Eu tenho uma irmã.
Sempre fui uma garota sem muitos amigos. Minha tia os assustava. Todas as crianças tinham medo dela.
Não sabia o que estava sentindo naquele momento. Era uma mistura de alegria e tristeza, pois Briannah sempre fora criada no luxo, rodeada de pessoas e tinha o mundo ao seus pés, enquanto eu não tinha ninguém; era só mais uma garota no vilarejo. Enfim, após descobrir que tinha uma irmã, precisava conhecê-la, mas como eu faria isso? Ela estava lá no alto e eu lá embaixo, na base da pirâmide.
- Após muitos anos, fui saber logo agora sobre minha irmã. Eu nunca imaginaria uma coisa dessas - afirmei surpresa.
- Ela pode ser a princesa, mas não será rainha - Niia interrompe meu pensamento.
- Como é?
- É isso que você ouviu. Ela não será rainha. A pessoa que irá governar tudo isso é você, Anna. O seu destino é esse.
Eu não queira governar. Eram muitas responsabilidades para uma pessoa tão nova. Eu também sentia que estava roubando o lugar de Briannah. O trono que ela sempre sonhou e foi preparada para isso seria tomado por alguém que não tinha noção nenhuma de liderança. Eu não podia fazer isso com ela.
- Eu não... Esse não pode ser meu destino - afirmei.
- Você não tem escolhas, Anna. Algumas coisas na vida não podemos mudar, pois as consequências podem ser muito graves.
A Greenlay tinha razão. Mesmo que eu não quisesse, esse tinha que ser meu destino. Eu sentia. Lá no fundo do coração, mas sentia; ainda sabendo que poderia decepcionar a princesa.
Agora tudo fazia sentido. Essa era a minha verdadeira identidade. Depois de quase dezoito anos, eu pude realmente olhar no fundo da minha alma. Eu não queria, entretanto precisava aceitar que tinha sangue real e que fazia parte da realeza, todavia, mesmo contra a minha vontade, precisava seguir meu destino. O meu verdadeiro destino.
- Acho que será uma longa jornada - afirmei, pensando em tudo que teria que enfrentar daqui para frente.
- Após a tempestade sempre surge um arco-íris.
- Verdade. Só quero que essa tempestade passe logo.
- Tenha calma, Anna, que tudo isso vai passar. Agora vamos. Você precisa comer algo.
- Para onde vamos? - perguntei.
- Como assim "para onde vamos?". Não é óbvio?
Observei-a com um olhar desconfiado na esperança de que ela me dissesse para onde íamos, mas eu já sabia a resposta.
Tivemos que sair pela janela para que tia Evelyn não acordasse. Estava muito frio e eu havia me esquecido de pegar um agasalho. Minhas mãos estavam bem geladas e a neve não parava de cair sobre nós.
- Niia? Estamos indo para a casa da Amberly? - perguntei com a voz falha por causa do frio.
- Sim, estamos. Lá vai estar mais quente e você poderá se aquecer, mas, para isso, precisará andar mais rápido.
Apressei-me com dificuldade e fui caminhando até a porta de sua casa. Limpei os sapatos sujos de neve e lama assim que cheguei na varanda. Niia logo foi abrindo a porta para podermos entrar.
A casa estava tão aquecida que parecia estar toda coberta por um manto. Havia uma lareira ali perto e logo me ajoelhei no chão ao seu lado para poder me esquentar. O calor do fogo me abraçava e me envolvia lentamente, fazendo com que me sentisse confortável. Acariciava meu rosto como se fosse o carinho de uma mãe por um filho. O carinho que eu nunca recebi.
Não demorou muito para Amberly aparecer. Em questão de minutos ela estava parada à minha direita me observando com os olhos bem fixos em mim.
- Levante-se, Anna - afirmou com autoridade.
- Desculpa, eu não queria...
- Não precisa se desculpar. Só se levante e vá até o banheiro, no andar de cima, para se lavar antes do jantar. Niia, a acompanhe, por favor?
- Sim, senhora. Estou indo - disse a pequena Greenlay que logo veio me puxando pelo braço para que eu me levantasse do chão.
- Mas, e minhas vestes? Só estou com a roupa do corpo e...
- Não se preocupe com isso eu já resolvi tudo - Amberly me interrompeu. - Agora vá tomar um banho, você precisa descansar.
- Está bem.
Levantei-me do chão e acompanhei Niia que voava de um lado para o outro da escada de mármore. O corredor, logo em seguida, era imenso e cheio de quartos tanto para a direita quanto para a esquerda. Fiquei até meio tonta ao ver a imensidão daquela casa. As paredes eram tão brancas e cheia de quadros que doíam os olhos. Eu, com certeza, me perderia nesse lugar. Fiquei observando as imagens penduradas e percebi que a família de Amberly fora bem rica e, provavelmente, deixara toda sua herança. Pelo jeito, a ruiva era a única pessoa ainda viva.
Niia foi me guiando, com aquelas pequenas asinhas, para a esquerda até chegarmos ao banheiro. O lugar todo era do tamanho da minha casa.
Estava tão limpinho que dava um dó só de saber que iria tomar banho ali.
Jiin estava terminando de esquentar a água da banheira para eu poder entrar quando me viu:
- Ah, oi, senhorita. A água já está quase quente o suficiente para poder se lavar. Só espere mais uns instantes.
- Oi, Jiin, eu vou ficar bem aqui.
Enquanto isso, Niia estava arrumando umas roupas para eu vestir.
- Com licença, mas de quem é esse vestido? - perguntei.
- Ah, esse vestido é seu. Eu e meu irmão que fizemos - a Greenlay responde tão baixo que é quase impossível de ouvir sua voz fininha.
- Está muito bonito mesmo. Parabéns aos dois, só que eu não precisava disso e como vocês fizeram este vestido tão rápido?
- A profecia está se cumprindo, agora só nos resta fazer o mesmo; seguir o que foi profetizado.
Profecia. Mais uma coisa para eu me preocupar. Eu não estava sabendo de nada e gostaria muito de poder entender.
- Como assim? Que profecia? Alguém poderia me explicar? - pressionei-os um pouco. Ambos me olharam com um certo receio nos olhos e por fim responderam em coro:
- Vá tomar um banho, senhorita. Tudo será esclarecido ainda hoje, mas, para isso, é necessário paciência.
Paciência. Eu não aguentava mais ter paciência.
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