Andrew Miroku se remexeu, inquieto. Imerso no mundo dos sonhos, o rapaz se refestelava de satisfação. Aquela escocesa, Sandie ‘Sango’ Cameron, o estava beijando. Logo a mulher abandonava seus lábios e descia, sequiosa, acariciando seu peito e seu abdome. O rapaz se contorcia de prazer pela simples expectativa do que o aguardava. Sango se sentava sobre seu ventre, encaixando seu sexo no dele, e se movia lentamente. Miroku arfou, deslumbrado. O prazer sexual era fascinante.
A intimidade de Sango parecia mais estreita e o espreitava em seu interior. As mamas bonitas da mulher balançavam diante de seus olhos e o jovem motorista clamava, agoniado, pelo nome dela. No entanto, ela parecia muito silenciosa.
— Mrs. Cameron...
O sobe-e-desce se intensificou, bem como o prazer de Miroku, que agarrou seus quadris em ânsia luxuriosa. Sango continuava em silêncio, intrigando o rapaz.
— Q-que... Que delícia, Mrs. Cameron... Você é maravilhosa...
Um ardor se espalhou pelo rosto dele, que pensara em ousar um pouco mais.
— Você é perfeita... Gostosa... Aahn...
"Ela não responde, por que será?", Pensava ele.
Então, o rapaz acordou. Levou um susto imenso ao ver que não estava realmente sonhando. Entre suas coxas, estava a cabeça da mulher que ele já amava. Ela olhava diretamente em seus olhos, enquanto sugava com avidez seu membro, que estava a ponto de explodir. A mera visão da loucura que Sango praticava consigo o fez gritar de prazer.
— AHH!
Uma vibração na boca de Sango e ele percebeu que ela ria. Suada, a escocesa parou de sugar o pênis para lamber-lhe a glande rosada, fazendo Miroku agarrar os lençóis, alucinado. Meio desvairado, o motorista moveu os quadris de encontro aos lábios da mulher, ansiando por alívio. Contudo, ela abandonou sua atividade, olhando maliciosa para ele.
— Calma aí, garotão — afirmou ela, sedutora. — Vamos terminar nossa brincadeirinha de outro jeito?
— Oh... Mrs. C-Cameron... Ah... Não me deixe assim, vou morrer de vontade...
— Como o senhor é dramático, Mr. Wright. Não se preocupe, você vai gostar disso...
E, sem cerimônia, Sango se ajoelhou ao redor do quadril do rapaz, de costas para ele. Abaixou-se, revelando sua intimidade a ele, que quase teve uma síncope diante da visão cruamente erótica. Entretanto, ele não teve muito o que pensar, pois a escocesa tomou seu membro e o encaixou dentro de si, rebolando devagar sobre o mesmo. Andy Miroku perdeu o controle e gritou de novo. Ela apenas riu, provocando-o; contraía sua musculatura de forma a estrangular o sexo teso do rapaz enlouquecido. Ver seu membro deslizando para dentro e para fora da vagina da mulher o levava às alturas de prazer e euforia.
— Mrs. Cameron... Ahh...!
— Miroku, que delícia é o seu pau, estou adorando! — afirmou ela, baixando o quadril de uma vez contra o dele.
— AHHH, NÃO ESTOU AGUENTANDO!
— Não está aguentando? — provocou-o Sango. — Justo agora que eu estava pensando em ficar de quatro para você me f**** melhor...
— E-eu acho q-que não sei como fazer isso dir-
Com agilidade, Sango se ergueu de sobre Miroku e ficou de joelhos na cama, empinando o bumbum. Foi com urgência que o rapaz a seguiu, se posicionando por trás de si. Ainda confuso sobre como proceder, ele tocou com a ponta do falo a entrada traseira de Sango, que o olhou imediatamente.
— Opa... Nessa portinha aí, não, safadinho. Pelo menos, não hoje. Não fiz a chuca. Nem imaginava que iria transar hoje.
— Perdoe-me... Por favor, perdoe-me, Sango — gaguejou ele, rubro. — Mas o que é chuca?
— Depois te explico. Agora... — Sango suspirou profundamente, enquanto se empinava um pouco mais para Miroku. — Capriche. São onze e vinte, você precisa buscar os alunos.
— Oh... Sim, sim... Havia me esquecido e... Ahh... — ele fechou os olhos com força; impaciente como estava, a escocesa se moveu contra ele até ser preenchida. — Oh my God!
— Hmmm... Segure meus quadris, Miroku. E pode começar...
— Isso não vai machucar você?
A mulher não pôde deixar de sorrir; aquele rapaz era muito afetuoso.
— Claro que não, gostoso. Vem, vem, vem!
O coito recomeçou; o jovem motorista tentou ser mais dócil em suas investidas, mas a posição e os gemidos provocantes de Sango Cameron eram como setas que transpassavam seu corpo. Em pouco tempo, Andrew Miroku a estocava fortemente, gemendo, articulando frases sem sentido e por fim gritando, sentindo o saco escrotal indo de encontro ao corpo da mulher, o que indicava grande ferocidade. Algo dentro da mente do rapaz lhe dizia que estava agindo como um animal, mas a escocesa não ficava para trás, exclamando para que ele se projetasse contra ela com mais vigor — não necessariamente com essas palavras.
Sandie Cameron agora baixava o tronco, expondo ainda mais a área íntima, e dizendo obscenidades em inglês e gaélico; tremia diante de Andrew Miroku, que a essas alturas não se reconhecia mais como o jovem reservado e gentil que era. Logo a mulher atingia seu ápice, agarrando os lençóis com as duas mãos, levando o jovem a intensificar seus movimentos e enfim se derramar dentro dela, eufórico. Acabou se largando em cima do corpo de Sango, ofegante, e logo se deitou ao seu lado, murmurando dezenas de pedidos de desculpas.
— Miroku, você é uma gracinha — comentou Sango, olhos pesados. — Não precisa ficar preocupado, você não me machucou ou nada do tipo. Pelo contrário!
— Mas, Sango, eu... — ele olhou para cima, corando mais uma vez. A escocesa não resistiu ao jeito naturalmente tímido do jovem motorista e o encheu de beijos nos lábios e nas faces.
— Nada de mas. E é bom você ir logo, senão vai se atrasar... Ah, querido — fez ela, tocando o rosto dele. — Quer vir para cá depois?
— Depois quando?
— Hoje eu dou aula no Instituto Craddock até as dez da noite. Podemos voltar juntos.
Miroku ficou sério.
— Eu não sei se devo...
— Por que não? Você tem outro compromisso?
— Não, mas...
— Então você vem – declarou Sango. – Viremos juntos e você passa a noite comigo.
— Sango... – o rapaz iria discordar da escocesa, mas achou por bem ter uma conversa séria com ela depois, com calma. – Está bem... Eu venho.
E foi dessa forma que o jovem Andy se despediu da escocesa Sandie Cameron, após um rápido banho. Ele se foi às pressas para buscar os alunos da faculdade e, durante todo o dia, esteve aéreo. Culpado pela forma como as coisas aconteceram e, ao mesmo tempo, fascinado pela professora do Instituto.
Eu vou fazer de tudo para me casar com ela.
***
Cinco horas da tarde; hora do chá. Naraku Octavio chegara às pressas em sua residência; estava um pouco atrasado. Pegara trânsito ao sair de seu consultório.
Kagura Thompson havia acabado de servir o chá do patrão e já ia se retirar de perto dele, quando este a chamou, um pouco afogueado. Ela era uma jovem garota britânica de vinte e quatro anos, de corpo sinuoso e olhos castanhos ressabiados. Usava os cabelos presos em coque e, naquele dia, trajava uma blusa canelada de manga ¾ e saia social preta. A vida dura fez de Kagura uma mulher reservada e sisuda para sua idade. Considerava seu patrão como seu mais leal amigo.
— Kagura?
— Pois não, Mr. Naraku.
— Kanna está melhor?
— Ah, está sim — respondeu a jovem. — Parou de tossir. Hoje mesmo ela almoçou muito bem e não teve febre.
— Isso é bom. Não vou lhe prometer nada, mas já adianto que, qualquer domingo desses, vamos passear com ela em Kennington Park. Ela precisa se adaptar melhor em locais movimentados.
— Será que ela consegue?
— Ora, Kagura... Por que não? O que a impede de conseguir?
A campainha tocou e a moça, pedindo licença ao espanhol, foi até o interfone. Naraku deu um meio sorriso ao vê-la enrubescendo e gaguejando.
— Ah... S-sim, Mr. Sesshoumaru... Já v-vou.
Naraku a interpelou antes que se afastasse.
— O loirão ainda mexe muito com você, pelo que vejo.
— Um pouquinho — murmurou ela. O homem convidou-a para sentar-se à mesa consigo. — Mr. Naraku, eu preciso ir atender Mr. Sesshoumaru.
— Daqui a pouco você vai. Espera. Ele não vai parir um filho se não for atendido agora.
A moça o olhou intrigada, sentando-se.
— O senhor tem algo a me dizer?
— Sim, claro. Duas coisas. A primeira... — suspirou. — Não quero te ver triste, mas devo informá-la de que o mais seguro a fazer é se afastar do John. Ele não é o cara certo para você.
— O senhor já me disse isso — afirmou ela, baixando a cabeça, ressentida. O espanhol segurou sua mão.
— Querida, entenda. Se eu sou um filho da p***, Sesshoumaru é filho, sobrinho e neto. Ele não se apega a mulher alguma.
— Mas eu poderia tentar, pelo menos.
— Não, querida. Não aconselho. Ele não te ama. Talvez o que você sinta por ele nem seja amor. Eu não acredito em amor, como você sabe, e tenho certeza de que seu sentimento por ele é de admiração.
— Eu também não sei se o amo, Mr. Naraku — volveu Kagura, entristecida. — Mas ele me desperta tantas coisas... Quando ele chega, eu me sinto tão... Sei lá.
— É porque ele é bonito, tem pegada e foi seu último cliente, junto comigo. E te estimulou a voltar a estudar. É admiração, Kagura. O fato é que você sempre foi muito solitária, por isso confunde os sentimentos.
— O senhor pensa assim?
— Penso. Não espere que ele vá mudar, querida. Por outro lado, abra os olhos para quem está ao seu redor. Tem um homem bom aí que poderá te fazer feliz e te ajudar a cuidar de Kanna.
— Homem bom? Quem?
— Ora, Byakuya deve estar louco para te ver. Por que você não quer conhecê-lo?
— Ah, Mr. Naraku, pare com essa brincadeira. Credo! — volveu Kagura, com desdém. — Ele... Ele é burro demais.
— O que conversamos sobre julgar as pessoas, mocinha? — ambos trocaram um olhar de reprimenda.
— Mr. Naraku, por favor, não comece a me tratar como se fosse o meu pai! — exclamou ela, logo baixando a cabeça, sem conseguir encará-lo. — Até porque, depois de tudo que aconteceu entre nós dois...
— Kagura — interrompeu-a ele, sério. — "Por favor" digo eu. Não se agarre tanto ao que já passou. Hoje somos amigos, não somos? Sinto-me no dever de aconselhá-la como se fosse seu pai mesmo, se é assim que você vê a situação.
— Mas você me conheceu quando eu ainda era...
— Ei! Hello! Stop, minha queridaaaa! — e, subitamente, o espanhol falseteou a voz e gesticulou com certo exagero. — Eu vou ficar o-fen-di-do se você continuar com esse mimimi. Imagine... Teve o pri-vi-lé-gio de degustar meu lindo corpinho e agora age como se tivesse transado com o Duque de Edimburgo, aquele maracujá de gaveta de 93 anos?! — Kagura começou a rir. — Ei, amiga, eeeeei! Eu posso não ser a Beyoncé, mas sou uma DIVA! Entendeu?!
— Mr. Naraku, pare, eu já entendi! — exclamou ela, gargalhando.
— Nããão. Não entendeu! Olha, que-ri-da, metade do Reino Unido está querendo um pedacinho da diva aqui — prosseguiu ele, interpretando com propriedade o papel estereotipado de um gay. — Os outros caras com quem você fez seus programas podem ser mais ricos ou mais influentes, como Sesshoumaru, que tem sangue real nas veias e uma banana maior do que a minha... Mas eu sou ma-ra-vi-lho-sa!
O homem se pôs de pé, dizendo teatralmente:
— E que as inimigas fiquem cegas com o brilho do meu gloss!
A campainha voltou a tocar, insistentemente. Kagura mal se aguentava de pé devido às gargalhadas. Naraku agora ria muito, também; esse era o tipo de pilhéria que ele fazia apenas com os mais íntimos.
— Deixe que eu vou lá, Kagura. Enquanto isso prepare uma roupa bem fashion para eu ir trabalhar hoje... Como já te disse, é por sua causa que eu arraso naquele Instituto, minha personal stylist fa-vo-ri-ta! — exclamou ele, dando um tapinha no ombro da secretária.
— S-s-sim, Mr. Naraku, eu já vou... — ofegou ela, ainda rindo muito. Aquele seu patrão era louco.
Minutos depois, John Sesshoumaru e Byakuya Mangjul, seu motorista, adentravam a residência. O loiro estava pronto para ir ao Instituto e ralhou com o amigo, que nem havia se banhado ainda.
Sesshoumaru estava com um terno verde escuro, gravata grafite e sapatos pretos. Penteara seus cabelos loiros para a esquerda e, propositadamente, não se barbeara, criando um visual elegante e despojado. Apesar da beleza, ele estava com um péssimo humor.
— Naraku, sua bicha boqueteira, nem para se arrumar na hora certa... Agora vai ficar mais de meia hora se maquiando e nós vamos chegar atrasados. E por que Kagura não foi me receber?
— Estávamos resolvendo coisas de mulher — respondeu o dono da casa. — E põe a cara no sol, ceguinho. Eu não demoro tanto assim, você sabe disso. Minha pele é linda, não preciso me maquiar por tanto tempo.
Naraku se aproximou de Byakuya, que corou instantaneamente.
— E você, garotão? — indagou ele, afetado, para fazer o outro se descontrair. — Uau, que luxo essa camisa! Onde você comprou, tinha para homens?
— O... O que o senhor quis dizer, Mr. Naraku? — volveu o outro, aturdido.
— Não ligue para esse arrombado, Byakuya — retrucou Sesshoumaru. — Já vai começar com a viadagem, Octavio?!
– Agora, vai. VOCÊ chegou...
— Vete en culo.
O motorista, tímido, olhava discretamente para todos os lados querendo ver a secretária do espanhol. Os dois amigos discutiam e logo Sesshoumaru seguia Naraku para dentro do quarto.
Byakuya se aproximou da coleção de livros exposta na estante do psicanalista e os observava quando Kagura voltava para dentro da sala, sendo surpreendida pela presença dele ali.
— B-boa tarde, Miss Thompson — disse o motorista dos Ferguson.
Byakuya era um rapaz não muito alto, de pele clara e lábios naturalmente rosados. Seus cabelos negros estavam sempre presos num rabo-de-cavalo alto; seus olhos orientais denotavam sua origem asiática (ele era filho de coreanos, mas nascido em território britânico). E, naquele momento, sua face um tanto vermelha denunciava sua timidez mesclada a euforia por vislumbrar a mulher por quem estava apaixonado.
— Mr. Mangjul... — respondeu ela, sem jeito. — Boa tarde. Se quiser se sentar, fique à vontade. Vou lhe trazer o chá.
— Oh, não é preciso.
O motorista estendeu a mão e segurou firmemente, porém com delicadeza, o braço de Kagura. Os olhos da moça cresceram nas órbitas quando viu o funcionário de Sesshoumaru se aproximando lentamente dela, encarando-a. Algo em seu interior palpitou ao devolver o olhar para ele. Cativa, ela não conseguiu se esquivar.
— Não é preciso me trazer chá, Miss Thompson.
— Ah... — ela corou vivamente. — O que quer, então?
— Quero lhe declarar um poema — e ele pigarreou, empertigando-se. — Como disse aquele famoso diretor de cinema de Hollywood, “seja meu livro então minha eloquência, arauto mudo do que diz meu peito, que implora amor e busca recompensa”.
— Oh... Lindas frases — admitiu Kagura, com um meio sorriso. — Mas quem é esse diretor de cinema de Hollywood?
— Aquele carinha da Índia, Miss Thompson. Adolf Gandhi — afirmou o jovem, olhando para cima, com dúvidas. — Não... Perdão, errei. É Mahatma Laden... Não, esse é o carinha que liderou os nazistas na Segunda Guerra, desculpe-me. Oh, lembrei-me... Seu nome é Osama Bin Hitler.
Byakuya tomou um empurrão de uma Kagura furiosa, que saiu pisando duro para a cozinha. Ela conhecia tais versos: eram de Shakespeare.
— Ei, Miss Thompson, volte, por favor! — chamou Byakuya, preocupado.
— SAIA DE PERTO DE MIM, SUA MULA ACÉFALA!
***
O cômodo onde o psicanalista dormia era razoavelmente pequeno, porém aconchegante; suas paredes, cheias de nichos com livros e cadernos organizados por tamanho, foram pintadas com tinta cor de areia. A cama de casal enorme estava ligeiramente desarrumada; havia uma mesa de canto com um notebook sob a janela de vidro com cortinas brancas que tinha vista para o jardim. Naraku Octavio também instalara um filtro no quarto, dado o seu costume de beber água o tempo inteiro.
Dentro do quarto do espanhol, John Sesshoumaru se largou sobre a cadeira giratória. Olhava indignado para o borrão de cores que se movimentava para lá e para cá no quarto, que era seu amigo que jogava longe as próprias roupas e seguia despido para o banheiro do cômodo.
— Eu não posso acreditar. Meu pai achou uma índia brasileira num abrigo e deu de levar a bagger[1] para dentro de casa — resmungou ele. A voz do espanhol soou em meio ao som da água do chuveiro:
— ¡Qué chorrada![2] Você é um cego idiota mesmo, John. Aquela garota Rin é um prato cheio para revistas de moda, propagandas de comercial de dentifrício...
— E o que tem a ver o c* com as calças?
— Ela pode ser qualquer outra coisa, menos uma bagger. Moreninha pibón[3], aquela.
O loiro revirou os olhos.
— Ela é uma anã, isso sim. Não sei onde você viu graça nela.
— Não sou eu que tenho apenas 30 por cento de visão, tapado.
— O nariz daquela garota é nariz de... Nariz de latino! Largo! Enorme!
— O que você queria, seu demente? Ela é descendente de indígenas. Não poderia ter um nariz como o nosso. E não, não tem nada de enorme.
— Então você já se informou sobre a raça daquela criatura...
O banho terminou e o espanhol veio se enxugando. Sesshoumaru olhava fixamente para a ponta de seu sapato.
— Etnia, burro. E, sim, enquanto você ficou igual a um viadinho f***** emburrado no quarto, eu estava conhecendo a moreninha delícia. Rin é órfã, filha de um ñandeva legítimo e uma branca, tem dezoito aninhos, gosta de chocolate, curte roupas em tom pastel e é virgem.
Algo nas palavras de Naraku não agradou a Sesshoumaru, que bateu o pé impaciente sobre o tapete.
— Nem sei para que se deu ao trabalho de saber essas coisas, aquela desgraçada não vai continuar aqui. Eu mesmo vou mandá-la de volta para a terra dos macacos.
— Ah, mas não vai mesmo! — riu o moreno, provocante. — Não antes que EU a pegue de jeito. Que bundinha maravilhosa, Mr. Magoo! E é virgem, já imaginou? Acho que nunca comi uma virgem.
— Poupe meus ouvidos dessa putaria, paspalho — rosnou o loiro, encarando o amigo. — Já disse que não quero saber de nada sobre ela... E você é um viado!
O psicanalista, contudo, estava a fim de provocar Sesshoumaru.
— Isso tudo só porque ela te derrubou, é? — riu Naraku, vendo as feições do outro endurecerem. — Olhe, John, ela estava usando um sutiã desses de tecido... Dava para ver os contornos dos bicos dos peitinhos dela. Pena que você, além de cegueta, é preconceituoso. Poderia ter saboreado a indiazinha naquele mesmo dia.
— Eu não... — começou a protestar o loiro, mas foi interrompido. O espanhol estava praticamente pronto; penteava seus cabelos cacheados, atento às reações do amigo.
Ao contrário de Sesshoumaru, que optava sempre por ternos refinados que lhe davam aparência sempre formal, Naraku preferia a moda alternativa. Ele se vestiu com calças de cor creme, um camisete branco e um extravagante lenço marsala de seda, com motivos brancos abstratos, sob as golas. Apesar de espalhafatoso, seu visual não era desagradável.
— Tanto melhor, eu fico com ela. Nós nos demos muito bem, se quer saber, e Iza delegou a mim a tarefa de levá-la ao shopping amanhã para comprar algumas roupas, Rin só tem duas camisetas escolares e aquela calça velha. Ela também precisa aprender a falar, pelo menos, em espanhol, e eu me ofereci para ensinar-lhe a língua. O seu pai concordou e...
— Já disse que não quero saber — retrucou Sesshoumaru, ainda mais irritado. — Não quero saber de p**** nenhuma.
— Ela deve ficar linda com um tomara-que-caia branco! Aí é só dar uma repicada no cabelo e na franja, colocar uns acessórios bem coloridos e um salto médio para combinar — afirmou ele, ignorando o amigo e se maquiando. — Uma voltinha de carro por Londres, uma ida a uma sorveteria, que é o que essas mocinhas curtem, e eu a traria para casa. Sou capaz de transar com ela a noite tod-
— P*** QUE PARIU, NARAKU! EU NÃO QUERO SABER! — explodiu o loiro, furioso. Naraku se virou para ver Sesshoumaru, surpreso, com um aplicador de pó facial na mão.
— Mas o que é que deu em você, Sesshoumaru?
— Já está pronto? Estamos mais do que atrasados!
— São cinco horas e trinta e dois minutos. Não estamos atrasados.
O loiro revirou os olhos, se levantando da cadeira.
— Eu mereço... O que mais falta, seu merda? Pelo que percebo, você já está vestido!
— Vestido, porém descalço, cabrón[4]. Falando nisso, qual será o tamanho do pezinho de Rin? Ela deve ficar muy guapa[5] com um scarpin.
Sesshoumaru trincou os dentes, enquanto o amigo calçava seus sapatos sem a mínima pressa.
— Você é um filho da p*** mesmo, Octavio. Mas... Tinha que ser. Um viado hispânico com cérebro de tordo... Claro que vai cismar que virou homem para tentar comer a índia.
— Tentar, não. Vou devorar a chica pibón, milorde. Ela vai ter uma primeira vez maravilhosa comigo.
— Você é podre. Vai abusar de uma virgem!
— ABUSAR?! Não, claro que não. Nunca abusaria dela! — devolveu o outro, sem entender o amigo. — Existe uma coisa que você faz bem mais do que eu que se chama sexo casual, lordezinho. Não é forçado. Por que você pode pegar qualquer uma e eu não posso pegar a Rin?
— Está vendo? Por isso que você é um merda, um nojento... Fez aquelas palhaçadas para conseguir a confiança da índia e...
— E você que fez de conta que era cego de verdade para poder transar com aquela secretária loirinha da escola da irmã de Kagura no mês passado, seu hipócrita?
— Isso é muito diferente!
— Não, não é diferente! Aliás... É diferente, porque não vou esconder de Rin minhas intenções.
— CHEGA DE FALAR DESSA RIN, NARAKU! — berrou ele.
Naraku se virou para Sesshoumaru, olhando confuso para ele. O loiro estava com o pior humor dos últimos dias e o moreno não conseguia identificar o real motivo da zanga.
— John, você parece estar incomodado com alguma coisa.
— Eu estou ótimo! — retrucou ele. — Já terminou com essa p**** de maquiagem?!
A dita maquiagem era um único traço de delineador preto, sombra bordô nas pálpebras e um batom nude quase imperceptível que servia mais para hidratar do que colorir os lábios finos do espanhol; o arranjo era discreto e não afeminava o rosto dele. Naraku Octavio era um homem extremamente vaidoso e muito bem resolvido para usar maquiagem sem se importar com ocasionais olhares de reprovação nas ruas ou mesmo dentro do local de trabalho.
— Sim, estou pronto. Pronto para divar!
— Dá um tempo com essa viadagem, filho da p***! Vire homem!
— Talvez eu seja mais homem que você, milorde. Pode ir saindo...
— Nunca será! O que é agora?
— Já ia me esquecendo de levar meus lenços de papel. Minha maquiagem pode borrar.
John Sesshoumaru, então, abandonou o recinto, andando devagar com seus olhos azuis muito abertos, irritado.
***
Ann Kikyou e Raymond Inuyasha seguiam de mãos dadas dentro do trem que os conduzia para a estação de Paddington. Ela viera cochilando durante boa parte do longo trajeto e agora alongava os braços para cima, sentindo dores nos ombros.
— Está tudo bem, mana? — indagou Inuyasha, observando a expressão facial de desconforto da irmã.
— Sim, estou bem. Só achei cansativa a vinda para cá.
Os dois desceram do trem e andaram por alguns minutos. O Instituto Craddock ficava a um quarteirão a leste da Abadia de Westminster. Conversavam algumas poucas trivialidades; os dois irmãos, ainda que não admitissem, estavam um pouco apreensivos. Kikyou, pesarosa, notou a simplicidade das roupas que ela e Inuyasha vestiam. Ela trajava uma blusa de mangas longas e uma saia de tweed, ao passo que seu irmão estava vestido com uma camisa social simples e calça social de lã fria, já com alguns meses de uso. E nem tão cedo poderiam comprar roupas novas.
Enfim, seja o que Deus quiser.
Logo, os irmãos Wright subiam as escadas que davam acesso à instituição; a jovem reparou que seu irmão parava a todo instante e olhava para trás.
— Vem, Raymond. Andy deve chegar em breve. O trânsito anda pesado...
— Raymond nãããão! — resmungou Inuyasha entre os dentes.
— Anda logo! Não podemos demorar aqui — retrucou Kikyou. — De qualquer maneira, só poderemos vê-lo depois do intervalo.
Os dois pararam diante da porta de vidro.
— O que foi, Inu? — indagou a jovem, vendo seu irmão apertar-lhe a mão com força.
— Ah... Nada não — afirmou ele, um pouco sem jeito. Não quis dizer a ela que estava ainda muito constrangido por vê-la pagar as duas especializações sozinha. — Tomara que tenha sorveteria aqui por perto.
— Inuyasha, mas será possível que você só pensa em comer? — ralhou Kikyou. — Meu filho, pelo amor de Deus, gula é pecado! E você sabe muito d-
— Ei! Attendez-moi![6] — soou uma voz masculina atrás dos irmãos Wright. Eles olharam para trás e ficaram chocados com o que viram.
Já no patamar onde estavam, um homem alvo, alto e cabelos muito lisos presos em um coque se aproximava, com uma lata de refrigerante e um donut nas mãos. Contudo, o real motivo do sobressalto foi o fato de o recém-chegado estar vestido com um macacão florido, feminino, e usar uma pesada maquiagem, além de um crachá do Instituto pendurado no pescoço. Ele se aproximou velozmente dos dois, olhando diretamente para Ann Kikyou, que deu um passo para trás.
— Por acaso, a senhorita é a Mademoiselle Wright para quem eu telefonei hoje de manhã?
— Ah... Err... Eu não sei, eu...
— Aiiiiiiiii! A voz é a mesma! — esganiçou-se o andrógino rapaz. — A aluna que me chamou de Lefaurent! — gargalhou. — Eu queria MUITO conhecê-la! Sua LINDA!
E se virou para Raymond Inuyasha, vivamente interessado.
— Você deve ser Raymond Wright...
— Keh! — retrucou o rapaz, incomodado. — Por favor, não me chame de Raymond, senhor... Ah...
E o francês os abraçou fortemente, fazendo-os pular de susto.
— Eu sou Jakotsu Laurent Lefevre, prezado Monsieur Wright! E é um PRAZER ter você aqui comigo, boy magia! — e, teatralmente, saltou para a frente dos dois, indicando o Instituto com as mãos num gesto efusivo. — Sejam bem-vindos, mes chers amis[7]!
***
1 — Bagger: baranga, em inglês. Sesshoumaru está mesmo ficando cego! ¬_¬
2 — Qué chorrada: Que absurdo, em espanhol.
3 — Pibón: sexy, gostosa, em espanhol.
4 — Cabrón: Desgraçado, no espanhol da Espanha. O significado varia de país para país.
5 — Muy guapa: muito bonita, em espanhol.
6 — Attendez-moi: Esperem por mim, em francês.
7 — Mes chers amis: Meus queridos amigos, em francês.
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