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História Nem por Meio Milhão de Libras! - E disse Shakespeare: Meu Senhor, livrai-me do ciúme!


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Mais um capítulo.

Perdoem eventuais erros e mesmo a qualidade do texto, que não está tão boa. Minha bebê adoeceu e nem pude desenvolver o texto como pretendia. Ah, essas viroses malditas :'(

A capa do capítulo, com o casal Bankotsu & Jakotsu, não me pertence. Créditos ao fanartista.

Boa leitura...

Capítulo 18 - E disse Shakespeare: Meu Senhor, livrai-me do ciúme!


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - E disse Shakespeare: Meu Senhor, livrai-me do ciúme!

 

No caminho para o Saint George’s Hall, em Liverpool, Naraku Octavio seguia no banco de trás jogando sua versão favorita de Angry Birds enquanto John Sesshoumaru discursava eufórico sobre como apreciava o timbre de voz da cantora lírica que iriam ver cantar, no banco da frente com Byakuya. O jovem motorista tinha no rosto um sorriso quase que permanente e concordava com tudo que seu patrão dizia.

O herdeiro loiro de Ferguson Manor estava impecável com seu Black Tie preto; seus cabelos ganharam um corte repicado que quebrava um pouco da seriedade de seu visual e sua gravata-borboleta estava perfeitamente ajustada. Uma fragrância 212 Men acrescentava charme e virilidade a Sesshoumaru, que agora incorporara ao seu look os óculos escuros, tanto para poupar seus olhos do incômodo da claridade diurna ou noturna quanto para esconder dos demais a atual aparência de suas córneas opacas e escleras avermelhadas.

Por sua vez, o psicanalista espanhol optou por um terno cinza claro slim fit, sem gravata; os volumosos cabelos tiveram a parte superior presa em um rabo de cavalo, enquanto o restante descia em cascata por suas costas. Naraku gostava de se perfumar com One Million e, naquela noite, limitou-se a aplicar apenas base e pó no rosto. Sua aparência estava bastante tradicional e sóbria, diferente do usual. Por acaso, lembrou-se de que Liverpool era bem mais perto de Leeds do que de Westminster; seus pensamentos voaram até certa jovem presbiteriana.

Será que ela gosta de ópera?, pensou ele, distraído com o jogo.

— Naraku? — chamou Sesshoumaru, sem obter resposta. — NARAKU OCTAVIO! Dá um tempo com essa p**** de jogo!

— O que é, seu merda?

— Eu estava te perguntando qual a música da Cecilia que você mais gostou naquele álbum Opera Proibita.

— Hmmm... Déjame pensar... Aquela de Handel, Un Pensiero Nemico di Pace.

 

***

 

No carro de Bankotsu, um pendrive com músicas de Cecilia Bartoli tocava bem alto.

— Oh, que lindo! — exclamava Kikyou, ouvindo Un Pensiero Nemico di Pace, do álbum Opera Proibita. — Bankotsu, eu adoro ópera! É a primeira vez que terei a oportunidade de assistir um concerto de verdade ao vivo!

— Fico feliz de poder proporcionar isso a você, querida — respondeu ele, gentilmente. A moça enrubesceu.

— O-obrigada. Eu... Eu não tenho costume de ouvir músicas que não sejam hinos.

— Nem mesmo músicas gospel?

— Nem mesmo músicas gospel. Aliás, até ouço, mas é difícil.

— Por quê? É alguma doutrina que você segue?

— Não... Eu sou chata nesse quesito. Se não me comove, não ouço. Entende?

O escocês a olhou com ternura. Ela era tão parecida consigo... Por que ele tinha que amar outra pessoa tão absurdamente diferente dele, tendo em comum apenas o fato de ser um homem?

— O que a comove, Kikyou?

— Ah... — ela suspirou. — As canções de Yanni, por exemplo.

— Oh, você gosta de Yanni? Interessante, aquele Mr. DeMarco é viciado nessas músicas.

Ann Kikyou congelou por alguns segundos ao ouvir aquele nome. Droga, Bankotsu! Por que foi me lembrar dele?

— Você... Você é amigo dele?

— Não, e nem pretendo. Somos apenas colegas de trabalho — respondeu Bankotsu, as feições endurecendo. — Digamos que não nos damos tão bem.

— Por quê? É por ele ser ateu?

— Não. Quanto a isso, não me incomoda. Há muitas pessoas que conhecem a Deus na velhice, por exemplo. E devo admitir que Naraku DeMarco é um homem caridoso e bom, apesar de eu não gostar dele.

— Bom?! Ele é ateu!

— Kikyou... — e Bankotsu deu um ligeiro sorriso sarcástico. — Você não é daquelas pessoas que acham que todo cristão é um anjo e todo ateu é um demônio, é?

— B-bem... Não necessariamente assim, mas eu tenho sérias ressalvas em relação a ateus.

— Permita-me te dizer uma coisa... Eu já viajei muito pregando, querida. Já presenciei muitas coisas chocantes, como pastores e bispos que abusam das próprias filhas e ateus voluntários em programas como Médicos sem Fronteiras, que deixam suas casas e seus países para acudir vítimas de guerras no Oriente Médio e África. Como também já vi o contrário. Então...

A moça o encarava com olhos enormes, pálida.

— Não julgue ninguém pela aparência. Às vezes, os demônios estão dentro de nossas igrejas escondidos atrás dos nossos púlpitos — explanou Bankotsu, com dureza no olhar. Vendo que Kikyou estava um pouco assustada, abrandou sua expressão. — É um conselho para sua própria segurança, querida.

— Oh...

Kikyou se sentia péssima no momento; nunca recebera uma repreensão tão séria e, ao mesmo tempo, tão piedosa antes. E aquilo fazia todo sentido; a mente da moça voou para a Bíblia e as recomendações de Jesus sobre julgar o próximo indevidamente.

O Saint George’s Hall estava a poucos quarteirões de distância; contudo Bankotsu parou o carro em uma rua mais tranquila pouco antes da estação ferroviária de Lime Street, levando a mão ao queixo da jovem.

— Ei, eu não queria que você ficasse triste.

— Eu... Eu sou uma pessoa horrível — murmurou ela, tentando não chorar. — Sempre disse isso em casa... Que não confiava em não-cristãos e muito menos em ateus... E ainda ensinei isso aos meus irmãos.

— Oh... Não é para tanto — Bankotsu pegou no rosto de Kikyou com as duas mãos. — Quando eu era mais novo, também tinha esse preconceito. Não precisa se recriminar. Ninguém nasce sabendo, querida.

— ...

— Vamos fazer o seguinte: o que houve aqui hoje servirá como um aprendizado para você. Prometa para mim que vai passar a olhar ao seu redor com uma visão mais misericordiosa e, ao mesmo tempo, mais cautelosa. Como Jesus ensinou: seja simples como as pombas e prudente como as serpentes.

— Tenho s-sido tão dura ao conviver com as pessoas... — sussurrou a jovem. O escocês continuou a acariciar ternamente seu rosto. — Obrigada, Bankotsu. Você fez algo muito bom por mim...

— Algo bom? O quê?

— Me confrontou e me fez ver que eu estava errada... E não me ofendeu.

— Ora, Kikyou... — Bankotsu riu. — É meu papel de cristão.

— Confesso que nunca moderei as palavras para repreender uma pessoa. Meus irmãos, por exemplo, são meninos tão bons e... — uma lágrima acabou rolando. — Eu confesso que tenho sido exagerada com eles.

— Não precisa ficar tão abatida, querida. Quando chegar à sua casa, converse com eles, peça perdão. Eles vão admirar você pela humildade. É esse tipo de exemplo que você deve dar à sua família.

— Puxa... Você é tão diferente das outras pessoas que já conheci...

O escocês a abraçou ligeiramente e lhe deu um singelo beijo no rosto, levando-a a ficar ainda mais envolvida por ele. Tão respeitoso, tão correto! Tão ponderado...

Contudo, os pensamentos dele eram outros.

Ah, Kikyou... Você é uma garota maravilhosa, mas... Eu nem consigo beijá-la. Agora, se fosse o seu irmão caçula aqui comigo... Será que eu resistiria? Aquele Inuyasha é um moreno tão sexy! E, hoje, tudo o que eu mais preciso é de um homem... Se Jakotsu não quer esperar o meu tempo, também não vou mais esperar por ele!

 

***

 

Saint George’s Hall é um dos patrimônios arquitetônicos de Liverpool. O belo edifício comporta um teatro para concertos e salas de reuniões e outra parte é a sede dos tribunais da cidade. Às seis e quarenta e cinco, o movimento de pessoas que chegavam para o concerto de Cecilia Bartoli era frenético e intenso.

Nesse ínterim, descendo de um táxi, estava Jakotsu Lefevre, deslumbrante em um terninho branco muito bem ajustado ao seu corpo esguio. Sua maquiagem, muito bem feita, realçava ainda mais seu belo rosto e, desta vez, o francês ousara e pintara suas unhas de vermelho-bordô, o mesmo tom do batom cremoso que usava. Nos pés, saltos 12 meia pata vermelhos também; os cabelos foram presos num coque e sua franja caía displicente sobre seus olhos. Olhares diversos seguiram-no assim que ele desceu do veículo — o francês estava belíssimo, mais andrógino do que nunca.

No coração, porém, ele levava a saudade imensa de Bankotsu. Desde a última vez que telefonara para ele, não mais tiveram contato.

— Ah, Ban... Onde será que você está?

O francês seguiu para o teatro de concertos. Passava por um dos corredores do local quando ouviu uma voz conhecida com forte sotaque espanhol a poucos metros de si:

— Byakuya! Eu disse para virar à ESQUERDA, cabrón! Você está levando Sesshoumaru para o tribunal, viado!

— Oh, desculpe, sir.

— Será que você está ficando cego também, Byakuya? — protestava a voz do seu outro companheiro de trabalho, Sesshoumaru. — Vamos, me leve até onde Naraku está!

Jakotsu foi até onde eles estavam, satisfeito; pelo menos não ficaria tão sozinho ali.

— Octavioooo! Minha DI-VA! — gritou ele, espalhafatoso. Ao ouvir seu nome sendo chamado, Naraku se virou para trás e viu seu colega se aproximar, arregalou os olhos, impressionado pela produção do outro. Abrindo os braços, o espanhol exclamou:

— Jakotsu! É você mesmo?!

— Claro que sou eu!

— Viado...! Você está linda! Arrasou, bee! Me dá um abraço! Você está tão... Tão mulher! — e os dois se abraçaram efusivamente, enquanto Sesshoumaru, ouvindo a conversa, revirava os olhos. Byakuya, ao seu lado, olhava confuso.

— Era só o que me faltava — resmungou John Sesshoumaru. — Dois arrombados exalando purpurina na minha frente. É demais para os meus olhos!

— Cala a boca que você é cego e nem está vendo nada, Sesshoumaru — retrucou o espanhol. Jakotsu sorriu:

— Boa noite para você também, loira chata. E quem é esse japonesinho lindo com vocês?

— Quem é loira chata, Jakotsu? — rosnou Sesshoumaru.

— Japonesinho? Onde? — perguntou Byakuya, olhando para os lados.

— Esquece, boy magia — disse Naraku ao motorista, enquanto pegava com cuidado na roupa do recém-chegado, admirando-a. — Mas que roupa maravilhosa, cariño, por que você não vai trabalhar assim, toda montada?

— Não gosto de chamar atenção lá — sorriu o francês. — Mas, me diz, mon amour, por que você está tão homem?

Naraku levou a mão ao peito, chocado, abrindo a boca.

Ay, caramba... Assim você me magoa, malvada. Não quis me montar hoje, só isso.

— Eu trouxe um gloss da Dior, Octavio — disse Jakotsu, abrindo sua bolsinha de mão. — Usa, vai. Você vai ficar linda.

— Mas eu já sou linda, meu bem.

— Deixa eu passar o gloss em você, mon cher?

— Byakuya, me tire de perto dessas duas bichas, antes que eu fique maluco! — exclamou Sesshoumaru, sem a mínima paciência.

— Acho que aquele moço ali também está bravo — comentou o motorista, olhando para a frente.

— Que moço? — indagou Naraku, olhando também, e tendo a mais desagradável surpresa do dia.

Afinal, Bankotsu Stewart vinha em sua direção, com uma expressão nada amigável na face. Jakotsu, que começara a tocar o rosto do espanhol no afã de aplicar o gloss em seus lábios, estava catatônico. Segurando a mão do escocês, estava Ann Kikyou.

A cabeça do psicanalista doeu. Latejou. Seus lábios se ressecaram e tudo o que ele conseguia enxergar era a mão de Bankotsu envolvendo a mão da jovem presbiteriana, fato que transtornava também um indignado Jakotsu, cujo estômago pareceu afundar dentro do ventre.

Ela, por sua vez, sentiu seu corpo se arrepiar de ódio vendo a mão esquerda do francês pousada sobre o rosto do espanhol, enquanto a direita continha um pincel de gloss. Bankotsu, vendo a mesma coisa, via a hora em que seu coração explodiria de tanto palpitar devido à ira.

Quatro pessoas, um sentimento: ciúme.

Os poucos segundos que Bankotsu e Kikyou gastaram para se aproximar da porta do teatro pareceram horas de tormenta. Ao lado de Naraku, Sesshoumaru e Byakuya permaneciam atarantados por não entender o que estava se passando. Apesar do burburinho dos demais espectadores do concerto, o clima ao redor deles era de extrema tensão.

O escocês, passando por eles, se revestiu de uma postura arrogante e lhes dirigiu um breve boa noite.

— Boa noite, sir — respondeu o coreano, educado como sempre.

— Boa noite — respondeu Sesshoumaru, estranhando que os demais permaneceram em silêncio. — Essa voz... É você, Bankotsu Stewart?

— Sim, Mr. Sesshoumaru. Soube que esteve doente. Estimo ver que está melhor.

— Estou ótimo. Até vim trazer meu irmão ao concerto...

Irmão?, pensaram Kikyou e Jakotsu.

— Espere... Você disse irmão? — aparteou Bankotsu, olhando para o espanhol de alto a baixo, com desdém. — ELE é seu irmão?

— Naraku? Sim, esse viado é meu irmão adotivo... Não pegou o sobrenome do meu pai porque não quis, mas ele também é um Ferguson — respondeu o loiro, sem entender o porquê de o clima ficar a cada minuto mais sobrecarregado. — E você está com alguém? Vejo um vulto de verde ao seu lado...

— Oh — e Bankotsu trouxe Kikyou para junto de si; até então, ela estava evitando se aproximar de Naraku e se postara quase que atrás de seu companheiro. — Que falta de educação a minha. Esta bela jovem é a MINHA aluna, a senhorita Kikyou Wright. Somos membros da mesma igreja e ela aceitou meu convite para vir aqui — disse ele, olhando para Jakotsu, cujas mãos estavam fortemente cerradas. Naraku, por sua vez, sentia seus ombros dormentes e tensos.

— É um prazer, Miss Wright — saudou-a Sesshoumaru. — Acho que já ouvi Naraku falando de voc-

— NÃO OUVIU, John — rosnou o espanhol, fuzilando Bankotsu com seus olhares. — É impressão sua.

— Ah, não é impressão não, Mr. Naraku — disse Byakuya, inocentemente. — Naquele dia em que o senhor adoeceu no parque, o senhor delirou de febre no carro e chamou “Kikyou” duas vezes. Eu me lembro muito bem.

Sesshoumaru disfarçou um risinho.

— Byakuya, não é hora de brincar de Forrest Gump¹ — sibilou Naraku, já rilhando seus dentes. Bankotsu e Jakotsu se entreolharam disfarçadamente, num misto de raiva, ciúmes e confusão. Kikyou, por sua vez, não sabia o que pensar. O que faria o espanhol chamar por ela em meio a um delírio de febre?

— Pois, com sua licença, nós vamos entrar — anunciou Bankotsu, retomando o sangue frio e trazendo consigo a moça, que ainda olhou com raiva para Jakotsu uma última vez. Afastaram-se, enfim, enquanto os quatro homens ficaram estáticos no corredor.

— Viado maldito — resmungou Naraku, puxando o francês e indo em frente. — Vou dar na cara dele.

— Ei... Espere, Octavio, espere! Do que está falando?!

— Não me segure, Jakotsu. Tenho contas a acertar com aquela bicha enrustida!

Lá atrás, Byakuya, vendo que todos se afastaram, resolveu conduzir Sesshoumaru para entrar no salão onde ocorreria o concerto. Por sua vez, o loiro indagou:

— Byakuya, me diga uma coisa.

— Pois não, sir.

— A tal Kikyou que estava com Bankotsu é uma mulher mesmo?

— Sim, sir. É uma mulher do tamanho da minha Kagura e deve ser mais ou menos da mesma idade.

Sesshoumaru baixou a cabeça, pensativo. Byakuya podia ter um QI baixo, mas era um ótimo observador. Sabia relatar tudo o que via com riqueza de detalhes.

— Descreva essa Kikyou para mim. É feia?

— Não, ela não é feia não. Seus cabelos são grandes, seus olhos são um pouco puxados como os meus...

— E o corpo? Eu quero saber é do corpo...

— Cintura fina, quadril largo, bunda grande, seios meio pequenos.

— Então você achou ela gostosa?

Byakuya ficou vermelho.

— Mr. Sesshoumaru, eu não posso dizer uma coisa dessas. Agora eu sou comprometido.

— Não seja mais burro do que já é, olhar não arranca pedaço... E se você não me der seu parecer sobre ela, como vou imaginá-la?

— Ah... — o coreano coçou a cabeça, já perto da fila para entrada. — Okay, Mr. Sesshoumaru. Ela é gostosa, sim. Tomara que Kagura não me ouça.

— Naraku estava olhando para ela quando você viu Bankotsu chegando?

— Estava.

— Como estava o rosto dele?

— Vermelho. E ele parecia irritado.

Sesshoumaru sorriu largamente, zombeteiro. Então era aquela pessoa que tirava seu amigo do sério...

 

***

 

Bankotsu, ainda com o coração palpitante, se dirigia para a sala do concerto com Ann Kikyou quando sentiu uma mão lhe segurando o ombro sem muita polidez. No momento, haviam poucas pessoas para entrar.

Surpreendeu-se ao ver que era Naraku, parecendo ainda mais furioso do que antes; a poucos passos atrás de si, seu francês se aproximava, esbaforido.

— O que você quer, DeMarco? – inquiriu o escocês, já sem um mínimo de amabilidade. Kikyou, que estava praticamente à porta, olhou para trás ao ouvir a voz raivosa do seu acompanhante e sufocou um grito nervoso ao vê-lo totalmente irado, de frente para aquele maldito espanhol, que parecia estar disposto a estragar seu primeiro encontro.

— Preciso acertar contas com você.

— Contas?! Que eu saiba, não te devo nada.

— Ah, você tem, sim. Em particular, de preferência.

— Bankotsu, você tem algo em particular para falar com ELE? – indagou Kikyou, incomodada.

— Não tenho, querida. E nem quero ter.

— Tem certeza que não quer sair do meio dessas pessoas, Bankotsu? – e Naraku sorriu ao olhar de relance para Jakotsu, ao seu lado, nervoso e apreensivo. – É coisa rápida, você deve prezar muito por discrição, creio eu. É uma conversa entre adultos entendidos².

O escocês enrubesceu, olhando para o francês com incredulidade total. Será que Jakotsu tinha contado...

— Onde quer ir? – disse ele, derrotado.

— Para o fim do corredor, em direção à ala dos tribunais.

— Bankotsu, não vá. Por favor! – pediu Kikyou, ao que Jakotsu de imediato interveio:

— Escuta, mon enfant, isso é assunto para homens...

— Então também não lhe cabe, Mr. Lefevre! — disparou ela, furiosa. — Você é gay!

— Hahahaha... Acha que me ofende me chamando de gay, racha? Pardon, mon cher... Sou homem o bastante para assumir que sou homossexual!

— Você me chamou de racha! O que quis dizer?! — replicou ela, mais do que confusa.

— Céus! Em que mundo você vive?!

— Já chega, vocês dois! – ralhou Bankotsu, mais do que irritado. – Eu vou com DeMarco e não me demoro. Vocês, se comportem... Principalmente você, Lefevre. Manterei os olhos nos dois.

— Vamos – afirmou o espanhol, se encaminhando para a ala dos tribunais e sendo seguido pelo escocês.

Kikyou e Jakotsu viraram os rostos um para o outro, irritados, sempre olhando em direção aos dois que caminhavam ao longe.

Sob pesado silêncio, Bankotsu e Naraku chegaram a um ponto deserto e sossegado do corredor.

— Então, DeMarco? Qual é o seu assunto tão importante? — indagou o escocês, braços cruzados e fisionomia severa.

— O que pretende com ela? — disparou Naraku, sem rodeios. O outro piscou, ligeiramente atônito, pois não esperava ouvir tal pergunta.

— Com Kikyou? Ora... Quero conhecê-la melhor.

— Ah, não. Não quer não.

— O que disse?!

— Disse que você NÃO quer nada sério com ela, seu babaca.

— Me respeite!

— Respeitá-lo? Você é um hipócrita! Quer se envolver com uma garota ingênua como ela para quê? Para destruir seus sentimentos?

— O que você entende de sentimentos, sua bicha libertina?

— Entendo os sentimentos de Jakotsu. Entendo o sofrimento dele por gostar de outra bicha encubada, que não sai do armário.

— Como ousa... — os olhos de Bankotsu pareciam querer saltar das órbitas.

— Como ouso o que, falar a verdade? É tão simples... Agora, você prefere o caminho mais fácil: ignorar um rapaz que te quer bem de verdade e iludir uma virgem...

— Ah, você agora virou o moralista e está preocupado com o hímen dela? Palmas para você, DeMarco!

— Eu me importo com o bem-estar dela, arrombado! E me importo com o de meu amigo Jakotsu também!

— Não ouse falar dele para mim depois de tudo o que você fez, seu maldito!

— Falo! Falo, pois lamento me lembrar da tristeza dele... E de ouvi-lo chamando seu nome enquanto eu o penetrava!

— DESGRAÇADO! – e Bankotsu socou o rosto de Naraku, levando-o a se desequilibrar por alguns segundos e se impulsionar contra o escocês, acertando seu estômago. 

A bulha chamou imediatamente a atenção de Ann Kikyou e Jakotsu, que correram em direção aos brigões. Por sorte, o local estava totalmente deserto agora.

Mon Dieu! Não é possível!

— A culpa é sua... — exclamou Kikyou, irritada. — Agora ele vai dar uma surra no seu amante...

Amante?! Você ficou louca, menina?!

— Não tente me enganar! Eu vi vocês se beijando na porta da coordenação...

— Racha... E daí? Foi só uma transa e... – o francês piscou repetidas vezes e encarou a jovem. – Espere aí... Você ficou com ciúmes de Naraku comigo?!

— Não dá para falar sobre isso outra hora?!

Assim, Kikyou surpreendeu Jakotsu quando, ao chegar junto aos homens que brigavam, se dirigiu até o espanhol, agarrando-o por trás como podia, enquanto o francês forçava Bankotsu a se afastar de Naraku. Ambos estavam descabelados e empoeirados, vociferando ameaças e impropérios um contra o outro.

— Me solte, Jakotsu! ME SOLTE! Eu vou arregaçar a cara desse imundo!

— Pois venha se você tem coragem, cigarrón. Venha que eu te ensino a não mexer no que não te pertence!

— Quem mexeu primeiro foi você, maldito!

— Ban, por favor... Não faça isso! Contenha-se, seu louco! — pedia o francês, apavorado, arrastando o amado consigo com certa facilidade; apesar da compleição física aparentemente frágil, Jakotsu era bem forte.

Naraku, por sua vez, agarrou o braço de Kikyou e a levou consigo para o lado oposto, em direção à ala dos tribunais, numa curva do corredor à esquerda. A orquestra começou a tocar; a jovem se viu sendo levada a uma continuação mais escura do corredor e empurrada para dentro de outra reentrância, a ala dos banheiros. Só então o psicanalista soltou seu braço e a encarou furiosamente.

— O que foi aquilo, Naraku? Aquela briga?

— Não é da sua conta — rosnou ele. — Aliás... É, sim. Eu estava dizendo àquele escocês estúpido que ele é um filho da p***.

— Mas que história é essa?! Ele é um homem decente e...

— Ah, está defendendo ele?! Eu deveria saber... Crentelhos como vocês se defendem até a morte.

— Não admito que se dirija a mim dessa forma, seu... Promíscuo!

— E daí que sou promíscuo, señorita? E DAÍ?!

— A promiscuidade é um pecado terrível!

— Ótimo, que interessante. Vai me dar uma aula de soteriologia³ agora? — retrucou Naraku, sarcasticamente. — Pois bem... O que você esteve fazendo sozinha num carro com um homem durante o caminho de Leeds até aqui? São quase duas horas de percurso, irmã Ann Kikyou.

A moça corou até a raiz dos cabelos.

— Eu não sou uma qualquer, se é o que está insinuando, seu vadio! Mr. Stewart apenas me convidou para vir aqui, e eu vim!

Okay... Uma mulher e um homem sozinhos dentro de um carro... Quer enganar a quem?

— Não quero enganar ninguém! — protestou ela. — Não sou como você que sai beijando todo mundo que passe na sua frente.

— Oh... Claro.

Uma sobrancelha do espanhol se arqueou, enquanto ele travava uma intensa luta interna; não sabia se ficava enciumado ou feliz de ver Kikyou com ciúme dele. Naraku começou a rir, se aproximando de Kikyou. Uma risada baixa, aveludada e sedutora. A moça se encolheu e tentou se esquivar, mas ele espalmou as mãos na parede, aprisionando-a.

— Tudo por causa daquele beijo... O beijo de quarenta e cinco dias atrás... – sussurrou o espanhol, agora olhando diretamente nos olhos um pouco puxados da moça, cujas batidas cardíacas estavam frenéticas.

— Q-quarenta e seis...

— Hummm... Verdad, muchacha. La más pura y absoluta verdad. Aquel beso...

— Fue lo primero beso de mi vida... — murmurou ela, praticamente submissa à força do olhar do homem.

Aquela afirmação, em seu idioma nativo, vindo daquela delicada mulher diante de si, teve o poder de causar uma agitação inédita no mais íntimo do emocional de Naraku, que a custo manteve sua postura firme. Kikyou parecia vulnerável perante ele, mas ele também o estava perante ela. O homem chegava a sentir um nó na garganta, coisa até então desconhecida. Mulher ou homem algum jamais tivera aquele poder sobre Naraku.

Era desejo, era paixão, era necessidade de pertencer a ela.

O espanhol se aproximou um pouco mais, pegando os braços da jovem e os mantendo presos contra a parede, sem contudo pressioná-los. A ponta de seu nariz estava prestes a tocar no de Kikyou, cujos lábios se entreabriram. Ela, no momento, tremia por dentro; a simples aproximação de Naraku fê-la sentir seus órgãos internos se revolucionarem.

Era desejo, era paixão, era necessidade de pertencer a ele.

— Você quer um beijo meu, Kikyou? — indagou ele, baixinho. A resposta foi um pequeno gemido e um piscar de olhos demorado. Ela queria, sim, queria demais. — Respóndeme...

— Q-quero... Eu quero... — sussurrou a jovem, sequiosa, erguendo mais o rosto para o espanhol, que, surpreendentemente, disse:

— Não.

 

***

 

Bankotsu, após ser arrastado por alguns metros pelo seu querido, retomou a postura e endireitou-se, sendo que agora ele é quem conduzia o francês para o andar de baixo, por outro corredor.

Iam rumo à corte. Jakotsu, assustado, tentou parar o outro:

— Ban... Está louco? Tem dezenas de guardas espalhados aí.

— Somos apenas dois amigos indo ao banheiro, Jak. Não é preciso se preocupar — respondeu o escocês, de forma sardônica. O francês ficou momentaneamente aliviado ao se ouvir sendo chamado pelo apelido carinhoso. Logo avistaram um banheiro.

Sem muita delicadeza, Bankotsu empurrou o mais novo para dentro do toilet. Havia uma chave na porta, possivelmente esquecida por algum serviçal distraído. Jakotsu ficou sem saber o que pensar do parceiro, que avançou decidido até ele e o virou de costas para si, jogando-o de encontro à parede.

— B-Ban...!?

— Já chega, Jakotsu. Hoje foi a gota d’água, para mim. Você deu para aquele vadio?

— Eu p-posso explicar... AH! — exclamou ele, ao ter o braço puxado para trás com certa fúria. O escocês não conseguiu se esquivar de um sentimento de culpa por estar fazendo aquilo, mas, no momento, ele não conseguia agir racionalmente.

— Deu ou não deu?

— Nós revezamos...

— Eu não acredito... — rosnou Bankotsu, transtornado. — Jakotsu, eu tive apenas duas transas em toda a minha vida, e as duas foram com você... Você me disse que era ativo, eu não questionei, até me machucou na primeira vez... E, até hoje, eu me mantive fiel a você. Por que sou tão estúpido?! Você não está nem aí para o que eu sinto...

— Amor... Me perdoa — o francês chorou. — Eu fui f-fraco... Aliás, eu sou um fraco! É que eu não aguento...

— E por que EU tenho que aguentar sozinho?! — exclamou o outro, enlouquecido. — Você faz ideia do quanto eu sofro?

— Sofre?! Faz-me rir... Como explica a menina Wright como sua acompanhante?!

— Diferente de você, eu não fiz nada com ela. Nem conseguiria. Não consigo sentir tesão por mulheres. E nem por outros homens, ultimamente... Eu só penso em você, seu maldito. Passei a vida inteira mentindo para mim mesmo, tentando reprimir minha natureza homossexual, tentando ser um homem de Deus e, quando decido parar de me esconder por conhecer o homem que amei desde o primeiro dia... Descubro que se trata de um homem sem princípios, sem palavra, que... Que mente para mim dizendo que vai esperar o meu tempo... E pisa no meu sentimento mais puro.

E Bankotsu soltou o francês, dando-lhe as costas, arrasado.

— Ban... Por favor, não desista de mim — soluçou Jakotsu, grossas lágrimas descendo por seu rosto delicado. — Eu prometo que não vai acontecer de novo...

— Por que eu deveria acreditar em você?!

— Amor, eu... Eu prometo...

O escocês permaneceu de costas para Jakotsu, o coração dolorido de mágoa.

Aquilo massacrava a alma de Bankotsu, a dor de ser traído pelo homem a quem ele amava a ponto de se entregar, totalmente, ignorando seus temores, convicções religiosas e o próprio orgulho.

— Droga... Por que eu tenho que ter um coração tão mole? — lamentou-se ele, piscando várias vezes para afastar lágrimas traiçoeiras que se acumulavam em seus olhos castanhos. Virou-se devagar para seu francês, que estava de joelhos no chão, cabisbaixo, uma das mãos pousada sobre a calça branca.

— Jakotsu...

— Amor... Eu só precisava de um abraço seu naquele dia... Você mal falou comigo durante aquela semana...

Bankotsu olhava para o outro rapaz, intensamente, como se pudesse abraçá-lo e carregá-lo consigo para sempre apenas com a voracidade de seu amor. Levou a mão, timidamente, ao coque dos cabelos negros do francês, que de imediato ergueu a cabeça.

— Você fica maravilhoso com esse penteado, Jak. Lindo, muito lindo.

Lentamente o escocês se pôs de joelhos diante do amado, aproveitando para tocar seu rosto. A maquiagem de Jakotsu era resistente a água; seu pranto não borrara sua primorosa produção. Bankotsu, então, começou a distribuir singelos beijos pelo rosto do francês, que agora olhava ansioso para si, arfante, desejoso de ouvir do outro que receberia sua chance a mais.

As testas se tocaram e Jakotsu pôde também levar suas mãos à face do seu querido e tocá-la com o maior dos cuidados. Havia uma equimose no lado direito da linha da mandíbula de Bankotsu, que agora estava mais visível e possivelmente doía. O concerto prosseguia no andar de cima, mas eles mal conseguiam prestar atenção.

— Que bom que gostou do meu penteado... — murmurou Jakotsu, feliz. — Eu adoro ouvir você me elogiando, nem sou tão bonito assim, bobinho.

— Eu te amo e te acho maravilhoso de qualquer jeito — respondeu o escocês, aspirando o perfume do pescoço do mais novo, que quase surtou ao ouvir aquela declaração tão resumida e, ao mesmo tempo, tão incrivelmente forte. Enlevado de ternura, Jakotsu beijou Bankotsu sem reservas.

O francês convidou seu querido a se colocar de pé, prosseguindo em beijá-lo com sofreguidão e tentando tirar o paletó do escocês afobadamente. Este riu.

— Ei, vá devagar. Eu preciso de minhas roupas inteiras, mon amour.

— Não me pare, eu... Estou faminto por você, Ban. Preciso te amar, preciso me sentir vivo de novo enquanto me enterro bem gostoso no seu corpo...

Algo mudou no olhar de Bankotsu, que, sendo sempre o mais gentil dos dois, conduziu o francês para a sua frente, enquanto dizia com seu jeito ponderado:

— Interessante a sua proposta, mon amour...

E abriu o zíper da calça de Jakotsu, levando a mão até o membro rijo e o tocando diretamente, sentindo o pulsar do órgão do seu querido, que estava surpreso, desfeito e arfante à sua frente. Nada mais importava para Bankotsu, a não ser esquecer de todos os seus problemas ao fazer amor com o homem que ele amava profundamente.

— Jak... Hoje, quem vai se enterrar em você sou eu.

 

***

 

No outro banheiro do andar de cima...

— O... O quê? — inquiriu Ann Kikyou, olhos enormes, assustada com a negativa de Naraku.

— Eu disse não, Kikyou.

— Mas...

Não vou beijar você de novo.

A jovem empalideceu mortalmente e já não conseguia mais articular palavra alguma, chocada ao extremo. O espanhol posicionou o rosto à direita da cabeça dela, dizendo quase que descontraído:

— Dois motivos, Kikyou. O primeiro: se eu fosse um teísta, invocaria a todos os deuses de todas as religiões desse planeta para me livrarem de ficar me envolvendo com uma mulher tão chata e fanática como você. Você é um porre! Um tormento, uma pedra no sapato. É isso que você é. Uma mulher insuportável que me enlouquece de raiva.

— ... — os olhos da jovem marejaram e ela se sentiu, ali, menos que um verme. Contudo, Naraku tinha mais a dizer.

— O segundo motivo... — e ele respirou fundo, cenho franzido. — O maldito segundo motivo é... P****... F***-se, vou falar! Eu... Se eu te beijar, não será o suficiente. Nem para mim, nem para você. É tão... Tão estranho. Você consegue me enlouquecer de raiva em um momento e, em outro, me enlouquece de... De desejo...

— Você está me assustando...

Você é quem está me assustando, crentelha maldita! — protestou o psicanalista, irritado. — Sabe o que acontece comigo quando estamos juntos?

Mais uma vez, ele aproximou os lábios da orelha da jovem, que murmurava um não.

— Vou explicar... Ou melhor, tentar explicar de uma forma que não te ofenda tanto, já que você não gosta de ouvir palavrões. Então, Kikyou...

Aquela proximidade dos corpos, que não se tocavam apesar de muito juntos, não dava espaço à jovem para pensar muita coisa e sim apenas ansiar por ele.

— Quando estamos juntos, eu imagino... Um beijo. Nossas bocas unidas, experimentando o sabor uma da outra, minha língua tocando a sua língua, tocando seus dentes. Meus lábios iriam prender o seu lábio e sugá-lo... Lambê-lo... Do jeito que eu sei que você gosta...

A cabeça de Kikyou começou a criar aquele panorama descrito por Naraku, daquela maneira tão sigilosa e proibida que fez o sangue correr velozmente por todo o corpo menor, deixando-a ainda mais sensível.

— Minha boca encontra o seu queixo... Desce para o seu pescoço... E as minhas mãos estão... Hmmm. Abrindo o... O zíper deste seu vestido de tule.

P****, eu não posso continuar com essa brincadeira idiota, nós dois vamos entrar em combustão aqui, pensava o espanhol, já tonto de desejo. Mas não conseguiu evitar que mais e mais palavras fluíssem.

Ver aquela mulher sendo corrompida de tesão por ele era algo que valia a pena qualquer coisa.

— Ahh, Kikyou... Me diga a... A cor do seu sutiã...

— N-não estou v-vestindo... — gaguejou ela, num fio de voz, tremendo, olhos fechados. Para Kikyou, o mundo desaparecera; os conflitos internos, a mágoa, as preocupações, tudo. Só havia a presença de Naraku à sua frente, devastando-a com suas palavras, levando-a a querer agir como ele, se entregar àquele prazer mental tão exacerbado. Suas partes íntimas pulsavam fortemente e ela se encontrava totalmente úmida.

— Eu não entendi o que você disse... — murmurou ele de volta.

— Estou... S-sem sutiã...

— Ahhh... — e o homem gemeu enlouquecido, contendo-se a duras penas para não tocá-la de forma alguma, a não ser em seus pulsos. — Por que não?!

— O vestido tem b-bojo...

— Então, se eu abrisse o zíper do seu vestido e o baixasse... Você ficaria de calcinha... De calcinha e com esses sapatos que ficaram maravilhosos em seus pés... Não é?

— É...

— Então... Os seus seios estariam... À mostra... Para mim. Não é?

A face da moça queimou e ela estranhou que seu pudor estivesse diminuindo a cada palavra ouvida.

— Ohh... Kikyou — arfou Naraku, junto ao ouvido dela, a voz naturalmente rouca; a essas alturas, ele já não conseguia arquitetar plano algum para seduzi-la, somente seguia seus instintos e mantinha firme consigo o propósito de evitar tocá-la. — Kikyou, eu... Vou tocar em um dos seus seios com minha mão e...

— Para, por favor! — exclamou ela, agoniada. — Eu não estou... Me sentindo bem com isso...

Uma olhadela rápida para a face rubra de Kikyou e Naraku entendeu o que ela quis dizer; o prazer era tanto que a moça pensava ter sido acometida de algum mal súbito.

— Shhh... Calma... Ouça-me mais um pouco. Você consegue imaginar-me acariciando o seu seio, Kikyou?

— Pelo amor de Deus, Naraku...

— O seio que homem algum jamais conheceu está na minha mão... O mamilo entre meus dedos... E não é que me deu vontade de chupá-lo? Ele está duro e os seus seios estão arrepiados...

— Não, não... Eu... Estou p-passando mal!

E a moça, desvairada, tentou se livrar das mãos do espanhol no intuito de beijá-lo. Ele, contudo, intensificou o aperto, não menos entontecido de prazer. Naraku pela primeira vez temeu fazer sexo com alguém – Kikyou era especial. Ele sabia que era. Virgem, ignorante dos prazeres carnais. Pura.

Ela merecia um sexo no mínimo perfeito, em um local restrito apenas aos dois, com o maior dos confortos. Como não dispunha de nada daquilo, ele iria satisfazê-la apenas com suas palavras.

— Não está passando mal, Kikyou... Você está apenas sentindo tesão ao ouvir meus devaneios. Sabe... – ele baixou o tom de voz, ainda mais sigiloso. – Tenho uma impressão sobre você, mamacita. Aposto que nunca se tocou, nunca gozou, nem sabe como são suas partes íntimas...

— Não entendi...

O espanhol riu; a ingenuidade dela era o que mais o atraía.

— E se eu tocasse você...? Se eu levasse minha mão até dentro da sua calcinha...

— Pare! Não quero ouvir mais! — suplicou ela, desesperada.

— Não, você não quer que eu pare. Sabe esse ponto pequenino que lateja entre suas pernas? Você sabe o que é isso, Kikyou?

— Não... – choramingou a jovem.

— É o seu clitóris. É onde se encontra a segunda principal fonte de prazer sexual do corpo feminino. A primeira fica no cérebro. Agora... Imagine o seu clitóris, que é um verdadeiro botãozinho mágico, sendo beijado por mim. Essa substância que deixa sua calcinha molhada... Eu me lambuzaria todo nela. Lambuzaria os dedos, a boca... Te chupando.

— ...

— Ahh... Kikyou! Suas coxas estão bem separadas e... A minha boca está provando essa delicinha que você até hoje não deu para ninguém! – ofegou o homem, sentindo que ele mesmo sucumbia à própria artimanha. Seu pênis sofria a consequência daquele estímulo sensual violento e pulsava desesperado por alívio.

— Eu q-quero... – soluçou Kikyou, fragilizada e mesmo rendida aos caprichos de Naraku, que enfim perdia as estribeiras e dava adeus à polidez.

— P*** QUE PARIU, MAMACITA!

Uma das mãos ergueu o queixo da moça, obrigando-a a encará-lo.

— Kikyou... Minha virgenzinha gostosa e apertadinha... Eu vou te encher de tesão, vou te dar o maior prazer da sua vida... Meu pau está quase explodindo de tanta vontade de entrar em você... Na sua...

— P-por favor, não diga iss-

— Na sua vagina. Ora... “Vagina”! Ninguém diz isso na hora de trepar, o certo é boceta, c******! — Naraku riu, meio zonzo, levando a outra mão à cintura dela. — F***-se que você tem vergonha! Uns palavrõezinhos vão te deixar ainda mais pronta para mim, mais fogosa... Você quer trepar comigo? Quer sentir meu cacete escorregando para dentro e para fora da sua bocetinha?

— Ahh... Socorro, meu Deus... Isso é...

— Você quer... Ah, Kikyou... Tão gostosinha e tão louca para ser comida. Abra suas pernas e me deixe ser o primeiro a comer sua bocetinha virgem. Por que fecha os olhos, mamacita? Está pensando na minha rola entrando devagar em você? Respóndeme, mamacita.

Todos os sentidos de Kikyou se embotaram, levando-a a não conseguir sequer raciocinar que existia algo mais na vida além daquele espanhol pervertido que a deixava desnorteada, a ponto de querer ser dele, querer deixá-lo aproveitar de seu corpo o quanto quisesse e perder-se em toda aquela luxúria que ele lhe apresentava. Ela chegava a torcer as pernas uma contra a outra, agoniada, amedrontada com aquele prazer intenso.

E o maldito Naraku não parava de sujar seus pensamentos e deixá-la a cada instante mais despida e vulnerável...

— Naraku... Eu não sei o q-que... O que está acontecendo comigo...

— Quer saber? Você está sentindo tesão, é isso, um tesão da p****. E, se quer saber também... Eu estou desesperado para te fazer mulher logo. Deixe-me... Te dar prazer... Seja minha... Aqui mesmo.

Como o psicanalista havia soltado os braços de Kikyou, ela perdeu o controle e o agarrou, gemendo enlouquecida ao colar sua pélvis à portentosa ereção do homem, que a agarrou de volta, movendo os quadris contra os dela. Tão excitada ela estava que mordeu o lábio inferior de Naraku, que, não menos entregue, devorou a boca de Kikyou num beijo lúbrico e sensual. As línguas se acarinhavam e os corpos se atritavam um contra o outro; o espanhol notou que a respiração rota da moça indicava algo que ele não imaginava que pudesse acontecer.

— Ahhh... Naraku, Naraku... — a moça choramingou, excitada e lânguida. — Está me deixando louca... Algo v-vai explodir em mim... Eu...

— Goze, Kikyou, goze para mim... Me deixe ouvir você gemendo...

Os olhos de Kikyou reviraram e ela emitiu um gemido alto e peculiar. Seus ouvidos zuniam enquanto um orgasmo agressivo lhe tomava de assalto, ao mover seu corpo em chamas de encontro ao do espanhol. Ele, por sua vez, cerrara os dentes, impulsionando o sexo contra o dela, e logo seu corpo também entrava em combustão de prazeres físicos e emocionais. Gozou, exclamando alto, quase desfalecido.

De repente, Naraku entendeu que o que sentia por Kikyou ia muito além do simples desejo. Se ele pudesse, a protegeria de todos os dissabores do mundo e encararia a própria morte para ver aquela garota sorrir.

— Você também sentiu...?! – indagou ele, vendo todas as reações da jovem ofegante, que mantinha os olhos fechados e as mãos fortemente agarradas à sua cintura. A simples expressão do rosto suado dela dizia tudo. — Eu... Estou sem palavras...

— O q-que foi que aconteceu...?

— Aconteceu algo maravilhoso, cariño... Você está bem? — o psicanalista deslizou as mãos pelos longos cabelos de Kikyou, com meiguice. Dizer que ele estava feliz por notar que aquele era o primeiro orgasmo dela era um eufemismo; Naraku tinha ímpetos de pular de contentamento.

— Estou com sono... – balbuciou ela, num cicio. – E um pouco tonta... Por favor... Não me solte.

— Fique tranquila. Não vou soltá-la.

A voz da mezzo-soprano combinada ao soberbo som produzido pela orquestra embalou o casal, que, depois de certo tempo de quietude, começou a se beijar com ternura, até que a moça se afastasse um pouco para admirar os olhos castanhos do espanhol.

— Fique mais um pouco comigo...

— Fico, mi dulce mujer... Quero ficar com você para sempre...

O coração de Kikyou disparou de imediato ao ouvir aquela declaração inédita. Então ele... Sentia o mesmo que ela...?

— Você quer ficar comigo para sempre?!

Só então Naraku se deu conta do que havia dito e, interiormente, se recriminou por se deixar ser descoberto. Seus ombros ficaram imediatamente tensos e suas pálpebras tremeram.

Kikyou presenciou, assustada, a brusca mudança de comportamento do psicanalista. Súbito, ele se afastou dela, tendo no rosto uma fisionomia medonha; acabou por sair daquele local, deixando-a para trás, pisando duro.

— Ei... Naraku, o que significa isso?! — indagou ela, procurando alcançá-lo.

— Esqueça, Wright. Esqueça. A brincadeira acabou.

— Que brincadeira...?! Eu não entendo... Você acabou de dizer que...

— Eu não disse nada! NADA, crentinha fanática! Vamos, volte para o seu caminho rumo ao céu cheio de anjinhos enquanto eu, o viado condenado, vou procurar o inferno. Tudo o que aconteceu ali atrás foi um...

— Naraku, não...

— Foi uma brincadeira, Wright. Um sarro.

— Mas e aquela história de ficar comigo para sempre...?

O homem gargalhou cheio de arrogância; a essas alturas, Kikyou o havia alcançado e estava diante de si, trêmula. As pessoas aos poucos saíam da sala do concerto.

— Você é tão idiota, menina... Eu nunca gostei de você, tenho nojo de crentelhos do seu tipo. Eu detesto você.

— Não... – a moça, indignada, começou a chorar, amargando um sentimento mórbido de confiança traída. – Como pôde...

— É tão tola que acredita em qualquer um que esfregue o pinto em você. No fim de tudo... – Naraku sorriu, sem humor algum. – É uma safada como as outras.

A crueza das palavras do espanhol deixou Ann Kikyou em um estado de torpor tão tenebroso que ela não teve forças para responder sequer um “A”. Por acaso, Bankotsu aparecia por ali, sozinho, e apertou os passos para se aproximar da saída. Não escondeu sua surpresa ao ver os dois ali, ela parecendo estar prestes a cair e ele com uma expressão indecifrável no rosto pálido.

— Mas será possível?! O que ele está fazendo, Kikyou? Está te incomodando? – vociferou o escocês, olhando para Naraku com ira. Este, por sua vez, olhou de volta para Bankotsu com desdém.

— Eu já estava de saída. Kikyou é toda sua, Bankotsu. Não que você considere isso uma coisa boa, meu nobre colega entendido... Adiós.

O escocês optou por ignorar a provocação e, passando o braço pelos ombros da jovem catatônica, se afastou com ela rumo à saída do complexo.

A cada passo de Kikyou, Naraku se sentia estranhamente vazio e perdido. Respirar sem ela por perto era desconfortável. Entretanto, seria melhor assim. Ela agora o odiava, se manteria afastada. Ele era acostumado a sofrer, não morreria por causa daquilo.

Era só fazer de conta que seu coração não estava destruído e tudo voltaria ao normal.

Eu não sou o homem certo para ela... Ela precisa de um homem forte e seguro de si, sem tantos medos, sem traumas... Eu não passo de um ex-prostituto que tem medo do escuro.

Ao longe, o público aplaudia a última canção do concerto. Meio atarantado, Naraku seguiu para o estacionamento e encontrou o carro de John Sesshoumaru sob uma das belas lâmpadas redondas. Como também possuía uma chave do veículo, resolveu se refugiar ali.

Largando-se no banco de trás, o espanhol pegou o smartphone e fez uma ligação.

— Byakuya? Sim, sou eu. Avise a Sesshoumaru que vim para o carro... Ei, Sesshoumaru, não precisava ter tomado o celular do bofe. É, eu não participei do concerto... Minha pressão está alta. Calma, eu não preciso de... NÃO PRECISA LIGAR PARA O SEU PAI, P****! Só liguei para vocês não perderem tempo me procurando no hall de entrada. Hasta luego, muchachas.

Encerrando a chamada, Naraku olhou pelo vidro do veículo. Encostou a cabeça ali, fazendo de tudo para arrancar da mente os últimos momentos que vivera com a presbiteriana intolerante. Não conseguia.

— Kikyou... O que você diria... O que você faria...

Não era apenas o desejo pelo corpo sinuoso.

Não era apenas o fetiche de ser o primeiro de uma mulher virgem.

Naraku queria poder ver Ann Kikyou todos os dias, todos os momentos possíveis. Não era preciso ser um gênio para saber o que estava ocorrendo na alma do psicanalista, cujos olhos umedeceram.

— O que você faria se eu tivesse contado a verdade...

A verdade, tão assustadora para ele, era que estava irreversivelmente apaixonado por ela.

 

***

 

¹ — Forrest Gump é um personagem de um filme norte-americano que tem o QI baixo, como o Byakuya.

² — Entendido: uma das diversas gírias para homossexual.

³ — Soteriologia: estudo de teologia que trata sobre a salvação do homem.


Notas Finais


Oxe... Não é que as bichas foram aos tapas mesmo? =O
E não é que o Bankotsu é o passivo da (conturbada) relação? O que vocês acham que impede ele de assumir o Jakotsu?

É, o Naraku desvirginou a mente da Kikyou =O #TodasFicaImpressionada

Fico devendo o lemon de Bankotsu e Jakotsu para vocês. PROMETO que eles vão ter um momento especial também. <3

Antes que vocês me matem, a Rin e o Sesshoumaru aparecerão mais no próximo capítulo, eu promeeeeetooooo. É que há vários casais na fic, e eu gosto de trabalhar com todos =)

Sugestões, críticas, reclamações, ameaças de morte... COMENTEM *-*
Obrigada, meus povos e minhas povas <3

~Okaasan


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