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História O Caminho da Andorinha - Sangue Temeriano II


Escrita por: B4dWolf

Capítulo 30 - Sangue Temeriano II


Terra caiu sobre a cabeça de Ciri. Era a terceira vez que isso acontecia, em poucos minutos. O que afinal estava acontecendo lá fora?

            A Bruxa de cabelos brancos se levantou do chão úmido daquela cela. Segurou suas mãos à grade, tentando enxergar alguma coisa. Porém, tudo que seus olhos conseguiam alcançar era o corredor vazio daquela masmorra. Ciri fechou seus olhos, tentando se concentrar em uma maneira de sair dali. Pensou em vários lugares possíveis para fugir, mas nada acontecia. Revoltada, a jovem deu um chute na parede de dimerítio que cobria toda aquela cela. Seus poderes permaneciam bloqueados, e graças à todo aquele minério.

            Um grito horripilante de dor cortou seus pensamentos. Mais gritos se seguiram, cortados por um rugido aterrorizante, muito semelhante ao de uma fera. Como que por instinto, Ciri levou sua mão imediatamente às costas, tentando sacar suas espadas. Mas elas não estavam lá. Já havia acordado sem elas, inclusive sua estimada Zirael. Se Geralt imaginasse que ela perdeu sua espada caindo no velho truque do pó de Mandrágora...

            Até que ela ouviu passos apressados. Um homem, coberto de sangue e com metade do braço mutilada e mastigada parou diante de sua cela, sobressaltando a jovem. Era o mesmo guarda grosseirão que ela vira horas atrás. Ele arfava em um misto de dor e medo. Seus olhos transbordavam de lágrimas.

            -Por favor...!

            Uma fera imensa avançou sobre ele, impedindo-o de falar o que quer que fosse. Tudo que o os olhos de Ciri puderam enxergar foi um vulto marrom avermelhado. Um monstro, percebeu a Bruxa. Confusão e preocupação tomaram seu semblante. Ela estava sem suas espadas e aquela cela poderia conter sua Magia, mas bastava um pouco de força para que aquelas grades se quebrassem. Como ela faria para se defender?

            Quando a fera parou de se fartar com a carne do – não tão pobre assim – guarda daquela prisão, ela caminhou para perto de Ciri. Como forma de se defender, Ciri recostou-se aos fundos de sua cela, mas em vão. O monstro parecia saber de sua presença.

            O monstro que, na verdade, era um enorme urso de pelugem marrom, quase avermelhada.

            -Bjorn? – ela perguntou, com um pouco de dúvida. O urso encharcado de sangue humano parou diante de sua cela e fez um leve aceno com a cabeça. “Ele consegue me entender”, percebeu Ciri, que contemplava sua forma Berserker com grande espanto. Era um urso avermelhado, mas com os olhos de gato de um Bruxo. Jamais vira nenhum Berserker e era estranho estar diante de um, ainda mais diante de tais circunstâncias.

            O berserker abocanhou uma das grades e a arrancou sem qualquer dificuldade, lançando o metal para longe. Fez isso até que restasse espaço o suficiente para que Ciri pudesse passar. Era deveras assustador estar diante de um monstro, por mais que ele demonstrasse ser ciente o bastante de seus atos para não ataca-la. Decerto Bjorn percebeu a hesitação em Ciri em se aproximar dele, pois o Berserker sacudiu sua cabeça.

            -O que quer que eu faça? – perguntou Ciri, ao perceber que Bjorn inclinou sua cabeça, quase encostando-a ao chão. O urso deu um leve rugido.

            -Subir nas suas costas? – deduziu a Bruxa, hesitante. – Mas...

            O berserker soltou um rugido impaciente.

            -É melhor não contrariar. – pensou Ciri, subindo nas costas de Bjorn e agarrando-se ao seu pescoço. A sensação era deveras estranha, percebeu a Bruxa. Não era como montar um cavalo, longe disso. O urso começou a dar seus primeiros passos de modo devagar, até que Ciri estivesse segura o bastante. Percebendo que Ciri não corria qualquer risco de escorregar ou cair de suas costas, o berserker acelerou os passos, passando a correr quase como um touro desenfreado. Não foi de estranhar porque o Bruxo fizera isso. Já havia inúmeros soldados do lado de fora das masmorras, prontos para ataca-lo. Mas ver o urso correndo daquele jeito acabou por intimidá-los, pois todos simplesmente saíram de seu caminho, deixando a passagem livre para Bjorn e Ciri.

            -Ele está levando a prisioneira! – gritou um dos guardas, ao perceber Ciri nas costas de Bjorn.

            -Que se foda, ela vai morrer de qualquer jeito. – disse o outro.

            Ciri não conseguiu ouvir o resto do diálogo, pois já estava longe do castelo. Queria se soltar de Bjorn, mas sob aquela velocidade, seria impossível cair e não se machucar. Embora fosse um urso enorme, o berserker era imensamente mais veloz que um urso comum. Corria quase como um leopardo.

            -Acho que já estamos longe o bastante, Bjorn.

            O berserker permanecia a correr, ignorando Ciri.

            -Para onde está tentando me levar? Para Kovir? – exclamou Ciri, irritada. Sendo ignorada mais uma vez, a Bruxa de cabelos brancos tomou a atitude impensável de puxar seus pelos. Para sua abismação, o berserker sequer tremeu de dor. Na verdade, ele começou a soltar uns rugidos estranhos, semelhantes a risadas.

-Chega, Bjorn!

           

           

§§§§§§§

 

Roche sequer deu atenção a Anais. Estava focado demais em derrotar o Rei Morvran Voorhis para falar com a jovem. “A oportunidade ficará para outro momento”, pensava. Após bloquear inesperadamente o golpe do nilfgaardiano, o temeriano pôs-se em guarda, notando um misto de medo e surpresa transbordar dos olhos do monarca.

-Uma bela hora para aparecer. Poupa-me o custo de mandar assassinos atrás de você. – tentou zombar o Rei, em vão. Roche não conseguia levar a sério suas ameaças. As mãos trêmulas de Voorhis a segurar a espada retrucavam a coragem de suas palavras.

Roche queria falar. Mandar Voorhis à merda ou coisa pior. Mas a vontade de cortar a cabeça daquele nilfgaardiano era muito maior que seu orgulho. Além da satisfação pessoal de mata-lo, a morte de Voorhis abria portas também para Anais. Aquela era sua chance de ouro e o temeriano sabia que não poderia desperdiça-la.

Os primeiros golpes foram dados por Roche, sendo aparados por Voorhis, com elegância de quem lutou desde menino com bons professores de esgrima. Quando o nilfgaardiano atacou, Roche bloqueou sem maiores problemas. Apesar de ser bem instruído em esgrima, Morvran não tinha a mesma prática e experiência militar que Roche. Com o decorrer da luta, o monarca nilfgaardiano mostrou-se cada vez menos resiliente, tendo dificuldades em conter os ataques fortes e rápidos, repletos de fúria do Comandante dos Listras Azuis.

Não tardou até que o nilfgaardiano errasse em um bloqueio e recebesse um chute, fazendo sua espada voar para longe.

-O que fará agora, Roche? – perguntou Morvran, trêmulo e desarmado. – Matar mais um Rei?

Arfando, num misto de fúria e cansaço, Roche ergueu sua espada. Anais estava ao seu lado, estática. Ela poderia interferir, mas... Não quis. A morte de Morvran deixaria o caminho livre para o Trono da Teméria. Mas algo lhe dizia que ela deveria impedi-lo. Roche não merecia carregar mais uma morte de um Rei nas costas. Mas isto seria o melhor para a Teméria? A jovem estava repleta de dúvidas, demorando a tomar uma decisão.

Quando prestes a erguer sua espada e atravessá-la no crânio de Morvran, uma explosão elétrica deteve a mão de Roche. Ele e Anais foram lançados para trás, levantando pedras e poeira. Era a luta de Turiel e Dethmold, respingando neles. A Magia emanada de ambos os arcanos estava fazendo grandes estragos no Castelo e em sua estrutura.

Tossindo levemente e se levantando do chão, Roche percebeu com desgosto que o Rei havia desaparecido pela névoa de poeira. Decerto viu a situação inusitada como uma benção do Grande Sol e decidiu fugir. Filho da puta, pensou Roche. Por hoje, sua lâmina não sujaria com seu sangue. Por hoje.

-Turiel ainda está lutando contra Dethmold. – disse Anais, falando pela primeira vez com Roche desde o seu retorno. O temeriano demorou a reconhecer sua voz. Ao voltar seus olhos para a jovem de cabelos castanhos claros e quase de seu tamanho, o temeriano quase não acreditou. Como ela estava... Diferente. Mais adulta. Seus traços do rosto eram deveras semelhantes aos da Baronesa, embora o cabelo claro e os olhos fossem claramente de Foltest. Onde estava a menininha que ele havia deixado com Turiel, quando partiu anos atrás?

Percebendo que deveria estar tal qual um idiota a contemplá-la, Roche pigarreou.

-Ela está levando a melhor. Dá para ver daqui. – disse, por fim.

-Não vai ajuda-la? – perguntou Anais.

-E ouvir reclamações dela até sangrar meus ouvidos? Não, obrigado.

Anais riu.

-Senti sua falta, Roche.

-Eu também senti, Minha Rainha. Eu também senti. – respondeu o temeriano, curvando levemente o lábio. O máximo que ele se permitia sorrir.

Turiel lançou mais uma bola de fogo incandescente contra Dethmold, que não conseguiu rebater. Caído outra vez ao chão e separado de sua varinha, o feiticeiro inalou. Estava derrotado. E por uma feiticeira Aen Seidhe que lançava feitiços que ele jamais viu em sua vida. Talvez, feitiços ocultos, preservados apenas pelos elfos das Montanhas Azuis. Dethmold não tinha dúvida de que a elfa era de lá.

Mas foram os passos cada vez mais próximos de Roche que lhe assustaram.

-Há quanto tempo esperei por este dia, seu feiticeiro de merda. – disse o temeriano, com um brilho macabro nos olhos e uma espada em sua mão. Dethmold tentou se recolher, mas Roche o agarrou pelo colarinho.

-Por favor, não me mate. Eu... Eu te dou qualquer coisa!

-Não pode me dar o que tomou de mim. Mas cortar as bolas e assistir você comê-las servirá.

-Não pode estar falando sério, Vernon! – exclamou Turiel, em desgosto.

-Esse desgraçado ordenou a morte de todos os meus soldados. Meus homens morreram acreditando que eu era um Traidor e que os deixei para morrer para salvar minha própria pele. Eu recrutei e treinei cada um deles, e graças a esse feiticeiro de cu arrombado, eles não tiveram a honra de morrer em batalha, sendo abatidos como animais acuados. Perder as bolas é o mínimo que esse homem merece e eu vou... Mas que porra, Turiel!

Turiel lançou um raio contra a cabeça de Dethmold, matando o arcano instantaneamente.

-Não há tempo para vingançazinhas tolas do passado. Resgatar Anais é a nossa prioridade. Precisamos sair daqui, e o quanto antes. – justificou a elfa.

-Pode me dizer como? – cruzou os braços Roche, tentando ser intimidador. – Pois ao que me consta, ainda há um dragão lá fora e morrer mastigado ou queimado deve ser muito doloroso.

Turiel suspirou, cansada.

-Já disse, não precisamos nos preocupar com o Dragão. Ele não vai nos atacar.

-Não foi bem o que esse dragão fez comigo, no cerco dos La Valette.

-Mas você está vivo, não está?

-Aquela criatura voadora do caralho pousou em cima de mim! Tive sorte! – resmungou Roche, seguindo com as duas mulheres para fora dali.

Os três desceram rapidamente as escadas, onde encontraram o castelo completamente vazio. Do lado de fora, o grito de guardas horrorizados, que não sabiam o que fazer para conter a fera voadora que atirava fogo, mas não devorava ninguém, aparentando estar bastante obcecada em apenas destruir o Castelo de Leftengord. Segurando a mão de Anais, Roche corria e tentava fazer com que a menina seguisse a velocidade de seus passos, em vão.

-Preciso que corra mais do que isso. – ele disse, reclamando.

-Estou usando um vestido, não dá.

Roche rolou os olhos. Mulheres e seus vestidos. Turiel riu dele.

-Não à toa ela odeia vestido. – disse a elfa.

-Quando for Rainha, não poderá usar calças. É bom se preparar, pois o dia está chegando. – ele disse, dando graças aos deuses quando viu que estava perto dos cavalos, que esperavam pelos dois nos fundos dos castelos. Assustados pelos ataques do dragão, os animais relinchavam alto. Roche estava prestes a ajuda-la a montar, quando seu instinto fez o temeriano olha para trás. Percebeu que alguém os havia seguido.

Era o Rei Voorhis.

Roche não sabia o que o Rei estava segurando em suas mãos. Era algo pequeno e brilhante, apontando na direção deles. Magia? O que quer que fosse, só o que Roche pensou foi na vida de Anais. Seu instinto lhe fez derrubar a menina no chão e lança-la em sua frente. Ele ouviu seu grito de protesto e confusão, mas ignorou. Lançou-se à sua frente um pouco antes que um estranho estrondo fosse escutado, cortando o ar. Ele sentiu imediatamente o impacto em suas costas, seguido de intensa dor. Sua primeira e involuntária reação foi tossir.

-Pelos deuses! – gritou desesperadamente Anais, ao ver Roche inesperadamente cair de joelhos. Os olhos arregalados do temeriano demonstravam dor. Turiel verificou suas costas, na região onde o temeriano tentava tocar. Notou uma mancha carmesim de sangue manchar sua roupa, na altura das costelas. Uma mancha pequena e redonda.

-Ele foi ferido! – horrorizou-se Anais, ao notar seus dedos sujos de sangue. – Mas pelo quê? Não há flecha alguma nas costas dele!

-Eu também não sei... – concluiu Turiel, ainda confusa.

Também horrorizada com o ferimento, Turiel voltou seus olhos para trás e percebeu que Morvran pôs-se a correr, decerto temendo represálias. Covarde.

Não era hora de retaliações. Ela precisava salvar Roche.

Com destreza, Turiel abriu um portal, que em segundos, fez os três se teletransportarem para dentro do laboratório secreto da elfa, nos arredores de Lathlake.

-Vernon, não feche os olhos. – disse, ao ver o temeriano já com os olhos semicerrados e cuspindo sangue. Ela o levou até uma mesa, onde precisou liberá-la, derrubando todos os livros e papéis que a ocupavam para colocar Roche sobre ela. Deitado lateralmente, Turiel rasgou o gibão do temeriano na região encharcada de sangue, surpreendendo-se com o ferimento, pequeno e circular. Um estranho cheiro alcançava as narinas da elfa. Algo semelhante a fogo... Seria pólvora?

-Ele vai morrer... – chorava Anais, inconsolável.

-Anais, vá para a biblioteca agora. Seu choro irá me desconcentrar. – pediu Turiel, correndo para uma gaveta e separando instrumentos cirúrgicos.

-Mas eu quero ajudar...

-Nem pensar. Isso é muito forte, até mesmo para você. Fique lá e só saia quando eu mandar. Independente dos gritos que ouvir e...

-Gritos?

Turiel suspirou. Roche começava a tremer. Era a perda de sangue, começando a dar seus sinais, concluiu a elfa. Ela precisava agir, e logo.

-Apenas faça o que disse. Vá. – disse, dessa vez, sendo obedecida.



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