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História Nem por Meio Milhão de Libras! - Segredos que vêm à tona


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Mais um capítulo!

Perdoem eventuais erros. Falta responder os comentários do capítulo 17 a seguir. Vou fazer o possível para responder a todos.

IMPORTANTE
Nos avisos da fanfic, está marcado o item "MISTICISMO".
Em suma: eu falo sobre a vivência religiosa dos personagens. Cada um deles experimenta algo 'espiritual', ou 'místico', de acordo com a sua fé e confissão religiosas. A partir daqui, vamos ver as pessoas relatando suas impressões com mais frequência.
REITERANDO: não estou aqui para ofender a fé de ninguém. Até porque sou uma pessoa extremamente religiosa também, então isto que vocês leem aqui é o cotidiano de pessoas que também têm fé. :)

A foto do cosplay do Shippou pertence a dakuncosplay, do Deviantart.

Boa leitura!

Capítulo 22 - Segredos que vêm à tona


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - Segredos que vêm à tona

 

Naquele sábado, em seu Nissan Juke vermelho, Izayoi Ferguson seguia para o St. Vincent’s House Care Home, uma clínica de repouso para idosos. Levava John Sesshoumaru consigo. O loiro não acompanhava a espanhola a essas visitas, mas, naquela manhã, ele não queria ficar só em Ferguson Manor. Naraku Octavio havia levado Rin para sua casa, depois de projetar um passeio com ela, Kagura e Kanna.

Izayoi adorava fazer pequenas ações caridosas desde muito antes de se converter ao espiritismo. Seu propósito agora era elevar o status do grupo de apoio a crianças em situação de risco a ONG. Como o marido Toga, apesar de bem intencionado e apoiar incondicionalmente a ideia, era um pouco ocupado, ela corria atrás de recursos e informações sozinha.

Foi uma manhã singular e agradável para o herdeiro Ferguson, já que ele ainda não tinha ido pessoalmente àquela clínica, apesar de contribuir financeiramente — não só para ela, mas sim também para um orfanato, sem contar as doações que fazia para outras ações humanitárias diversas. Sesshoumaru não era mesquinho com seu dinheiro e, apesar das inúmeras ideias preconceituosas que tinha, se sentia bem ao ajudar o próximo. Após, então, ter entabulado conversas tímidas com um ou outro idoso, o loiro voltava para o carro da madrasta e colocava um dos fones de ouvido.

John Sesshoumaru agora já tinha mais uma canção brasileira em seu iPhone: ele descobrira que Rin gostava de ouvir “Sapato Velho”, da banda Roupa Nova. Não demorou a pedir a Izayoi que conseguisse o arquivo para si. Dentro do veículo, ele agora deixava seus pensamentos voarem ao ouvir aquela música.

Dentro da clínica, porém, Izayoi vivia um momento um tanto sofrido. Um dos idosos, um negro americano chamado Jeremy Harris, 73 anos, que muito encantava a espanhola com suas histórias de vida, estava em um estado crítico de morbidade devido a uma insuficiência cardíaca. Mal conseguia se erguer do leito. Izayoi, mesmo sendo uma pessoa que acreditava que a morte não era o fim de tudo, não conseguia impedir que sua alma doesse ante a expectativa de ver aquele senhor partindo para o plano espiritual.

— Ah... Mr. Harris? — chamou a espanhola, delicadamente, se sentando ao lado do leito do negro. — Eu estava com saudades do senhor. Aqui é a Iza.

O homem ergueu olhos cansados e opacos para ela, enquanto lhe sorria satisfeito. Possivelmente já não a enxergava mais.

— Mas ora vejam se não é a minha amiga Iza... — murmurou ele, fracamente. — Eu estava mesmo pensando em você nos últimos dias.

— Sério?

— Sério... Gostaria muito de vê-la antes que eu durma o sono dos justos... — o homem era protestante, mas, apesar disso, conseguia entender e aceitar Izayoi como filha de Deus, mesmo não professando a mesma fé.

— Que... Que bobagem... O senhor está forte, vai demorar a nos deixar... — tentou argumentar a espanhola, mas o velho Harris pediu-lhe a mão.

— Você não precisa se preocupar, querida. Eu sei que minha hora está próxima. Mas estou feliz, principalmente agora que estamos juntos. Já fazem uns quatro anos que somos amigos, não?

— S-sim...

O velho tossiu demoradamente e arquejou antes de começar a falar de novo.

— Iza, minha amiga... Vamos ser francos. Você sabe que sou um protestante que crê nos dons, não sabe?

— Sei, sim... O senhor é um vidente.

— Não diria que sou um vidente... Mas Deus me mostra coisas...

— Eu acredito — respondeu Izayoi, com sinceridade. O velho sorriu fracamente.

— Vou te contar uma história da Bíblia... Com certeza você deve ter ouvido no patriarca Jacó, não?

— Sim, senhor.

— Jacó teve treze filhos, Iza. Mas o filho que ele mais amava era o caçula José, que era invejado por seus irmãos e vendido como escravo para o Egito quando ainda era um rapazinho. Os irmãos dele mataram um animalzinho e despejaram seu sangue sobre a túnica colorida de José, apresentando-a a Jacó e dizendo que seu filho mais querido tinha sido devorado por bestas selvagens. Consegue imaginar a dor de Jacó, minha jovem?

A espanhola se sentiu totalmente desconfortável e tentou engolir a vontade de chorar. Reuniu todo o autocontrole que possuía ao responder que sim, imaginava.

— Certo, Iza... Mas não era o fim. Você sabe o resto da história, não?

— Na verdade, não me lembro dela toda... Mas José não estava morto... Não era?

— Isso mesmo — concordou o velho, se endireitando na cama. — José estava vivo. Forte, saudável e poderoso. Era ninguém menos que o Governador do Egito quando Jacó o reencontrou, após uma vida de intensas privações e dificuldades.

— ... — Izayoi tremia dos pés à cabeça, avassalada com tudo aquilo.

Se aquele senhor soubesse o quanto doía nela ouvir aquelas coisas... Depois de ter perdido seu filho apenas dois dias após seu nascimento...

Foram trinta anos de luto. Ela nunca se recuperaria daquela tragédia.

— Você compreende agora, não é, Iza? — murmurou Mr. Harris, tirando-a de seus devaneios dolorosos.

— O q-que eu compreendo?

— Eu... — o homem tossiu mais uma vez. —Eu sei que isso parece loucura, mas... Foi Deus que me disse, há três dias, durante uma oração. José, Iza...

— Diga, Mr. Harris...

— JOSÉ NÃO MORREU.

Izayoi estremeceu como se tivesse levado um choque.

— O meu... M-meu... Meu José?!

José era o nome do bebê que não pudera ao menos ser registrado. Izayoi já não conseguia segurar o pranto e soluçava copiosamente.

— O seu José está vivo e é um homem feito, minha querida...

— N-não, não! Ele morreu... F-foi o que o raptor disse... Meu marido foi atrás dele, na Espanha, e a p-polícia local o encontrou através d-de retrato falado, Mr. Harris. O homem disse que m-meu... Meu filho...

— Creia no que Deus me disse, Iza... Acho que só estou vivo até agora para te dizer isso... — afirmou o velho, convictamente, a mão segurando a da espanhola. — O seu filho José deve ter uns...

— T-trinta anos...

— Isso... É um homem adulto. Está vivo e vive aqui, neste país.

— O quê?! N-na Inglaterra?!

— Sim. Como foi bom te ver de novo, minha filha... — disse Jeremy Harris, fechando os olhos. — Foi uma honra... Deus te abençoe... Sinto-me muito mais em paz agora que lhe contei isso.

— Por f-favor, Mr. Harris... Fale c-comigo...

— Estou com sono... Preciso dormir um pouco, querida, estou cansado...

Uma enfermeira entrava no cômodo e se acercava dos dois. Tocou com gentileza o ombro trêmulo de Izayoi, que chorava convulsivamente.

— Milady... A senhora poderia deixá-lo descansar? Ele está muito fragilizado. E a senhora não parece estar muito bem...

— Ah, eu... Perdoe-me, estou um pouco nervosa... P-preciso de água...

A esposa de Toga Ferguson se levantou da cadeira, olhando fixamente para o velhinho que respirava com dificuldade e tossia.

— Mr. H-Harris... — exclamou ela, entre soluços. — Eu... Eu v-vou deixá-lo dormir e virei amanhã... Okay?

— Sim, Iza... Que Deus te acompanhe... — foi a resposta fraca do homem. — E não... Não se esqueça... Continue sendo essa mulher de fé. A sua fé... — tosse. — Trará o seu José até você...

 

***

 

Em uma área aberta do Hyde Park, estavam sentados Naraku Octavio, Rin Tibiriçá, Byakuya Mangjul e as irmãs Thompson. Depois de andarem de pedalinho com Kanna, tirarem fotos e virem o espanhol dançando maculelê com a brasileira, os cinco resolveram fazer um piquenique ao ar livre.

Em meio à galhardia, Kanna ocasionalmente dava uma pequena risada, o que demonstrava que ela estava mostrando interesse na companhia dos adultos. Aquilo, para Kagura, era uma verdadeira conquista. A criança praticamente não conversava, mas olhava fixamente para a pessoa nova do grupo, Rin, e às vezes tentava repetir o que ela dizia.

A despeito de suas crises de ansiedade, Naraku também se sentia feliz e sereno naquela manhã. Por se sentir, de alguma maneira, em família, o psicanalista brincava e ria como um garotinho. Naraku amava gente singela. Ele fazia uma piadinha qualquer com o casal de namorados quando seu telefone tocou.

— Sesshoumaru? — disse ele, recebendo a chamada. O loiro parecia agitado.

— Naraku, venha para o St. Vincent’s House, AGORA.

— Por que, aconteceu alguma coisa?

— Izayoi. Ela...

— Fale de uma vez, Sesshoumaru!

— Ela... Ela está tendo uma crise de choro, não diz coisa com coisa... E eu não sei o que fazer!

— Chego aí agora mesmo — e o espanhol encerrou a chamada. Só então notou o quanto havia ficado tenso; Rin, atenta, tocou-lhe a mão de leve.

— Que foi, macho?

— Rin, cariño, eu preciso resolver um probleminha. Quer ficar com eles? Não demoro... — e, virando-se para Kagura e Byakuya, disse: — Desculpem. Um pequeno imprevisto. Vocês não se incomodam se eu for, não é?

— Não, Mr. Naraku — respondeu Kagura. — Fique à vontade. Nossa vinda aqui foi muito boa, não é, Kanna?

A menina olhou para a irmã e fez um gesto de cabeça em concordância.

— Eu também gostei — completou Byakuya, olhando satisfeito para a pequena Kanna. — Não se preocupe, Mr. Naraku, pode ir. Eu posso levar Miss Rin para a mansão.

— Não, eu vou com ele — afirmou a garota, dando um abraço em Kanna e se colocando de pé em seguida. — A gente pode sair assim mais vezes, né, Kagura? Eu adorei.

— Desculpe, não entendi. Acho que você falou em português.

— Ela quis dizer que gostou muito do passeio, Kagura — afirmou o espanhol, abraçando Kanna também. — Você quer mesmo ir comigo, Rin?

— Vou. Tchau, gente.

Hasta luego, mis amores.

E logo Rin e Naraku saíam do parque e entravam no carro, indo rumo à clínica.

 

***

 

Izayoi tivera uma crise nervosa devastadora ao ouvir do velho Jeremy Harris que seu bebê José estava vivo. O marido Toga estava de viagem e ninguém conseguia telefonar para ele. Sesshoumaru parecia estar atarantado em meio à confusão, por não enxergar quase nada; Naraku, por sua vez, tentava de todas as formas ajudar a mulher, mas ele mesmo estava abalado demais com tudo aquilo para transmitir um pouco de conforto a ela.

Para complicar um pouco mais as coisas, o senhor Jeremy Harris faleceu poucas horas depois de Izayoi ter saído da clínica.

A espanhola passaria os próximos dois dias prostrada, cheia de dores pelo corpo e exausta pela crise. Sua firmeza e serenidade se foram; ela agora estava tão frágil como quando o ladrão de crianças chamado Kyōkotsu a empurrara, na saída da porta do pequeno hospital de onde Izayoi saía, jogando-a brutalmente no chão e entrando em um carro velho com seu bebê, há trinta anos atrás.

— Estresse pós-traumático, Rin — explicou Naraku, na madrugada do dia anterior. Os três passaram a se revezar para tomar conta da mulher durante a noite, onde as crises se intensificavam e ela passava horas e horas implorando, em prantos, para que lhe devolvessem o bebê, passando a ter pesadelos também. Eram horas torturantes, onde eles todos se continham para não chorar junto. A pobre Izayoi não merecia passar por aquilo.

— Como é isso?

— Ela está passando por algo que chamamos de revivescência. Algo desencadeia a lembrança de um trauma e o paciente sente tudo de novo. As mesmas dores, as mesmas sensações...

A morena olhou para a espanhola, que dormia depois de mais um episódio de crise de choro. Percebeu os próprios olhos se enchendo de lágrimas. Como doía aquilo, Deus!

— Naraku, por que tu não vai dormir? Hoje é o meu dia... — comentou Rin, enxugando o rosto e olhando para o espanhol, que parecia bem mais velho agora. Seus olhos estavam fundos e injetados; toda a sua fisionomia estava endurecida.

— Não me importo de ficar mais uma noite com ela. Vá dormir.

— Mas tu já ficou ontem. Cadê Sesshoumaru?

— Ele estava com dor de cabeça por ter ficado acordado a noite retrasada e me pediu um analgésico.

— Sim, e daí?

— Eu troquei o remédio sem querer — respondeu ele, com um meio sorriso. Rin arregalou os olhos.

— Naraku, o que foi que tu deu pra ele?!

— Um benzodiazepínico chamado Rivotril.

— E isso é...

— Um ansiolítico. Calmante. Para ele relaxar e dormir.

— Tu é doido?!

— Não, cariño... O fato é que nós precisamos estar bem para cuidarmos dela. Sesshoumaru também queria estar aqui, passando mais uma noite em claro. Mas eu não deixei. Ele fica insuportável quando não dorme bem e, convenhamos, não precisamos de ninguém mal humorado neste momento. Concorda comigo?

A garota meneou a cabeça. Ambos estavam conversando em voz baixa, sentados no tapete ao lado da cama de dosséis onde Izayoi repousava.

— Mas isso não vai fazer mal pra ele?

— Nada... Ele poderia ficar meio esquecido se usasse com frequência. Mas é só uma noite.

— Ahh... Então tá. Mas e por que tu não vai dormir também, bichim?

— Posso não, bichinha... — suspirou Naraku, que a essas alturas já falava diversas palavras em português de Pernambuco. — Izayoi é a pessoa que eu mais amo nesse mundo.

— Mas todos nós a amamos...

— Não, Rin. Perdóname, mas quem mais a ama aqui sou eu, que sou a ovelha negra da família. Ela nunca teve vergonha de mim, nunca me negou um abraço, nunca deixou de me corrigir quando eu estava errado...

— É porque ela te ama...

Verdad... Ela me ama mesmo. Não que Toga ou John não me amem também, mas... Amor de mãe é outra coisa. Nunca tive mãe. Agora vá dormir, Rin.

— Vai você, macho velho, deixe de pantim. Senão vai acordar todo malamanhado e não vai dar conta de trabalhar...

— Deixar de pantim?! Mala o quê?!

Malamanhado é amassado, mal arrumado, mano.

Cierto, mas o que é pantim?

Pantim é frescura, viadagem. Eu quis dizer pra tu parar de ser fresco, entendeu?

— Parar de ser fresco? — indagou Naraku, encarando a menina. — Ah, querida, só se eu nascer de novo.

Os dois acabaram rindo e trocando um abraço, optando por ficarem juntos à beira do leito de Izayoi.

Alguns dias depois, na terça-feira, Rin estava na moto com Shippou Vasconcelos, o ruivo líder do grupo de oração dos católicos carismáticos. Kohaku havia precisado viajar para ser intérprete de um palestrante italiano que discursaria na França e, como gostava muito do outro jovem, pedira a ele que buscasse e trouxesse a mocinha.

O encontro desta terça tinha menos pessoas que na outra, mas não estava menos comovente por isso. Rin sentia-se bem leve depois de rezar com o grupo. Afinal, os últimos dias na mansão foram pesados. Ela precisava ser forte para ajudar a dona da casa onde vivia. Os dois jovens conversavam descontraidamente. A moça estava mais tranquila agora que Sir Toga estava de volta à casa e, inclusive, aceitara o convite de Shippou para ir a uma lanchonete.

— Tu cresceu lá em Portugal, né? — perguntou a brasileira, tomando seu suco.

— Sim, Rin. Eu cresci em um orfanato de Bragança e passei muitos anos lá.

— Poxa, tu é órfão?!

— Sou. Deixaram-me na porta d’A Casa do Caminho quando era bebê. Mas, graças ao Bom Deus, tive uma boa criação. As irmãs que geriam aquela Casa tinham um extremo cuidado com os miúdos, então muitas das coisas ruins que acontecem em orfanatos pelo mundo não aconteciam lá.

— Graças a Deus mesmo — concordou a moça, olhando um pouco intrigada para o ruivo. — Então, Shippou... Tu tem uns quantos anos?

— Tenho trinta.

O queixo da morena caiu.

Trinta?! Mas tu parece um moleque!

O ruivo riu, achando graça no espanto da menina.

— É, Rin, não parece mas é essa a minha idade. Na verdade, posso ter vinte e nove. Sabe como é, nem sempre é possível determinar a data certa de nascimento da gente que é abandonada.

— Então eu prefiro acreditar que tu tem esses vinte e nove! Oxente! Tu é do meu tamanho e não tem nem uma ruguinha...

— Deve ser a genética da minha família, Rin. Eu também acho engraçado ter essa aparência jovem, mas é essa a minha idade.

Os dois então passaram a conversar sobre diversos assuntos aleatórios, entretanto Rin não conseguia evitar aquela sensação de que deveria passar a saber mais sobre o ruivo divertido à sua frente.

 

***

 

Na casa da família Wright, numa tarde daquela mesma semana, Raymond Inuyasha e a namorada Kagome Higurashi estavam sentados à mesa velha, debruçados sobre a cópia impressa do trabalho de conclusão de curso da jovem. Ela agora se desesperava, pois não conseguia escrever — era o famoso bloqueio. A moça enxugava as lágrimas, olhando para o monte de papeis, desconsolada.

— Meu Deus, Inu — gemeu ela, triste. — Eu não posso parar agora! Preciso entregar esse primeiro capítulo...

— Calma, amor...

— Não consigo ficar calma! — explodiu Kagome. Inuyasha colocou a cadeira ao seu lado e a abraçou.

— Amor... Calma. Eu já passei por isso. É horrível, sim, mas você supera. Você é bem mais segura do que eu...

— Não dá, Inu... O meu orientador novo me ajuda bastante, me envia resenhas, livros... Me emprestou até um caderno de quando ele fazia a graduação. Mas agora quem deve produzir o texto sou eu... E eu não estou conseguindo...

O moreno segurou em seu rosto.

— É porque você resolveu mudar de tema... Não se culpe. O problema é que eu não entendo de educação especial, nem posso fazer uns parágrafos para você...

— Que droga... Estou com tanto medo de perder o prazo e...

Kagome se viu interrompida por um beijo do namorado. Não estava muito disposta para namorar, mas acabou cedendo ao carinho de Inuyasha e correspondeu ao beijo, a princípio timidamente. Depois, contudo, o beijo foi tomando proporções maiores e logo o corpo da japonesa respondia à altura aquele estímulo. Olhou para o rosto dele e o acariciou de leve, dando-lhe um sorriso.

— Amor...

— O que foi, Kah?

— Acho que sei como quero ficar mais calma... — murmurou Kagome, insinuante. Inuyasha lhe brindou com outro sorriso, bem mais safado, e mordeu-lhe o queixo de leve.

Nenhum dos dois imaginava que Ann Kikyou sairia mais cedo do trabalho naquele dia.

 

***

 

Andrew Miroku dirigia o micro-ônibus de Paddington para Coventry. Assobiava uma canção de sua igreja, descontraído, enquanto pensava em Sandie Cameron.

Ela agora vomitava menos e não desmaiava mais, apesar de uma outra ocasião de hipotensão arterial que a deixava tonta. O resultado de sua endoscopia mostrava que seu esôfago e estômago não estavam piores, pelo contrário; por ser bem cuidadosa com sua medicação, Sango estava com a úlcera bem controlada. O rapaz acabou ligando para a escocesa, que, no momento, estava rascunhando um plano de aula.

— Mrs. Cameron? — chamou Miroku, ansioso por ouvir a voz dela.

— Oi, fofinho.

— Você não sentiu mais nada hoje?

— Não, estou ótima. Quando vem para cá?

— Estou saindo da cidade de Londres agora. Não demoro.

— Que bom. Venha mesmo. Sabe... Estou com saudades das nossas loucuras — comentou ela, sensual. O rapaz suou frio ante a expectativa; estava louco de desejo por ela e subindo pelas paredes devido aos dias de abstinência.

— S-sério? Ah, Sango...

— Acabei de tomar banho, coloquei aquele robe carmesim e não estou usando calcinha...

— Ah, meu Deus... Eu vou desligar antes que bata esse ônibus em algum poste, sua safada. Espere para ver o que farei com você.

— Hummmm — fez ela, maliciosa. — Pois eu já estou esperando, gostosão. Até daqui a pouco.

— Até, meu amor...

E a escocesa encerrou a chamada, sorrindo sozinha por alguns momentos. Apesar de todos os seus receios, Sango sentia que Miroku era a melhor coisa que já havia lhe acontecido.

Resolveu ver as mensagens do WhatsApp e viu que Yura Smith, a funcionária do Instituto Craddock com quem conversava ocasionalmente, lhe enviara mensagens. Elas não eram muito íntimas, mas Sango permitiu a aproximação da outra, já que às vezes se sentia muito só, tendo deixado seus amigos na Escócia.

 

Yura: E aí, poderosa?

Sango: Oi, poderosa é você... Quais as novidades? Você vai mesmo embora para os EUA?

Yura: É, parece que sim. Meu sonho é ser atriz. E você, o que está fazendo?

Sango: Planos de aula.

Yura: Não sei como você consegue gostar de dar aula. ¬¬’

Sango: Gosto. De verdade. ^^

Yura: Ah, eu não. E aí, dando muito?

Sango: Hahahaha. Nem tanto, andei meio doente do estômago. Mas hoje vou tirar o atraso. Meu fofinho está vindo para cá. =P

Yura: Ah, o seu brinquedinho.

Sango: Não seja malvada... Ele é um bom rapaz.

Yura: Não quis ofender, desculpe. Foi você mesma disse que ele era o seu brinquedinho, só repeti.

Sango: Tudo bem, tudo bem. Acho que errei também, o Andy é uma pessoa incrível para mim. Já não penso nele como se fosse um peguete bobo.

Yura: Bom para você, boa sorte com ele. Para mim, homem nenhum presta.

Sango: Não generalize. Espere, volto mais tarde. É hora de tomar o meu remédio para o estômago.

Yura: Okay. Beijos, amiga linda.

Sango: Beijos. =*

 

***

 

Ann Kikyou estava meio cansada naquela tarde. Cheia de dores de cabeça devido à tensão pré-menstrual, ela mal conseguia cumprimentar os vizinhos do bairro. Logo chegava à rua de sua casa; estava louca por um bom banho e alguns minutos de cama antes de ir cuidar de preparar o jantar para ela e Inuyasha.

A jovem estranhou que o portão estivesse apenas encostado; abriu-o, ele não rangia como das outras vezes. Certamente Inuyasha havia lembrado de untar as dobradiças. A porta da sala estava meio aberta também, o que deixou Kikyou apreensiva. Será que algum ladrão havia invadido a casa?

Pé ante pé, a jovem se aproximou da porta e ouviu sons estranhos, como gemidos abafados, e ficou ainda mais confusa. Esperou um pouco mais antes de abrir lentamente a porta. Ao colocar o rosto na fresta, a visão que teve quase a fez gritar.

Vestindo apenas sutiã e calcinha, Kagome estava de joelhos no chão, diante do caçula dos Wright, totalmente nu e com as coxas fortes bem separadas, sentado no sofá. Os lábios da japonesa desciam e subiam pelo pênis ereto do rapaz, que tinha os olhos fechados e arfava, murmurando palavras obscenas enquanto mantinha uma das mãos pousada sobre a cabeça da namorada. Volta e meia, Kagome retirava o membro do namorado de dentro da boca para descansar e o estimulava com as mãos, beijando-lhe os testículos, a parte interna das coxas e o abdômen.

Os olhos castanhos de Ann Kikyou cresceram nas órbitas enquanto ela, lentamente, se afastava da porta da sala, trêmula, se encostando na parede externa da casa, com o coração a mil. Aquele não era o garotinho que ela criou, não era. Inuyasha jamais seria capaz de fazer uma coisa daquelas. E, sentindo o sangue lhe subir à cabeça, Kikyou entrou furiosa para dentro da casa, assustando o casal, que gritou.

— RAYMOND! KAGOME! — berrou ela. — O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?!

— Oh, não! — exclamaram os dois, apavorados com a aparição súbita de Kikyou. Inuyasha correu a esconder a nudez com a calça, enquanto a japonesa tentava se vestir e se explicar de alguma maneira:

— Ah... K-Kikyou, desculpe, não era para ter acontecido isso dentro da sua casa... Eu s-sinto muito...

— Vá para sua casa, Kagome — cuspiu a outra, indignadamente irada. — Eu converso com você e a SUA MÃE mais tarde. Agora, preciso que nos dê licença.

— O quê?! Vai falar com a mãe dela?! — fez o rapaz, abobado, já de calças.

— Kikyou, por favor... — ia pedindo a jovem, lívida. Kikyou, no entanto, estava irredutível.

— Eu me acerto com você depois, Kagome! Agora vá para sua casa!

Já vestida, Kagome não teve outra alternativa senão sair, nervosíssima, da casa do namorado, que ainda exclamou lá de dentro:

— Amor, mais tarde eu vou lá para conversarmos...

— VOCÊ NÃO VAI A LUGAR ALGUM ANTES DE ME DIZER O QUE FOI AQUILO QUE EU VI! — cortou-o sua irmã.

— Ué... Eu sei lá o que você viu! Não sei quando você chegou!

Inuyasha foi empurrado de volta para o sofá por uma Kikyou que chegava a engolir seco. A moça se postou de pé diante dele e esbravejou:

— Raymond, você estava sem roupas diante daquela... Daquela pervertida herege... Ela estava te maculando...

— Ei, vamos parar por aí, Ann! Não aceito que fale mal dela.

— Como não?! Duvido que você sequer pensava em fazer tais obscenidades antes de se envolver com ela!

— É claro que eu não pensava, pois ela é minha primeira namorada!

— Inuyasha, pelo amor de Deus! Eu não te criei assim... Eu não te ensinei isso!

— Deus me livre se ensinasse, seria incesto! — retrucou ele, fazendo cara de nojo.

— Pare de brincar com essas coisas, Inuyasha! Vocês estavam cometendo um pecado! UM PECADO!

— Eu sei que é pecado, Ann! Mas, pelo amor de Deus, eu não resisti!

— Meu Deus do Céu, você é uma criança! Não sabe em que está se metendo...

Nessa hora, Inuyasha explodiu:

— EU TENHO VINTE ANOS! Será possível que você não entende isso, Ann? VINTE ANOS! Sou um homem, tenho minhas necessidades!

— Por que essa revolta contra mim agora?! Eu sempre te instruí a fazer o que é certo! A ser uma pessoa santa!

— Nem VOCÊ é mais uma pessoa santa! — rosnou ele. As narinas de Kikyou se alargaram e ela chegou a tremer os lábios, aturdida com a acusação do irmão.

— Do que... Do que está falando?!

— Estou falando das calcinhas que você esqueceu de esconder nesse último fim de semana. Era a minha vez de lavar as roupas no sábado passado — e Inuyasha se pôs de pé, ficando a poucos palmos de distância da moça. — Posso parecer meio bobo, mas observo as coisas, Ann. Você, ultimamente, lava as calcinhas escondido de mim para que eu não descubra que você também tem sonhos molhados.

— I-isso n-não é...

— É VERDADE, SIM. Você anda fazendo igualzinho a mim e ao Miroku quando temos um “acidente” noturno que suja nossas roupas. Só não pensou que eu iria ficar de olho, não é mesmo?

Kikyou parecia incapaz de parar de tremer agora. Sua cabeça latejava e chegava a criar halos de luz em sua visão.

— I-Inuyasha...

— Vai negar que anda louca de vontade de transar com alguém?

Um tapa acertou o rosto de Inuyasha, que olhou assustado para sua irmã, a imagem viva do furor.

— Ei! Por que me bateu?!

— Por quem me toma, Raymond? — sibilou ela, em voz baixa. — Acha que sou uma vadia?

— Deixe de drama... É óbvio que não acho que seja uma vadia. Só que você irrita qualquer um, Kikyou. Irrita até a Deus com essa mania de esconder o que você é de fato.

— Como assim, o que eu sou de fato?!

— Você não sabe viver sua fé de forma sadia. Você é bitolada. Você passa pelas mesmíssimas fraquezas que as outras pessoas passam, mas nega isso a todo custo. Você é uma FANÁTICA.

O rapaz deu a volta por Kikyou, parada no mesmo lugar, imóvel.

— A propósito, Ann... Quem sempre instigou Kagome a fazer o que você viu fui eu.

Lentamente a jovem se virou para onde Inuyasha estava; ele recolhia os papéis e apostilas de Kagome, totalmente calado e irado também. Vendo que estava sendo observado, murmurou:

— O que está olhando?

— ...

— Ah, quer saber? Esqueça. Vou tomar um banho e levar a monografia da Kagome. Ela não pode perder isso aqui.

O moreno enfim se ausentou da sala. Ann Kikyou baixou o olhar para a pilha de papeis; as lágrimas embaçaram suas vistas. Devagar, ela se arrastou até seu quarto e chorou, amargamente, até dormir. Ela não chegou a ler que era Naraku Octavio o orientador novo da monografia de Kagome.

Por sua vez, Raymond Inuyasha, no banho, sentia ter errado feio com sua irmã. Mas, por Deus, ela o irritava tanto! É claro que ele sabia que não era correto se entregar à sua lascívia com a namorada antes de se casar, mas não havia muito o que fazer. Kagome queria, ele também queria. Ambos se amavam e tinham planos de constituir uma família juntos.

Aquela cena desagradável de minutos atrás só reforçou os pensamentos do rapaz de que Kikyou tinha algum segredo dessa natureza que a fazia sofrer.

 

***

 

Num quarto de motel em Paddington...

— Hmmm... Sesshoumaruuu... — ofegava Naraku ao telefone, deitado de costas, tendo à sua frente uma mulher que o estocava com um dildo de silicone devidamente lubrificado e envolvido em um preservativo. — Perdeu a aposta, cabrón...

— Perdi o c******! — resmungou o loiro, inconformado. A aposta do dia era no valor de quatro mil libras para quem arrumasse uma parceira até as onze da noite. Sesshoumaru, até aquele momento, ainda estava sozinho numa boate, acompanhado por Byakuya. — Aposto que você está com um viado aí, seu...

— É uma mujer, seu mau perdedor! — riu o espanhol. — Uma alemã deliciosa com seios branquinhos que veio ao teatro e tinha um dildo na bolsa... Seu rosto parece o da Elina Garanca... Não é, Evelyse?

— Oh... Que honra, sir... — soou uma voz feminina ao telefone. — Eu adoro Elina Garanca... Mas ela é mezzo, e eu sou contralto, não aprendi a cantar direito ainda. Só tenho dois anos de curso...

— Pode fazer um favor para mim? — pediu o psicanalista.

— Quem, eu? — indagou Sesshoumaru.

— Não, viado, estou falando com a señorita aqui. Mas não precisa desligar a chamada, ainda tenho que falar com você.

— O que o senhor deseja? — perguntou a mulher.

— Cante um pedacinho daquela música “Meine Lippen, sie küssen so heiß” aqui para que meu amigo ouça. E mande ver com esse dildo...

Sesshoumaru coçou a cabeça.

— Espere aí, Octavio, para que você vai mandar a vadia cantar?

— Não é óbvio, palhaço? É para você se convencer de que é uma mulher mesmo. Vamos, querida.

— Estou com vergonha...

— Vergonha de que a essas alturas, señorita? Já fizemos espanhola, 69, anal...

— Vergonha de cantar, sir!

— Não seja boba, Evelyse, você tem uma voz muito bonita.

— Ah... Okay, o senhor venceu. Ich weiß es selber nicht, warum man gleich von Liebe spricht, wenn man in meiner Nähe ist... — entoou a moça.

— P****, é uma mulher mesmo — resmungou o loiro. — Está meio desafinada.

O espanhol começou a grunhir, choramingar e em seguida a gritar ao telefone, já que Evelyse não parou de introduzir o brinquedo nele. Sesshoumaru afastou o aparelho do ouvido, entediado.

— Eu mereço... — comentou o loiro. — Até agora não peguei ninguém e aquele arrombado descolou uma vadia fã da Elina Garanca... Até que a voz dela não é ruim.

— AHH, QUE DELÍCIA! ME F***, SUA GOSTOSA DO C******! — gritava Naraku, momentaneamente esquecido da chamada que prosseguia. — NÃO PARA NÃO! METE MAIS! AAAAH! QUE DELÍCIA, CARA!

— Que nojo! — reclamou Sesshoumaru. — É muita viadagem para um ser humano só!

Após mais arrufos e gemidos, houve um instante de quietude do outro lado da linha. Logo Naraku voltou a pegar o smartphone.

— Ah... John... Para você não ficar totalmente no prejuízo, venha para cá. Evelyse disse que topa trepar com você também.

— Mas quem vai comer quem? Não confio muito em mulheres que andam com piroca de borracha na bolsa.

— Você escolhe... — ao fundo, o loiro ouviu a voz de Evelyse dizendo “faço o que ele quiser”.

Quinze minutos depois, John Sesshoumaru chegava ao motel, dispensando o pobre Byakuya que estava louco para voltar para a casa da namorada.

O loiro e o espanhol passaram ainda mais algumas horas de prazer com a loira Evelyse. Contudo, não é necessário dizer que, em seus pensamentos e fantasias, estavam respectivamente uma cabocla brasileira e uma britânica filha de japoneses.

 

***

 

 


Notas Finais


G-E-N-T-E :O
Então o filho da Izayoi está vivo! Quem vocês acham que pode ser? #Dica - É alguém que já está inserido na história... Hehehe ;-)

Super tensa essa descoberta da Iza!

Só de olho no Naraku dopando o Sesshoumaru XD
A Rin aos poucos está se dando bem na Inglaterra, fazendo novos amigos... Isso é bom!

Kagome, coitada... Sofrendo com a monografia! Quem nunca?
E quando ela decide relaxar um pouquinho, olha quem aparece embaçando... ¬¬'

SANGO, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO CONTANDO DA SUA VIDA PARA A YURA?! Sinto cheiro de falsidade no aaaaaaaaaaaar! #CorreSango #FogeSango #VazaSango

Inuyasha jogando as verdades na cara da irmã! #TENSO
Como será que vai ficar o relacionamento dos dois irmãos de agora para frente?

Naraku, sério mesmo que você soltou um "Ai, que delícia, cara"?
'-' #NarakuPaiDeFamilia AHUAHUAHAUHAUHAUAHUAHAUHAUHAUHAUH

E, mais uma vez, os amigos desiludidos vão procurar refúgio nos braços de outras pessoas... Quando será que o Sesshoumaru vai poder se acertar com a Rin? E Naraku com Kikyou?
Eles são muito difíceis! Credo!

É isso, lindos da Mamãe! Abraços a todos que têm acompanhado esta fanfic.
Muito obrigada!

~Okaasan


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