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História Nos seus Medos - Humano


Escrita por: Yeul

Notas do Autor


Eu disse que voltaria q

Capítulo 4 - Humano


Fanfic / Fanfiction Nos seus Medos - Humano

Está com a mão sobre o vidro. Sua pele é quente, o vidro é frio, e ele se condensa com sua respiração tão próxima. Ele vê seu reflexo, seu cabelo azul se perde na escuridão da noite, mas ele vê sua pele clara, do pescoço para cima, pois as vestes que usa hoje são negras. Há gotículas de água na janela, como se estivesse chovendo, mas não está.

Elas deslizam suavemente pelo vidro, e somem. Não há frio de verdade também, apenas o programa que reconhece sua respiração, e faz o vidro parecer embaçado, para que pareça real.

Estranho ela parecer real, já que SoonYoung nunca viu chuva. Ele vê nas janelas especiais, ele vê nas paredes climáticas, mas não sabe como é sentir o líquido contra sua pele. Imagina que deve ser algo próximo do que sente no chuveiro, mas, a água da chuva é fria ou quente?

Do lado de fora há luzes, muitas luzes. Todas as cores, eles dizem. Palhetas infinitas, olhe nossa nova coleção de cores complementares com azul, nova tendência, comprem. Às vezes ele comprava para estar na tendência, mas uma semana depois, e aquilo que ele comprou era inútil, ia direto para a lixeira de roupas, eram trocadas por dinheiro, e ele se quer usou uma peça.

Mesmo que ele se esforce para ver a rua, ele não a vê. Está muito acima do solo para ver, mas, se ele olhar para cima, ele também não vê o céu.

Para onde quer que ele olhe, ele só vê os castelos de cartas, e todos apontam para o céu, infinitamente, mesmo que nunca o alcancem. Será que nenhum deles percebe que não há mais um céu?

Engoliu a seco sem motivo, o barulho de chuva lhe acalmava, mas era música tocando em aparelho de som, não era de verdade. SoonYoung também questionou se o barulho era esse mesmo, ou se aquilo era uma invenção, uma farsa. Como ele poderia saber se era realmente isso?

Digam fabricantes, como ele sabe que isso é chuva, ou se a chuva existe mesmo, se ele nunca a viu?

Como se acredita em algo que nunca viu?

Desviou sua atenção para a porta. Já faz algum tempo que ele espera por alguém. Nunca sabe quem, mas ele espera, entende? Uma hora ou outra sempre entra alguém. Tem dias que não entra ninguém, mas raramente isso acontece. As pessoas estão desesperadas, sabe?

É difícil viver sozinho, SoonYoung sabe disso. Porém é ainda mais difícil viver com alguém. Ele acha que pode continuar nessa, sozinho, mas com alguém todas as noites porque bem, é só disso que ele precisa. Alguém no final da noite para fazê-lo se sentir vivo.

Alguém tão artificial quanto ele, entende?

Seu cabelo já foi de muitas cores, mas hoje ele optou por azul. Amanhã pode ser verde, depois de amanhã pode ser preto. Ontem era loiro, e antes de ontem, rosa. Hoje seus olhos são azuis para combinar, mas ontem eram negros, e amanhã, quem sabe, ele deixe azul ainda?

Era incerto, dependeria de sua vontade, e da tendência. Mentira, dependeria da tendência, não dele. Depende do anúncio que irá ter pela manhã. Hoje o azul é a cor!, e todos já estão usando para estar dentro da cor. Não há uma preferência, SoonYoung não prefere azul do que verde, nem preto do que loiro, ele deixa que escolham para ele o que ele quer.

É muito mais simples quando fazem tudo por ele, não é?

Sua roupa também é a tendência de hoje, mas amanhã já não será a mesma. Na verdade, sua roupa é a tendência da noite, porque de manha terá uma, de noite terá outra, e SoonYoung estaria usando elas porque, bem, é isso que as pessoas fazem, não é? Elas usam o que são impostas, não questionam, sabe?

Apenas siga a maré.

Ele também nunca viu o mar, e aquele pensamento o fez esticar o braço para o botão ao seu lado, e mudar as opções da janela. A mesma secou, as gotas sumiram como mágica, até o embaçado de sua respiração sumiu, e agora havia o som das ondas em vez de chuva. O vidro estava limpo, a cidade permanecia a mesma, mas nas paredes climáticas, havia areia, e o mar ao fundo.

Afastou-se alguns passos para admirar a paisagem tão conhecida. Ele sabia como seria, já havia usado o tema inúmeras vezes, já sabia até quantas vezes a animação das ondas durariam antes de reiniciar, mas gostava de ficar olhando. Às vezes pareciam reais, mas elas não tinham textura. Se tocar na parede, ela vai permanecer fria, não é de verdade, são apenas imagens.

Suas mãos penderam ao lado do corpo, já passava das dez horas, e ainda ninguém havia entrado. Será que perderia a noite novamente? Teria de chamar um robô para substituir sua falta de humanidade?

O chão abaixo de si refletia areia, mas não tinha textura. Claro, se ele quisesse, ele poderia mudar para uma artificial, mas era estranha. Não sabia se areia era daquela forma, áspera e fofa, às vezes fazia cócegas, se moldava aos seus pés. Novamente ele se pergunta: como posso saber se nunca estive na praia?

Ergueu o braço para mudar o clima novamente, mas ele apenas mudou para o próximo tema. Sol de um campo, a luz do quarto se torna forte, e ele fecha minimamente seus olhos, a luz artificial não é quente, a temperatura é a mesma, não faz sentindo ele usar este quando não sente nada.

A porta se abriu timidamente neste instante, e SoonYoung nem percebeu, apenas olhou para seu reflexo na janela, agora um pouco melhor, conseguia se ver melhor com luz.

JiHoon espiou, a pessoa estava de azul, como todas as outras da cidade, nada de novo, por que este quarto e não os outros? Tamborilou seus dedos na porta, como se esperasse algo de interessante, algo que ele nunca achava e o fazia voltar para sua casa.

Mas ele viu o cenário mudar para um campo de trigo, o vegetal se movia com o vento inexistente, e em segundos mudou de novo. Agora era uma vegetação rasteira de montanha, haviam nuvens ao fundo. Instantes depois e era a aurora boreal contornando o quarto. Aquilo lhe chamou a atenção, não a mudança de climas, mas o fato da pessoa estar mudando-os constantemente.

Era quase como se ele estivesse desesperado, próximo, as imagens mudavam, o clima era completamente diferente do anterior, próximo, outra mudança, próximo, o que você está buscando? Próximo.

Adentrou sem pensar muito, fechando a porta com cuidado atrás de si, e ficou olhando a expressão alheia. SoonYoung tinha o cenho franzido enquanto mudava, seu dedo apertava sistematicamente o botão, não dava cinco segundos e já mudava.

Agora apareciam as pirâmides, areia por todos os lados, sol forte, e nada de calor. Próximo.

Luzes de postes, uma ponte ao fundo, água abaixo deles, é um canal, Veneza, JiHoon pensou ao reconhecer, era difícil quem tinha aquele tema. As pessoas não gastavam seu dinheiro com temas. Próximo.

Construções altas, os topos parecem cúpulas, redondos, apontando para o céu de forma fofa. Há listras coloridas, e ele sabe que está em Moscou. Próximo.

Água para todos os lados, uma cidade ao fundo, e atrás de SoonYoung uma estátua grande e verde, uma mulher que ele nunca viu com o braço levantado. Está nos EUA. Próximo.

Os temas mudam cada vez mais rápido, ele não consegue escolher algum, será que não pode apenas deixar no indicado para aquela noite? Olhou para o botão ao seu lado, seu dedo se cansando de mudar, e JiHoon resolveu se aproximar, e tocar o controle com sua mão fina.

SoonYoung recolheu a sua ao perceber que tinha companhia, sua boca se abriu em surpresa, e JiHoon mudou para o seu tema favorito. O cenário mudou, e o Kwon olhou em volta para reconhecer. Agora as paredes são feitas de madeira, há uma lareira próxima da cama, o fogo crepita suave, um tapete de pele abaixo de seus pés, o Lee ligou até a percepção do chão para sentir os pelos, a textura das paredes para que pareçam com madeira. Neve parece bater contra a janela, e o menor se permitiu até desligar a temperatura controlada para a artificial, para fingir que havia mais calor perto da lareira, e mais frio perto da neve.

O dono do quarto virou em seu próprio eixo, olhando ao redor e sentindo seu corpo estremecer pela súbita mudança de temperatura, e voltou sua atenção para o rapaz mais baixo que si. Estranhamente ele tinha o cabelo rosa, e vestia um moletom largo e cinzento. Quando essa moda foi lançada? Se fosse a daquela noite ele saberia, mas não era daquela noite, muito menos de algum dia daquela semana.

JiHoon abriu um pequeno sorriso satisfeito com o ambiente, e ergueu seus olhos do controle para o Kwon, que lhe encarava curioso.

"Por que é tão baixo?", foi a primeira coisa que SoonYoung perguntou, e o Lee quase riu, porque geralmente as pessoas se apresentavam, e não questionavam sua altura.

"Fui gerado naturalmente", explicou simples, porque não era incomum aquelas perguntas. A maioria estava acostumada com pessoas da mesma altura, mesmo peso, mesmo tipo físico.

"Oh", soltou o Kwon, sua boca se abriu em surpresa, e seus olhos pareceram faiscarem em curiosidade. "E como foi nascer?", perguntou de novo, e JiHoon riu.

"Igual ao seu, eu acho", murmurou, sentindo suas bochechas esquentarem. "Talvez um pouco mais quente e pegajoso, mas a base deve ser a mesma".

"Legal", SoonYoung abriu um sorriso, e o menor meneou a cabeça para o lado. "Sou SoonYoung, e você?", ele esticou o braço, o ângulo perfeito e a forma como seu corpo se curvou mostrava que ele era alguém do ramo dos negócios, era sistemático, seu corpo se movia sozinho.

"JiHoon", respondeu, e apertou sua mão timidamente, seu corpo permanecendo reto, seu braço esticado, o Lee não era do mesmo tipo.

"Você quer se sentar?", perguntou o maior, e o outro assentiu, indo até uma beirada da cama, e sentando-se devagar.

SoonYoung o imitou, sentando-se na outra borda, e já levando sua mão até a gola de sua camisa, pronto para já começar a se despir, quando o Lee gesticulou para ele, e segurou em seus pulsos. Trocaram olhares, e o Kwon ficou pensando se havia configurado o quarto com as especificações corretas.

"Por que não deixamos apenas acontecer?", sugeriu o mais baixo, e o outro piscou, sentindo a temperatura do corpo alheio em seus pulsos. Assentiu devagar sem entender, e JiHoon o soltou em mesma velocidade, antes de retirar seus tênis.

Sapatos podem, pensou SoonYoung enquanto o imitava, e o Lee se deitou lentamente. Imitou-o de forma fiel, e olhou para o teto como ele. Não havia um céu, como ele gostava de deixar para ficar olhando, ou tentando contar as estrelas, tinha madeira escura, levemente iluminada pela lareira.

Tentou inspirar fundo e relaxar, enquanto JiHoon tinha os olhos fechados, as mãos acima de seu estômago unidas, e o Kwon virou sua cabeça para vê-lo, questionando o que ele faria. Quando o mesmo não se moveu, nem nada, ele apenas o imitou, sem saber o que fazer.

Com seus olhos fechados ele pode ouvir o som do fogo, o barulho baixo do vento passando pela madeira, e em seguida, a respiração suave da pessoa que compartilhava de sua cama. Se concentrou nela para regular a sua própria, seu corpo relaxando instintivamente.

"É mais real assim", comentou JiHoon em um tom baixo, e SoonYoung virou seu rosto, abrindo os olhos, para vê-lo na mesma posição. Ele piscou, esperando por algo, e depois voltou a sua posição de antes, ouvindo sua risada baixa.

"O que é engraçado?", perguntou curioso, causando mais um riso no menor, antes do mesmo se recompor com as bochechas vermelhinhas.

Estava se esforçando para manter os olhos fechados, e JiHoon parecia estar acostumado a aquilo. Conversar sem ver, sentir um pouco mais.

"Você", explicou, e SoonYoung, abriu os olhos novamente para vê-lo sorrir sem lhe encarar. "Você é inquieto", acrescentou, e o Kwon não sabia se ele deveria se ofender ou não com aquilo.

Resolveu que não responderia, e voltou a fechar os olhos. Novamente a respiração de JiHoon era a única coisa que ele conseguia se concentrar, e a curiosidade bateu forte para perguntar.

"Por que esse tema?", sua voz saiu baixa sem motivos, e ele engoliu a seco.

"Eu gosto desse", respondeu simples, e SoonYoung passou seus dedos, um contra os outros sobre seu estômago. "Não há uma razão, eu apenas gosto".

"Ah", soltou o Kwon, e JiHoon abriu os olhos para vê-lo passar a língua pelos lábios, o rosto virado para o teto.

O Lee analisou sua expressão, os fios azuis que caiam sobre sua orelha, o seu pomo de Adão subindo e descendo, e em seguida a forma como o mesmo mordeu o lábio inferior, levemente impaciente. De alguma forma ele achava engraçado. De todos as pessoas que encontrou até agora, ele era o que parecia mais humano. Foi o que teve mais reações, que não parecia estar usando o mesmo código, gerava um expontâneo para suas ações.

"Você antes", começou o Lee, e SoonYoung abriu os olhos, e virou apenas seu rosto para ele. Seus olhos eram pequenos, brilhantes, cheios de curiosidade, ele não deveria ter mais do que cinquenta anos, calculou o mais novo. "O que estava fazendo?"

O Kwon piscou, e voltou seu olhar para a parede acima do corpo do mais baixo. A sombra na madeira se remexia, ela tremia cinco vezes antes de recomeçar, ele já havia visto aquele tema inúmeras vezes. Mas não era um de seus favoritos, na verdade ele o achava chato.

"Eu não sei", foi sincero, porque ele não fazia a mínima ideia. Ele só estava apertando o botão, e querendo que alguma daquelas imagens fosse real, que não fosse apenas uma ilusão. "Eu só... queria alguma coisa".

JiHoon soltou um hm sonoro, e SoonYoung abaixou seus olhos para ele, encarando seu rosto delicado. Seu corpo se virou automaticamente até que estivesse completamente de lado, e o menor o imitou. De repente o espaço largo da cama pareceu pequeno, ou os dois corpos que estavam muito próximos. O Kwon podia ouvir a respiração dele melhor daquela forma.

"Às vezes falta alguma coisa, não é?", perguntou o Lee, e o maior assentiu, resolvendo por encarar as mãos dele, que estava unidas próximas ao peito.

"Falta humanos", respondeu o maior, se esticando um pouco mais na cama antes de se encolher, e esfregou o rosto no colchão, o tecido do lençol enrugando com o ato.

"Humanos?"

"Falta pessoas de verdade", corrigiu-se, e abriu os olhos minimamente, para encarar os alheios.

"Iguais a você?", perguntou o Lee, e SoonYoung deu de ombros. Não sabia se ele era humano o suficiente, ou se era tão vazio quanto os outros.

"Na verdade eu não sei", murmurou fazendo um pequeno bico. "Não sei se sou humano ou se sou uma máquina".

JiHoon abriu um sorriso, sua mão subindo pelo tecido, procurando pela alheia. O Kwon inclinou sua cabeça para ver a menor sobre a sua, seus dedos finos apertando sua pele. Ele era quente, a mão era macia, se encaixou na sua, e o maior lhe encarou curioso.

"Pra mim você parece humano", disse suave, e SoonYoung sorriu minimamente, seus dedos apertando levemente os alheios, nunca havia feito aquilo. Segurar outra mão.

Era estranho, o polegar do Lee deslizava pelas costas de sua mão em círculos, e era bom, de certa forma. Voltou seus olhos para as mãos, e JiHoon se aproximou um pouco mais, seus corpos a centímetros de distância.

"Obrigado", sussurrou o maior, os olhos alheios lhe encararam a face, e despis se fecharam.

O Kwon lhe imitou, e desta vez não questionou, apenas se deixou levar. Em instantes ele se perdeu no mundo dos sonhos.


Notas Finais


Primeiro, se não seguem, sigam a SoonHoon Brasil no Twitter;
Segundo, se puderem, participem do projeto: Flores para JiHoon;
Terceiro, quero dizer que essa one é a minha favorita até agora, espero que tenham gostado~
Quarto, espero que tenham entendido o tema e a ironia daqui q
Obrigada a todos que leram~ <3


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