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História O brilho do farol - O brilho do farol


Escrita por: Iza-Rodrigues

Notas do Autor


Este texto é de total de minha autoria.

Capítulo 1 - O brilho do farol


Eu sou Jeff, 34 anos, pai de um filho de nove anos e marido de uma linda esposa.

A história que vou contar a vocês se inicia no começo do outono. Onde as folhas velhas começam a cair, e as ruas ficam forradas de laranja e amarelo.

Eu achava que para ser um pai de família, era necessário apenas trabalhar todos os dias de terno e gravata, em uma empresa de grande porte, ganhar seus 20 mil por mês. Por o filho em uma boa escola, pagar cursinho de inglês, violão e futebol, para matar o tempo livre, enquanto a esposa se bolava em SPA, cabeleireiro e gastava seu cartão de créditos como quisesse.

Eu pensava que para ser um homem de família, bastava ser honesto, sustentar sua casa, ser bom com os vizinhos, dar caixinha de natal ao lixeiro, carteiro e ao entregador de pizza, não arrumar brigas com as pessoas por coisas banais e inúteis. Manter suas opiniões contraria para si mesmo e não ferir a moral dos outros. Não apontar seus erros. Ensinar o meu filho que o mundo é para todos e mesmo com nossa cor a honestidade era o que contava e o preconceito estava na mente das pessoas. Tínhamos tanto direito de viver nesse mundo como todos e isso nos faziam homens de bem.

Mas não era isso que eu estava ensinando a ele. Lembro-me bem daqueles olhos negros e redondos me olhando apavorados da entrada da cozinha, enquanto eu discutia aos berros e xingos com a mãe dele. Apenas por a louça ainda estar suja dentro da pia, e o jantar ainda não estar pronto. Quanta besteira. Eu a tratava como empregada e nem me sentia culpado. Quando foi a última vez que levei flores á ela? Não consigo me lembrar.

Ela deve ter dito o motivo de não ter feito o jantar e nem ter lavado a louça, mas eu não dei atenção, apenas ouvia a minha própria voz, mesmo que ela gritasse de volta e chorava. As minhas reclamações era a única coisa de que me lembro.

Todas as vezes que tento me recordar daquele dia, é como se ela não falasse nada, como se sua boca se mexesse mais sua voz não saísse. Então eu ouso apenas a minha voz, apenas as minhas reclamações, apenas os meus gritos.

Passei um dia de cão naquele dia. Isso, eu me lembro bem. Meu chefe que não parava de me encher o saco! Coisas que ele mesmo deveria ter resolver. Meus empregados que eram um bando de imbecis e incompetentes que não faziam nada direito e na hora certa. Havia demitido minha secretária que tinha chego atrasada pela 9° vez seguida, eu tive que dar um basta naquela situação, mas como conseqüência ela se vingou de mim, jogando no triturador de papeis a minha agenda de compromissos, e eu perdi uma reunião importantíssima com sócios suecos, que não gostaram nada da minha ausência.

Meu chefe quase pediu minha cabeça, mas de alguma forma eu consegui inverter a situação e ele relevou. Cuidar de uma multinacional não é tarefa para qualquer um. Tem que ter muito saco para aturar as pessoas, e ainda mais para lidar com sócios estrangeiros. Principalmente quando você fala sobre o crescimento da banana e eles entendem que o macaco não gosta de banana. Isso me deixa louco.

À noite, quando voltei para casa, é que eu não relevei nada. Entrei na cozinha, louco para jantar, estava morrendo de fome, e cansado, foi quando encontrei a bagunça de louça suja e sem jantar pronto. E incrível que pareça, não havia ninguém em casa. Parecia que toda a minha raiva estava ali, justo para explodir aquele momento. Fui para sala e sentei na poltrona de couro branco, caríssimo que havia comprado não fazia nem uma semana. Coloquei uma perna em cima da outra e enchi até a borda o copo de uísque Jhonnie Walker. Por que estou dizendo isso? Vai achar que eu estou me exibindo com todo o meu luxo enquanto pessoas lá fora não têm nem o que calçar, mas é exatamente isso que eu quero dizer. Eu tinha do melhor, mas sempre ansiei por mais. Nunca estava satisfeito com o que eu tinha. Percebi isso, quando foi tarde de mais.

Esperei a madame chegar, deixei a luz da sala apagada, e a da cozinha acesa, para deixar a sala pouco escura, com a iluminação vindo da cozinha, não sei exatamente porque fiz aquilo. Não sei se queria bancar o poderoso chefão ou o poderoso marido estúpido. Ela pareceu surpresa a me ver no escuro e bebendo, acho que era de se esperar eu tinha chego em casa uma hora e meia antes do normal, nem tinha percebido isso, apenas explodi quando a vi em casa, foi quando a briga começou e foi parar na cozinha, meu filho ficou ali nos observando, acho que quando percebeu que a coisa tava feia ele se enfiou no quarto e não saiu. A discussão só parou quando eu estava basicamente satisfeito e toda minha raiva havia passado. O engraçado é que eu realmente fiquei satisfeito de ter posto toda a fúria para fora, me senti leve e feliz, me achei no direito de reclamar e pensei que estava completamente certo. Fui para o banheiro e tomei um banho quente, aquilo realmente me relaxou. Quando sai minha família estava jantando. Nunca agradeci minha esposa por sua habilidade extraordinária de preparar o jantar em 20 minutos.

Meu filho se levantou da mesa as presas e pôs o prato na pia, saiu da cozinha sem dizer nada, foi para o quarto e fechou a porta, quase como se estivesse me evitando ou com medo de mim.                                                                                                                                                                         

Minha esposa ainda soluçava um pouco enquanto comida, ela não olhava pra mim e muito menos falava alguma coisa. Mas também não queria que falasse, eu achava que estava com a razão e, por isso, merecia pedido de desculpas e quem sabe um agrado, mas como ela estava chateada com minha forma de falar, ou por achar que também estava certa, não fez nada aquela noite.

Apenas comeu, lavou a louça, tomou um banho e foi se deitar virada de costas para mim, nem mesmo sua novela preferida quis assistir. Eu também achei isso muito bom, não estava a fim de ouvir os comentários dela para com a história tediante da novela.

No outro dia eu estava bem. Disposto e com bom humor, ela claro que estava com a cara azeda. Eu estava pronto, mas com a roupa toda amassada, minha esposa sempre deixava minhas roupas prontas e passadas para mim, para o outro dia, mas naquele dia ela não fez. Ainda estava brava. Tentei pedir desculpas, mas ela me ignorou. Não discuti por causa da roupa, também não iria adiantar, eu estava quase atrasado, e acordei de muito bom humor para estragar com uma discussão.

Tomamos café da manhã também em silêncio. Johnatan também não estava a fim de papo. Nunca percebi o quanto ele era parecido comigo fisicamente. Magro dos cabelos crespos curtos, olhos redondos e negros, pele escura, e para um menino de nove anos era alto e iria crescer mais ainda. Se continuasse se empenhado em suas aulas de esporte poderia virar jogador de basquete. Na verdade nunca perguntei a ele o que queria ser quando crescesse. Nunca conversávamos muito, sempre foram papos curtos e objetivos, eu perguntava o que queria saber e ele me respondia e assim vice-versa, nada prolongado.

Eu tinha de estar no trabalho em 20 minutos, peguei meu paletó e minha pasta de trabalho e pedi para que os dois acelerassem, já que eu tinha que ser o motorista deles também.

Minha esposa não sabia dirigir, ela morria de medo de aprender, eu tentei ensiná-la uma vez, mas foi o maior desastre. Quase morremos por causa de uma folha que estava caindo na frente do carro. Ela se assustou. Fomos parar no acostamento da estrada e batemos numa árvore. Isso me custou um braço quebrado e o nariz, e cinco mil no concerto do pára-choque e capô.

Débora era professora de violino na escola de música de Johnatan. Ela era ótima. Eu a vi tocar apenas uma vez em uma orquestra profissional antes de pedi-la em casamento. Depois disso nunca mais. Nem sei se Johnatan toca tão bem quanto a mãe. Acho que ando mais interessado na promoção de diretor executivo que sei que será minha vaga futura, quando eu fechar acordo com os suecos do que num passa-tempo do meu filho.

– Vocês podiam acelerar um pouquinho mais eu estou atrasado – eu já estava quase berrando, não sei por que eles demoraram tanto aquele dia. Acho queriam me irritar. Não sei.

Nenhum dos dois respondeu. Eu sentei no banco do carro e ali fiquei esperando que eles viessem, buzinei duas vezes tentando acelerá-los.

– Você é idiota – gritou uma senhora na frente do carro. Deve ter se assustado com a buzina.

– Desculpe – gritei para ela.

– Idiota!

Os meus vizinhos são um pouco estressados. Ela devia saber que eu sempre fazia isso. Sempre quis acelerar minha família, na hora de ir para o trabalho.

Alguns minutos depois eles apareceram, sentaram nos bancos do carro ainda em silêncio. Ainda me ignorando. Tentava puxar assunto com minha esposa, mas ela não me respondia. Ficava olhando pela janela do carro a paisagem lá fora. Perguntava ao meu filho sobre a escola, e a única coisa que ele fazia era mexer os ombros, como se dizia; está tudo bem, nada de mais; está normal como sempre pai. Pare de me perguntar sobre isso.

Era irritante, mas eu ainda não queria discutir. Quando chegou uma hora que eu não agüentava mais. Comecei novamente uma discussão.

– Não acredito que vocês são tão ingratos. Eu trabalho a semana toda, e vocês nem me agradecem por isso. Eu dou duro para manter vocês dois no luxo e sou ignorado – comecei a reclamar. Minha esposa apenas olhou para mim indignada, como se quisesse me dizer; idiota! Eu queria que ela me dissesse isso, seria mais suportável. Ela se virou novamente para olhar a janela do carro. Ouvi-a soluçar. Parei no semáforo.

– Agora você chora não é? – continuava eu – Não adianta ficar ai chorando, não vai me acalmar em nada. Minha vida seria muito melhor se você, não tivesse estragado a minha vida, quando ficou grávida. Eu poderia ser um milionário agora, e poderia estar pegando todas as garotas bonitas – continuei gritando – vocês dois são dois ingratos! São os meus maiores problemas. Eu seria mais feliz se não tivesse vocês.

Minha esposa continuou a chorar, meu filho olhou para mim e disse:

– Me desculpe papai. Eu não queria ser um peso para você. Eu e a mamãe estamos nos esforçando para não ser um problema. Desculpe se não foi o suficiente.

Eu fiquei chocado com as palavras daquele garoto. O que eu estava ensinando a ele? O que eu naquele nervoso todo, não deveria ter dito.

Lembro-me bem, olhei para a janela do carro e lá estava ele o farol no meio da rocha, sinalizando para os barcos como sempre, mas desta vez, desta vez, havia algo diferente. O farol trocou a cor, mas ao invés de ser a luz branca, a cor era lilás. Achei estranho, mas engraçado ao mesmo tempo, ainda nem tinha dado partida no carro para começar a andar, estava mais calmo e feliz, quis mostrar a minha esposa e ao meu filho o que tinha visto. Virei para eles para mostrar o farol.

– Vejam está roxo. – eu disse alegre.

Os dois abriram a porta do carro e saíram, sem ao menos dizer nada. Não fiquei preocupado, afinal era quase próxima a escola de Johnatan, pensei que eles queriam ir a pé o resto do caminho. Fiquei bravo com a atitude dos dois, mas não disse nada. Cheguei ao trabalho e cumprimentei a todos. Estava um pouco desanimado com a situação. Um dos meus amigos Carlos veio me cumprimentar.

– E então cara! Como está hoje – disse-me Carlos animado.

– Mais ou menos cara. Minha esposa e filho me ignoraram hoje. Não é para menos, ontem eu tive uma briga feia com minha esposa.

– É assim mesmo cara. Não fique se importando com essas coisas. Vamos trabalhar. Temos uma reunião importante hoje. Há! Irá existir dois diretores. Brian queria promover Paulo. Não conte que eu te disse, mas você será chefe do diretor.

– Maravilha! – exagerei na alegria.

– É, mas, não conta que foi eu quem disse.

– Pode deixar – gritei de volta.

Cheguei à minha sala. Era um lugar onde eu mandava, e um lugar que eu me sentia bem. Entrevistei minha nova secretária, e aproveitei para almoçar com ela. Fui até a sala do meu chefe, precisava falar com eles sobre negócios. Quando cheguei próxima à sala, ouvi outra pessoa com ele. Estava reclamando, coloquei o ouvido na porta, porque fiquei curioso.

– Não acredito que você ainda vai deixar Jeff no comando disso. Por mais quanto tempo, vou ter que fingir que ele manda em mim. Ele é um aposentado Brian, ele nem aqui tem que trabalhar se tem problemas deve se tratar e não arruinar com a vida de todos.

– Esta não é a questão Paulo.

– A questão é que eu estou cansado de olhar para cara do Jeff todos os dias e ter que fingir que ele é meu superior. Quanto tempo mais eu irei ter que suportar? Se você não for dizer a ele que é aposentado e que não trabalha mais aqui, eu estou fora. Eu me demito hoje mesmo.

– Não faça isso Paulo. Se acalme eu vou dar um jeito.

Eu não queria acreditar naquilo, como é que eu poderia estar aposentado. Achei que ele estava apenas com inveja. Disfarcei quando Paulo saiu da sala.

– Olá Paulo! – disse eu bem alegre, para que ele não desconfiasse que eu estivesse ouvindo atrás da porta.

– Oi Jeff – respondeu ele sem vontade.

– Você está bem?

Ele não me respondeu, me olhou torto e saiu pisando duro pelo corredor. Entrei na sala do meu chefe, cumprimentei normal como todos os dias. Foi quando me veio à notícia.

– Jeff. Estou lhe promovendo á diretor superior geral.

– Serio Brian. Obrigado cara, nossa nem sei o que dizer.

– Porém, preciso de você em outro prédio.

– Como assim?

– A empresa está crescendo a dia, e dou isso, graça a você. Eu preciso de alguém mais competente para administrar na parte da logística.

– Logística cara? Eu quero este prédio, lá não é meu setor, aqui sim. Comercio. É disso que eu gosto.

– Essa parte o Paulo já está cuidando.

– Está me realocando? Sério! Eu me dediquei a esta empresa, você não pode.

– Jeff, não torna as coisas mais difíceis. Você já era pra ser dispensado há muito tempo, mas por consideração eu implorei para que o dono te deixasse ficar.

Aceitei a condição, mas não queria. Estava decepcionado, porém não quis estragar o meu dia. Fui para casa, e lá estava eu, esperando minha esposa e filho chegarem. E novamente não havia jantar, mas não tinha louça suja. Antes de voltar pra casa, eu comprei umas belas flores, queria fazer as pazes e viver uma vida feliz com minha família. Esperei por duas horas na sala, e ninguém havia chegado. Acabei dormindo na poltrona com as flores no colo. Assim que acordei me levantei, a TV estava chiando, pois o canal havia saído de sincronização, arrumei a TV e me dirigi à cozinha. Estava tudo da mesma forma, pensei que estavam fazendo birra novamente, fui para o quarto, mas estava vazio, fui até o quarto de Johnnatan, mas ele não estava lá. Era apenas eu em casa. Já havia se passado das 22h, comecei a ficar preocupado. Esperei por mais algumas horas, e resolvi ligar para casa de minha sogra, achei que eles poderiam estar lá.

O telefone tocou algumas vezes e logo caiu na caixa postal, deixei um recado. Acho que havia ligado quatro vezes aquela noite, quando meu sogro atendeu;

– Olá Sr. Peter, Débora está? – perguntei a ele.

– Você ainda não consegue esquecer minha filha não é mesmo? – disse ele do outro lado da linha.

– Sinto muito, mas eu amo ela de mais, e não quero a deixar ir embora.

– Jeff. Existem algumas coisas na vida que não podemos evitar. Não estou dizendo para você esquecer, apenas siga em frente. Você sabe tanto quanto eu que minha filha jamais vai voltar pra casa.

– Não diga uma coisa dessas, eu vou concertar tudo isso.

– Você não pode. Apenas viva, Jeff. Viva.

Quando percebi estava chorando ao telefone. O meu sogro desligou. Eu fiquei sentado, à noite inteira pensando naquilo, eu não queria viver, não sozinho. Eu queria minha família de volta, e estava disposto a fazer qualquer coisa.

No outro dia, eu pedi a Brian uns dois dias de folga, expliquei a ele a situação e disse que teria que viajar até a casa dos meus sogros para buscar minha mulher e filho. Brian me lançou um olhar de pena e disse:

– Não seria melhor você esquecer? Sabe algumas coisas acontecem e não podemos evitar, e não podemos nos condenar. Esqueça isso Jeff. Viva. Apenas viva.

– Como pode me dizer isso? Eu vou atrás da minha família, você me dando folga ou não. Eu os quero de volta.

– Tudo bem. Tudo bem. Só espero que não se decepcione, e lembre-se. Todos nós somos seus amigos aqui, e vamos aguardar o seu retorno.

– Obrigado Brian. Eu te devo uma.

Arrumei a minha mala, peguei meu carro, e dirigi para a terceira cidade. Cheguei à casa dos meus sogros por volta das 11h30min da manha do dia seguinte, encontrei o velho Peter sentado em sua varanda, fumando seu cachimbo. Ele me olhou e balançou a cabeça como se não tivesse acreditando no que estava vendo.

– Não acredito que você veio. Eu devia me acostumar já que você faz isso toda a semana – disse ele despreocupado.

– Eu não faço nada toda semana, só tive uma briga com Débora há dois dias. Queria que ela me desculpasse e voltasse pra casa – disse eu sem jeito. Meu sogro era um bom homem, mas não gostava das brigas que eu tinha com minha esposa. Afinal eu prometi tratá-la bem, amá-la e respeitá-la.

– Os médicos me disseram que o que você tem na cabeça não tem cura. É uma pena porque vamos viver nisso a vida toda. Tenho medo que quando eu morrer, ninguém poderá cuidar de você.

– Do que está falando? Eu não tenho nada na minha cabeça – comecei a me perguntar o que aquilo significava – onde está Dona Elisa? – Elisa era esposa do meu sogro, não era mãe de Débora, mas cuidou dela desde que nasceu e a considerava como filha.

– Elisa morreu.

– Como? Quando foi isso?

– Já faz um bom tempo, eu contei a você, mas parece que você se esqueceu.

– Eu sinto muito. Débora sabe?

– Agora sabe. Elas estão juntas agora, e sei que estão muito felizes – disse meu sogro com lágrimas nos olhos – eu gosto muito de você Jeff, e por isso estou muito preocupado, mas toda semana você vem aqui, e vejo o quanto está bem, tem uma vida limitada, mas vive – agora ele começou a chorar.

– Do que é que o senhor está falando – eu não estava entendendo nada, mas ele estava chorando e eu comecei a ficar preocupado.

– Débora morreu Jeff. Sua esposa e filho morreram, e você se esqueceu.

Eu estava completamente atordoado. Não sabia o que dizer. Peguei minhas chaves e corri para o carro. Peter correu atrás de mim, mas eu fui mais rápido entrei no carro e dirigi a toda velocidade para casa, quando cheguei em casa, liguei para Carlos e expliquei a situação. Ele disse que queria conversar comigo e que viria a minha casa. Em menos de meia hora ele estava tocando a campainha.

– Oi Carlos – disse eu ainda em pânico.

– Oi amigão – disse ele apenas. Depois ficamos alguns minutos em silencio e eu ofereci bebida a ele, que assentiu com a cabeça.

– Nós precisamos conversar cara. – começou ele – Vai ser um pouco chocante pra você, mas. Débora e Johnnatan morreram em um acidente de carro há um ano e quatro meses. Você estava dirigindo aquele dia.

– Impossível! Eu tive uma briga com ela esses dias.

– Não cara, – me interrompeu ele, e eu comecei a chorar – há um ano você e Débora teve uma discussão muito feia, lembra? No dia seguinte você bateu o carro de frente com um carro roxo, com quatro adolescentes bêbados, eles estavam contra mão e você não viu.

Enquanto ele me explicava o ocorrido eu comecei a ter flashbacks do acidente. Eu comecei a me lembrar bem daquele dia. Eu peguei direção de uma estrada deserta que levava do centro da cidade até a minha casa, estávamos voltando para casa depois de um dia de trabalho. No carro eu queria falar com eles, mas estavam me ignorando, foi quando eu fiquei nervoso e olhei no retrovisor e vi o reflexo do meu filho, depois de dizer aquelas coisas horríveis para ele, eu lembro-me da expressão dele, foi quando eu vi um farol lilás bem a minha frente, era a única coisa de que eu enxergava, tentei frear, mas já era tarde, o carro estava quase em cima de nós. Capotamos quatro vezes, até o carro parar de cabeça para baixo. O barulho do acidente ainda está fresco em minha mente, mesmo após um ano.

Havia quatro adolescentes completamente bêbados, eles dirigiam na contra mão o carro roxo com faróis lilás, dois dos rapazes morreram antes das ambulâncias chegarem. Estava muito escura aquela noite. O cinto de segurança de Johnnatan arrebentou e ele caiu para fora do carro pela janela quebrada, na hora da capotagem o carro passou por cima de seu corpo. Débora morreu por hemorragia cerebral, havia batido a cabeça com muita força no painel, e eu. Eu apenas sobrevivi.

Os médicos disseram que eu tive seqüelas na parte da memória, coisa que hoje eu não me lembro o que é. É algo que me permite apenas me lembrar até á ultima semana que vivi, antes do acidente, e essas memórias, transformam em ilusões, todas as segundas-feiras eu tenho alucinação. O dia em que minha família desce do carro e desaparece, é quando eles morrem, mas a ilusão faz com que eu acredite que eles apenas saíram para ir à escola a pé, sendo que na verdade o dia da morte foi em uma estrada e a noite.

Os médicos dizem que acontece isso, para poder diminuir a dor da culpa e a perda que sofri. Então eu tenho ilusões da ultima semana que vivi antes do acidente. E toda a semana eu vivo ela, como se fosse o meu presente. Eu levei as flores de desculpas ao cemitério. Sentei em cima do tumulo da minha família e ali pedi minhas mais sinceras desculpas, nem sei quantas vezes havia feito isso inúmeras vezes, mas parecia recente. Ainda não sei se o que aconteceu comigo foi um castigo, ou a própria culpa me dando uma lição. Eu só sei que nós devemos pensar muito bem antes de falar coisas, que vão ferir outras pessoas, principalmente aquelas que estão sempre ao nosso lado, nos amando e cuidando de nós. Agora, todas as semanas eu vivo a mesma coisa, e no fim da semana antes da minha memória voltar ao início de tudo eu venho aqui, e fico olhando para os túmulos e choro, e rezo para que eles me perdoem pelo que fiz. Os meus colegas de trabalho tinham pena de mim, e o meu chefe Brian, me deixou no mesmo cargo, e toda semana diz que sou promovido. Ele é um bom homem. Todas as semanas eu vou à casa do meu sogro, achando que minha esposa está lá, e ele cuida de mim. Eu perdi as pessoas que mais amava, mas ainda tenho meus amigos, e esses eu estou dando valor, antes que eu os perca também. Então, esperem por mim. Semana que vem eu vou contar a minha história. A história que um dia eu vi pela primeira vez o farol bilhar em tom lilás.


Notas Finais


Esperam que tenham gostado.


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