Narradora On
Rick permaneceu estático por alguns segundos. Seus olhos estavam arregalados e o coração estava acelerado, quase pulando para fora de seu corpo. Ele encarava os olhos azul esverdeados de Reyna, e descobriu o quanto sentiu falta deles. Sentiu vontade de se jogar em sua amada e abraçá-la e beijá-la até cansarem, mas lembrou-se de que ela ainda estava machucada e ainda tinha dores pelo corpo.
Ele sorriu abertamente, como nunca havia sorrido há muito tempo. Reyna se esforçou para erguer um dos cantos dos lábios, mais que aliviada em saber que Rick estava vivo, e ao seu lado. Ela observou enquanto o líder se aproximava em passos lentos, sem tirar ou diminuir o sorriso do rosto, até sentir o toque suave em seu rosto. Rick colou sua testa da dela, e fechou os olhos por alguns segundos, antes de depositar um longo beijo em seus lábios. Eles desejavam mais, queriam ter um ao outro novamente, mas sabiam que teriam que esperar até Reyna estar melhor.
— Você não tem noção do susto que deu em todos. — disse Rick, ainda inclinado sobre ela, acariciando seu rosto levemente.
— Foi mal. — Ela respondeu. Rick estremeceu apenas em ouvir a voz de Reyna novamente.
— Essa é sua desculpa? — Rick perguntou, divertido. Eles riram juntos, encarando os olhos um do outro. — Como se sente? — Ele voltou a ficar com a postura ereta enquanto se sentava novamente na cadeira.
— Acabada. — Ela respondeu simplesmente, com a voz grossa e rouca. Rick assentiu. — O que aconteceu enquanto estava apagada? — Ela perguntou.
— Basicamente, Jayden doou sangue para você, Daryl quase enlouqueceu, todos vieram te ver e Carl acordou. — Ele respondeu, rápido e direto. Reyna ergueu as sobrancelhas, atordoada com a quantidade de informações.
Um alívio enorme surgiu em seu peito quando ouviu que Carl havia acordado e que estava bem. Ela se lembrava que o garoto era uma das suas preocupações antes de desmaiar. Ouvir sobre Jayden a deixou um pouco preocupada por não saber a quantidade de sangue que ele precisou doar, e queria se levantar e vê-lo naquele exato momento.
E então pensou em Daryl. Seu coração quase pulou por sua garganta quando ouviu como seu irmão estava. Queria se levantar, correr de encontro ao mais velho e certificá-lo de que ela estava bem, e que ele não precisaria mais se preocupar, mas mal conseguia mover seus músculos por conta da dor e fraqueza.
— Onde ele está? — Ela perguntou.
— Em casa. Ele dormiu aqui essa noite. — Rick respondeu, acariciando a mão da mulher.
— Eu preciso... — Ela fez força para se levantar, mas logo desistiu com um grunhido de dor. Ela levou uma das mãos até a cabeça. — Minha cabeça está explodindo. — disse ela. Rick preocupou-se, e pensou em gritar por Denise.
— Não se mexa, tudo bem? — disse ele, calmo. — Eu mesmo chamarei Daryl, mas você precisa comer alguma coisa. Está vivendo a base de soro nas veias. — Seus olhos quase imploravam, e apenas isso fez Reyna ficar parada. — Não saia daqui. Vou pedir para alguém trazer algo que possa comer.
Reyna assentiu, divertindo-se com a preocupação de Rick. Ela o observou sair pela porta, afobado, até perdê-lo de vista e soltar uma leve risada. Grimes não conseguia descrever o tamanho de sua felicidade e alívio, e não duvidaria se alguém dissesse que não tirava o sorriso do rosto. As primeiras pessoas que avistou na porta da enfermaria foram Denise e Tara.
— Hey, Denise. — Ele chamou. A médica caminhou rapidamente, com a namorada em seu encalço.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, aflita. Tara tinha uma expressão assustada no rosto. Rick não desmanchou o sorriso.
— Aconteceu. Aconteceu alguma coisa. — Ele afirmou, animado. As duas se entreolharam. — Reyna acordou. Ela está bem, só precisa de algo para comer. — Tara ergueu as sobrancelhas, sem esconder o sorriso. Denise pareceu aliviada, e levantou suavemente um dos cantos dos lábios, em um sorriso tímido.
A médica correu para dentro da enfermaria, com Tara e Rick em seu encalço. Como o local era uma casa, ela correu até a cozinha, e preparou rapidamente um sanduíche e um suco de laranja para a Dixon, enquanto a namorada iria ver sua amiga. Com a ajuda de Tara, Reyna se sentou na cama, e abraçou rapidamente a mulher, que sorria abertamente.
— Já estava começando a me preocupar. — disse Tara, em tom divertido. Reyna soltou uma risada nasalada.
— Ainda não ensinei Julian a caçar. — Ela respondeu, arrancando mais um sorriso da mulher e de Rick. Denise entrou no quarto, um tanto afobada, com um prato e um copo em mãos.
— Que bom que está bem, Srta. Dixon. — disse ela, entregando o prato com o sanduíche de queijo para Reyna. Ela acenou com a cabeça em agradecimento, recebendo um suspiro aliviado como resposta. — Qualquer coisa, por favor, peça para me chamar. — disse mais uma vez.
— Obrigada, Denise. — Reyna agradeceu, sem sorrir.
Ela mordeu o sanduíche, e se sentiu imensamente melhor apenas por sentir o gosto do pão e do queijo em perfeita harmonia em sua boca. Ela fechou os olhos, enquanto comia com seu jeito habitual e grosseiro. Nenhum dos presentes abriram a boca, apenas observando, aliviados e agora despreocupados, a mulher comer. Reyna bebericou o suco após terminar o sanduíche, e sentiu como se fosse a primeira bebida que ingeria há anos. O líquido se esvaiu com a mesma rapidez do pão, e Reyna não poderia descrever, nem se quisesse, o quanto se sentia melhor, como se houvesse levado uma injeção de adrenalina.
— Como se sente? — Denise perguntou, segurando novamente o prato e copo, agora vazios. Reyna puxou uma grande quantidade de ar para os pulmões antes de responder.
— Melhor. — Ela respondeu simplesmente, querendo se levantar da cama e caminhar até sua casa. Ela queria, mais do que antes, ver seu irmão naquele momento. — Quando vou poder ir para casa? — perguntou. Rick percebeu sua aflição.
— Bom, vai ter que trocar o curativo do ombro algumas vezes ao dia, talvez um dia, ou menos... — Denise dizia, mas Reyna não prestou nenhuma atenção.
— Posso ir agora? — perguntou, se impulsionando para se levantar, sendo impedida por Rick.
— Rey, vá com calma. — disse Rick, carinhosamente empurrando-a de volta para a cama.
— Big Grimes, quero ver meu irmão. Quero ver Daryl. — Ela pediu, quase implorando com os olhos, fixando-os nos azuis penetrantes das orbes do líder. Rick suspirou e se virou para Denise.
— Posso levá-la? — perguntou, aflito. Denise hesitou, parecendo preocupada, mas acabou abrindo um ligeiro sorriso.
— Preciso fazer alguns exames, mas nada que não possa deixar para mais tarde. — disse ela. Reyna voltou a olhar para Rick, como uma criança olha para seus pais quando quer alguma coisa.
Rick passou o braço de Reyna por seus ombros e segurou firmemente sua cintura, sentindo-se completo mais uma vez, apenas por ter a Dixon ao seu lado. Apesar de estar se sentindo melhor, Reyna ainda estava fraca, e seus músculos, além de seu ombro, doíam como o inferno, mas ela simplesmente se obrigou a desviar sua atenção de suas dores para apenas se importar com seu irmão, e com o toque de Rick ao seu lado.
Reyna se obrigou a controlar sua ansiedade e não sair simplesmente correndo da enfermaria. Por mais que quisesse, sabia que não conseguiria dar um passo sequer antes de atingir o chão. Rick percebeu todo o controle que Reyna tentava manter sobre seu corpo, e para ajudá-la, enquanto se aproximavam de casa, ele colocou um pouco mais de pressão no aperto em sua cintura, impedindo-a de se soltar.
Reyna encarava a situação de Alexandria enquanto caminhava até sua casa. Ainda havia corpos espalhados pelas ruas, mas eram em uma quantidade menor do que se lembrava antes de desmaiar. Os moradores trabalhavam na reconstrução dos muros, e pareciam tão concentrados, que quase nem notaram que a Dixon havia acordado. Ela sentiu um leve orgulho surgir em seu peito, por se lembrar da árdua luta, onde os Alexandrinos se dispuseram a defender seu lar até que o último morto estivesse no chão.
— Parece que erramos ao julgá-los. — Ela fez uma observação, recebendo uma risada fraca do líder como resposta.
Reyna não viu ninguém de sua família pelo caminho, e imaginou que estivessem trabalhando na reconstrução da comunidade. De certo modo, foi bom, já que ela poderia ver seu irmão o quanto antes, mas ainda assim queria comprovar, com seus próprios olhos, que as pessoas que amava estavam realmente bem.
Quando chegaram em frente à casa, Reyna sentiu seu interior se agitar ligeiramente. Ela fez menção de apressar os passos, mas Rick novamente a segurou. Ele abriu a porta e a colocou delicadamente sentada no sofá da sala. Ela rodou os olhos por todo o cômodo, mas não viu seu irmão, presumindo que estivesse em seu quarto.
— Espere aqui, não quero que faça muito esforço. — disse ele, cuidadoso e cauteloso. Reyna hesitou, mas cedeu ao pedido, visando que seria mais fácil esperar do que forçar seu corpo a subir as escadas.
Rick subiu as escadas apressadamente, de dois em dois degraus. Viu de relance que Cassie já havia ido embora, e Carl estava em sua cama, lendo alguma HQ. Passou pelo quarto dos pequenos e se lembrou que teria que buscá-los na casa de Michonne e Carol. Quando finalmente chegou na porta do quarto de Daryl, não hesitou ao entrar. Ele encontrou o Dixon em sua cama, dormindo. A besta permanecia ao seu lado juntamente com uma faca.
— Daryl. — Ele chamou, com o tom de voz um pouco alto. O Dixon se levantou em um solavanco, já puxando e empunhado a besta. Ele apenas abaixou a arma quando percebeu que Rick estava em sua frente.
— Puta merda, o que foi? — Ele perguntou, com a voz ainda grossa.
— Te aconselho a descer, agora. — Rick respondeu, ainda tentando controlar sua respiração. Daryl franziu o cenho. — Sua irmã...
Daryl não precisou mais escutar nenhuma palavra sequer. Ele largou a besta com brutalidade na cama, e saiu do quarto em disparada, sem nem ao menos colocar os sapatos. Ele desceu as escadas como um raio, pulando vários degraus, deixando seu caminho mais curto. Daryl rodou os olhos por todo o andar de baixo, até repousar o olhar no sofá, onde viu Reyna sentada, parecendo fraca, machucada, mas acordada e viva.
— Hey, big brother.
O Dixon sentiu seus olhos arderem, mas dessa vez decidiu não controlar nenhuma lágrima, como tinha feito ao longo do dia que Reyna estava na enfermaria. Ele sorriu abertamente, em um raro momento de felicidade e alívio. Reyna sorriu de volta e se levantou, com um pouco de dificuldade. Daryl apressou o passo na direção de sua irmã, e segurou seus braços, dando-lhe estabilidade.
Ele observou atentamente todo o rosto da mulher, com o mesmo raro sorriso no rosto. Reyna fazia o mesmo, mas enxugava delicadamente as lágrimas de seu irmão, até finalmente envolver seu pescoço e puxá-lo para um abraço apertado. Daryl envolveu firmemente sua cintura, sentindo um peso enorme se esvair de suas costas. Ele enfiou o rosto na curva do pescoço da mulher e fechou os olhos, apenas deixando o alívio tomar conta de seu corpo. Reyna levou uma das mãos até os fios longos dos cabelos de seu irmão, e deixou uma leve carícia ali.
Rick encarava a cena toda com um sorriso vitorioso no rosto, vendo o quanto aqueles dois se completavam. Ele sabia que Daryl e Reyna eram o exemplo perfeito de irmãos que se amavam, e fariam qualquer coisa um pelo outro.
— Como se sente? — Daryl perguntou, após se separar, a contra gosto, de sua irmã. Reyna o olhou nos olhos.
— Estou viva, não? Mais uma vez. — Ela sorriu sem ânimo. Daryl suspirou, derrotado. Ele sabia que Reyna se sentia culpada por sobreviver a uma mordida, enquanto outras pessoas não tinham a mesma sorte. — Mas só preciso descansar um pouco. Meu corpo inteiro está gritando pela minha cama e meu ombro dói como o inferno.
Daryl sorriu fracamente, apoiando o braço da irmã sobre os ombros. Rick caminhou rapidamente até os dois, e se fez de apoio a Reyna igualmente para poderem subir as escadas com mais facilidade. Reyna soltou uma risada no meio do caminho.
— Espero não estar parecendo tão derrotada quanto realmente estou. — Ela comentou divertida, arrancando leves sorrisos dos dois homens.
— Já passou por coisa pior, maninha. — disse Daryl. A mulher deu de ombros, ainda com a expressão divertida no rosto.
— Pai? — Carl chamou do quarto após ouvir a conversa enquanto o trio subia as escadas. — Pai, Reyna está aqui? Ela acordou? — Ele perguntou, com a voz impaciente.
Reyna não esperou Rick responder algo, como "Ela precisa descansar", ou "Reyna ainda está fraca demais". Ela simplesmente se impulsionou em cima de Daryl, na direção do quarto do garoto, ansiando por ver Carl. Ela ainda estava muito preocupada com ele, e queria confirmar se Little Grimes estava bem.
Ao entrar no quarto, Reyna sorriu ao ver Carl acordado, ao mesmo tempo que sentiu uma pontada no peito por ver a faixa em volta de sua cabeça. O garoto sabia que precisava ficar de repouso por conta do olho, mas não hesitou antes de se levantar e caminhar até Reyna. Ele a abraçou, também servindo de apoio para ela. A Dixon fechou os olhos, incrivelmente aliviada por vê-lo bem.
— Que bom que está bem. — disse ele após se separar. Daryl logo equilibrou sua irmã novamente.
— Digo o mesmo, Little Grimes. — Ela respondeu, apoiando seu peso em seu irmão e em Rick, deixando que os dois a conduzissem novamente.
Carl voltou a se deitar na cama, e observou o trio sair do quarto. Reyna estava cada vez mais cansada, e sua cabeça latejava, gritando para que descansasse em sua própria cama. Nem mesmo um banho ela tinha condições de tomar, mas não deu a mínima. Rick retirou o braço da mulher de seus ombros, e a segurou pela cintura, enquanto Daryl se agachava e posicionava a irmã sobre a cama.
— Isso é vergonhoso. — Ela comentou, sarcástica enquanto se ajeitava, desajeitadamente, na cama.
Os dois deixaram a mulher sozinha no quarto, após terem a certeza de que ela estava confortável. Ao sair do quarto, Daryl suspirou, aliviado, despreocupado. O aperto no coração não era mais presente, e ele deixou um leve sorriso escapar por isso. Rick o acompanhou, igualmente aliviado e feliz. Os dois deixaram a casa juntos, após Daryl voltar para o quarto e calçar um sapato, caminhando um para cada lado. Alexandria não se reconstruiria sozinha.
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