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História Nem por Meio Milhão de Libras! - Tacando a "shit" no ventilador


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Gente querida! Mais um capítulo!

Mil desculpas pela demora gigantesca. Na verdade, o capítulo estava pronto já há uns dois dias, mas eu não consegui publicar antes.

Imagem da capa: Lune de Balron, a Estrela Celeste da Eminência de #SaintSeiya. Aqui, ele é o enfermeiro que... "medica" o Naraku.

No mais, boa leitura!

Capítulo 36 - Tacando a "shit" no ventilador


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - Tacando a "shit" no ventilador

 

Sandie Cameron penteava seus cabelos de forma automática. Ela estava há dois dias sem conseguir dormir e se alimentava apenas porque a fome a obrigava. Sua vida havia passado diante de seus olhos como num filme, onde ela se recordava da primeira vez em que esbarrou com Andrew Miroku, na entrada do Instituto Craddock. Havia se apaixonado por ele sem sequer perceber, intuindo que aquela emoção virulenta e avassaladora era apenas desejo sexual.

Os olhos da jovem escocesa recomeçaram a derramar lágrimas; ela tentou reter o choro.

— Droga... Assim eu vou chegar lá parecendo um trapo.

Assustada com a bombástica descoberta de que ela NÃO era estéril e que agora havia um bebê em seu ventre, Sango se desesperou. Além de ter sido vítima da maldade de Yura Smith, ela perdera a confiança total de Miroku e estava absolutamente sozinha em território britânico. Seu pai jamais aceitaria vê-la grávida; seus familiares provavelmente a difamariam e seu ex-marido, quando soubesse, iria atormentá-la, dizer a todos que ela era a fruta podre do relacionamento que fracassou.

Ela precisava de Miroku com urgência. Ele, possivelmente, lhe diria poucas e boas; talvez se recusasse a vê-la. Talvez a humilharia. Mas Sango não tinha outra alternativa.

Além do mais, ela sentia, em meio à agonia das dificuldades do momento, que o motorista não se escusaria de ajudá-la. Miroku era um homem bom. 

Trêmula, ela pegou as chaves do carro e se foi de seu apartamento, nervosa. Não sabia dirigir direito pelas vias inglesas; contaria com ajuda apenas do GPS. 

Assim sendo, Sango saiu de Coventry rumo a Leeds. 

 

***

 

Noitinha na residência dos Wright. Andrew Miroku e Raymond Inuyasha chegaram antes das seis; o motorista tivera folga e resolveu ir para o seu porto seguro, que eram seus irmãos. 

Ann Kikyou esperava pelos dois com um bolo de aveia, chocolate quente e lágrimas nos olhos. 

— Andy...! 

— Ann, minha irmãzinha — e o rapaz se lançou nos braços dela, comovido. — Fiquei com tanto medo de que você me condenasse... 

— Eu... Eu não poderia fazer isso com meu próprio irmão. 

— Mas comigo você faz — acusou Inuyasha, ressentido. — Ou pensa que esqueci de todas as vezes que me julgou? 

Kikyou, contudo, estendeu os braços para o caçula também, solicitando-lhe um abraço. Os três se envolveram.

— E-eu prometo não fazer mais isso com você, maninho... Me perdoa? 

O jovem foi pego de surpresa pela afirmativa da mais velha, mas logo beijou-lhe a testa e lhe dirigiu a palavra em tom mais brando. 

— Perdoo, Ann. Eu amo muito você. E, agora que estamos todos cheios de problemas, precisamos estar unidos. 

— Problemas? — volveu ela, franzindo o cenho. — O que houve com você? 

Os três se sentaram no sofá velho, enquanto Inuyasha, nervoso, respirava profundamente. Havia conversado com Miroku antes de chegar a casa da família e este garantiu que lhe daria apoio. 

— Ray, fale o que aconteceu — pediu a moça, sentada entre os irmãos. 

— Keh! Ray não... 

— Inuyasha — interveio Miroku, muito sério. — Agora é a hora de ser adulto e cumprir com o que me disse. Precisamos resolver todas essas questões como uma família. 

— É q-que estou morrendo de vergonha — e o caçula afundou o rosto nas mãos, chorando. — Miroku... Kikyou... Talvez vocês não acreditem, mas isso não é culpa minha. Eu não quero ser assim... 

— Assim como?! — volveu Kikyou, já assustada. 

— Bem... — ia dizendo Miroku, se atrapalhando. — É que ele... Bem... Inuyasha... Ele... 

— EU VIREI GAY! — berrou o garoto, provocando outro berro em sua irmã. 

— MEU DEUS! — esganiçou-se Kikyou, apavorada. — Isso... Isso não pode ser verdade...! E Kagome?! E as safadezas que vocês faziam?! 

— Ele, na verdade, é bissexual, Kikyou — explicou Miroku, vendo que o irmão não soube se expressar direito.

Inuyasha voltou a esconder o rosto nas mãos. 

— Por favor, Kikyou! Eu não sei... Não sei como lidar com ela, n-não sei o que vai ser da minha vida! 

— Oh Senhor! O que mais falta acontecer?! — retrucou Kikyou, assombrada com aquelas informações que lhe foram atiradas. 

Ouviram batidas à porta. A primogênita dos Wright se levantou, exasperada, deixando os irmãos sentados no sofá. Ao abrir o pequeno portão, Kikyou levou um susto ao ver sua professora do Instituto ali, pálida, sem maquiagem, sem elegância, apenas uma sombra do que ela estava acostumada a ver. No entanto, a surpresa deu lugar à indignação: 

— O que faz aqui, Mrs. Cameron? — esbravejou ela. — Já não basta tudo o que fez ao meu irmão? 

— Miss Wright... Por favor, eu... — gaguejou Sango, que ainda não acreditava que havia conseguido chegar até Leeds sem se perder. — Preciso muito falar com ele...  

— Não, você não precisa! Você já disse o suficiente! Como pôde maltratar o meu irmão, sua Jezabel endemoninhada? Ele era um garoto doce e ingênuo e você o forçou a... 

— Ei! Calma lá! Eu não forcei ninguém! — retrucou a escocesa, aborrecida. — Ele transou comigo por livre e espontânea vontade. Não o droguei nem o obriguei a fazer nada comigo. 

— Você o seduziu apenas para envergonhá-lo para as suas amigas mundanas! 

— Vai me deixar falar ou não?! 

Por fim, Inuyasha e Miroku saíram de dentro da pequena casa, atraídos pelo barulho da discussão. A fisionomia de Sango se transformou completamente ao avistar seu motorista; seu coração palpitou e ela abriu os lábios, chegando a dar um passinho em direção a ele. Porém Inuyasha o empurrou para trás de si e veio até ela, punhos cerrados e expressão de raiva na face juvenil. 

— Por mim, você não vai dizer nada para ele, Mrs. Cameron. Você acha que é assim? Destrói o coração do meu irmão e vem como se nada tivesse acontecido?! 

— Vocês querem parar com isso?! — protestou a escocesa, que definitivamente não esperava aquela recepção por parte dos irmãos Wright. — Miroku é um homem, não um garoto da pré-escola! E, a não ser que ele não queira, eu vou falar diretamente com ele! 

— Eu não vou permitir! — exclamou Kikyou, extremamente irritada e nervosa com toda aquela balbúrdia. — Quer saber? É melhor você ir embora. Andy não vai falar com você. Ele não precisa de mais mentiras. 

— Não precisa e nem merece! — completou Inuyasha. — Pense o que quiser de nós, mas iremos defendê-lo de você! 

— O meu assunto é com ele, seus idiotas! Imbeciles! — exaltou-se a professora. 

Atrás de Inuyasha, Miroku observava a cena com o coração aos pulos. Seu objeto de amor estava ali, dizia que queria falar consigo... Mas e se ela quisesse apenas magoá-lo de novo? 

Inuyasha foi gentilmente empurrado para o lado enquanto o motorista se colocava à frente de Sango, sem esconder que a presença dela ali não estava sendo nada agradável. Afobada, a escocesa tentou tocá-lo, mas ele se esquivou. Aquela reação destroçou a mulher, que murmurou o nome dele com seus lábios ressequidos. 

Como ela estava diferente... Despida de sua altivez, seu orgulho. Estava péssima, pensou Miroku, sem entender muito bem o que poderia lhe ter causado aquilo. No entanto, ele não foi gentil. 

— Oh, então a senhora deseja falar comigo, Mistress Sandie Cameron — afirmou ele, cheio de sarcasmo, fazendo com que seus irmãos o olhassem, aturdidos. Onde estava o Andrew Miroku gentil e doce que eles conheceram? 

— M-Miroku, eu... Preciso muito falar com você. 

— Já está falando — replicou ele, seco. 

— Em particular... 

— Não. O que tiver de dizer, diga diante de meus irmãos. Não tenho mais segredos com eles... E é até mais conveniente. Eles perceberão que você estará tentando me enganar de alguma forma e não me deixarão cair em seu engodo. 

— Andy, você não precisa falar com ela — ia dizendo Kikyou, mas o motorista a interrompeu com um gesto de mão. 

— Mana, não se preocupe. Nada do que ela me disser poderá me abalar. Como a senhora pôde notar, Mrs. Cameron, eu sou muito firme em minhas decisões. Vou ouvi-la, mas já lhe adianto que nada me fará acreditar em você de novo. 

A crueza das palavras de Miroku era gritante; a escocesa, já não se contendo, deixou que lágrimas lhe escapassem pelos olhos já avermelhados. Vê-la chorar ainda doía dentro dele, mas ele ocultou seu desconforto. 

— Miroku, eu... P****! Você está me assustando — protestou ela, desatando a soluçar. — V-você não era assim! 

— As coisas mudam — redarguiu ele, cerrando os punhos. — E, por favor, não fique tomando meu tempo. Meus irmãos e eu temos mais o que fazer. 

— Pare de f-falar assim comigo, c******! Eu... Eu continuo querendo me explicar, m-mas você não me ajuda... 

— Oh, não? Acaso estou tapando sua boca? 

— Vá se f****, seu idiota! — estourou a escocesa, gritando e gesticulando freneticamente. — Eu q-queria resolver isso de forma discreta, mas, se você quer barraco, vai ter barraco! 

— Então essa é a verdadeira Sango? — volveu Miroku, se exaltando também. Um casal que morava à frente dos Wright abriu a janela, curioso pela bulha da discussão. — Escandalosa, que vem perturbar a paz das pessoas inocentes? 

— INOCENTE O C******! EU ESTOU GRÁVIDA! ENTENDEU AGORA?! OU QUER QUE EU GRITE MAIS ALTO PARA QUE OS VIZINHOS ESCUTEM?! EU ESTOU GRÁ-VI-DA! E VOCÊ É O PAI!!! 

Kikyou deu um gritinho, levando a mão ao peito; Inuyasha ficou boquiaberto, olhando do rosto do irmão para o da escocesa, que respirava com certa dificuldade. Por sua vez, Miroku ficou totalmente paralisado por alguns segundos, tendo que se esforçar muito para recobrar seu forçado sangue-frio. 

— S-Sango — disse ele, lutando para mostrar segurança. — Não brinque achando que sou um idiota. Eu não acabei de dizer que não acredito em palavra alguma que você disser? Afinal... — e o rapaz arregalou os olhos de uma maneira cômica, denunciando o quanto aquela informação nova o havia assustado. — V-você me disse que era... Estéril...! 

— Então eu vou ter que e-esfregar o resultado da ultrassonografia na sua cara, é isso?! — cuspiu a outra. — Nove s-semanas...  

— Não quer dizer que o seu filho seja dele! — intrometeu-se Inuyasha, agora se virando para Kikyou. — Mana, não fique tão nervosa. Miroku deve ter usado camisinha. 

Inesperadamente, Sango começou a rir em meio aos soluços, enquanto Miroku tremeu e ficou ainda mais pálido. Seus dois irmãos o encaravam, meio espantados ao ver que ele não confirmava a teoria do caçula. A escocesa exclamou, meio insana: 

— Só usávamos camisinha na hora de dar o c*!  

Ao ouvir aquilo, Kikyou deu mais um berro de horror, escandalizada ao saber de tamanha ‘perversão’. O senhor que morava na casa ao lado assistia a tudo com grande interesse, chegando a comentar com a esposa: “isso é melhor do que qualquer novela!”. 

 

*** 

 

John Sesshoumaru, após ter praticado alguns alongamentos e aprendido alguns princípios da capoeira (origem, nome das roupas, instrumentos etc.), voltou para casa com Byakuya e, notando a mansão quieta, tirou o resto da tarde para relaxar. Ouviu mais músicas de Pitty, apreciou o sanduíche natural com suco de cereja que Izayoi havia deixado para ele, tomou um demorado banho e tentou, durante todo o tempo, contatar seu melhor amigo. Estranhamente, Naraku Octavio não atendia às suas chamadas. 

Foi quando ele escutou a porta do salão principal se abrir e passos ligeiramente abafados de alguém que usava tênis ecoando pelo cômodo. Afobado, Sesshoumaru saiu do quarto às pressas, imaginando que fosse o espanhol. 

— Naraku! Onde esteve que não atendeu ao telefone o dia todo, seu filho da... 

— Eu não sou o Naraku, Sesshoumaru — replicou Rin, que estava sem um pingo de bom humor naquele momento. — E, antes que tu venha me perguntar, também não sei cadê ele. 

Aquele borrão preto-pele-lilás-branco não parecia estar disposto a continuar parado ao pé da escada. A brasileira ansiava por ficar sozinha, com suas músicas e sua dor. Lembrava conturbada da despedida que tivera com Kohaku, já não mais o seu namorado, à frente de Ferguson Manor. 

— Sabes que podes contar comigo sempre que precisar, querida. Serei teu amigo mais leal — afirmou o jovem religioso, tão triste quanto ela. A bela morena o olhou com certa ira. 

— Pra que vamos ser amigos? Já não acha que me magoou o bastante? 

— Eu não queria magoar-te, querida Rin. Se eu quisesse, poderia ter sido desonesto e omitido tudo isto de ti. Minha decisão de seguir o celibato e o sacerdócio é algo tão íntimo que, fora minha tia e o amigo Shippou, tu és a única a quem confidencio isto. 

Ela baixou a cabeça, tentando não recomeçar a chorar. Estava cansada de ser afastada violentamente das pessoas que amava. Primeiro o pai, depois Mestre Kouga e Ayame... Agora Kohaku? 

— Lembra-te que ambos auxiliamos o grupo de apoio de Mrs. Izayoi — volveu o garoto. — Entendo que estejas ressentida comigo e que talvez passes até a evitar-me. Mas nos veremos ainda muitas e muitas vezes antes que eu possa seguir para um seminário. 

— N-não penso em me afastar de você... Só preciso de um tempo, entendesse

— Claro, claro. Em todo caso, fico mais aliviado ao saber que tu não desprezarás minha amizade. 

— Tu não me deu motivo pra isso — sorriu ela, fracamente. Assim sendo, eles trocavam um breve abraço e Kohaku partiu em sua moto, deixando a morena tristonha. 

Agora, ela estava diante de Sesshoumaru, que estava vestido apenas com uma calça de pijama, exibindo seu peitoral e abdômen definidos e fortes. Uma visão e tanto. Todavia, Rin não dava atenção para a beleza física de Sesshoumaru; ela suspirou aborrecida e fez menção de subir as escadas. O loiro ainda pensou em impedi-la, mas não tinha o que dizer. Além do mais, algo a estava incomodando muito e ele não imaginava como lhe perguntar sobre o motivo de sua angústia. 

Encafifado, o loiro retornou ao seu quarto, ouvindo o exato momento em que Rin fechava a porta no andar de cima e, uns três minutos depois, apenas os soluços da jovem eram ouvidos. Ele, sentado na cama, começou a pensar furiosamente no que poderia estar causando aquele sofrimento na garota que reinava em seus sonhos. 

 

*** 

 

— O senhor pode ir para casa — disse um médico de plantão do Hospital de Wakefield a Naraku Octavio, que havia acordado cerca de meia hora antes. O espanhol havia sido tratado com uma dose bem forte de calmante e dormido profundamente. 

Eu... Surtei de novo?! Mas já é a segunda vez neste mês...’ 

Agora, ele olhava para a tela do smartphone e via dezenas de chamadas perdidas de Rin, Sesshoumaru e Kagura. Incomodado, Naraku se perguntava se seria necessário mudar sua medicação, quando se lembrou de que não estava sozinho na hora do surto. 

— Oh... Quem... Quem me trouxe para cá, doutor? 

— Na verdade, eu não estava aqui, sir. Mas posso chamar o enfermeiro que o socorreu. 

— Obrigado... Quero falar com ele — respondeu o psicanalista, meio encolhido na maca do pronto-socorro. Felizmente ele estava só no local. 

Alguns minutos depois, um homem de cabelos loiríssimos e olhos de uma curiosa tonalidade roxa entrava no quarto. Tão alto quanto seu amigo Sesshoumaru, o enfermeiro parecia ser bem sisudo e tinha uma postura incomum. Lembrava um juiz, não um profissional da saúde. 

— O senhor deseja falar comigo? — perguntou o recém-chegado, sério, para um Naraku embasbacado. Aquele homem era lindo! 

— Ah... Sim, sim. Eu... Tive uma crise de pânico nesta manhã e...  

— E eu lhe apliquei clonazepam. O senhor dormiu por algumas horas. 

— Por favor, quem estava comigo quando cheguei? Err... — Naraku fixou o olhar no crachá do enfermeiro. — Mr. Balron...? 

— Chamo-me Lune de Balron. Quem trouxe o senhor foi um policial e uma mocinha japonesa. Ela disse que não poderia esperar o senhor recobrar a consciência, mas que daria um jeito de voltar para cá mais tarde. 

— Oh. Pobre Kagome... Causei transtornos para ela... 

O espanhol se pôs de pé e ficou ligeiramente tonto, cambaleando em seguida. De imediato, o enfermeiro Lune de Balron o acudiu, segurando-o. A proximidade entre os corpos causou um efeito inusitado em Naraku, já que, em tese, deveria estar com a libido adormecida por causa do medicamento pesado. Sentindo a ereção daquele paciente contra sua coxa, o jovem loiro se distanciou, fitando-o surpreso e irritado. 

— O senhor já deve estar recuperado, não? — indagou ele, parecendo indignado com a sarrada involuntária de Naraku. Este começou a se desculpar, constrangido de verdade. Aquele dia estava uma bela porcaria: primeiro o contato com o menino Hakudoushi, depois o surto e agora aquilo... 

— P****... Mr. Balron, sinto muito. Não foi intencional, é que... 

— Se não me engano, o médico já lhe deu alta. 

O que Naraku não imaginava era que, por trás da fisionomia severa do enfermeiro, havia um interesse bem grande em sua pessoa. Lune o achara muito sexy, mesmo entre lágrimas e pedidos de socorro e, posteriormente, naquele sono prolongado. Era o tipo de parceiro que, estando sadio, deveria ser espetacular na hora da intimidade.  

— S-sim, deu, mas é que eu queria saber sobre a garota que estava comigo e... 

— Sua namorada? 

— Não... — respondeu o espanhol, sem entender o motivo da pergunta do enfermeiro carrancudo. — Minha aluna. 

— Bem que notei que ela era muito jovem para o senhor. 

— É, eu não sou nenhum rapazinho... 

— O senhor é um homem... Bem interessante, devo dizer. Sabe o que se passa em minha mente quando me deparo com homens maduros como o senhor? 

Lune assustou Naraku quando, discretamente, colocou as mãos na própria cintura, de forma a afastar o jaleco da frente de seu corpo. Havia um volume considerável na calça branca do loiro; sua ação fora tão sutil que não causaria suspeitas em um paciente desavisado — o que não era o caso do psicanalista. Aquilo ia contra as leis e poderia ocasionar um sem-número de problemas para ambos, mas o espanhol adorou a ideia de fazer transgressões com aquele belo e carrancudo rapaz. 

Após uma troca de olhares intensa, o enfermeiro disse, em tom neutro: 

— Bem, o senhor está de alta, mas ainda parece frágil. Vou ajudá-lo a ir para a saída. 

— Vai me aplicar outra injeção, Mr. Lune de Balron? — indagou Naraku, em voz baixa, já intuindo o que iria acontecer. Lune o segurou discretamente pelo braço, caminhando consigo para fora do quarto e seguindo em direção ao setor de RH da instituição, sem despertar nenhuma suspeita nas pessoas que passavam por eles. Ali tinha um banheiro que servia muito bem para o que ele pretendia fazer com aquele paciente. 

— Vou, sim. Algo contra? 

— Não, nada... Só temo por seu emprego — riu ele, já totalmente desperto e sem sono. 

— Não precisa temer. Sou discreto. MUITO discreto. 

Meia hora depois, Lune deixava o psicanalista na porta do hospital, agindo como se Naraku fosse um paciente frágil. Pela maneira que o espanhol andava, devagar e com as pernas meio abertas, era exatamente essa a impressão de quem o via. 

— Mr. Balron, o senhor me deixou a-ca-ba-da! — comentou o psicanalista em tom baixo e zombeteiro, ainda meio trêmulo depois de ter feito sexo às escondidas com o belo enfermeiro. 

— Vou lhe dar meu cartão, Mr. Naraku, caso queira receber o mesmo tratamento outras vezes — respondeu o loiro, totalmente sério, entregando-lhe um cartão com seu número. — Melhoras. Caso se sinta mal, não hesite em me procurar... — e ele estreitou os olhos. — Refiro-me também à sua crise de pânico. 

— Vou procurar um psiquiatra para que ele avalie os remédios que já tomo. 

— Muito bem. Até um dia — e o sério Lune de Balron o deixou só. 

Resignado, Naraku agora discava o número de Kagome. Ele queria se desculpar com ela pelo transtorno causado; contudo, qual não foi sua surpresa ao ouvir um celular tocando uma música pop gospel bem alta perto dos jardins do hospital e avistar a figura de sua orientanda, que vinha rapidamente em sua direção. 

— Naraku! Graças a Deus você está bem. Desculpe por não ter ficado com você — ia dizendo a menina, sendo recebida por ele com um sorriso genuíno. — Mamãe e eu viemos até aqui, eu não estava conseguindo te ligar. 

— Mas não há chamadas suas aqui — replicou o espanhol, confuso. Então viram que Kagome salvara seu número com dois dígitos trocados. Após consertar o registro, os dois saíram andando devagar. 

Kazuko Higurashi os aguardava em um Fiat Uno já velhinho. Depois de apresentar seu orientador à mãe, a jovem estudante convidou Naraku a fazer um lanche em sua casa. A princípio, ele pensou em recusar, mas Kagome era uma companhia muito agradável. E, bem, ele estava emocionalmente exausto naquele dia; passar alguns momentos com aquela família poderia lhe fazer bem. 

Carro ligado, os três se foram em direção a Otley. Não demorou para que Kagome e Kazuko começassem a rir do “bichês” do psicanalista, que não estava disposto a mostrar seu abatimento e disfarçava-o com suas piadas e trejeitos homossexuais estereotipados. Dado momento, a mãe de Kagome o fitou pelo retrovisor. 

— Mr. Naraku, o que é isso em seu queixo? 

— É mesmo... Tem uma manchinha branca aí, do lado direito — comentou a estudante, enquanto o espanhol apalpou o local indicado. Meio envergonhado, Naraku deu um de seus sorrisos sarcásticos. 

— Oh, é sabonete... Devo não ter lavado o rosto muito bem. Sabem como é... Hospitais... 

— Ah, é verdade — concordou Kazuko, observando o trânsito atentamente. — É que, se eu não soubesse que o senhor estava hospitalizado, diria com toda a certeza que isso é esperma. 

— Mamãe! — exclamou Kagome horrorizada enquanto o psicanalista desatava a rir. 

Que mulher esperta! Quase fui descoberto!”, pensou ele, se divertindo. Interiormente, estava muito grato por estar na companhia daquelas japonesas. 

 

*** 

 

De jeans e camiseta regata, John Sesshoumaru subiu lentamente as escadas em direção ao quarto de Rin. Seus pais ainda não haviam chegado; o loiro estava farto de ficar sozinho, ouvindo a brasileira chorar. Com alguma dificuldade, ele encontrou a porta e bateu três vezes. 

— Q-quem é? — indagou Rin, com a voz meio fraca. A jovem estava largada sobre a cama, exatamente do jeito que havia chegado. Ela inclusive dormira por alguns minutos; seus olhos estavam inchados e ardidos. 

Do lado de fora, o loiro suspirou. A justificativa que encontrara para ir ter com a bela morena era meio boba, mas foi a que lhe pareceu mais adequada no momento: 

— Sou eu, Rin. É que... Eu preciso de um favor — disse ele, meio inseguro. 

— Sesshoumaru?! O que é que tu quer de mim? 

Intrigada, ela se levantou e foi atender ao filho do dono da mansão. Para sua surpresa, ele estava sem os óculos escuros e parecia muito incomodado com a claridade. 

— Não encontro meus óculos — disse ele, tentando parecer frio. — Se puder, pode me ajudar a encontrá-los? 

— Ah... Peraí — fez ela, sacando o smartphone do bolso da calça e repetindo a palavra “sunglasses”, que ela não soubera traduzir. Logo o app de tradução apresentou o resultado: “óculos de sol”. Então Rin logo se prontificou a encontrar o objeto para Sesshoumaru. — Tu quer que eu vá no teu quarto? 

— Q-quero.  

Arisca, Rin tomou a mão grande de Sesshoumaru e a colocou sobre o ombro, andando com ele para as escadas. Ela parecia disposta a auxiliá-lo o mais depressa possível, no afã de ficar sozinha de novo. Ao chegar ao pé da escada, contudo, o loiro pressionou levemente seu ombro, levando-a a olhar para trás. 

— Vá mais devagar, Rin — queixou-se ele. — Descer escadas correndo é perigoso, mesmo quando não se está com um guarda-chuva. 

— Hein? 

— Nunca viu aquele anime da garota que cai da escada da escola e morre traspassada pelo cabo do guarda-chuva? 

— Ave-Maria, cruz-credo — e Rin fez um sinal-da-cruz na frente do rosto, se arrepiando. — Tu vê essas coisas, macho? 

— Ah... Então você tem medo de filmes e séries de terror? 

— Eu não mexo com essas coisas do demônio não — replicou a morena, descendo as escadas com cuidado. Interiormente Sesshoumaru achava graça da forma como ela ficou incomodada com o seu comentário. 

Os dois chegavam os últimos degraus da escada, enfim. No entanto, Rin estava com pressa, e, afobada, se precipitou em direção ao corredor que levava ao quarto de Sesshoumaru. Ele se viu sem equilíbrio e lançou os braços para frente, nervoso, com medo de cair. 

— Índia louca! Não faça isso! 

— Nossa Senhora! — gritou Rin, apavorada. Sesshoumaru lutou, mas não conseguiu se segurar e tombou com a brasileira; por sorte, estavam no penúltimo degrau. 

Tudo aconteceu em milésimos de segundo; o loiro usou um dos braços para amortecer o impacto da queda de seu corpo sobre o corpo pequeno de Rin, que arfava caída no chão e não teve tempo de se esquivar. Como era de se esperar, o corpo dele se espalhou sobre o dela, cobrindo-o. A jovem se remexeu, nervosíssima, atritando involuntariamente os glúteos contra a pélvis de Sesshoumaru, que de propósito demorou a se levantar de cima de Rin. Ela, apesar de morta de vergonha, perguntou a ele se ele havia se machucado, parecendo genuinamente preocupada. 

— Não, eu estou bem. Foi apenas um susto — afirmou Sesshoumaru, se fazendo de indiferente. — E você? Acabei te amassando sem querer... 

— E-eu... Eu tô bem. Não foi nada... 

Que sorte, ela não desconfiou”, pensou ele, triunfante. Logo ambos se foram até o quarto do loiro; de chofre Rin avistou os óculos escuros “perdidos”, assim que acendeu as luzes. Estavam debaixo da cama.

— Oxe, tava facinho de achar, macho — disse ela, indo rapidamente em direção ao objeto e o alcançando. — Tu quer que eu coloque teus óculos onde? 

— Entregue-me, a luz ainda irrita meus olhos — volveu ele. — A propósito, obrigado. 

Ao entregar os óculos para Sesshoumaru, ele fingiu se atrapalhar um pouco para manter a mão de Rin em contato com a sua por mais tempo. Chegou mesmo a ficar estático, encarando-a. Ela tentou se desvencilhar, constrangida. 

— Err.. Sesshoumaru, p-pra que tu tá segurando minha mão?! 

— Eu tive uma ideia — replicou o loiro, fitando a imagem desfocada de Rin. — Já que você está aqui, poderia me ajudar a escolher uma roupa para sair. 

— Mas por que eu?! 

— Ora, é você quem está aqui comigo! Geralmente, quem gosta de sugerir looks para mim é aquela bicha do meu irmão, mas ele não está aqui. 

— E eu lá manjo de moda inglesa?! 

— O que custa, índia da selva? Nem vai tomar muito de seu tempo. É melhor do que ficar sozinha no quarto... — Sesshoumaru ia dizer “sozinha no quarto chorando”, mas mudou de ideia rapidamente: — ... sem nada para fazer. 

A morena olhou para o lado, pensativa. É, de fato ele tinha razão; não custava nada ajudá-lo. Até porque, se ela voltasse para o quarto naquele instante, iria chorar de novo por Kohaku. Suspirando profundamente, Rin voltou a olhar para Sesshoumaru. 

— Tá bom, macho. Me mostra as roupas que tu costuma usar pra sair. 

— Ficam no lado esquerdo do closet — respondeu o loiro, indicando o móvel com um gesto de cabeça. — Pode ir lá e olhar. 

A jovem se foi até o closet e abriu a porta, olhando para as roupas organizadas ali. Ao contrário do que imaginava, o herdeiro de Toga Ferguson não possuía uma quantidade absurda de roupas; Sesshoumaru tinha o hábito de doar uma peça usada assim que comprava um item novo para seu guarda-roupa. Súbito, o olhar de Rin estacou em uma jaqueta branca com detalhes abstratos vermelhos nos ombros. Lembrava uma vestimenta militar; ela o tocou, encantada. Em um homem com o corpo tão belo como Sesshoumaru, aquilo deveria ficar incrível! 

— Sesshoumaru — chamou ela, meio esquecida de que estava com pressa de sair da presença dele. — Essa jaqueta branca... 

— Jaqueta branca? — volveu ele, que estava sentado na cama, a alguns metros de distância, pensativo. Ele de fato não sabia o que fazer com ela ali, tão próxima. — Uma com detalhes vermelhos e botões dourados? 

— Sim... 

— Chamativa, não é? — e ele riu de leve. — Nunca usei. Foi um presente de Naraku, só que nunca tive ânimo para sair com uma roupa tão escandalosa dessas. 

— Mas é tão bonita! — protestou Rin, já retirando o cabide com a jaqueta. — Roupa de gringo branco estiloso, tipo ator de cinema! 

— Rin, isso é cafona. Quem usaria uma roupa tão fora de moda? 

— Que se lasque se é fora de moda! Ela... Ela combina com você. Ela é linda... Como você — e a morena se interrompeu imediatamente ao ver o que tinha dito. 

Sesshoumaru arregalou os olhos e corou. Ouvir pessoas elogiando sua beleza era algo tão corriqueiro que ele até achava enjoativo. Porém, receber aquele elogio de Rin era como receber um presente valioso, já que ela era uma garota extremamente sincera. Ele se pôs de pé, indo em direção à jovem, que estava constrangida com a jaqueta nas mãos. 

— Está falando sério? 

— T-Tô. Digo... Estou. Eu não sou de fazer piada...

Os dois se encararam por um momento, até que o loiro deu um pequeno sorriso que não mostrava nem um terço de sua felicidade. Rin, sem entender muito bem, ergueu uma das sobrancelhas. 

— Pois então, Rin... Me ajude a escolher as demais roupas. Eu vou usar esta jaqueta. 

— Hum... É? Ah, então tá — afirmou a mocinha, sem ter o que dizer.  

— Aproveitando a oportunidade... 

De repente a jovem se sentiu minúscula ao ver aquele loiro másculo se aproximando um pouco mais, num movimento sutil. A voz de Sesshoumaru soou lenta, sedutora e envolvente aos seus ouvidos. 

— ... por que não vem comigo? Nós podemos matar a saudade que você sente do seu país na Boate Gua... Gua... Gua-na-ba-ra — afirmou ele, meio atrapalhado com o nome do dito estabelecimento.  

Sesshoumaru havia descoberto por acaso aquela boate numa pesquisa feita no Google. O efeito em Rin foi devastador; ela ficou, literalmente, de queixo caído. 

— Hein?! Uma boate... Pra brasileiros?! AQUI?! 

— Ora, é normal haver casas noturnas e bares de países estrangeiros em todo o Reino Unido. E esta não é distante daqui. 

Pelo menos, não devo passar vergonha com essa roupa espalhafatosa em um ambiente de latinos exóticos”, imaginava ele.  

— Oh... Escute, Sesshoumaru — afirmou a jovem, meio pasma ainda — É seguro? Eu... Nunca fui a uma boate. 

Ela estava cogitando a possibilidade de aceitar! O loiro segurou a vontade que sentiu de sair pulando e manteve a postura indiferente. 

— Claro que é seguro, sua boba.  

— E por que tu deu de ir a uma boate de brasileiro, sendo que tu não gosta de nada que é latino? — perguntou Rin, desconfiada. Sesshoumaru, contudo, estava preparado para aquele questionamento e sorriu. 

— Soube que lá o movimento é menor... E, agora que estou perdendo a visão, prefiro lugares um pouco mais tranquilos. E... — ele olhou para o alto, fingindo uma expressão aborrecida. — Você e eu precisamos sair juntos mais vezes, afinal, você é minha guia e praticamente não conhece nada em Londres. Além do mais, não posso ficar em casa só porque não enxergo, não acha? 

— É mesmo — concordou ela, resoluta. — Mas... Tu não vai pra ficar mamado de pinga não, né? 

— Como? Não entendi. 

— Você vai pra beber? — perguntou Rin de novo, de uma forma que ele entendesse. 

— Eu não bebo. Prefiro não abusar, já que tenho apenas um rim. 

Ela pareceu relaxar um pouco e, mordendo o lábio em expectativa, resolveu ir com Sesshoumaru. Afinal, ela estava ali para aquilo — guiar o filho de Toga. E, mesmo com toda a dor que sentia pelo término do namoro, seria melhor espairecer, passear, mesmo que fosse com aquele sujeito que era tão belo e arrogante. 

— Tu me espera, então — disse a mocinha, colocando a jaqueta nas mãos de Sesshoumaru e se afastando em seguida. — Vou me arrumar. 

— Okay

E assim Sesshoumaru ficou sozinho no quarto, apertando a jaqueta nas mãos, com um sorriso meio bobo no rosto que se alargou assim que a porta foi fechada. 

Ele, enfim, iria sair com aquela indígena. Talvez conseguisse mais coisas com ela... 

  

*** 

 

 

 


Notas Finais


O personagem Lune não é aleatório... Ele aparecerá mais vezes.
E... A menina caindo da escada e sendo transpassada pelo próprio guarda-chuva é uma cena famosa do anime #Another. Brrrrrrrrrr! kkkkkkkkk

Volto depois para editar estas notas finais!

Muito obrigada pela paciência e pelo apoio.

~Okaasan


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