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História Never Saw It Coming - Hard Feelings


Escrita por: glasshearts

Notas do Autor


Olá! Depois de um episódio frustrante com esse capítulo, eu consegui reescrevê-lo. Aliás, achei até que ficou melhor assim. O estresse valeu a pena, haha. Estou com várias ideias e já escrevendo o próximo capítulo. Deus ajude que eu continue assim. Tentarei não me render a essa constante vontade de desistir da fic. Obrigada por você ter tido a paciência com meus atrasos e ter chegado até aqui. Boa leitura.

Capítulo 18 - Hard Feelings


Fanfic / Fanfiction Never Saw It Coming - Hard Feelings


Quando passei a pegar as fotos da parede, ouvi o barulho da porta tentando ser aberta. Quase dei um grito de susto, mas me contive. Arranquei as fotos, com raiva, algumas saíram rasgadas e deixaram resíduos na parede. Tirei os resíduos, também, e me abaixei para pegar as fotos do chão, que, em sua maioria, estavam debaixo das mesas.
Eu estava prestes a recolher todas, até que ouvi o barulho estrondoso da mesa sendo arrastada, junto com a porta. Reuni todas as fotos em um bolo de papel e amassei. Eu me virei e percebi que dois garotos estavam me observando de maneira estranha, e um deles ria de mim.
- Parece que temos uma nova funcionária da limpeza. – um deles comentou e o outro, que já estava rindo, deu uma gargalhada alta e estranha.
- Acho que ela usou o intervalo do lanche para trabalhar e evitar que as pessoas vissem. – o outro garoto disse, entre risos.
Eles saíram e foram para os seus lugares. Eu apenas respirei fundo, e fui correndo até a lata de lixo, joguei fora o bolo de papel e me sentei em meu lugar de sempre. Passei as mãos em meu rosto, na tentativa de assegurar que não havia mais lágrimas escorrendo por ele. Fechei os olhos e fui inspirando e expirando o ar, lentamente, para me recuperar da “corrida” que fiz.
Repentinamente, sinto alguém me cutucar, e eu me assustei com aquele simples toque. Ainda estava tentando me recuperar de todo o ocorrido, e ser pega de surpresa assim não era tão fácil. Eu me virei para ver quem era, e me surpreendi ao perceber que eu não conhecia aquela pessoa.
Era uma garota de cabelo curto, castanho-claro, tão pequena quanto eu, e tão pálida quanto eu – bem, talvez um pouco menos, e tinha olhos azuis bem chamativos. Tentei remetê-la a alguma lembrança, mas não consegui nada. Nem ao menos me lembrava de que ela fazia parte da minha turma.
- Acho que isso aqui é seu.
Ela me mostrou um papel, e quando eu vi detalhadamente o que era, notei que se tratava de uma das fotos. Eu não soube muito como reagir. Fiquei olhando para a foto, sem nem me mexer, ou piscar os olhos. Vendo que eu estava atônita, a garota disse:
- Não tem problema, não é lá o fim do mundo. Estamos cansadas de saber e, principalmente, ver que ele é mesmo um gato. Só tome mais cuidado, imagina se isso cai nas mãos da Mrs. Wood. – ela deu uma risadinha.
- Eu... Não sei como isso foi parar por aí.
- Estava lá no fundo, debaixo de uma mesa. Talvez você tenha deixado cair e o vento levou para lá. Pegue.
Ela me entregou a foto e eu a coloquei dentro da mochila.
- Bem, eu não sei nem como agradecer por você ter me devolvido...
- Eu até sei... Mas deixa pra lá.
- Então, pode falar. Aliás, qual é o seu nome?
- Emma. E eu iria pedir para você falar com o professor para me dar uma ajudinha no trabalho de História. Eu odeio falar em público, e se ele pudesse considerar só a parte escrita do trabalho... Seria ótimo.
- Sério mesmo?
- Não, estou só brincando. - ela riu. - Mas não vou recusar se você pedir a ele.
- Ah... Okay.
- Legal. Só para constar, diga a ele que meu nome completo é Emma Claire Byrnes. Para ele não errar, sabe.
- Tudo bem... Só queria te pedir para não contar sobre isso a ninguém.
- Por que eu faria isso? Odeio fofocas. E com isso, você seria tachada de vadia, interesseira, essas coisas. A culpa seria minha, e eu não quero carregar essa culpa logo no último ano do ensino médio. Então, fique tranquila.
- Muito obrigada, viu... E para ser sincera, Emma, eu não me lembrava que você era dessa turma.
Emma deu uma risadinha e se sentou na cadeira ao lado.
- Não acho que muitas pessoas lembrem. Não costumo chegar atrasada nas aulas, nem arranjar brigas com certas loiras problemáticas. Então, meio que passo despercebida.
- Ei, isso foi uma indireta?
Ela deu de ombros e sorriu.
- Entenda como quiser.
- Eu não chamo atenção... Nem faço nada nas aulas, como poderia?
- Acho que você se destaca pelas confusões em que se envolve. Eu estava lá, no dia que brigou com a Tracy. Olha, preciso te agradecer por isso. Eu sempre quis bater nela e arrancar aqueles cabelos loiros sebosos.
- De nada, eu acho. - eu sorri, meio sem jeito. - Nunca fiz nada para isso, mas parece que ela me odeia.
- Tracy odeia toda garota que não seja ela. Sempre foi assim. Você é como um brinquedinho novo.
- E ela já fez algo para você?
- Ela derrubou minha comida uma vez, jogou a bola em meu rosto de propósito no baleado... Essas coisas. Não é nada que Tracy não tenha feito antes.
- Eu me pergunto como ela não recebeu nenhuma advertência ou suspensão.
- Resposta simples: ela é filha do professor de Matemática, o Mrs. Stewart. Ele é o professor mais antigo daqui, e a diretora tem medo de perdê-lo. Assim, ela "perdoa" a Tracy por tudo que ela faz, para não dar motivos ao professor de ficar com raiva dela.
- Isso é ridículo. Não é assim que as coisas funcionam.
- Bem-vinda ao mundo real, Alexandria.  Mas eu tive o prazer de ver, pela primeira vez, Tracy Stewart indo para a detenção. Então, preciso te agradecer por isso, também. Desde que você passou a fazer parte da nossa turma, ela tem perdido seu trono, mesmo que lentamente.
- Então podemos considerar como uma grande conquista.
- Com certeza. - ela olhou para os lados e avistou Tracy, que estava sentada no colo de um garoto o qual eu nem sabia o nome. - Você bem que poderia fazer esse favor para a gente de novo, né?
- Lembre-se, Emma, quando ela foi para a detenção, eu também fui. Não quero me envolver em problemas, ao menos por enquanto.
- OK, mas quando quiser se envolver em um... Não hesite em levá-la junto com você.
Subitamente, a porta se abre e detrás dela surge a diretora. Ela limpou a garganta e a turma fez silêncio imediatamente.
- Bom dia, queridos alunos. Venho em nome do Mr. Carlile. Ele teve alguns problemas pessoais, e chegará atrasado para a aula de hoje. Porém, o professor pediu que vocês lessem o texto e fizessem a atividade seguinte das páginas 120 a 124. Recomendo a vocês que façam, pois ele irá corrigir a atividade ainda hoje. Lembrando: páginas 120 a 124. Comportem-se.
Ela fechou a porta, e ainda foi possível ouvir seus passos fundos do lado de fora, marcados por suas sandálias de salto plataforma. Quando não conseguiram mais ouvi-los, a turma voltou a falar como antes.
Procurei pelo livro de Sociologia em minha mochila, mas tudo que achei foram os livros das aulas do dia anterior. Eu não havia mexido na minha mochila antes de ir para a escola.
- Ah, merda. - eu murmurei para mim mesma, mas aparentemente, Emma ouviu. 
- Bem, posso fazer a atividade com você, já que está sem livro. Mas você precisa prometer que ajudará nas respostas.
- Seria ótimo. Prometer é uma palavra forte. Huh, eu posso tentar.
- Já é algo.
Emma se levantou e foi até sua mesa, que ficava no fundo da sala. Pegou o livro e o caderno, retornando logo em seguida. Ela pegou a cadeira e a colocou do lado da minha.
- Vamos lá, página 120... Achei. O quê? Direitos trabalhistas? Isso é um saco.
- Deve ser.
Ela começou a ler em voz relativamente alta, não para ler para a turma, mas para ela mesma se ouvir. Enquanto isso, eu fingia estar lendo algo, mas só estava olhando para a página, pensando em outra coisa. Minutos depois, ela pergunta:
- Posso passar a página?
- Ahn? Que página?
- A que acabamos de ler... Ou você não leu?
- Bem... Não necessariamente.
- Como assim? Achei que tivesse dito que tentaria ajudar.
- Eu não conseguiria ler tudo, mesmo que tentasse. Então... Prefiro nem começar.
- Como não consegue?
- Olha, eu prefiro não falar sobre isso, okay? Apenas passe a página.
- Tudo bem... Parece pessoal, não vou me meter. Ah, eu posso te fazer um resumo do texto, se quiser.
- Claro, seria bom. Hum, Emma, por que está sendo tão legal comigo?
- Parece surpreendente, mas ainda existem pessoas legais no mundo, sabe? E você parece ser uma boa pessoa, que merece ajuda.
- Que bom saber disso... Aliás, você está no lugar errado... Fica ali, rodeada por babacas, no fundo da sala. Ainda bem que não se contaminou.
- Eu só gosto de ficar lá para observar. Acho que conheço a personalidade de quase todo mundo aqui, só por olhar. Essa tem sido minha turma por anos, e sei bastante coisa de cada um. Como você é repetente, não sei muito de você, o que te torna a margem de erro das minhas estatísticas. Ah, e sua amiga também, claro.
- Não acho que seja possível saber muito de mim, mas você deve pensar que gosto de uma confusão.
- Sinceramente, não foi o que eu pensei no início... Você se senta na frente, então pensei que fosse nerd. Até te ver dormindo na maioria das aulas.
- Ah, não é bem assim... Meu maior problema é com Física.
- Quem consegue prestar atenção em algo que aquele professor fala, não é mesmo? Não te julgo.
- Ótimo. Acho que ele desistiu de mim, e nem se incomoda com o fato de eu dormir.
- Sorte sua. Ah, devo dizer que a atitude do Mr. Carlile com você é, no mínimo, suspeita. Mas não no sentido de imaginar que vocês tenham algo, e sim, de que ele simpatiza muito com você. E parece que ele não desgruda os olhos de você.
- Fica tão evidente assim?
- Para mim, sim, grande observadora que sou. - ela riu. - Relaxa, não é algo que as pessoas andam comentando por aí. E muitas vezes eu achei que ele só estava tentando te fazer prestar atenção nas aulas.
- Isso não funciona, só para constar.
- Imagino, mas até que as aulas dele não são ruins. Talvez seja porque eu tenha um probleminha com as matérias dele, que eu não presto muita atenção, também. Mas ele dá um jeito do conteúdo parecer um pouco mais interessante.
- Eu continuo achando tudo uma grande merda. - eu ri.
- Talvez ele mesmo possa te fazer mudar de ideia. - ela me deu uma piscadinha e eu fiquei um pouco sem graça.
Momento embaraçoso.
Logo, ela voltou a ler. Ao terminar, Emma me falou um pouco do que o texto abordava, entretanto, eu não prestei atenção no que ela dizia, e só ficava balançando a cabeça, como se estivesse confirmando algo.
Antes mesmo de ela terminar, o professor entra na sala, quase que correndo, e dá um bom dia bem tímido. Ele se sentou, colocou seu material sobre a mesa e suspirou.
- Bem, desculpem-me pelo atraso... A diretora avisou sobre a atividade, certo? Algum de vocês conseguiu fazer ao menos uma parte dela?
E o silêncio reinando em 3, 2, 1...
- OK, isso foi previsível. Espero que tenham lido o texto, no mínimo. No final da aula, eu chamarei três alunos para virem até a frente e fazerem um breve resumo do que leram. E quando digo "breve", realmente quero dizer que não vou aceitar relatos longos e cansativos. Quem se der bem, ganha pontos qualitativos para a próxima prova, que acontecerá na semana que vem. Irei fazer a chamada agora.
Austin pegou a caderneta e começou a chamar os nomes. Aaron, Abigail, Alexander... Quando chegou a minha vez, ele não me olhou, como costumava fazer. Apenas continuou, sem desgrudar os olhos do papel.
- Olha, com licença, vou me preparar para isso. Nunca se sabe quando se tem azar.
- Com certeza.
- Mas você não precisa se preocupar, certamente, não será escolhida.
- E que assim seja. - eu sorri.
Quando Austin acabou com a chamada, ele se debruçou no encosto de sua cadeira e ficou olhando para a porta da sala. Seu olhar parecia vazio. Provavelmente, estava pensando em algo. Ele parecia preocupado.
Apesar de eu ter observado todos seus movimentos, ele não percebeu que eu estava fazendo isso. Ou fingiu que não. Ele passou a olhar de um lado para outro, bateu a caneta na mesa, transparecendo apreensão. Talvez o dia tivesse começado ruim, tivesse um mau motivo para ter se atrasado. 
Passado um bom tempo, o professor escolheu três números e viu na chamada a quais alunos eles correspondiam. Eram duas garotas e um garoto. Este último, incrivelmente, era o Zachary.
As garotas se saíram bem, mas Austin não pareceu estar dando muita atenção a elas. Ele estava do mesmo jeito de antes, olhando para o nada, e agora, de braços cruzados. Acho que nunca tinha o visto assim antes, e isso me preocupava. Algo não parecia certo.
Na vez do Zachary, Austin demonstrou certo interesse. E não somente isso: no final do resumo dele - o qual já não tinha sido muito bom -, o professor fez algumas perguntas que deixaram o Zach sem jeito. Ele não sabia respondê-las, e falava qualquer coisa, muitas vezes, gaguejando. Parecia injusto, pois Austin não havia perguntado nada para as garotas. Era óbvio que ele não simpatizava muito com o garoto, principalmente, por minha causa. Fiquei com um pouco de pena dele, mas até que foi bom vê-lo passar por um sufoco.
Quando ele acabou e voltou para o seu lugar, a sala em peso começou a rir e fazer piadas dele, devido à vergonha que passou. O sino tocou, e subitamente, Austin se levantou, pegou suas coisas, e quando estava prestes a ir embora, ele disse:
- Uma coisa importante: quem não se saiu bem perderá pontos na prova. Só para deixar tudo na mesma proporção. Vejo vocês em breve.
Realmente, ele não parecia estar em seu melhor humor.
Fiquei pensando no que poderia tê-lo deixado desse jeito, mas nada me veio à cabeça. Resolvi procurá-lo, no fim da aula, para saber o que estava acontecendo.
Sentei-me em frente à sala dos professores, esperando que Austin saísse. Passou algum tempo, e apenas os professores de Biologia, Química e Literatura saíram. Olhei a hora no celular: estava quase no horário do almoço, ele deveria sair. Esperei mais. Saíram os professores de Geografia e Física, mas nenhum sinal dele. Levantei-me e me aproximei da janela da sala, mas não vi nada: era uma janela pequena. 
Bati na porta três vezes, mas ninguém ouviu. Eu entrei na sala, e não imaginava que ela fosse tão grande. Fui caminhando por lá, e enfim, pude avistá-lo lá no fundo, sentado diante de uma mesa, digitando algo em seu notebook.
Cheguei onde ele estava, mas Austin parecia tão concentrado que nem notou que era eu. Talvez tenha pensado que era alguma professora.
- Oi. - eu falei um pouco alto, para que chamasse sua atenção.
- Ei. - ele respondeu, olhando para mim rapidamente, mas logo voltou sua atenção ao que estava fazendo. - O que faz aqui?
- Vim tirar umas dúvidas sobre a atividade de hoje.
- Sério?
- Não. - eu ri. - Queria falar com você.
- Hum, querida, eu não estou num bom momento agora. Você pode me ligar mais tarde.
- Por quê?
- Estou tentando finalizar uma prova para a faculdade, e estou com dificuldade. Não é algo que acontece sempre. Até resolvi fazer isso aqui para me concentrar mais.
- Mas você está em horário de almoço.
- Eu pretendo pular o almoço.
- Pretendia. Agora você vai almoçar comigo.
- Eu queria muito, mas não posso. Preciso terminar isso hoje, ou não terei como aplicar a prova amanhã. Estou quase enlouquecendo aqui.
- Deixa isso pra mais tarde.
- E se eu não conseguir? E se não der tempo?
- Claro que consegue, seu bobo. O que é que você não consegue? Deixa de besteira. Afinal, quem é o professor mais gostoso, eficiente e inteligente dessa escola?
- Acho que é o professor de Química. Você já viu aquela barba? É meu sonho de consumo. - ele falou numa voz afeminada e balançou as mãos enquanto falava.
Eu ri e fechei o notebook, o que o fez protestar.
- Vamos logo ou não?
- Calma, senhorita. Não é bem assim.
Eu revirei os olhos e dei a volta na mesa, sentando-me no colo dele, de modo que eu ficasse de lado.
- Por que eu tenho de obedecer às suas ordens e você não obedece às minhas? Acho que se esqueceu de que atrapalhou meu sono, me fez tirar meu pijama e sair de casa só para falar com você.
Ele sorriu e passou a mão em meu rosto, dizendo:
- Você é mesmo teimosa, hein.
- Eu não aceito um não como resposta. Posso perder a tarde toda insistindo nisso, e você pode até perder o almoço, mas também não vai terminar essa prova.
- É mesmo? E como vai me impedir?
- Não me subestime, professor. - eu falei bem próximo à sua orelha, e dei um beijo em seu pescoço.
- Imagina, acredito no seu potencial. - ele sorriu. - Então, vamos logo. Você pode ir na frente, é melhor, pois corremos menos risco de nos verem saindo juntos.
- Olha só, quem está preocupado em quem pode nos ver agora. Você não pagaria para correr esse perigo. - eu ri e apertei as bochechas dele, me levantando logo em seguida.
Ele se levantou, também, me segurou pelo pulso e me puxou, dizendo:
- Odeio ser desafiado.
- Olha só, ele odeia ser desafiado. - eu fiz uma voz debochada e ele riu.
Austin olhou rapidamente pela janela e me puxou para um canto da sala, atrás de uma prateleira de livros.
- O que você tá fazendo? - eu dei uma risada um pouco alta, e ele cobriu minha boca com a sua mão.
Logo, ele me encostou à parede, colocando suas mãos em minha nuca e se inclinando para me beijar. 
Eu o segurei pela camisa e retribui o beijo. Mais uma vez, eu não tinha certeza do que eu estava fazendo e nem do lugar que estava fazendo, mas a ideia do proibido era algo que me animava um pouco.
E não era só eu quem estava animada ali, pois nós passamos a nos beijar de forma mais intensa, e quando eu menos percebi, Austin havia me pegado pelas pernas e as colocado em volta do seu quadril. Ele pressionou ainda mais o seu corpo sobre mim e abaixou uma das alças da minha blusa, passando os dedos em minha clavícula lentamente, indo em direção aos meus seios. Eu passei as mãos em suas costas, mas no momento que ele começou a beijar meu pescoço, eu já não respondia por mim. Cravei minhas unhas nas costas dele, e talvez só não tenha feito tanto estrago por ele estar usando uma jaqueta jeans.
Austin passou as mãos por dentro da minha blusa e procurou o fecho do sutiã na frente, e desta vez ele acertou. Contudo, eu não poderia deixá-lo fazer isso, não ali. Eu tentei segurar as mãos dele, mas como conter aquelas mãos enormes, que procuravam pelo fecho com tanta vontade quanto uma pessoa com sede vai ao pote? O pior de tudo foi que eu comecei a rir das minhas próprias tentativas falhas, enquanto ele ainda estava beijando meu pescoço.
- Austin, para com isso... - eu dizia, entre risos, mas ele conseguiu abrir o sutiã.
Ele puxou as alças do sutiã até o meu antebraço, e sem tirar a blusa, ele segurou e apertou meus seios com tanta força que até pensei que deixaria marcas. 
Com pressa, ele voltou a me beijar, e eu apoiei meus braços na parede, já me sentindo sem força para segurá-lo. Ele tirou as mãos dos meus seios e colocou-as de volta em meu pescoço.
De repente, Austin me puxa pelo cabelo, para de me beijar e sussurra:
- Você ouviu?
- Não... O quê? - eu falei em meu tom de voz normal, mas para ele, deve ter parecido alto, pois ele colocou a mão sobre minha boca.
- A porta sendo aberta.
Eu balancei a cabeça, negando, mas ele estava confiante de que tinha ouvido algo suspeito. Austin tirou a mão da minha boca e sussurrou:
- Fique aqui, eu vou se alguém entrou.
- Então você abre o meu sutiã, quase rasga minha blusa e vai embora assim?
Ele sorriu, me deu um selinho e saiu de trás da prateleira. Eu fechei o sutiã com um pouco de dificuldade, cruzei os braços e fiquei esperando algum sinal dele. 
Não muito tempo depois, eu ouvi uma voz feminina familiar. Demorei um pouco para reconhecê-la, mas consegui perceber que era a professora de Biologia. Atentei-me, então, para o que eles estavam conversando:
- ...Quando eu estava quase dando a partida no carro, eu me lembrei de que esqueci os meus livros de anatomia no meu armário. E o pior de tudo: eu deixei o armário aberto! Devo ter pensado que peguei os livros, contudo, devo ter me distraído com algo e não fiz isso.
- Ah, essas coisas acontecem. Certa vez, esqueci meu notebook aqui, na sala dos professores. Mas eu já estava a dois quarteirões daqui, e eu precisava ir para casa colocar a ração dos meus gatos.
- Claro, nossos pets são prioridades! - a professora riu, e eu descobri que ela tem uma risada muito esquisita. - Inclusive, necessito ir para casa ver meus bichinhos. Até logo, Carlile.
- Até logo.
A sala ficou em silêncio por um tempo, até que Austin se aproxima e começa a rir.
- Essa já é a segunda vez na semana que ela esquece alguma coisa aqui.
- Não acredito que você consiga ser tão cara de pau assim.
- São anos de experiência, gatinha. - ele me beijou rapidamente, e eu o afastei.
- Nós fomos quase pegos hoje pela segunda vez, e você aí, rindo. Eu não sei por que me rendo a essas suas ideias loucas.
- Segunda vez? Quando foi a primeira?
Eu não tinha me tocado que eu não havia contado nada sobre o episódio das fotos. Hesitei em contar naquele momento, então, eu apenas disse:
- Vamos almoçar logo.
- Alexandria.
- O quê?
- Está me escondendo alguma coisa.
- Eu te conto quando estivermos no restaurante.
- Espera.
Austin colocou as mãos por dentro da minha blusa e tentou alcançar o meu sutiã. Eu consegui impedi-lo dessa vez, e perguntei, rindo:
- Que merda é essa?
- Só estou tentando fechar o que eu abri.
- Não precisa, espertão, eu já fiz isso. - puxei os braços dele para baixo e ele começou a rir também.
- Desculpa. Eu vou arrumar as minhas coisas.
- Não tem problema se você esquecer o notebook hoje, pois não terá que dar comida aos gatos. 
- Não mesmo, até porque hoje vou comer "com a gata".
- Ah, não. Isso foi ridículo. - eu revirei os olhos e o empurrei. - Eu vou embora.
Ele riu bem alto e colocou as mãos sobre o próprio rosto.
- Desculpa, eu precisava falar isso.
Eu ajeitei minha blusa, saí de trás da prateleira e falei: 
- Só não desistirei do almoço porque estou com muita fome. Vou na frente, me encontre no lugar de sempre.


Eu fiquei esperando por ele, mas demorou tanto que eu me sentei na calçada. Quando eu peguei meu celular para ver as horas, vi o carro dele se aproximar. Levantei-me e exclamei:
- Finalmente, eu estava quase indo pra casa!
- Fala um pouco mais alto, o pessoal do fim da rua ainda não ouviu.
Eu apenas ignorei seu comentário e entrei no carro.
- Aonde nós vamos?
- Você faz um escândalo para irmos almoçar e ainda não escolheu o lugar?
- Ah, você conhece mais lugares do que eu.
- Correto, mas agora eu não...
- Só escolhe logo ou meu estômago vai sumir de tanta fome.
- Calma, meu docinho, coisa mais fofa e carinhosa do mundo, eu já tenho um lugar em mente. 
- Assim que eu gosto. - eu apertei a bochecha dele e ele deu a partida no carro.

Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas parecia uma rua agradável, e o restaurante também: espaçoso, silencioso, confortável. Austin pegou a minha mão e me conduziu a uma mesa no fundo do restaurante, o que seria favorável para nós conversarmos.
Depois de fazermos nossos pedidos, ele perguntou:
- O que você queria falar?
- Bem, primeiro eu queria saber como você está.
- O quê? - ele riu. - Você poderia ter me perguntado isso lá mesmo, não precisava ter me interrompido e me feito vir aqui.
- Não, Austin, não falo no sentido de "oi, tudo bem". Eu vi como você estava na aula hoje, e pra ser sincera, eu nunca tinha te visto assim. Estava distante, pensativo demais, preocupado, desatento. Você adora falar em suas aulas até o horário delas terminar, e hoje você fez algo que eu nunca vi. Sei que aconteceu alguma coisa pra te deixar assim, afinal, você não se atrasou à toa, não é? E te ver desse jeito me deixou mal, também. Não faz sentido, ao menos pra mim, ver você triste. Você é o equilíbrio da relação, porque de mentalmente fodida já basta eu, e eu não posso permitir que você tome esse papel. Então eu preciso saber o que houve, ou eu vou perder mais uma noite de sono por isso. Posso tentar te ajudar, mas eu sou uma péssima conselheira. Talvez você não vá me ouvir, pois as coisas que eu falo não fazem muito sentido, mas eu tenho que ser pra você o que você é pra mim. Bem, isso é meio impossível, porque você é você e eu sou apenas uma garota que nem consegue se expressar direito sem parecer estúpida. Então... O que está acontecendo?
Ele deu aquela risadinha, e apoiou os cotovelos na mesa, apoiando, também, as mãos no próprio rosto.
- Você não parece estúpida, ok? Eu achei muito fofo.
- Eu vou parecer muito estressada quando eu te encher o saco até você contar.
- Ah, por que você sempre estraga esses momentos?
- Esse é o meu melhor talento. Pode começar.
- São problemas de família, sabe?
- Não sei, não. Nós nunca falamos sobre sua família, eu não sei nada sobre isso.
- Eu sei, mas nunca tivemos a oportunidade de falar.
- Sem problema, pois agora temos.
- Tudo bem, Alexandria. É o meu pai.
- Ora, ora, parece que temos algo em comum.
- Estou falando sério, amor. Mas ele não é um louco sem coração como o seu, ele só não mora mais no país.
- Estamos disputando quem é o pior pai aqui?
- Oh, céus. - ele riu. - Assim eu não conseguirei contar.
- OK, eu não irei interromper mais.
- Que bom. Então... Há onze anos, ele se mudou do estado onde morávamos, a Flórida, e me mandou para cá. Digamos que ele teve um motivo para isso... A minha mãe faleceu devido à leucemia, e nós ficamos muito abalados, é claro. Não conseguiríamos viver na nossa casa sem a presença dela. Tudo naquele lugar nos lembrava ela e o que vivemos juntos. Sabe, o meu pai não consegue lidar muito bem com dor e perda. O meu avô faleceu de uma forma muito brusca, quando meu pai tinha 23 anos, e desde então, ele ficou traumatizado. Perder a minha mãe foi difícil, e acho que eu herdei isso do meu pai... Ainda sinto falta dela e me sinto decepcionado por não poder ajudá-la e curá-la. - ele fez uma pausa, pois sua voz começou a ficar trêmula, e seus olhos lacrimejavam. - Foi um pesadelo para mim. Eu quis acabar com a minha vida, quis ir embora no lugar dela. Nada mais fazia sentido para mim, entende? Eu estava no fim do colegial e eu quis desistir. Tive que passar por um acompanhamento psicológico, para superar o trauma. Demorou bastante, mas consegui aceitar um pouco... Eu não diria "superar". Então, decidimos deixar tudo para trás, tentar começar de novo. Contudo, ele quis se mudar para a Costa Rica, e eu não podia aceitar isso, já que eu tinha minhas pretensões de estudo aqui nos Estados Unidos. Ele foi sozinho e eu vim para cá, cursar História. Foi uma experiência e tanto, eu nunca tinha saído da Flórida, e vir sozinho para um lugar estranho e enorme como LA foi difícil. Mas o problema não é esse... Eu não poderia me sustentar sozinho, então, meu pai fez isso por mim. Apesar de eu ter arranjado um trabalho simples numa loja de roupas, não era o suficiente, os custos com a faculdade eram absurdos. Bem, dinheiro nunca faltou ao meu pai, afinal, o meu avô era dono de uma grande empresa, que ficou como herança para o meu pai. Ele sempre me ajudou em absolutamente todos os problemas e situações da minha vida em que eu não conseguiria sozinho. Eu devo muito a ele, eu sei disso.
- Então, o que há de mal com ele? Pois ele me parece uma boa pessoa.
- Sim, ele é. Entretanto, não foi o que pareceu hoje de manhã. Ele me ligou logo quando acordei. Estava em êxtase, disse que tinha uma ótima notícia para me dar. Ele disse que vai se casar. Sobretudo, essa mulher já tem dois filhos com outro cara, e tem uma filha de cinco anos com o meu pai. Sim, foi um caso de uma noite que a gerou, mas acabou virando algo sério, e olha no que deu agora. Mas o pior está por vir: o meu pai quer que eu vá para a cerimônia, e depois, fique por lá.
- Ficar? Por quantos dias?
- Pelo resto da minha vida, Alexandria. Ele quer que eu more com sua "nova" família.
- Puta merda.
Acho que foi a minha única reação possível. Primeiro: era muita informação para digerir. Eu não imaginava que ele havia perdido a mãe. Não conseguiria imaginar que nada disso pudesse acontecer.
- Eu não sei o que deu na cabeça dele para pensar isso. Talvez esteja me cobrando por tudo que fez por mim... Mas isso é injusto.
- Você não pode simplesmente... Não ir? Você é adulto, cuida da sua própria vida...
- Teoricamente. Para falar a verdade, ele ainda me ajuda. O meu custo de vida é alto, você deve imaginar, quando se vive num condomínio como o meu. Os salários que recebo das escolas são medianos, e o da faculdade é até melhor, mas não o suficiente. O dinheiro que ele me manda ajuda em muitas coisas. O meu carro, por exemplo. Ainda estou pagando. É complicado, Alex. O meu pai disse que promete acabar com essa "ajuda" se eu não for. É como se eu tivesse que retribuir. Isso é um absurdo, eu não posso largar tudo que conquistei aqui, só para satisfazer a vontade dele.
- Foda-se o dinheiro dele, Austin, você não precisa se render a isso. Caramba, é a sua vida, você pode se dar bem sozinho. O dinheiro pode até ajudar, sim, mas e se você fizer um esforço para tornar essa grana desnecessária? Cortar gastos ali ou aqui, não sei, dar mais aulas, pedir emprego em outros lugares, ou até mesmo vender seu apartamento e comprar um mais barato. Inclusive, recomendaria comprar um mais perto da minha casa. Você só não pode aceitar isso e viver como se fosse dependente do seu pai.
Ele ficou me observando, como se estivesse surpreso. Bem, isso é o que acontece quando não se mede o que se diz. Contudo, não me arrependo. Austin respirou fundo e passou as mãos no cabelo.
- Você tinha cogitado ir embora? - eu perguntei, com medo da resposta.
- Não.
- E você planejava me contar sobre isso?
- Não, mas eu...
- O que você iria fazer?
- Tentaria conversar com ele de novo. Eu não irei me render a isso, Alex, e ele sabe disso. Mas fará questão de insistir até que eu pare de resistir e aceite. Eu te asseguro que nada acontecerá, eu não irei morar fora do país tão cedo. Não é o dinheiro que me move. Aqui, eu tenho minha profissão, meu apartamento, meus amigos, e agora, principalmente, eu tenho você. Quais motivos me fariam desistir disso?
- Eu não sei... Só de pensar na possibilidade, eu fico com uma sensação estranha no estômago. Não quero que vá embora. E não posso deixar isso acontecer.
- Não se preocupe. Eu estava pensando em ir conversar com ele pessoalmente.
- Por quê? Para ele queimar seu passaporte e você nunca mais poder sair de lá?!
- O quê? - Austin riu. - Pelo que eu o conheço, uma conversa olho no olho pode mudar tudo. E, bem... Ele não sabe de você ainda. Eu queria contá-lo dessa maneira. Seria ótimo se você pudesse ir comigo, mas é impossível, eu sei.
- Demais. Eu não tenho um passaporte e minha mãe não concordaria em fazer um, ainda mais se eu não disser o motivo. Mas tudo bem. Posso ligar para ele, fazer uma chamada de vídeo ou sei lá. Vai saber que eu existo do mesmo jeito.
- Não é a mesma coisa, mas deve servir.
- Vai dar certo. Provavelmente, quando ele perceber que sou um péssimo motivo para você ficar, ele vai me odiar.
- Eu não me importo com o que ele achar de você, não preciso da aprovação dele. E você é o melhor motivo, pode parar com esse senso autodepreciativo, eu não gosto disso.
- Está me pedindo algo impossível, querido.
- Eu pensava que era impossível ter você como minha namorada, e olha onde estamos. Não irei desistir de te fazer perceber que você é boa o bastante. Isso pode levar a minha vida inteira, mas não me importo com o tempo.
- Duvido que você me aguente pela sua vida inteira. Mas já que você disse... Terá que aguentar.
- Não seria nenhum sacrifício.
- Bom. Precisarei de algum contato na Costa Rica, para ficar te vigiando. Se eu, por um acaso, soubesse de um envolvimento seu com uma costarriquenha, eu cortaria fora seus órgãos genitais.
- Ainda bem que eu te amo tanto que nunca faria isso. E ainda bem que eu prezo pelos meus órgãos genitais, eles são muito importantes para mim. Não faria nada para prejudicá-los.
- Assim espero. Não seria nada legal pra você ver seus "órgãos importantes" servindo de brinquedos para seus gatos.
- Meu Deus, de onde você tira essas ideias? Eu deveria suspeitar que você fosse sádica.
- Se eu não posso ter, ninguém pode. - eu ri e ele revirou os olhos.
- Bem, deixando de lado viagens para fora do país e sadomasoquismo... Tenho quase certeza de que você queria contar algo, minutos antes de irmos embora da escola.
- Ah, você e sua maldita boa memória. Sim, eu queria. Mas, antes, preciso ir ao banheiro.
- Imagino que não seja nem um pouco de propósito.
- Eu juro que não. Volto já.
Levantei-me e tentei localizar o banheiro. Consegui avistá-lo do outro lado do restaurante, e fui até lá rapidamente. Obviamente, eu não queria fazer nada lá, além de tomar um tempo para pensar em como contar sobre o ocorrido anteriormente, e, principalmente, sobre a garota que viu a foto. 
Eu apoiei minhas mãos na pia do banheiro, olhei para meu reflexo no espelho e não me senti muito agradada com o que vi. Meu rosto não estava mais inchado nem nada, mas parecia estranho. Deve ter sido a péssima noite de sono que eu tive...
Arrumei um pouco meu cabelo, lavei o rosto e as mãos. Após pegar alguns papéis para me enxugar e tê-los passado em meu rosto, eu vi uma reflexão no espelho que me assustou. Não, não era a minha. Era a de uma criatura loira e antipática que eu conhecia bem. Ela estava, agora, encostada à porta de um dos toaletes e me encarava profundamente.
- Que merda você tá fazendo aqui, garota? - eu perguntei, jogando os papéis no lixo.
- Eu não seria tão mal educada com alguém que só veio te dar um recado pacificamente.
- Oh, Tracy, você e paz são duas coisas que nunca poderiam combinar. O que é isso, você estava me seguindo? O que quer comigo?
- O mundo não gira em torno de você, queridinha. Não, eu não estava te seguindo. Vim em nome de uma pessoa que você conhece bem.
- E quem seria?
- Não precisa bancar a tonta, Alexandria. Se bem que você é tonta naturalmente. Então... Só tente não ser tão você agora.
- Para de falar asneira e diz logo o que você quer antes que eu saia daqui.
- Chris está esperando você lá fora. Não demore muito com o gostosão, ou Chris perderá a paciência e virá atrás de você, pegá-la à força. Apenas almoce rapidamente e saia. Não diga nada. E se precisar dizer, invente. Diga que precisa ir embora. Mas não tente sair daqui sem falar com ele. Já sabe quem sofrerá as consequências, né? Sua amiga asiática mandou um oi.
Eu fiquei olhando para ela, sem entender o que estava acontecendo, ou simplesmente me negando a acreditar no que estava acontecendo. Pensei em responder algo, mas só conseguir dizer:
- Eu sabia, sabia que você estava por trás disso. Você até está falando como ele.
- Claro que sabia, ele mesmo te contou, não foi? Eu faço o serviço completo, e ele adora o meu trabalho. - ela deu uma piscadinha. Nojo.
- Aposto que foi você quem contou a ele sobre mim e o professor.
- Eu? Logo eu? Por que eu faria isso? - ela falou pausadamente e num tom debochado e inacreditavelmente insuportável. - Só dei uma ajudinha, foi ele quem descobriu tudo. Não foi tão difícil.
- Por quê? Pra quê faz isso?
- Para ver essa sua cara pálida de desespero. Você tenta acabar com a minha vida, enquanto eu tento acabar com a sua. É uma troca de favores. - ela se aproximou e tentou apertar minha bochecha, mas eu desviei. - Cacete, eu ainda não consigo enxergar o que o Carlile viu em você. Eu tenho muito mais potencial!
- O único potencial que você tem é pra ser vadia. Me deixe em paz.
- Opa, mas não sou eu quem está transando com o professor para ganhar notas boas, né? Acho que encontramos outra vadia no recinto.
- Eu não preciso fazer isso. E não me compare com você.
- Você tá longe de ser como eu. Estou num nível que você nunca vai alcançar. Bem, acho que isso ficou bem visível para o professor na última vez em que estudamos juntos.
- O quê? - eu praticamente gritei e ela deu um sorrisinho.
- Ah, você sabe... Quando se está sozinha na biblioteca com alguém como ele, quem se importa com livros? É bem melhor partir para a prática e largar a teoria. – ela sorriu e eu quis quebrar todos aqueles dentes esbranquiçados.
- Ele não deu a mínima para você na biblioteca.
- Foi o que ele te disse? Acho que preciso te avisar uma coisa, já que você não tem muita experiência com eles: homens mentem.
- Austin não é como nenhum garoto que você já teve. Aliás, você nunca terá.
- Espera só ele se cansar dessa sua bunda branquela sem graça e ir arranjar uma mulher de verdade. Ou você acha que ele está com você porque te ama? Por favor. Você é só uma diversão pra ele, alguém idiota o bastante para se deixar ser usada por ele. Acorda.
Eu respirei fundo, juro que tentei me controlar, mas a raiva me subiu à cabeça, e eu não consegui pensar direito. Com toda a força que eu tinha em meu corpo, eu empurrei Tracy, fazendo com que a porta detrás dela abrisse, e ela caísse dentro do toalete. Como se não bastasse, ela bateu a cabeça no vaso sanitário, o que a fez dar um grito estridente.
Não era naquela hora que meu lado piedoso iria surgir, não é?
Saí correndo do banheiro, fechando a porta dele antes, e voltei para a mesa, andando mais lentamente à medida que me aproximava dela. Sentei-me e dei um longo suspiro, não de alívio, mas não sei exatamente de quê.
Eu fiquei olhando para o lado de fora do restaurante, e era possível ver tudo do outro lado, já que havia janelas enormes na frente. Tentava encontrar algum sinal do Christopher lá fora, entretanto, não consegui ver nada. Austin certamente percebeu que eu estava preocupada com algo. Ele ficou me fitando, pensativo, e depois de um momento, ele perguntou:
- Aconteceu algo no banheiro?
- O quê? Como poderia ter acontecido? Não aconteceu nada, não. - eu falei rápido demais.
- Você quer que eu finja que acredito ou que continue perguntando?
- Não há nada para perguntar, Austin. Está tudo bem.
- Eu espero que esteja. Tem algo lá fora te incomodando? Posso ir lá resolver isso...
- Esquece, eu... Só estava vendo o movimento. - eu dei um sorriso forçado e rezei para que ele não fizesse mais perguntas.
Parece que minhas preces foram ouvidas.
Naquele momento, eu vi Tracy saindo do banheiro praticamente cambaleando, com uma mão na cabeça. Ela conseguiu me ver, mesmo que eu tenha evitado contato visual com ela. Austin não percebeu nada, para minha sorte, pois Tracy foi para o lado em que estava fora do campo de visão dele. Ela foi me encarando, até chegar à porta do restaurante. Eu não tinha encarado de volta até então, mas quis ter certeza de que ela iria embora, então eu fiz isso. Pode ter sido impressão minha, contudo, parecia que a cabeça dela estava sangrando. Não consegui distinguir direito, pois ela estava distante. E logo em seguida, Tracy saiu do recinto.
Eu passei as mãos no rosto, e notei que elas estavam um pouco trêmulas. Encostei-me à cadeira e respirei bem devagar, para tentar estabilizar minha respiração e batimentos cardíacos. Achei que havia me livrado do pesadelo, mas era pior do que eu pensava: era como uma assombração que me perseguia, eu não conseguia ter paz. Fiquei olhando para o nada, pensando em várias coisas ao mesmo tempo, pensando em como eu contaria aquilo para o Austin, e se eu deveria contar sobre o que Christopher vem fazendo comigo.
Só saí do transe quando o garçom colocou o meu prato à minha frente. Olhei para a minha comida, e já não sentia tanta fome como antes.
- Amor? - Austin falou comigo, mas eu demorei a responder.
- Sim?
- Você disse que estava com fome.
- Eu... Logo, logo, vou comer.
- Alexandria, você está me deixando confuso. Estou bem mais acostumado à suas mudanças de humor agora, mas você parece assustada. Parece o olhar que vi em você, quando encontrou aquele canalha no outro restaurante.
Eu não disse nada, apenas peguei um pouco da salada e tentei comer, mas só consegui uma garfada. Ele ainda estava olhando diretamente para mim, e não havia nem mexido no próprio prato.
Tê-lo me observando daquele jeito me deixava tão mal. Tudo que eu queria era contar o que estava preso em minha garganta, e que ele soubesse como acabar com tudo isso, e que pudéssemos ficar em paz. Eu larguei o garfo e tentei não olhar para ele, mas era quase impossível. Senti meus olhos lacrimejarem e eu não estava mais conseguindo ser forte como eu deveria.
- Austin, eu não aguento mais isso.
 


Notas Finais


Acho que a Alex vai surtar...


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