enfant (minha criança) — dizia o francês — Já comprei algumas vezes neste site e eles são maaaaravilhosos, entregam antes do prazo! Você gosta de fio dental?

— Não entendi nada... — retrucou ela, apavorada. A última coisa que esperava ver no mundo era dois gays maquiados escolhendo calcinhas para ela. — E, pelo amor de Deus, gente, eu queria era ver o vídeo da banda e...

— Ela não gosta de fio dental, Jakotsu — interrompeu-a Naraku. — Para uma morena como ela, essas peças coloridas com motivos tribais ficariam muito boas. Cariño, qual o tamanho da sua medida? 40 ou 42?

— Eu já disse que...

Batidas à porta. Um aluno bem jovem, vestido sobriamente, com algumas sardas pelo rosto e um crucifixo grande no pescoço, chamava pelo coordenador-geral. Era o estudante de Engenharia Kohaku Agnelli. Naraku Octavio foi recebê-lo enquanto Rin e Jakotsu tentavam se entender de alguma maneira.

— Boa noite, Mr. DeMarco — disse o recém-chegado, gentilmente. — Eu gostaria de saber como funcionam as ações do grupo de apoio a crianças e adolescentes.

— Oh, claro. Entre e sente-se aqui... — e o espanhol convidou o jovem a entrar. — Italiano?

— Sou samarinense, mas já me acostumei a ser chamado de italiano, señor. Como são países vizinhos, nem me importo...

— Sabe falar espanhol?

Sí, hablo español. Me encanta aprender nuevos idiomas.

— Maravilha! — exclamou o psicanalista, genuinamente satisfeito. — Estávamos mesmo precisando de um poliglota em nosso grupo.

Imediatamente, a presença da jovem indígena ali, fazendo mímica com uma expressão exasperada no rosto moreno, chamou a atenção de Kohaku que, apurando os olhos, virou-se para o espanhol e disse:

— O senhor me permite ir até aquela moça?

— Bem... Sim, mas...

— Obrigado — e Kohaku se aproximou, chamando a atenção dos dois frustrados, que ergueram a cabeça para olhar para ele.

Bonsoir (boa noite), Monsieur Lefevre — cumprimentou o rapaz, num francês muito correto. — Puis-je parler à cette dame? (Posso falar com esta senhorita?)

Oui, oui... — respondeu o outro, achando graça.

Então, Kohaku sorriu abertamente para Rin, lhe dizendo em alto e bom português:

— Boa noite, senhorita. Tudo bem? És brasileira?

O queixo da morena caiu. Uma alma naquele país falava em sua língua! Que achado!

— Sou... Sou sim, seu moço, boa noite. Você tem um jeito diferente de falar...

— Eu falo o português de Portugal, senhorita.

A estas alturas, o francês e o espanhol se distanciaram discretamente, olhando para os jovens que agora falavam pelos cotovelos.

— Hummm... Acho que vai rolar algo mais ali, salope — murmurou Jakotsu, rindo. — Olhe o interesse do italianinho por ela!

— Será? Não sei, Rin não é uma garota tão fácil de conquistar. Ela é bem ressabiada quando quer... Melhor avisarmos que estamos aqui — e Naraku colocou a cabeça para dentro do escritório, exclamando: — Estamos resolvendo um assunto aqui fora, já voltamos!

Saindo, o espanhol ria ao ver que os dois jovens mal prestaram atenção em si. A pobre Rin estava louca de saudades de ser compreendida e Kohaku, apesar de não conhecer algumas palavras exclusivamente brasileiras, conseguia se comunicar quase que perfeitamente com ela. Naraku pensava se seria bom pedir ao garoto para lhe ajudar a aprender português também quando sentiu a mão de Jakotsu pegando a sua.

— Octavio.

— Sim?

O olhar do francês estava bem diferente para ele, agora que estavam a sós no corredor quase deserto.

— Você gosta de homens mais brutos?

 

***

 

Na sala de aula, Ann Kikyou ergueu a mão para pedir ao professor Bankotsu licença para ir ao banheiro. Recebendo-a, sutilmente ela saiu da sala, apressada. Achando o banheiro, aliviou a bexiga e lavava as mãos quando teve a ideia de ir, só um pouquinho, ao segundo andar.

Resoluta, a jovem subiu a rampa, o coração aos pulos. Afinal, ela só queria VER certa pessoa. Não precisava chegar perto... Se ela apenas o visse...

 

***

 

Uma sobrancelha de Naraku se arqueou com a pergunta; afinal, Jakotsu era um pouco mais baixo do que ele e bem mais feminil também. Mesmo seu timbre de voz era agudo, lembrando o de uma mulher com resfriado. A pele do rosto, impecavelmente macia, sendo difícil acreditar que ali nascia barba. O macacão azul-bebê estampado com motivos geométricos não ajudava muito.

— Depende. Você não é daqueles que batem, ou é? — murmurou o espanhol, se deixando agarrar pelo outro, que o abraçava com força e cheirava seu pescoço. — Eu topo muita coisa, mas apanhar, não. Já apanhei muito nessa vida.

— Não, não. Eu bato, mas não machuco — foi a resposta risonha. — Você vai adorar, garanto.

Por que será que sinto que vou me arrepender disso?, pensou Naraku, puxando delicadamente a mão dentre as do francês que, aproveitando sua distração, o agarrou e o beijou com certa urgência.

— Ei, sua louca, aqui não.

— Não vem ninguém...

— Por favor, pare...

Mas o rapaz parecia enlouquecido, beijando sua boca de forma luxuriosa e o segurando pela cintura. Subitamente, ambos ouviram o ruído de livros caindo pelo chão.

Kikyou, petrificada, encarava Naraku que, pela primeira vez em muitos anos, ficou sem reação ao ser flagrado por ela naquela situação inusitada.

A alguns metros atrás da jovem, Bankotsu Stewart recolhia os livros caídos e continuava seu caminho pelo corredor. Parecia irritado com os dois beijoqueiros e interpelou-os:

— Senhores, devo lembrá-los que a política do Instituto não permite esse tipo de comportamento — rosnou o escocês, encarando-os ostensivamente.

— Sorry — disseram eles, se recompondo. Jakotsu soltou o espanhol, que ainda estava congelado com os olhos sobre Kikyou, que, enfim, deu as costas e saiu quase correndo pelo corredor, magoada.

Kohaku e Rin saíam também de dentro do escritório, atraídos pelo som dos passos de Kikyou.

— Aconteceu alguma coisa errada aqui? — indagou ela, sem entender a cena. Bankotsu se afastava também.

— Nada... Nada, cariño — afirmou o espanhol, já com um sorriso falso enorme no rosto. O francês também disfarçou o desconforto e voltou para dentro da sala com o outro. A jovem morena, porém, olhou mais uma vez para Naraku e deduziu consigo mesma que ele estava bem mal.

 

***

 

Mais tarde...

Naraku deixou Rin na mansão e voltou com Jakotsu para sua casa. Mal haviam chegado, o francês se atirou contra ele.

— V-você é apressada, gulosa — riu o espanhol, meio aturdido. Afinal, Jakotsu estava a ponto de rasgar suas roupas. — Ei, cuidado com essa camisa, foi Izayoi quem me deu.

— Eu te avisei que estava na seca, sua cadela. Agora aguente.

Os dois caíram sobre a cama. Apesar de todo aquele ímpeto do francês, havia algo de triste em seus olhos. Com certa impaciência Jakotsu jogou para longe de si o macacão feminino que vestia.

O psicanalista já estava arrependido de ter topado uma noite com o colega; agora devia mais três mil para Sesshoumaru e amargava na boca um sabor estranho de derrota quando se lembrava do olhar de Kikyou sobre si, naquele momento. Sem contar que a delicadeza de Jakotsu parecia ter evaporado.

Eu não deveria me importar, aquela crentelha para mim não é ninguém. É apenas uma aluna do meu local de trabalho e... Chega, não vou mais pensar nela.

Trinta e cinco minutos depois, os dois rapazes conversavam com certo desalento. Naraku ainda estava um tanto assustado, pois o francês aparentemente sensível era um amante bruto MESMO. Suas nádegas e coxas estavam avermelhadas e arranhadas. Jakotsu, agora, havia retomado sua natural amabilidade e se desculpava com o espanhol.

— Sinto muito, mon cher. Eu me excedi um pouquinho.

— Tudo bem, não precisa ficar constrangido. Agora, me diga... Em quem você estava pensando?

— Em ninguém... — o francês estava corado.

Naraku revirou os olhos.

— Acho que tenho o direito de saber, já que você praticamente destruiu a minha bunda.

— Não tenho culpa se minha neca é meio grandinha, Octavio...

— Não mude de assunto. Vamos, Jakotsu. Hora de abrir o jogo.

O francês suspirou longamente, olhando de soslaio para o dono da casa.

— Eu estou apaixonado por um homofóbico...

— Quem?

Monsieur Bankotsu Stewart.

— O quê?! Ele é homofóbico?!

— Sim — concordou Jakotsu, olhos rasos de lágrimas. — Você não viu? Na hora em que a gente estava naquele corredor...

— Ele deixou os livros caírem no chão, mas...

— Você não percebeu, mas ele JOGOU os livros no chão.

— Então ele já estava nos observando?!

— Sim, ele e aquela aluna fanática da saia grande.

A menção a Kikyou deixou o espanhol bem desconfortável. Ambos se calaram por mais algum tempo.

— E você, Octavio, em quem estava pensando?

— Eu?! Ora, não estava pensando em ninguém.

— Você parecia triste...

— Não estava triste, estava era com dor mesmo — riu ele. — Sua mona agressiva. Como vou me sentar amanhã?

Os dois riram um pouco e Jakotsu interpelou Naraku mais uma vez:

— Bem, já que estamos aqui... Por que não me mostra sua coleção de sombras?

— Qual delas, a Bobbi Brown da Sephora ou o estojo novo que comprei no site da Dior?

— Eu quero ver toooodas!

— Pois eu vou mostrá-las — replicou o espanhol, empurrando Jakotsu de volta para a cama — Vou mostrar todas elas para você DEPOIS que me vingar de você e de sua performance de britadeira, gulosa.

 

***

 

Em algum motel luxuoso do Soho, John Sesshoumaru se atracava com Sara Asano, também professora do Instituto. A bela morena cavalgava sobre ele de forma feroz.

Entretanto, a lembrança do som dos baixos soluços de Rin, ocasionalmente, assaltavam os pensamentos do loiro. E assim foi por toda aquela madrugada.

Por que ela estava chorando?

 

***

 


Notas Finais


ParanauêêêÊ, paranauê paraná ♫♪♫♪

Tadinha da Rin, morre de saudades do Kouga e da Ayame... Ainda bem que ela está em um lar onde todos (sim, eu disse TODOS) a amam e a estimam bastante!
Sesshoumaru, meu fi, admite que você tá balançadinho pela morena arretada! Rá, bichim!

(Confesso que ri como uma das hienas do Rei Leão ao imaginar o Toga dizendo "arretado" com aquele sotaque britânico pesadão, haushauhsaiuhuah)

Sango e Miroku: não digo nada. HUAHAUHAUHAUHAUHAUH

Kikyou, abre o olho com o seu patrão!

Gente... Kohaku se aproximando da Rin é sinônimo de quê? #TRETAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Só de olho no Naraku inventando moda para não pensar em certa pessoinha que também não para de pensar nele... Deu no que deu, meu amigo. O Jakotsu é uma DIVA bem dotada! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

A propósito, vocês acham que o Bankotsu é homofóbico mesmo, ou o que rolou foi um ciuminho? #HU3HU3BR

Sugestões, reclamações e críticas... Fiquem à vontade e façam uma Mãe feliz: COMENTEM!

Obrigada, povo bonito! *-*

~Okaasan


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