Narradora On
Reyna acordou, com uma leve dor de cabeça a encomodando. Ela olhou ao seu redor, tentando descobrir onde diabos estava, mas tudo o que conseguiu ver foi um feixe de luz em baixo de uma porta. Ela sentia-se desconfortável, até perceber que estava deitada de bruços no chão. Ela fez menção em se mover para sentar-se, mas suas costas gritaram com um mísero primeiro movimento. Ela grunhiu com a dor, voltando sua cabeça para o chão.
— Rey. — Uma voz ecoou. Ela reconheceria a voz de seu irmão a qualquer distância.
A Dixon tinha total consciência do que acontecera na outra noite, e sentiu seu coração ser destroçado mais uma vez. Era óbvio que ela estaria ali. Negan nunca a deixaria voltar com os outros para Alexandria, e não era surpresa saber que Daryl também havia sido levado. Negan faria de tudo para mexer com o psicológico de Reyna, e ela tinha certeza disso.
— Como se sente? — Ele perguntou, mesmo sabendo que era uma pergunta idiota, ajudando-a a sentar-se.
— Em relação a que? — Ela devolveu, apoiando o ombro na parede, com a dor exposta em seu rosto, sem que Daryl conseguisse ver muito bem por conta da pouca claridade. — Já havia me esquecido de como doía. — Ela soltou uma risada sem ânimo.
Daryl não a acompanhou na risada. Ele tinha seu interior completamente devastado. Sentia-se um lixo, um trapo inútil. Reyna percebeu a tensão em seu irmão, mesmo que não conseguisse ter nitidez do olhar do Dixon. Seu coração se apertou, lembrando-se de Abraham. Ele foi um dos melhores homens que Reyna conheceu, mostrando bondade ao mesmo tempo que era corajoso. Ele protegeria sua família com unhas e dentes, assim como ela tentaria. Ela suspirou.
— Daryl. — chamou. Ele virou seu rosto para o lado. — O que mais aconteceu? — Ela estava temerosa em perguntar. Negan era capaz de tudo. O Dixon calou-se. — Daryl? — Ela tentou mais uma vez, sentindo seus olhos arderem contra sua vontade.
— Foi culpa minha. — disse ele, em um fio de voz. Não sentia vergonha de chorar em frente à sua irmã, mas sentia toda a culpa destruindo-o aos poucos. Reyna franziu o cenho. — Eu devia ter ficado quieto. Eu não queria... — Ele fez uma pausa.
— Quem? — Reyna perguntou, já imaginando o que acontecera. Daryl arfou, sem coragem de proferir o nome.
— Glenn. — Ele finalmente tomou coragem, mas sentiu-se mais idiota que antes.
Reyna ficou sem reação. Ela apenas ficou encarando o chão, coberto pela escuridão do pequeno quarto. Seu coração, já destroçado, destruiu-se um pouco mais, e ela desligou-se completamente do mundo. Seus pensamentos caminharam até Maggie e o filho que carregava. Ela não parecia muito bem naquela noite, e isso preocupava a Dixon.
— Eu nem mesmo sei se Maggie está viva. — Daryl comentou, com a voz falha mostrando sua devastação.
Reyna não conseguiu responder, ainda estava sem ação alguma. Sentia-se sem chão. A imagem de Abraham e Glenn girava em sua cabeça repetidas vezes. Uma lágrima sorrateira escorreu de seu olho esquerdo, e ela abafou um grunhido. Daryl encolheu os ombros, pensando que Reyna nunca mais iria querer olhar para a sua cara, mas estava enganado. Reyna queria apoiá-lo, mas no momento, ela mesma precisava de apoio.
— Eu sou um idiota. Por que diabos eu fui socá-lo? — Daryl murmurava para si mesmo as mesmas palavras a todo instante.
— Pare! — Reyna finalmente conseguiu encontrar sua voz e dizer algo. — Não diga nada. — concluiu, apoiando sua cabeça no ombro de seu irmão.
Daryl apoiou a cabeça na parede, deixando que uma única lágrima escorresse em sua face, a qual apressou-se em limpar de um jeito bruto e impaciente. Ele odiava chorar. Todo Dixon odiava mostrar qualquer sentimento, principalmente que demonstrasse fraqueza. Reyna controlou as lágrimas, mesmo que sentisse todas as suas forças se esvaindo, juntamente com o resto, quase inexistente, de sua disposição.
A porta foi aberta bruscamente, fazendo com que ambos os Dixons se recompusessem, como se nada houvesse acontecido. Como se não pudessem nunca ser abalados. Reyna teve que se acostumar com a claridade, mas logo focou seus olhos em duas figuras femininas. Uma delas tinha cabelos em um tom de azul desbotado, como se houvessem sido pintados amadoramente. A outra tinha os braços expostos, mostrando as várias tatuagens que os cobriam.
— Vejam só quem finalmente acordou. — Stellar zombou, adentrando a cela em seguida. Ruby permaneceu encostada no batente da porta. — Quase três dias dormindo na merda do apocalipse? É um recorde. — Ela tinha o mesmo sorriso sarcástico de seu pai. Daryl revirou os olhos, ao passo que Reyna bufou.
— Veio conversar ou me separar de meu irmão? — Reyna foi direta na pergunta. Stellar ergueu as sobrancelhas. — É o que seu pai faria. — disse ela, fingindo estar relaxada com a ideia.
— Parece que o Anjo de Lúcifer se lembra da estadia no Santuário. — A garota aproximou-se da Dixon, e agachou para poder ficar da mesma altura dos dois irmãos.
— Como esqueceria, não é mesmo? — Reyna comentou sarcasticamente. — Tinha várias visitas em minha cela. Era uma festa. — Reyna nunca havia usado tanta ironia em toda sua vida, e não sabia de onde toda aquela coragem havia vindo.
— Que audácia, Reyna. Caralho. — Stellar comentou, com um sorriso largo no rosto.
— O que quer dizer com visitas? — Ruby mostrou-se preocupada com o comentário da Dixon, mas Stellar não deu importância.
— Você entendeu. — Daryl fez questão de responder, com o sangue fervendo de ódio.
— Pois é, Reyna, você está certa. — Stellar ignorou o assunto. — Você não vai ficar com seu irmão. Não queremos outra fuga não é mesmo? — Ela sorriu. — Só deixamos que ficasse aqui até acordar para não encher a porra do nosso saco.
— Nagan pediu para que alguém vigiasse você. — disse Ruby, revirando os olhos. — Eu mesma escolhi, então não tem com que se preocupar. — concluiu, lançando um olhar reconfortante a Reyna.
— Chame-o logo, tenho coisas melhores a fazer. — Stellar murmurou para a amiga. Ruby puxou um rádio do cinto.
— Pode vir. — disse ela. — Se quiser, sei lá, se despedir de seu irmão, fique à vontade. — Stellar a encarou com as sobrancelhas erguidas. — Não fale. — A garota soltou uma risada irônica, e saiu de dentro da cela. Ruby a acompanhou.
Reyna virou-se para seu irmão, e segurou firmemente seu rosto. Daryl encarava os olhos de sua irmã, percebendo que o que ele deduziu não era verdade. Reyna não o culpava. Ela não sentia raiva dele. Ela apenas queria servir de apoio, assim como ela também necessitava do apoio de seu irmão, e foi com isso na cabeça que Daryl levantou-se rapidamente e ajudou Reyna a fazer o mesmo, ignorando a dor no ombro ao puxá-la para cima.
— Não coloque toda a culpa sobre você. — disse ela, mais uma vez capturando o olhar de Daryl. Ele encarou o chão, mas assentiu após alguns segundos.
Reyna colou sua testa na de seu irmão e fechou os olhos. Ela sentiu a mão de Daryl acariciar levemente sua bochecha, e ela sentiu-se uma criança novamente. Quando era pequena, inocente e frágil demais, e necessitava da proteção de seus irmãos. Daryl depositou um leve beijo na testa de sua irmã, e arfou.
— Chega de despedida. Hora de ir, Reyna. — Stellar chamou do lado de fora da cela.
Ao virar seu rosto para encará-la, Reyna viu a figura grande de um homem. Os braços fortes, tinham algumas tatuagens, e ela lembrava-se de cada uma delas. Pela primeira vez desde que acordou, a Dixon sentiu vontade de sorrir, assim como seu irmão. Eles encaravam o homem com um misto de alívio e felicidade, que tentaram ao máximo não demonstrar demais. Lincoln Burrows estava vivo. Um de seus melhores amigos estava vivo, e parado em suas frentes.
— Hey, eu falei hora de ir. — Stellar chamou sua atenção mais uma vez.
Reyna fez um esforço absurdo para abaixar a cabeça e caminhar até o exterior da cela. Daryl tentou desviar o olhar, mesmo que parecesse impossível. Lincoln encarava os dois irmãos igualmente aliviado e feliz. Ele e Michael procuraram os Dixons de forma incansável, mas não conseguiam encontrá-los em lugar algum, então pensaram que estivessem mortos, ou muito longe.
— Ruby, acompanhe os dois até a cela. Vou em uma ronda com Dylan, depois te encontro na sala de treinamento. — Stellar disse para que apenas sua amiga ouvisse. Ruby lançou um olhar cúmplice a ela. Stellar revirou os olhos e seguiu seu caminho.
Ruby liderou o caminho, em silêncio. Reyna queria virar-se para seu amigo e abraçá-lo, mas tinha que manter sua postura. Ela sabia que se os Salvadores soubessem que ela conhecia Lincoln, se Negan soubesse, ele nunca mais a deixaria vê-lo, e provavelmente iria sair pior para o lado de Burrows.
Eles viraram vários corredores, afastando-se cada vez mais da cela de Daryl, e ao virar em um dos corredores, um grupo de três homens também passava. Reyna engoliu em seco ao ver que conhecia um dos homens, e conhecia muito bem. Ash era um dos homens que entravam em sua cela e se aproveitavam do jeito que tinham vontade. Ele era um cara parrudo, fedido e repugnante. Apenas de olhar para ele, Reyna sentiu seu estômago revirar. Ela encolheu-se ao lado de Lincoln e atrás de Ruby, mas foi em vão.
— Esperem um segundo. — disse ele tanto para os dois homens quanto para os outros. — Sério que você escolheu o merdinha do Burrows para vigiar o Anjo de Lúcifer? — perguntou, aproximando-se de Reyna com um olhar malicioso enquanto a encarava de cima abaixo.
— Ela escolheu. Não enche. — Lincoln apressou-se ao falar, tentando entrar na frente da Dixon.
— Quem você pensa que é? — Ash retrucou, empurrando Lincoln para o lado. Burrows teve que se segurar para não socá-lo. — Só estou querendo dizer que eu vigiaria o Anjo de Lúcifer muito melhor. — Ele estava perto demais quando passou os dedos pelo rosto de Reyna.
A Dixon não aguentava mais. Sua raiva aumentava a cada segundo que sentia o cheiro daquele homem perto de si. Estava cansada. Ela segurou a cabeça de Ash e a puxou até que se chocasse fortemente com seu joelho. O nariz do homem foi atingido, e um fio de sangue escorreu.
Mas ele não deixou por isso. Ash impulsionou seu punho até o rosto de Reyna, e acertou a maçã do rosto da Dixon, com uma força extrema. Ela estava fraca demais, não conseguiu aguentar seu próprio peso e foi ao chão. Sua visão estava turva, mas conseguiu ver que Ruby apontava um revólver para os outros dois homens, enquanto Lincoln segurava Ash. O homem gritava e xingava, tentando passar por cima de Burrows.
— Que merda está acontecendo aqui? — A voz de Negan soou alta. Ele segurava Lucille em um dos ombros, e tinha o semblante raivoso. Todos se ajoelharam, inclusive Lincoln e Ruby. — Por que Reyna está no chão?
— Ela me agrediu, senhor. — disse Ash, limpando o sangue que escorria de seu nariz. Negan encarou a Dixon, e aproximou-se dela, puxando-a para cima sem delicadeza alguma.
— Negan...
— Calada, Ruby. — Ele a interrompeu. — Levantem-se. — Eles o fizeram. — Meu caro Ash, ninguém agride mulheres aqui. E absolutamente ninguém agride Reyna aqui, não importa o que for. — A Dixon ergueu as sobrancelhas. — Ninguém além de mim, é claro. — Ele sorriu.
— Mas, senhor... — Ash tentou.
— Eu disse ninguém! — Negan cortou sua fala, ainda com o sorriso no rosto. — Agora você e sua bunda gorda vazem daqui e façam algo de útil. E leve esses dois com você. — Ele ditou. Ash assentiu, lançando um olhar raivoso para a Dixon. — Por que sempre se mete em encrenca, baby? — Negan virou-se para ela.
Reyna não respondeu. Ela nem sequer olhou para o rosto do homem, mas tinha consciência do olhar pesado de Negan sobre si. Ela ignorou a dor no rosto por conta do soco, enquanto virava-se para voltar a seguir seu caminho. Negan soltou uma risada nasalada, e deu as costas. Logo, Lincoln e Ruby posicionaram-se ao lado da Dixon.
— Você está bem? — Ruby perguntou, liderando o caminho. Reyna apenas assentiu, o que era uma mentira. Ela sentia-se longe de estar bem.
Ao chegarem na cela onde Reyna ficaria, Lincoln disse que cuidaria de tudo a partir dali. Ruby assentiu, e lançou um aceno com a cabeça antes de virar-se e afastar-se do local. Reyna esperou alguns longos segundos, certificando-se de que ela estava realmente longe, e impulsionou seu corpo na direção de Lincoln.
Ele a apertou em um abraço, tomando cuidado com os machucados em suas costas. Ele mesmo havia ajudado a tratá-los e costurá-los, como seu irmão ensinara uma vez. Já Reyna não ligava se suas costas doíam, ou seu rosto. A única coisa que ela se importava naquele momento era que Lincoln estava vivo.
— Sabe o quanto procuramos você e Mike? — Ela perguntou, sem afrouxar o aperto no abraço.
— Também procuramos. — Ele respondeu.
— E Michael? Está vivo? Está aqui? — Reyna afastou-se apenas para conseguir olhar o rosto do amigo.
— No momento, você apenas precisa saber que tudo dará certo. Confie em mim...
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