-Tudo bem filho? -Perguntou meu pai assim que desci para tomar café, depois de uma noite mal dormida.
-Sim, só não dormi bem. -Disse sem dar detalhes.
-Tudo bem -Disse- Então... Soube que está indo muito bem no treinamento de dragões.
-Ah! Sim... -Disse sem animo.
-Ok... -Disse e ficou em silêncio, o que me deixou angustiado.
Depois de comer, eu saí de casa após me despedir do meu pai e caminhei lentamente até a arena, como todos os dias.
Chegando lá, vi os gêmeos Cabeças brincando com uma galinha, Melequento escolhendo uma arma, se atrapalhando e derrubando todas, Perna-de-Peixe lendo um livro e não vi Astrid.
-É aí pessoal! Vocês viram a Astrid? -Perguntei e nenhum sabia onde ela estava. Então, depois de minutos, ela chegou, e eu ia falar com ela, mas vi que havia um menino a acompanhando. Nunca tinha o visto antes, ele era alto, forte (mas não tanto quanto os outros vikings) e tinha cabelos morenos claros e olhos azuis. Quando os vi rindo, senti um frio no estômago nada bom, e cerrei minhas mãos. No entanto, me controlei antes de fazer algo e apenas decidi ignorar. Então, me apoiei na parede da arena, com os braços cruzados e uma da minhas pernas apoiada na parede.
Bocão chegou na hora combinada e olhou para o garoto misterioso, confuso.
-Dylan? O que faz aqui? -Perguntou. O maldito ainda tem um nome bonito!
-Eu vim participar do treino, estava sem o que fazer. -Disse simplesmente.
-Tudo bem, o treino de hoje vai ser uma simples luta com armas. -Disse e eu abaixei o olhar, sem vontade de fazer nada. Resmunguei baixinho para ninguém ouvir, apesar de estar meio afastado "Sem fazer nada... só se flertar com a Astrid não contar" - Soluço? Disse algo? -Perguntou e eu neguei- Bom, está meio calado hoje, por que não começa? -Perguntou.
Sem válvula de escape, eu avancei para o centro da arena e me preparei.
-Nosso convidado vai com ele, ok Dylan? -Perguntou.
-Sem problemas. -Disse, sorrindo diabolicamente.
Ele se aproximou de mim e ficou me encarando. Ele pegou um machado de dois lados e me observou, enquanto andávamos em círculo.
-Não vai pegar sua arma, Inútil? -Perguntou. Com raiva, eu saquei minha espada flamejante e ele a olhou, para então rir- Sério? Vai usar um cotoco pra me acertar ou... -Ele parou de falar quando a lamina em fogo se abriu. Eu ri.
-Prefiro usá-la como forma de te fazer de churrasquinho. -Disse com um sorriso de lado.
Dylan me olhou com raiva e partiu pra cima de mim, que fiz o mesmo. Quando já estava mais perto, eu deslizei por baixo de suas pernas e dei uma rasteira. Um segundo depois, ele já estava de pé e corria em minha direção. Quando chegou perto, eu usei minha espada para me defender de seu golpe com o machado. Nós começamos a travar uma luta e eu ouvia o eco das armas batendo. Por um momento olhei ao redor e vi que grande parte do povo de Berk assistia à luta, mas ao fazer isso, me distrai e quase levei uma machadada na região da costela. Eu me virei, mas ainda sim o machado me acertou de raspão justo na área da minha armadura menos desprotegida. Cambaleei para trás, mas ignorei o corte pequeno e parti pra cima, ele defendeu o golpe, mas isso me deu uma brecha para dar uma joelhada. Então, eu o soquei e ele andou para trás. Vi ele limpar um sangue que escorria pelo nariz e sorriu para mim. Então, ia me atacar com o machado, mas descobri que era um truque para jogar uma adaga em mim. Eu desviei por pouco, mas ela cortou o meu supercilio.
-Vai ver o bebezinho só teve sorte todos esses anos. O que foi? Cansou? -Perguntou com deboche.
-Não... Eu só estava me aquecendo. -Disse e sorri com maldade.
Eu já estava cansado disso e resolvi fazer a arena "tremer". Liberei o gás de Zíper arrepiante e acendi a fagulha de fogo. Quando a poeira já estava baixa, senti uma movimentação atrás de mim com o meu sentido de dragão, mas eu esquivei de seu soco. Eu botei minhas mãos para trás juntas e sorri para ele. Dylan tentou dar outro soco mas eu desviei com facilidade enquanto sorria e assim se sucedeu por mais um minuto. A cada golpe que ele tentava dar eu o socava em uma parte diferente do corpo ou fazia um corte médio com a minha outra espada. Isso estava o cansando e machucando. Ouvia a plateia se surpreender a cada golpe e dizer coisas como: "Ele é muito rápido" "Ele parece uma sombra, toda vez que o garoto tenta dar um golpe ele se esquiva e parece que nem se preocupa" "Ele é muito bom" "Que Thor proteja o pobre coitado que se meter no caminho dele!" Teve uma vez que Dylan veio pra cima de mim, com a intensão de me segurar, mas eu dei uma cambalhota a tempo e joguei minha espada flamejante em sua mão, ele largou o machado quando sentiu a pele queimar e eu pude finalmente dar um soco naquela carinha perfeita. Com isso, ele caiu de barriga pra cima. Ajoelhei uma de minhas pernas em cima dele e puxei seu cabelo pra trás. Peguei minha espada e a coloquei em seu pescoço, o que fez com que arregalasse os olhos.
-Antes de falar qualquer coisa de mim saiba que já passei por coisas bem piores em dez anos. Você não se compara a nem 1% da dor que senti. Se não quiser sentir essa dor também, fique longe. -Disse e o soltei. Olhei ao redor ofegante e via os vikings gritarem. Sem me importar muito, andei até a porta da arena e sai, guardei minha espada e caminhei um pouco devagar por conta da dor. Até que senti minha visão embaçar um pouco e parei para respirar. A adaga tinha veneno...
Quando pensei que ia cair, senti alguém me segurar e olhei para o lado.
-Astrid? -Perguntei surpreso.
-Sim, Soluço. Sou eu. Mas isso não é importante. Precisamos cuidar de você. Vamos, eu te levo pra casa e... -Eu a interrompi.
-Não! Não me leva pra casa. Meu pai vai estar lá, Astrid. -Eu implorei.
-Tudo bem... -Disse depois de um tempo- Vamos! Vou te levar pra minha casa.
~Quebra de tempo~
Assim que entrei na casa da Astrid, ela me levou até o seu quarto e me deixou lá pra ir pegar o kit médico. Eu sentei em sua cama e observei seu quarto. Do contrário do que eu imaginava do quarto de garotas, seu quarto não era rosa e florido, ele era decorado por objetos amarelos, azuis e vermelhos. Tinha uma cama encostada na parede, que tinha uma janela. Do outro lado do quarto havia um banheiro e ao lado da porta, um armário.
Depois de um tempo, ela voltou com uma caixa de madeira na mão. Ela se sentou ao meu lado na cama e apoiou o kit no colo. Pegou um tipo de remédio, agulha, linha e panos para limpar e para enfaixar. Astrid se ajoelhou na minha frente.
-Pode tirar sua camisa? -Pediu e corou um pouco.
Eu a observei e fiz o que pediu, ainda sentindo seu olhar sobre o meu corpo. Ela ficou um tempo encarando parecendo confusa e depois começou o procedimento no ferimento na costela.
-Seus pais não vão achar isso estranho? -Perguntei me referindo a situação como um todo.
-Eles não estão em casa- Disse simplesmente.
Ela terminou de limpar o ferimento e passou um remédio nos outros panos. Quando tocou com a minha carne, eu senti queimar e soltei um grunhido fechando os olhos e apertando o cobertor de sua cama. Astrid parou o que fazia e olhou pra mim preocupada.
-Desculpe... -Disse me analisando.
-Tudo bem... Pode continuar -Disse, pois já estava acostumado com a dor.
Ela continuou a limpar em silêncio, para depois começar a costurar a pele.
-Então... Você foi muito bem lá na arena. -Disse, mas eu não me segurei.
-Por que estava com o Dylan? -Perguntei direto e ela me espetou quando se assustou e me olhou. Eu dei um gritinho.
-Desculpa, desculpa, desculpa! -Disse desesperada e me olhou esperando uma reação, mas eu não falei nada e apenas a olhei- Eu... Eu só queria... Passar o tempo! Só isso! -Disse, mas eu sabia que tinha inventado na hora.
-Astrid... Eu sei quando mente.
-Tá! -Disse desistindo- Eu tava tentando te fazer ciúmes. Aquele cara é um idiota! Nunca ficaria com ele! Era fingimento. -Confessou.
-Bom, eu não posso discordar de você- Eu falei e ri. Ela começou a cuidar do supercilio, pois já tinha costurado e enfaixado a minha barriga.
-Olha Soluço, me desculpa. Eu fui infantil e boba ao fazer isso e agora você tá aí machucado.
-Não, Astrid. Tá tudo bem! Às vezes fazemos coisas bobas, mas não faz mal. Além disso, eu to bem! Já passei por coisa pior! -Eu tentei acalmar ela.
-Você tem razão -Disse e me encarou- Desculpa, mesmo assim.
Eu a admirei e botei sua franja para trás da orelha. Ela não teve reação e continuou a me encarar.
-Tudo bem.. -Disse e beijei ela de novo, só que dessa vez com mais paixão- Astrid, eu não sei se é cedo de mais, mas... Eu te amo. -Ela se surpreendeu.
-Eu também te amo- Ela sorriu e me beijou novamente.
Talvez finalmente possa ter uma vida mais normal ao seu lado...
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