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História New Start - Se reconhecesse.


Escrita por: airallis

Capítulo 3 - Se reconhecesse.


Fanfic / Fanfiction New Start - Se reconhecesse.

“Leva-se um tempo pra tudo.

E se o mesmo me leva até você,

Eu espero,

E te espero junto”

— Faby Nogueira



Robin

— Regina... — chamei. — Eu voltei!

A mulher pediu que seus guardas parassem de afastar-me dela. Suspirei aliviado. Graças a Deus não havia nada errado, era apenas um mal entendido.

Se aproximou lentamente de mim, enquanto seus oficiais ainda apertavam meus braços.

Senti um gosto amargo na boca e uma grande e decepcionante pontada da mais profunda tristeza no meu coração, quando, curiosamente, vi o amor da minha vida me analisar de baixo para cima, cruzar as sobrancelhas e pronunciar a última frase que imaginei ouvir dela algum dia:

— Quem é você?

Paralisei. Parei de lutar para que os homens me soltassem e estudei cada parte de seu rosto que extravasava confusão. Agora meu mal pressentimento fazia sentido. Todo sentido, aliás.

— Como assim quem sou eu?

Riu de leve, como se fosse óbvio, tirando os olhos de mim, mas logo retornando-os.

— Eu não sei quem você é.

Foi como se tivesse enfiado a mão brutalmente no meu peito e arrancado meu coração. Em seguida, ficasse apertando e soltando, torturando-me. Eu não podia estar vivendo num pesadelo daqueles, não podia!

— Regina, olhe para mim, sou eu!

Franziu o cenho novamente e balançou a cabeça em negativa. Deu um sorriso falso, como se dissesse que eu a estava fazendo perder tempo.

— Robin. Sou eu, Robin!

No mesmo segundo, o breve sorriso desapareceu e ela adotou uma carranca há muito tempo não vista por mim. Percebi que travou o maxilar e fechou os punhos. O que estava acontecendo? Só podia ser brincadeira.

— Como se atreve? — Zelena pronunciou baixo, inconformada, logo atrás da irmã.

Quando se aproximou, pude ver minha filha. Como tinha crescido... A última vez que nos vimos, era tão jovem que não conseguia nem sentar no meu colo. Contudo, naquele dia, era exatamente daquela forma que sua mãe a segurava.

Roland caminhou até Regina e enrolou os dedos num pedaço de seu vestido, olhando para mim, hipnotizado. Parecia tão surpreso quanto as outras.

— Não é o papai, Gina — pronunciou, hesitante. Nem ele me reconhecia!

A Rainha suspirou e umedeceu os lábios. Passou um braço por trás do corpo da minha criança e respondeu com calma:

— Claro que não, querido. — Sorriu sutilmente. — Entre agora, está bem?

O menor assentiu e um guarda o acompanhou no caminho para adentrar o Castelo. Regina os seguiu com os olhos por um instante, e logo retornou o olhar para mim.

— Não conheço você, portanto, peço que se retire. — Deu um passo em direção à mim e pude sentir de perto seu aroma. Não havia mudado em nada. — Por bem ou por mal. — Lançou-me o olhar que lançaria para um inimigo. Ódio, mas, ao mesmo tempo, mágoa.

— Regina, não acredito que não está me reconhecendo. Eu sou sim pai do Roland, pai da bebê e nós estamos juntos! Sou eu. Robin de Locksley, Robin Hood. Sou eu! — clamei para que percebesse.

— Cale a maldita boca — ordenou, baixo e devagar, em tom ameaçador.

— Por que não está me vendo? O que há de errado?

— Mandei calar a boca! — Foi quase um grito, mas pude ouvir sua voz falhar na última palavra.

Limpou a garganta, tentando disfarçar os sentimentos que eu sabia estar borbulhando dentro de seu peito, mas duvidava serem tão intensos quanto os meus. O que explicaria ela não me enxergar?

— Guardas, levem esse homem para longe de mim — ordenou. — Agora!

— Regina, não! Espere, deixe-me falar com você, por favor, escute! — berrei ao mesmo tempo que os homens arrastavam meu corpo em direção à floresta, sem cerimônias.

A vi observar-me com olhos de desprezo, indiferença. Não era justo. Virou as costas e caminhou rapidamente até a entrada de seu Palácio, sem ao menos voltar a me observar.

— Me soltem, seus desgraçados! — xingava verdadeiramente magoado e inconformado com o rumo que tudo havia tomado.

Sem demora, tudo fez sentido. A mulher misteriosa. É claro. Havia usado um de seus feitiços malignos em mim, tornando-me irreconhecível aos olhos da minha família e daqueles que eu amava. Maldita!, pensei. Por sua culpa, eu estava sem rumo, sem saber o que fazer, que caminho tomar para fazer com que Regina se lembrasse ou reconhecesse quem eu de fato era.

Os guardas continuaram me arrastando até consideravelmente longe do Palácio e deram um golpe na minha cabeça. Foi o suficiente para que caísse no chão e a visão ficasse escura, turva e eu estivesse com as ideias confusas. Ouvi suas vozes, como se gritassem algo, mas não fui capaz de ter certeza das palavras.

Alguns minutos se passaram quando consegui me colocar de pé, sem sinal dos oficiais. O único ser vivo que ainda estava comigo, era o cavalo. Devia ter nos seguido até o lugar, ou, quando a bruxa disse “deixá-lo mais forte para você” na verdade quis dizer que iria conectá-lo a mim. Isso explicaria sua presença.

Montei sobre o animal e procurei a bússola em meus bolsos. Quando encontrei, localizei a estrada mais próxima e segui viagem até o refúgio em que havia passado a noite.

O que Regina estaria pensando num momento daqueles? Estaria me odiando? Queria tanto abraçá-la e sair daquele pesadelo. Queria que ainda estivesse dormindo e, quando acordasse, a encontrasse e pudesse fazer tudo o que não fiz.

Corremos rápido, como na ida, até chegar à casa de pedras. Para meu alívio, ela ainda estava lá. Pude ver pela porta que se mantinha aberta.

Desci e corri, pronto para iniciar minha primeira briga desde o renascimento. Passei pela entrada e a vi praticando magia sobre alguns frascos em cores aleatórias.

— Bruxa! — falei, caminhando rápido em direção à ela. — O que fez comigo? Por que me enfeitiçou?

Encarou-me com a expressão confusa e arqueou as sobrancelhas.

— Do que está falando, ladrão? — indagou calmamente. Sua voz cínica irritou-me de forma inexplicável.

— Regina. Ela não sabe quem eu sou!

Paralisou e pareceu se preocupar. Mas estava fingindo, obviamente. Aquela mulher era perigosa, eu nunca devia ter aceitado conversar ou muito menos passar algumas horas próximo dela.

— Como não sabe? — A primeira palavra saiu aguda, porém se normalizou rapidamente.

— Sabe muito bem o que aconteceu. Foi você quem fez isso. Agora vejo sua falsidade. Demonstrou querer me ajudar quando, na verdade, ria da desgraça que já sabia que iria acontecer. Por que fez isso?

— Robin, eu juro, não faço ideia do que aconteceu. — Caminhou até mim.

— Cínica!

— Não! Você não está entendendo. Eu realmente, realmente, não sei o que ouve. Era pra vocês estarem lá, com suas palavrinhas melosas... Era pra estarem juntos. Inferno! — Cerrou os punhos e apertou os olhos, virando-se de costas. Passou as mãos pela testa, como se demonstrasse preocupação ou algo do gênero.

— Como posso saber se o que está dizendo é verdade? Não tenho motivos pra isso.

Senti que as palavras entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Parecia muito concentrada nos próprios planos, tanto que nem sequer prestou atenção no que eu pronunciei.

— Robin, venha aqui — pediu, saindo do transe. — Tire uma das luvas.

Hesitante, fui até a morena que começava a abrir e ler alguns frascos pequenos.

Quando cheguei próximo dela, já com a mão descoberta, pegou uma navalha e, num segundo, cortou meus dedos, fazendo-os sangrar.

— Ai! — reclamei. — O que pensa que está fazendo?

Ela despejou meu sangue num vidro negro e adicionou alguns pós e líquidos escuros no próprio. Passou os próprios dedos sobre o recipiente, encantando-o. Logo depois, derramou toda a curiosa mistura sobre o corte.

Ardeu ainda mais e senti meu corpo ficar subitamente quente. Ela segurou um pedaço de certo tipo de vidro e colocou entre nós, na altura dos olhos, para me estudar. Observou-me por alguns segundos.

— Oh, céus... — Encarou-me fora do objeto, mas retornou em seguida.

— O que foi? — A curiosidade era grande. Precisava saber como resolver tudo aquilo e voltar para os meus.

— Você está sob... Um feitiço, eu suponho. Ou... Ah, não — refletiu, por alguns instantes, fazendo-me ficar cada vez mais aflito. — Deve ser uma das consequências de se trazer alguém de volta a vida, ou enfim... De trazer da forma que eu trouxe, no lugar onde apenas os Senhores das Trevas o fazem. E é óbvio que você não é um deles, certo?

Nem me preocupei em dar-lhe uma resposta. Ela mesma sabia a verdade. Eu só queria que continuasse falando sobre aquilo.

— O que você viu quando olhou por aí? — Inclinei a face na mira do vidro.

— O que Regina viu. Nada. Nenhum Robin. Como posso explicar? — Suspirou e sentou numa cadeira próxima à mesa repleta de feitiçaria. — Ela se lembra de você, é claro que lembra. A maldição não afetou ninguém. Sabendo disso e fazendo esse feitiço que acabei de realizar, posso afirmar que ela e as outras pessoas te enxergam, mas não reconhecem. Você não mudou de rosto ou forma, não é isso. Eles lembram perfeitamente do seu rosto, mas, quando o observam, seus cérebros não processam, não entendem que seja você, não acreditam.

Era o que me faltava, definitivamente. Relaxei os ombros e bufei. Notei que o sangue ainda pingava de minha mão. Encontrei um tecido qualquer e enlacei no recente ferimento, não muito preocupado. Aquele era o menor dos problemas. Aliás, qualquer problema físico em mim seria menor do que a atual situação.

— Isso não faz sentido. — Foi a única coisa capaz de sair da minha garganta.

— Eu sei, mas é essa a sua vida agora. Tem que arrumar um jeito de quebrar esta maldição, se é que pode ser denominada de tal forma. As pessoas geralmente fazem isso com um ato de... — Pensou por alguns instantes, como se tudo fizesse sentido. Por um momento, pareceu encontrar a resposta para algo importante, algo que eu jamais saberia. — Um ato de amor verdadeiro! Isso me esclarece muita coisa.

— Ela não se lembra de mim e quer distância. Não vai dar certo se eu simplesmente beijá-la de surpresa. Tem que partir dela — recordei-me de quando um dos meus amigos, David, contou de uma época em que sua esposa não recordava-se dele, mas só foi lembrar quando a convenceu a tentar. Quando conseguiu, Branca o beijou e soube. Era ele seu amor.

Eu tinha certeza de que comigo e Regina seria um tanto mais difícil.

— Então, corra e lute para que ela se apaixone logo por você. — Fez um sinal com a mão, para que eu saísse de sua residência.

— Você me vê como sou? — questionei, ignorando seu pedido.

— Sim, talvez seja por ser eu a pessoa que o trouxe de volta.

— Então talvez tenha outros que também reconheçam — constatei.

— Se eu fosse você, ladrão, não contaria muito com isso. Mas, se houver alguém... Alguém que possa ajudar, alguém que o levará para o seu lar... — Aproximou-se de mim, lançando-me aquele olhar perverso. — Encontre-o. Agora.

Poderia parecer difícil, mas eu sabia exatamente quem procurar.



Regina

Subi os degraus para passar pela gigantesca porta do salão principal. Aquele que se vê assim que entra em minha propriedade.

Meu maxilar não parecia querer destravar, o estômago estava embrulhado e a única coisa que tinha o desejo de fazer era impedir meus guardas de levá-lo para longe das minhas mãos que ansiavam por arrancar-lhe o maldito coração e esmagar num segundo.

Fazia tempo que não sentia aquela pontada de verdadeira raiva, desejo de fazer mal. No entanto, era tudo um contraste da mágoa que provavelmente se estenderia em meu peito para todo o sempre. Luto era ruim, mas pior ainda era quando impregnava, manchando o coração, ferindo a alma, os sentimentos, recusando-se a ir embora.

Aquele homem louco estava, sem dúvidas, implorando pela morte.

Não queria que fosse verdade, mas toda a Floresta Encantada sabia do meu romance com Robin. E, consequentemente, de seu trágico fim. Então, um imbecil, sem a menor vergonha na cara, vem até mim, alegando ser ele. O meu Robin. Meu eterno Robin, que hospedará para sempre em meu coração. Como tinha coragem? Se fosse em outros tempos...

Pensei sobre o que poderia estar passando em sua pobre mente. Achava, talvez, que poderia enganar sua Rainha? Coitado. Isso pode ter acontecido uma vez, quando Nottingham fingiu ser o homem com a tatuagem de leão. Entretanto, em cada erro, um aprendizado. Dentre eles, nunca mais cair quando algum parvo vier me contar besteiras. Nunca mais.

Me perguntei também se aquele desejo de ferir era fruto das trevas que eu mesma havia enviado diretamente ao meu coração. Quando retirei a escuridão da Rainha Má e a dividi comigo. Nunca me arrependeria daquilo, é claro. Acho, aliás, que foi ali que percebi minha verdadeira mudança. Foi ali que minha ficha caiu que eu de fato era uma nova pessoa.

Faria novamente, se necessário.

Falando na própria, lembrei-me de Regina.

Quando cheguei de Storybrooke, fugindo da maldição, Regina e seu Robin estavam se preparando para uma nova vida. Ela não especificou muito, apenas disse que não poderia estar mais feliz, e que iria cruzar um rumo diferente, arriscado, mas que despertava gigantesca curiosidade e alegria, uma vez que estivesse com seu — agora — noivo.

Confesso: foi como um tapa na cara. Ou pior.

Noivo.

Regina e Robin.

Eu e... Não. Eu não. Ela. Ele.

Não fazia ideia de onde estavam naquele instante. Mas, apesar de minha genuína inveja, desejava que fossem felizes. Pelo menos uma Regina precisava conquistar isso. A felicidade total.

Roland estava na frente, correndo até a escada e logo se pendurando no corrimão. Senti meu coração parar por um segundo, até que ele soltou quando pôs os pés nos degraus. Lidar com essa criança tão elétrica seria um desafio, porém, o mais delicioso de todos.

— Cuidado! — alertei de longe.

De manhã, no Castelo dos Encantados, bem ao nascer do sol, nos aprontamos, despedimo-nos dos outros convidados que passaram a noite lá, e voltamos para o meu Palácio. Agora sim nossa nova vida começava.

Ou eu esperava que sim.

Quando saí, Henry não deu mais do que um tchau de longe, balançando levemente a mão. Talvez fosse coisa de minha cabeça, mas tenho a impressão de que ele fez isso porque Emma mandou, disfarçadamente, senão, talvez nem estivesse lá.

David insistia em dizer que era coisa da idade. Sua adolescência estava no auge e não havia o que ser feito, exceto dar espaço, tentar conversar aos poucos, sem irritá-lo e fazer com que se fechasse ainda mais. Duvidei um pouco disso, mas me forcei a fingir que acreditava.

Fui caminhando até Roland, com minha irmã e sobrinha ao lado. Subimos as escadas e mostramos seu quarto, um móvel ainda nada pronto para uma criança, mas já pronto em minha mente. Sabia exatamente o que fazer para que ficasse perfeito. Durante aquela noite, ele poderia dormir comigo. Enfim, aquela e todas as outras até que o cômodo se finalizasse.



Robin

Depois de comer e descansar brevemente, meu cavalo e eu nos deparamos com a pressa batendo em nossa porta. Bom... Minha pressa, na verdade.

Quando saí da casa da agora não mais tão desconhecida, já estávamos quase no meio da tarde. Cavalgamos para outra direção dessa vez, chegando ao destino que ficava um pouco mais perto.

Estava ansioso para encontrar aquele que eu tinha a impressão que me reconheceria, me ajudaria. Se não desse certo, não sei o que poderia fazer. Aquela pessoa era minha primeira e única opção, até o momento.

Desci do animal assim que cheguei na entrada do Castelo bem diferenciado do de Regina e os guardas facilmente permitiram a entrada. Antes de revistarem, claro. Pelo visto, os oficiais dos Nolan eram mais sociáveis que os de minha namorada.

Ou a questão seria o fato de antes eu estar correndo rápido em direção à Sua Majestade, e agora, andando civilizadamente, pedindo permissão para falar com o príncipe.

Entrei no grandioso Palácio, atravessei a ponte e os portões se abriram para que entrasse.

Haviam vários criados andando e organizando o jardim. Estavam arrumando uma festa, talvez? Parecia mais um desarrumar, já que os decorativos eram arrancados um por um.

Tentei me misturar nas pessoas apressadas e desatentas à presença de um estranho. Nenhum guarda veio atrás de mim, realmente eram muito tranquilos. Talvez porque soubessem que, depois da incrível mudança da Rainha, Branca e David não seriam vítimas de mais nada.

Procurei os fundos do lugar, logo achando uma porta que ligava à cozinha. Entrei.

Havia um guarda no corredor para a verdadeira entrada. Estava virado de costas, olhando para a janela. Me aproximei devagar, sem barulho e, com um golpe na cabeça, ficou desacordado.

Consegui ouvir algumas vozes metros à frente, das cozinheiras, imaginei. Se alguma adentrasse o corredor, eu seria um homem morto. De novo.

Existia uma porta larga ao nosso lado, poderia ser da dispensa, lavanderia, algo do tipo. Bati três vezes e ninguém respondeu. A abri devagar e notei a isolada situação do local. Segurei os pés do guarda e o arrastei até a parte de dentro. Chegando lá, tirei nossas roupas e coloquei as dele em mim.

Serviram bem. Graças a Deus.

Empurrei o corpo até certo canto do cômodo e lhe fiz um pedido silencioso de desculpas. Seria complicado chegar até a pessoa que eu precisava falar se não fosse daquela forma. E tempo e paciência eram coisas que, ultimamente, não vinham andando próximas à mim. Contudo, senti um breve alívio em saber que, na matéria bandidagem, eu não ficara pra trás.

Saí e caminhei normalmente para fora, dando a volta no Castelo novamente e adentrando pela porta da frente. No caminho, cruzei com alguns conhecidos, dentre eles, Emma e Killian, que olharam diretamente para meu rosto e logo desviaram, voltando a conversar. Nem eles me reconheciam.

Segui caminho até percorrer a maior parte do térreo, à procura dele, e nada. Subi as escadas e explorei alguns lugares que nem sempre estavam vazios. Subi mais um andar, nada. Até finalmente encontrar minha salvação. Ele estava de bruços na sacada, olhando para baixo. Me aproximei do garoto e engoli em seco. Se nem ele me reconhecesse, estaria perdido.

— Henry? — chamei, pesaroso.

O adolescente tapou a respiração e levantou as sobrancelhas. Eu estava ao seu lado quando vi a cabeça girar exatos noventa graus para me encarar. Parecia perplexo, como se visse um fantasma. Talvez, em sua mente, eu poderia ser exatamente isso.

— Não é possível! — Deu três passos para trás.

— Você me reconhece? Sabe quem sou?

— Deve ser mais um vilão, agora disfarçado. O que quer aqui? Quem é você de verdade?

— Não sou nenhum vilão, Henry. Sou eu, Robin, você está me vendo, não está? — Tentei me aproximar, mas o garoto se afastou ainda mais, passando por uma porta e correndo até um lugar que não pude ver. Corri atrás dele e, quando o encontrei, estava com uma espada em mãos, apontando para mim, com a lâmina diretamente na mira de meus olhos.

— Fique longe, ou eu o mato. — Seu tom era de raiva, pude sentir certa ansiedade no olhar, como se quisesse aquilo. O que havia acontecido? Eu nunca o tinha visto daquela forma.

— Henry, espere, me escute — pedi, com as mãos para cima e indo vagarosamente para trás. — Sei que você está me reconhecendo e preciso da sua ajuda. Alguém me disse que eu morri há alguns meses, mas essa mesma pessoa me ressuscitou. Sou eu de verdade, estou vivo, mas existe um problema: ninguém me reconhece, ninguém sabe quem sou. Acabei de passar pela sua mãe e ela nem sequer olhou fixamente, como se talvez pudesse lembrar. Ninguém, Henry. Nem a Regina, nem meu filho. Você é a única pessoa que tenho esperanças que possa fazer algo.

Olhou de forma arisca, como se me estudasse, procurando alguma falha, onde pudesse julgar-me um mentiroso.

Porém, em momento algum vacilou com a espada.

— Por que ninguém te reconheceria e eu sim? — indagou.

— Bom, talvez porque... Tenha o coração do verdadeiro crédulo. Suponho que isso lhe dê certas vantagens.

— Não sei se ainda sou esse garoto. — Parecia frustrado, como que decepcionado consigo mesmo.

— Se não fosse, não estaria me vendo agora — em tom tranquilo e convicto. Abaixei as mãos, evitando olhar para a arma.

— Não sabe nada sobre mim.

— Talvez não. Mas você sabe muito sobre mim por conta daquele seu livro. Entende que não desisto fácil, principalmente se meu objetivo é algo tão importante que eu chegue a amá-lo. Portanto, Henry — aproximei-me dele ignorando sua espada —, peço que, por favor, me ajude. Só disse isso sobre eu ser um vilão porque estava surpreso, mas nós dois sabemos que nunca teve dúvidas. Sabe que digo a verdade porque você é assim. Simplesmente acredita.

Cerrou os olhos, como se fossemos inimigos.

— Como quer que eu o ajude?

— Pode começar abaixando isso. — Apontei para a lâmina reluzente.

Henry refletiu, observando a mim e seu instrumento, até ir abaixando devagar, com calma, mas ainda o deixando entre nós, logo a frente das próprias pernas.

— Por que acha que eu o ajudaria?

— Porque é uma pessoa boa. Um herói, certo?

Seu olhar vacilou novamente. O garoto parecia de fato estar vivendo um conflito interno, em sua consciência e coração. Imaginei o porquê daquilo. Ele sempre teve o desejo de ser exatamente aquilo que eu disse que era: um herói. O que tinha mudado?

— Não sou mais assim, não sinto mais aquilo. Não posso ajudá-lo. Vá embora.

Pasmei ao ouvir tal expressão. Definitivamente não era a mesma pessoa.

— Henry, você está me ouvindo? — exclamei. — Eu morri e ressuscitei e agora ninguém sabe quem sou! Eu tenho uma vida, tenho família, tenho amigos, existem coisas pendentes que ainda preciso resolver. Não é como se eu quisesse nascer de novo. Por que acha que estou aqui? Não quero aceitar, quero lutar. Quero retomar minha verdadeira vida e preciso que me ajude com isso. Você é a única pessoa que pode colaborar.

— Não sei o que fazer! Normalmente teria um plano, mas não hoje, não agora, nem nunca. Eu mudei e estou melhor assim! Saia daqui agora!

— Não, não posso aceitar isso.

— Ah, não? — perguntou, desafiando-me. De repente, puxou ar e gritou: — Guardas!

— Henry, para com isso! Se não percebe, eu também sou um guarda.

— Guardas! — berrou novamente.

Num segundo, três homens com o mesmo uniforme que eu, apareceram e foram logo me cercando.

— Tirem esse homem daqui, ele não trabalha mais nesse Castelo — o mais jovem ordenou.

Então, pela segunda vez dentro de menos de seis horas, fui arrastado para fora do estabelecimento, sendo brutalmente jogado no gramado do lado de fora, onde o Appaloosa me esperava amarrado a uma árvore.

— Vá embora, pelo seu próprio bem — um dos homens altos aconselhou e os outros voltaram para dentro em sua companhia.

Perguntei-me o que diabos havia ocorrido com meu enteado. Um menino tão bom antes, mas terrível atualmente. Seria alguma má companhia?

Levantei-me do chão, com a roupa azul e cinza surrada tentando pensar em alguma saída.

Henry pareceu decidido quando negou ajudar-me a fazer Regina acreditar em quem eu era. O que eu poderia fazer, no entanto, era um mistério. Ela nunca me receberia em sua casa novamente, não depois de achar que eu estava mentindo sobre algo que, por minha visão, a machucava.

Ainda não tinha parado para pensar seriamente nisso. Em como minha morte a machucou. Meu coração desejava que, por mais que um luto sempre fosse difícil, que ela não tivesse sofrido muito, mesmo que não acreditasse tanto que isso fosse possível.

Quando entrei na frente daquele cristal para dar minha vida em troca da dela, foi para que fosse feliz, para que continuasse sendo aquela mulher maravilhosa. Estava mudando cada vez mais, ficando boa, como queria ser. Me orgulhava tanto dela e torcia para que conseguisse alcançar seu objetivo de se livrar das trevas de uma vez por todas e finalmente ficar em paz consigo mesma.

Nunca quis que sofresse, que chorasse. E, pensar que eu poderia ter sido motivo para isso, destruía meu coração. Só queria protegê-la e dar-lhe motivos para gargalhar. Era por esse motivo que precisava desesperadamente fazer com que me reconhecesse. Para que pudesse estar junto dela e desmanchar qualquer nó que existia dentro de si mesma. Precisava dar-lhe paz.

Perdido em minhas aflições, não notei quando ele chegou atrás de mim em outra raça de cavalo.

— Mudei de ideia. — Henry desceu do animal e me encarou decidido. — Posso tentar.

— O quê? Até agora mesmo estava gritando e afirmando não poder fazer nada por mim.

— Eu sei. Mas pensei melhor.

— Por quê?

Engoliu em seco e passou a mão pelo curto cabelo escuro, parecendo escolher as melhores palavras, ou buscando a sinceridade.

— Eu estou diferente, Robin, sei disso. Meu coração não quer ajudar você. Em outros tempos, sim. Mas não hoje. Só que minha mente diz que é a coisa certa. Talvez seja por conta da criação. Sinto que preciso ajudar, como se fosse minha a responsabilidade. E, também, estive pensando que, se fizer o bem, posso voltar a ser como antes.

Sorri, aliviado por não estar mais sozinho. Todavia, preocupado. Henry sabia que existia algo ruim acontecendo dentro dele e, se queria realmente me ajudar, então faria o mesmo por ele. Seja lá o que havia dentro de si, eu encontraria e ajudaria a dar um ponto final, para que pudesse voltar a ser o herói que sempre foi.

— Mas vai ter que me contar essa história de ter ressuscitado no caminho, hein? — virou de costas e voltou a montar no cavalo.

— Espere, que caminho?

— Ah, eu não disse? — perguntou, irônico. — Vamos fazer uma visitinha à mamãe.


Notas Finais


Genteee, pra quem está ansioso por uma narração mais longa da Regina e mais OutlawQueen, saiba que terá a partir do próximo capítulo.
Esses três iniciais foram mais pra contar como foi essa trajetória do Robin até conseguir alcançar seu objetivo.
Tenham paciência comigo e não desistam de mim, ok??
Enquanto isso, contem-me o que acham que está acontecendo com o Henry e se ele vai conseguir ajudar a Regina e o Robin de verdade, contem sobre o que acham que essa mulher misteriosa tem em mente e porque ela quer tanto que o casal fique junto (heueheueu 🌚) Obrigadaaa por acompanharem a história ❤


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