Kevin P.O.V
Quase todas as noites, ficava atrás das árvores, olhando ela caminhar em direção a sua residência, permanecia numa certa distância pra que ela não desconfiasse, ria das cantorias aleatórias que ela fazia enquanto caminhava.
Pensava em assusta-la com as minhas flechas, mas ela com certeza saberia que era eu, então não valeria a pena. Segunda.. Terça.. Quarta.. Quinta e Sexta, não dizia a nada a ninguém onde estaria indo, não queria que pensassem que estava a vigiando, gosto de fazer meus particulares sem que ninguém saiba.
- Célia, será que pode pegar mais um prato? - Escuto a pergunta de minha mãe ao entrar na sala.
- Por que mamãe?
- Eu convidei a Helena para almoçar conosco. - Era só o que faltava, além de vê-la todos os dias da semana, agora iria se reunir em nossos monótonos jantares de domingo em família.
- Legal!! Eu vou sentar do lado dela! Assim eu posso mostrar o desenho que fiz pra ela.
- Se quiser que ela tenha uma boa impressão de você, é melhor começar a se arrumar. - Surge meu pai atrás de mim.
- Que ridículo. - Fecho minha cara e resolvo sair dali antes que escutasse mais baboseiras.
Eva P.O.V
Pelo visto, Helena não me conhecia como a maioria dos moradores, nova no bairro, então provavelmente não sabia de nada sobre minha pessoa, decidi continuar mantendo isso em sigilo, não queria que isso afetasse em nada. A campainha tocou, correndo fui atender; era ela, e estava com uma torta na mão. Dei espaço pra que ela entrasse e fui a guiando até a sala de jantar.
- Muita gentileza sua trazer está torta, deve estar ótima. - Coloco a mesma na mesa.
- Tinha que trazer algo, não gosto de aparecer de mãos vazias. - Me ajudou pegando alguns pratos.
- Você que fez? - Abro o alumínio, era torta de pêssego.
- Sim, fui eu, gosto de cozinhar, é um hobby meu, principalmente as sobremesas. - Rimos.
Conversamos sobre mais coisas antes do jantar, até que os avistei descendo as escadas, todos bem arrumados, Célia correu para os braços de Helena.
- Helena! Eu consegui tirar uma nota boa na prova, graças a você.
- Viu só? Estude sempre. - Sorria.
Kevin P.O.V
(Antes...)
Ainda não entendia o motivo de eu ter ficado minutos a mais que fico no banheiro, realmente, estava me estranhando nas últimas semanas.
- Kevin, sabemos que está na puberdade e quer garantir que fique limpo, mas.. Você esta ai dentro há 20 minutos, será que pode liberar espaço? - Escuto batidas de meu pai.
Geralmente, meu banho demorava uns 5 minutos, mas desta vez, percebi que tinha ficado demais do que custume.
- Foi mal.. - Digo me olhando no espelho.
- Papai, ele esta ai dentro, pra ficar bonito pra Helena. - Escuto a voz da pirralha falar do outro lado da porta.
- Cala a boca sua pirralha!! - Bato com força na pia.
Talvez eu estivesse fazendo tanta questão assim por causa dela, mas torcia pra que esse não fosse o motivo.
Saio de lá de toalha, os encaro com meu olhar fechado de sempre.
- Posso ter um banheiro pra mim? No meu quarto? - Falo debochado.
Saio andando até meu quarto e os ignoro com seus comentários fúteis. Me adentro no meu quarto, indo em busca da minha melhor roupa, preto, era o que tinha.
-….Por que eu tô tão preocupado com isso? Se vou jantar na minha própria casa na presença... De uma estranha…- Falo olhando pra roupa que estava montada em cima da cama, rio da situação e me visto.
Assim que escutei a campainha, meus lábios tremeram, e outra vez me ajeitei ao espelho. Descemos as escadas, já pudia avista-la, estava conversando com a mamãe, com sorrisinho no rosto, havia até trazido uma torta de pêssego, pelo que pude avistar em cima do balcão.
- Oi, Helena. - Digo passando por ela.
- Olá Kevin. - Retribuiu, não hesitei em fazer muitos movimentos pra não chamar tanta a atenção.
- Helena, será que pode me ajudar a trazer os pratos? - Disse minha mãe.
- Claro. - Falou sorrindo. Sem demoras, me sento logo a mesa junto com meu pai e Célia, que mostrava aquele garrancho chamado desenho pra ele, enquanto isso, observava-a disfarçadamente, a boa moça, ajudando a trazer tudo a mesa, indo e voltando com um utensílio diferente, e nessa brincadeira de ida e volta, olhares foram trocados entre nós.
Helena P.O.V
O vi descer, estava.. Bem bonito, decido não olhar muito para não chamar a atenção.
- Oi, Helena. - Disse passando por mim.
- Olá, Kevin. - Ainda bem que ele não ousou em praticar nenhuma de suas provocações, um "ufa" mental me aliviou.
- Helena, será que pode me ajudar a trazer os pratos?
- Claro. - Vou sorrindo.
Enfim, todos a mesa estavam, como uma grande família, estava sentada na ponta da mesa, enquanto Célia estava ao meu lado, e Kevin, logo a frente de mim.
- Helena, é verdade que quer ser pediatra? - Perguntou o Sr. Franklin.
- Sim, estou até pesquisando sobre isso.
- Vai se tornar uma grande pediatra, assim espero. - Sorriu, retribui.
Passados nem 5 minutos, Eva, Franklin e Célia falavam, Kevin e eu permaneciamos calados, quando, olhei para o Kevin, o mesmo estava segurando o celular, parecia mandar alguma mensagem, quando, meu celular vibra. Assim que vi certo nome na mensagem, olhei para ele disfarçadamente, o mesmo estava sério.
< Isso está um tédio, vamos sair daqui? >
< Não podemos sair da mesa assim, seria falta de educação.>
< Não seria se a gente tivesse terminado a refeição, então, coma rápido.>
Soltei uma mera risada, assim o fiz, guardei o celular pra que ninguém desconfiasse; termino de dar a última garfada para depois saborear a torta.
- Eva, estava ótimo. - Limpo a boca com o guardanapo, em seguida, me levanto com o prato pra leva-lo a pia.
- Aonde vai? - Pergunta ela.
- Vou lavar o prato.
- Não precisa, de jeito nenhum, você é nossa convidada de honra.
- Se ela quer lavar, deixe ela. - Interrompeu Kevin, que logo foi encarado por todos. Soltei uma risada baixa e fui até a cozinha, não demorando alguns segundos, ele fez o mesmo.
Assim que deixo meu prato na pia e me viro, lá estava ele, logo a minha frente, mexendo naquele cabelo, o alisando para trás.
- O que você quer? - Pergunto séria.
- Só quero conversar. - Falou se espreguiçando.
- Ora, poderíamos conversar lá na mesa.
- Eu… Prefiro falar com a pessoa que eu quero, e só pra ela, sem ter outras pessoas ao redor escutando, o que ela ouve, é somente pra ela. - Me encarou.
- Nossa, tá bem, então… Sobre o que conversar?
Ele me levou pra fora, no quintal, não estava tão escuro; pude avistar seu alvo que usava para treinar, sentamos na escada branca.
Kevin P.O.V
Não aguentava aquele tédio, e sabia também que ela não aguentava, mandei um SMS, dizendo que queria conversar, ela riu, mas aceitou, e assim que terminou de comer, nos afastamos da mesa. Fomos lá pra fora e sentamos na escada.
- Então.. Quer ser pediatra?
- Sim, mistura.. Duas coisas que gosto muito, crianças e medicina.. E você? - Olhou pra mim, por um segundo, fiquei sem resposta.
- Eu não sei.. Não tinha pensado nisso.
- Do que você gosta? - Novamente, não me veio nenhuma resposta, nesse momento, percebia que nem eu mesmo me conhecia.
- Além do meu arco.. Gosto do meu computador.
- Hm, pode ser alguma coisa na área da computação, é uma escolha.
- Hã, eu duvido que haja uma escolha, afinal, eu sou um louco.- Ela me olhou confusa. - Bem.. Eu não me comunico com ninguém além de.. Você.
- Você não fala com seu pai?
- Sim, mas eu nunca falaria deste assunto com ele, afinal... Ele não me entenderia.
- Por que acha que eu o entenderia..?
-…Não sei, eu só falo... De onde você era?
- Eu morava no Texas, nos mudamos quando minha mãe.. Morreu.. - Ela abaixou a cabeça, mas logo a ergueu. - É só eu e meu pai… Foi difícil de eu me adaptar a escola nova, aliás.. Todos pareciam estranhos, me olhavam como se eu fosse um extraterrestre.- dou um suspiro.
- Passo pela mesma coisa todos os dias..
- Uma vez.. Algumas meninas da minha sala, não gostavam de mim só pelo fato da cor dos meus olhos e do meu cabelo. - Faço uma cara de desgosto.
- Não tem culpa de ser tão linda… - Não acreditava que essas palavras saiam da minha boca, eu nunca tinha elogiado uma garota, agora, não podia voltar atrás. - É como... A folha seca.. Que ao olhar uma bela rosa se desenvolvendo, e por acha-la perfeita demais, a inveja lhes invade.. Desejando arrancar sua raiz, ser como ela, mas.. Mal sabem que está rosa, é protegida por espinhos..
- Puxa… Belas palavras..
- Bem, o que aconteceu com elas?
- Uma vez tentaram cortar meu cabelo, me encurralaram no banheiro assim que todos foram embora, por sorte a diretora estava lá e as expulsou imediatamente..
- Devia ter dado tesouradas nelas.
- Hahaha, que cruel.- Riu.
- Estou falando sério, pelo menos o que eu faria.. Várias e várias..- Falo em mínimos risos.
- Ok, está me assustando..- Olho pra ela, sua reação mostrava mesmo medo.
-.. Foi mal, não queria te causar essa impressão..- Falo tentando disfarçar.
Narradora P.O.V
Na mesma noite, Kevin pensará na conversa que tinha tido com ela, foi o mais profundo que tinha conversado com alguém, pegou o celular e colocou na foto que havia tirado dela, sem ela ao menos ter percebido, estava com um sorriso.
-… Linda... E minha. - Sorriu de volta, mas logo, fechou a cara e fitou o teto. - Droga.. - Voltou a encarar a foto, mas com a testa franzida. - Por que eu.. Por que eu fui… Gostar de você.. Sua.. Enxerida… - Disse mexendo os lábios.
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