Narradora On
Ninguém ousou mover um músculo no momento que Rosita atirou. Os moradores estavam rezando para que a bala tivesse acertado Negan, mas ao mesmo tempo queriam que nada acontecesse. Eles queriam o líder dos Salvadores morto, mas sabiam das consequências caso sua morte acontecesse naquele momento, e tinham plena consciência de que seria muito pior.
A bala teria acertado Negan, se não fosse por uma única coisa, ou pessoa. Ruby correu até o chefe, e o empurrou para o lado. Negan foi ao chão com o impacto, assim como Ruby, porém, o tiro havia acertado na mulher, e ela agonizava de dor no chão, segurando o ombro esquerdo com força. Stellar correu na direção da amiga para socorrê-la. Reyna fez o mesmo, mas procurou Tara com o olhar enquanto se aproximava de Ruby.
— Vadia. — Stellar gritou na direção de Rosita, apontando a Colt Python, antes de Rick, para a mulher.
— Não. — Reyna impulsionou seu corpo, e tirou Rosita da mira da filha de Negan. — Tara! — gritou ela, pedindo para que a mulher a ajudasse.
Tara foi ao encontro das três. Stellar não ligou para a ação de Reyna. No momento ela estava se importando apenas com a melhor amiga agonizando de dor no chão. Negan já estava de pé novamente, observando, preocupado. O resto dos moradores encontravam-se chocados e amedrontados. Lincoln aproximava-se devagar, pronto para levantar Ruby e levá-la até a enfermaria de Alexandria.
— Pode cuidar dela? — Reyna perguntou a Tara. A mulher estava assustada, mas assentiu, com os olhos arregalados e o rosto desprovido de cor.
— Não sou médica, mas acho que posso fazer algo. — disse ela. Reyna balançou a cabeça, procurando Burrows com o olhar.
— Linc, leve Ruby até a enfermaria. Tara vai cuidar dela. — Stellar e Negan permaneceram calados, apenas observando enquanto Reyna dava as ordens.
Pai e filha estavam surpresos demais. Reyna tinha um carinho por Ruby, e eles puderam perceber naquele exato instante, assim como notaram que a Dixon tinha uma certa intimidade com Lincoln, já que ela o chamava por um apelido. Stellar nunca diria, mas agradeceu Reyna mentalmente naquele momento. Quando ela viu a amiga caindo, e o sangue escorrendo de seu ombro, seu coração parou por um segundo, antes do sentimento de ódio puro em relação a Rosita prevalecer.
Lincoln firmou Ruby em seu colo antes de seguir Tara até a enfermaria. Reyna encarou, atenta e preocupada, assim como Stellar e Negan. O último não sabia como e porquê Ruby fizera aquilo por ele, mas tinha noção de que devia uma a mulher. E não havia sido a primeira vez. Ruby Adams sempre cuidou de Stellar, e Negan seria eternamente grato.
— Você não tem noção do quanto eu quero enfiar a porra de uma bala na sua cabeça. — Stellar proferiu, raivosa, para Rosita. Reyna voltou a prestar atenção na cena, e só naquele momento percebeu o quanto a situação dos moradores de Alexandria estava por um fio.
— Stellar. — Negan chamou, mas a filha o ignorou.
— Poderia te matar agora mesmo, mas não seria divertido o bastante. — Ela continuou, com os fios azuis de seu cabelo voando em seu rosto, escapando do rabo de cavalo. — Quero ver sua ruína pelos seus olhos. Quero ver a ruína de cada um aqui. — Ela estava enlouquecida com a raiva, e Reyna tinha certeza de que se Ruby tivesse morrido, seria muito pior. — Você gosta das pessoas aqui? — Stellar perguntou, encarando Rosita nos olhos, perigosamente próxima. — Se não gosta, tenho certeza de que Reyna gosta, e se importa. — Ela virou-se para a Dixon.
— Stellar. — Negan tentou mais uma vez, aproximando-se de sua filha.
— Seria uma pena se balas voassem, não é? — Stellar sorriu diabolicamente, antes de virar seu corpo até a varanda da casa dos Grimes e atirar.
Carl, Olivia e Jayden estavam lá, assustados demais. Reyna sentiu seu mundo cair ao pensar que a bala poderia atravessar direto o corpo de Jay ou de Little Grimes, mas a pessoa atingida fora Olivia, o que não era menos pior. Reyna tinha seus olhos arregalados e respiração descompassada, encarando enquanto o corpo de Olivia caía no chão, com o escarlate escorrendo de sua testa. Jayden tentou segurá-la, mas sua surpresa era tão grande, que não conseguiu chegar a tempo, e o corpo de Olivia finalmente atingiu o chão.
— Já chega. — Negan segurou fortemente sua filha, puxando-a para trás. — Acho que todos entenderam o recado.
Pov. Tara Chambler
Eu nem sabia o porquê de eu estar ajudando aquela mulher. Eu nem a conhecia, além de ela ser uma Salvadora. Queria distância de todos eles, mas lá estava eu, na enfermaria ajudando a mulher que me impediu de falar com Reyna, enquanto o outro cara me encarava, deixando-me desconfortável. Aquilo tudo estava me deixando nervosa.
— Pode, por favor, se afastar? — pedi, rudemente, tentando manter a calma e lembrar de tudo que aprendi com Denise.
Sentia falta de Denise. Quando soube de sua morte, a única coisa que fui capaz de sentir por Negan, pelos Salvadores e principalmente pelo tal Dwight, era o mais puro ódio. Queria todos mortos, e o sentimento apenas se intensificou quando soube da morte de Abraham e Glenn. Não conseguiria descrever como me senti, nem se quisesse. Glenn era como um irmão. A pessoa que me ajudou no momento em que eu estava na verdadeira merda.
E não havia terminado aí. Reyna e Daryl haviam sido levados como prisioneiros. Naquele momento, meu coração já havia ido para o espaço. Era muita merda acontecendo, bem que Reyna tentou nos avisar. E onde estava eu? Ajudando uma das pessoas que eu queria morta, apenas porque a Dixon pediu. O que mais me intrigava era o porquê de Reyna ter pedido para que eu a ajudasse.
— Por que diabos eu estou fazendo isso? — murmurei para mim mesma, enquanto limpava ao redor do ferimento.
A bala havia pego de raspão no ombro esquerdo da mulher, o que facilitava as coisas. Apenas precisaria costurar o ferimento. A grande sorte era que Negan não havia levado absolutamente todos os medicamentos, então ainda tinha condições de fazer pelo menos um curativo decente.
— Linc. — A mulher chamou o homem, tentando ignorar a dor que estava sentindo no momento que comecei o processo de costura. — Stellar vai fazer merda. — disse ela, grunhindo com a dor nos intervalos das palavras. — Vá até lá, ficarei bem.
— Ruby...
— Reyna está lá sem proteção. Stellar tem total liberdade de fazer o que bem entender. — Ela fez uma pausa, encarando-me por um segundo, com o rosto contorcido. — Vai.
O homem, o tal Linc, saiu da enfermaria correndo, e junto com ele, mais um tiro ecoou. Parei o que estava fazendo, preocupada com minha amiga no meio daquilo tudo. A mulher parecia igualmente atordoada, mas logo voltou a grunhir, fazendo-me voltar a atenção até seu ombro.
Terminei o curativo o mais rápido que consegui, sempre seguindo os conselhos que Denise me dera um dia. No fim, a mulher parecia mais relaxada, mesmo que ainda sentisse dor. Pude perceber sua preocupação com Reyna quando mandou o homem de volta até onde estávamos, e aquilo só me deixou mais intrigada.
— Obrigada. — disse ela, encarando o curativo depois que finalmente finalizei.
— Por que tem tanta preocupação com Reyna? — perguntei, um pouco rude. — Que eu saiba, ela é sua prisioneira.
— Ela é prisioneira de Negan. — Ela corrigiu. — Reyna é minha amiga. — A fala da mulher realmente me surpreendeu. — Mas de qualquer jeito, agradeço mais uma vez. — disse, levantando-se da maca onde estava sentada.
— Hey, espera, você acabou de levar um tiro. — disse, tentando fazer com que ela sentasse.
— Foi só um raspão, preciso voltar. — Ela respondeu, virando-se para a porta.
— Ou, calma aí. — Me apressei até conseguir alcançá-la. — Pode ter sido só de raspão, mas foi um corte profundo. Não sou nenhuma médica, então o curativo não está nas melhores condições. Só consegui fazer porque Denise me ensinou. — A mulher me encarou.
— Denise?
— A antiga médica daqui. — disse, abaixando ligeiramente a cabeça, triste com a lembrança. — Minha ex-namorada. — Não sei porque estava dando tanta liberdade a uma estranha, mas sentia que apenas precisava de alguém para conversar.
— O que aconteceu? — Ela perguntou, voltando até a maca e sentando-se.
— Foi assassinada. — respondi, com uma expressão sombria no rosto. — Por um dos seus. — A mulher pareceu envergonhada, encarando o chão em silêncio.
— Sinto muito.
— É, eu também. — respondi. O silêncio prevaleceu durante alguns minutos, e para falar a verdade, estava desconfortável, tanto para mim quando para ela. Mas então, ela levantou o rosto e encarou meus olhos.
— Ruby Adams. — Ela ergueu a mão direita em minha direção. Hesitei antes de aceitar o cumprimento.
— Tara Chambler. — respondi, encarando o verde de suas orbes fixamente.
Pov. Rick Grimes
Pela primeira vez, quis não ter colocado os olhos em Reyna. Ela estava quase irreconhecível. Parecia que não comia há semanas, e se comia, era extremamente pouco. Sua pele estava completamente desprovida de cor, e bolsas grandes e escuras encontravam-se sobre seus olhos. Estava fraca, acabada. Tudo o que eu queria era me aproximar e tirá-la dali, e ao encarar seus olhos, pude ver o vazio frio em suas orbes, ao mesmo tempo que o puro sofrimento gritava e transbordava por sua pele.
— Rick. — Negan chamou, com um sorriso sarcástico nos lábios.
Só então fui perceber o que realmente estava acontecendo. Spencer encontrava-se no chão, envolto por uma poça de sangue. Olivia estava na varanda de minha casa, Carl e Jayden estavam ao seu lado, mas consegui ver o tiro na testa da mulher.
— Que bom que se juntou à festa. — Negan se aproximou. Voltei a encarar Reyna, mas ela apenas olhava para o chão, ao lado do mesmo homem de antes, que estava sempre em sua cola. — Quero te contar uma coisa...
— Suas coisas estão em um caminhão, não sabia que viria mais cedo de novo. — disse, sem tirar os olhos de Reyna.
— Não vim aqui por isso, Rick. — Negan continuou. — Vim trazer seu filho de volta. — A simples frase me fez encarar o líder dos Salvadores. — Isso mesmo. Ele me fez uma visita, e quando chegou, saiu atirando em todos os meus homens com a porra de uma metralhadora. — Olhei para Carl. — Eu o trouxe de volta, e ainda fiz o almoço pra ele, sua filha e o... filho de Reyna, eu acho. — O tom do homem continuava irônico. Ele estava se divertindo com a situação.
— Acho que devia deixar os seus mais conscientes, Rick. — A filha de Negan, Stellar, aproximou-se, e não parecia muito feliz. — Esse aí no chão, queria que Negan o colocasse no comando disso aqui. — Ela continuou. — E aquela outra, foi uma consequência de um ato de uma das suas. — Sua voz era ameaçadora enquanto se aproximava. — Um conselho? Deixe todos cientes sobre com quem estão lidando. — Após a última frase, ela se afastou, mas continuou me encarando nos olhos, como um desafio.
— Já sabe pra quem ela puxou, não sabe? — Negan perguntou, sarcástico e ligeiramente orgulhoso. — Mas o recado está dado. Sabe que quem sofre as consequências é sua preciosa Reyna Dixon, não sabe?
— Já entendi. — disse, seco, controlando toda minha vontade de socar a cara de Negan naquele exato instante.
— Que bom.
(...)
Não precisei acompanhar todos até a saída, mas mesmo assim o fiz, apenas para conseguir ficar mais tempo próximo de Reyna, mesmo que fosse pouco. Tentei um contato visual, mas ela simplesmente não deixava de encarar o chão, como se estivesse envergonhada demais para me encarar.
— Ruby, graças a Deus. — Stellar murmurou um tanto alto.
Olhei para onde ela havia corrido, e pude ver Tara acompanhando uma mulher. Os braços expostos transpareciam todas as tatuagens que os cobriam. Eu já havia visto aquela mulher no outro dia, e notei que ela não estava feliz, ou até mesmo satisfeita em estar aqui, em estar com Negan, exatamente como o cara que sempre estava ao lado de Reyna.
— Obrigada mais uma vez. — disse a tal Ruby para Tara, e só então pude perceber o curativo em seu ombro esquerdo, e o sangue manchando a camisa que usava.
— É disso que Stellar estava falando. — disse Negan, próximo de meu ouvido.
— Posso falar com Reyna? — Não sabia por que havia perguntado. Já sabia a resposta, mas mesmo assim tentei.
— Posso voar? — Negan rebateu com outra pergunta. — Acho que sabe a resposta, certo?
Ele não esperou nenhum movimento meu, apenas seguiu até seu caminhão, levando Reyna pelo braço e Lucille apoiada em seu ombro. Enquanto observava todos indo embora, percebi o quanto estava cansado. Cansado dos Salvadores. Cansado de Negan. Cansado de me sentir culpado. Cansado de ver minha mulher daquela maneira. E principalmente, cansado de ver os membros de minha família sendo tratados como escravos.
(...)
— Eu a vi. Estava acabada e machucada. — disse a Michonne, segurando as lágrimas em meus olhos.
— Ainda estamos vivos, Rick. — disse ela, encarando meus olhos. — Estamos de pé, e vamos continuar. — Ela fez uma pausa. — Somos os que vivem. Somos os que se erguem. — Ela continuou. Apenas escutei, sem abrir a boca. — Reyna é como uma irmã pra mim, assim como você e Daryl. Nossa família está em perigo, Rick. — Ela se aproximou. — E é por isso que temos que lutar. — Sua voz era decidida. — Já estou cansada de ver as pessoas que amo sofrerem nas mãos desse homem. Negan não merece a vida que tem. — A imagem do que Reyna pode estar passando no Santuário me veio à mente. — Nós podemos fazer isso, mas só se fizermos juntos. Vamos lutar, e vamos achar um jeito de derrotá-los.
— Eu sei disso agora. — respondi, após segundos em silêncio. — Eu sei. — Pensei em meus filhos. — Nós vamos lutar, e eu vou salvar meu irmão e minha mulher daquele lugar. Vou salvar a todos nós, com a ajuda de nossa família. Vamos acabar com os Salvadores e com Negan. Somos os que sobrevivem, e sempre seremos. — Encarei Michonne, e pude perceber um sorriso fraco em seus lábios. — Vou reunir a todos e dizer para se prepararem para a Guerra.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.