Acreditava em números da sorte mais do que na existência da própria; gostava particularmente do três mesmo sendo um zero redondo. O que era se comparado aos infinitos números com raízes e decimais complexos? Nulo, mas não lamentava, até achava graça.
Era terrivelmente azarado na matemática, no canto, na energia existente em seus poros; só vivia por viver mesmo, daqueles bem comuns, do senso, da normalidade.
Entretanto, encantava-se era mesmo com as cores, bem mais do que com o simplório três.
Eram tantas, e tão bonitas.
Mirava-se no espelho buscando pelos fios que desbotavam sempre em tons diferentes, ele gostava; estavam atualmente em tom mentolado, com a raiz para fazer, mas ele realmente não ligava.
Pensava em sua próxima cor, quem sabe bordô, lilás lhe atraia também.
“Será que ele vai gostar?”
Ah, ele; o maldito que ocupava seus pensamentos à exatas três semanas. E lá estava o maldito número três, metido até onde não devia.
O cara do bar, o de lábia boa e falatório infinito, o que lhe pagou umas doses dignas de uma ardência incomum e lhe presenteou com um porre desgraçado.
Yoongi sempre foi aquele tipo de cara caseiro, repudiava a ideia de ter como consequência de uma noite em dores de cabeça iminentes e dilacerantes, preferia o conforto de seu sofá, um bom café e seus livros digitais – era mão-de-vaca ao ponto de não querer gastar dinheiro com livro, sim.
Mas aí seus amigos o arrastam para um happy hour “maneiro”, comemoravam o fato de serem jovens e ter aquela vontade de sair para beber, qual é, devia ser normal; – mas não para Yoongi, claro – por isso remexia-se inquieto, realmente detestava aglomerações, conversa alta e música ao vivo.
— Eu to' bêbado mas ainda to' lucido o suficiente pra dizer que cê' é uma graça.
Ah, e claro, odiava quando desconhecidos resolviam puxar assunto, odiava ainda mais quando chegavam com cantadas toscas ou conversas idiotas, e quando faziam tudo isso bêbados só piorava a situação.
— Cara, nem vem, não to' com paciência pra bafo de cachaça e gente chata, vaza.
— Calma aí gatinho. – E o moreno ria, como se fosse a coisa mais engraçado do mundo o mau humor natural de Yoongi. — Eu também não tenho muita paciência pra gente chata e estressada, mas é uma pena você ser tão lindo assim; eu não resisti, pô'.
“Só pode ser brincadeira né?”
— Claro que não, ninguém resiste. – Riu debochado, fingindo não sentir-se ofendido por ter sido chamado de chato e estressado, apesar de ser e não negar esse fato para ninguém.
— Então, qual seu nome, esquentadinho?
Aquilo já estava virando uma troca de farpas, tudo nas entrelinhas, claro.
— Meu nome não te interessa, vaza daqui, caralho.
— É esquentadinho e tem a boquinha suja ainda por cima, um belo conjunto.
O esverdeado sentia que iria explodir a qualquer momento com aquele desconhecido abusado, que tinha como objetivo o irritar e fazer de sua “noite de diversão” um motivo a mais para odiar sair de seu apartamento.
Ah mas Kim Namjoon iria pagar caro por tê-lo arrastado para aquele bar, mas para isso o Min deveria encontrar o amigo – amigo este que estava aos beijos com uma moça qualquer da faculdade, em algum canto do local.
Permitiu-se rir debochado mais uma vez; quando se tratava de cinismo Yoongi realmente era o melhor. E até queria responder à altura, xingar a oitava geração do moreno e manda-lo para o inferno, mas parou para observar aquele que fazia de sua noite um caos, e foi a pior decisão de sua vida.
Visto de relance ele até era bonito, os olhos bem delineados, o cabelo escuro. Mas, visto de perto, o tal desconhecido era muito mais bonito, com o rosto anguloso, o nariz fino e arrebitado, uma pintinha em cima do lábio superior; ah, e o sorriso do desgraçado?
Devia mesmo estar muito bêbado, ou as luzes do lugar que lhe faziam enxergar tudo em excesso, talvez a falta de seu óculos também.
— O que foi? Tá' olhando demais pra alguém que nem tá' interessado.
— Cara, você é mais chato que eu. – A essa altura já nem o mandava mais ir embora, sabia que não o faria; por isso só desviou os olhos e corou instantaneamente por ter sido pego no flagra.
— Posso te pagar uma bebida, pelo menos? Quem sabe não fique um pouco mais suportável, hum? – Os dentes alinhados, as malditas bochechas cheinhas.
— Eu vou ter que esperar o maldito do Namjoon mesmo, então aceito. – Não iria de fato esperar pelo amigo, talvez só chamasse um táxi mesmo, afinal não estava gostando muito do ambiente, da música, de tudo; até o moreno sentar-se a seu lado.
Quando a bebida chegou não esperou nem dois segundos para entornar o líquido, que descia ardendo e arranhava tudo por onde passava.
— Cerveja, jura?
— Eu ia pedir whisky mas eu imaginei você que não fosse muito forte pra bebida de verdade.
E Yoongi riu mais uma vez, debochado, desacreditado.
— Qual é, você não deve aguentar nem vinho e tá’ querendo falar de mim?
— Olha só pra você, deve ficar enfurnado dentro de casa, faz bem o tipo que recusa convites pra sair só porque prefere assistir um filme sozinho enquanto toma um chá ou coisa do tipo. – É, era quase isso na verdade, mas Yoongi não dispensava umas garrafas de bebida vez ou outra, até gostava de beber, por mais que odiasse o sabor do álcool que impregnava; no final sempre o fazia pelo barato de se estar bêbado, falar coisas que não falaria lúcido, fazer coisas que não faria em sã consciência.
— Cê’ não sabe mesmo com quem tá’ falando.
— Você está me dizendo que se beber algo mais forte não vai passar mal ou algo do tipo? É tão forte assim pra bebida? Duvido, cara. – Ah aquele garoto só podia estar tirando uma com a sua cara.
— É isso mesmo, desde que você pague, porque eu tô’ duro e sem vontade de gastar minha grana com bebida. – É Yoongi não ia recusar.
— Beleza então, se você não estiver lúcido até às 3 da manhã vai ter que me dar uma chance. – O maldito número três.
— Como assim uma chance, cara?
— Um número de telefone, que seja; pode me beijar se quiser, eu vou adorar.
— Você é mesmo muito estranho. Já se ligou que eu não sei nem seu nome?
— Não seja por isso, Jung Hoseok. – Disse estendendo a mão, naquele gesto educado que não condizia nem um pouco com as atitudes de um rebelde sem causa.
— Min Yoongi.
Quando deu três horas em ponto Yoongi estava bêbado, muito bêbado, tanto que até se jogou para cima de Hoseok a fim de lhe dar um beijinho que seja – já que passou a noite desejando aquela boca secretamente.
Hoseok salvou seu número no celular do mais velho e mandou uma mensagem para si mesmo como garantia, havia gostado mesmo do baixinho de cabelo verde e peculiaridade extrema.
Aprendeu naquela noite sobre a teoria das cores, o aspecto visível, a simbologia; mas estava mesmo era fascinado em como aquele sorriso gengival era capaz de lhe transmitir choques por todo o corpo, era como se “esse estranho está prestes a mexer com minha vida e a virar de ponta cabeça, estou sentindo”.
É, e virou mesmo.
Yoongi até abandonou seus hábitos caseiros, trocou suas noites em casa por caminhadas noturnas com o mais novo.
Hoseok tinha um apreço enorme pela cidade de noite, um carinho estranho com as luzes da cidade e das estrelas, mas queria compartilhar tudo com o mais velho, desde suas manias esquisitas à suas vontades mais incomuns; e Yoongi amava falar sobre suas cores com o mais novo, sempre o presenteando com telas cheias de sentimento, feitas por si e endereçadas para o cara do bar que tinha seu coração por inteiro.
Agora nem ligava mais para a existência do seu número da sorte, não quando tinha um Hoseok para lhe dar dois, três, infinitos beijos; lhe amar mais do que amava seus livros, mais do que amava seu fim de dia com café e filmes ruins.
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